sábado, 25 de maio de 2013

Casa das Caldeiras


O combate solitário do BC contra a inflação


Assessores do governo fazem, periodicamente, uma avaliação do que a imprensa internacional está publicando sobre o Brasil. A última é frustrante. Varia entre uma visão pessimista sobre crescimento, inflação e taxa de juros, e um abandono geral do foco no país. A expressão máxima do pessimismo seria a do Financial Times. A The Economist, por exemplo, vem deixando de tratar do Brasil nas suas páginas. Isso seria um indício de que o humor dos investidores estrangeiros com o país continua ruim, afetado por uma postura pouco amigável do governo com o mercado.

Diante da campanha eleitoral, as expectativas começam a se voltar para 2015. Será a presidente Dilma Rousseff, se reeleita, vítima de sua própria herança?

Baixo crescimento e inflação alta são os efeitos colaterais de uma política econômica errante. No primeiro ano ela teve que corrigir os excessos de Lula, que deixou uma política fiscal e de crédito em franca expansão, exacerbando o consumo e gerando uma cadeia de inadimplência no sistema bancário, com todos os danos sobre a inflação.

A ação do governo derrubou a atividade econômica. No segundo ano, 2012, optou pela anabolização do consumo como instrumento para irradiar dinamismo na economia. As famílias, já altamente endividadas, não tinham mais fôlego para repetir a saída da crise de 2008/2009 e o modelo desandou. O governo tentou ajudar a indústria com a desvalorização cambial e colheu mais inflação.

Os juros, em queda desde agosto de 2011, começaram a subir este ano, depois que o governo entendeu que juros baixos, por si só, não produzem crescimento e ainda sancionam pressões inflacionárias. Na área fiscal, o superávit primário deixou de ser meta e passou a ser uma variável flutuante, ao sabor das receitas e despesas públicas. Se teve ajuda da contenção fiscal , no passado, para reduzir os juros, agora o BC está sozinho para conter a inflação.

Na próxima semana, o Copom deve aumentar novamente a taxa Selic. O mercado se divide entre uma elevação de 0,25 e de 0,50 ponto percentual. O BC reafirma seu compromisso em encerrar o ano com uma variação do IPCA inferior aos 5,84% do ano passado e de levar o índice para as “cercanias” de 4,5% em 2014. O pior que o BC pode fazer, agora, é deixar a inflação se arrastando como um problema no ano eleitoral de 2014.

Claudia Safatle

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Incubadora de Empresas da UFPA comemora 18 anos


A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Agência de Inovação Tecnológica,  da Universidade Federal do Pará (UFPA), completa 18 anos de contribuição para o desenvolvimento do empreendedorismo baseado em ciência e tecnologia e na disseminação da transferência de conhecimentos gerado na UFPA.

Para comemorar a data, a Universitec promove, nesta sexta-feira, 24, das 8h30 às 10h30, um coquetel que contará com a apresentação de cases de sucesso de empresas que fazem parte da incubadora, bem como as que já estão no mercado, além de serem apresentadas as metas para os próximos anos. Na ocasião estarão presentes o reitor da UFPA, pró-reitores, empresários, representantes do Estado, Sebrae, Banco da Amazônia, entre outros parceiros da Universitec, da Incubadora e da Universidade. A programação ocorre no Auditório da Universitec, Campus Profissional da UFPA, no Guamá.

Aproveitamento da biodiversidade da Amazônia - Ao longo desses 18 anos da Incubadora-PIEBT, já foram apoiadas 42 empresas/projetos, nas áreas de biotecnologia, produtos naturais, alimentos, cosméticos, Dermocosméticos, fitoterápicos, energia, tecnologia da informação, comunicação e design e, em geral, empresas voltadas para o aproveitamento da biodiversidade da Amazônia.

Como parte das suas atividades e foco de atuação do PIEBT, durante esses anos, foram apoiados a criação e o desenvolvimento de projetos inovadores de alunos, professores, pesquisadores e da sociedade em geral, que contavam com potencial para transformarem-se em produtos, serviços ou processos dotados de tecnologia agregação de valor, que contribuíssem para o desenvolvimento do Estado.

Incubados - Atualmente, o PIEBT possui nove empresas incubadas e seis projetos pré-incubados, Dentre os que já passaram ou ainda estão instaladas na Incubadora, encontram-se a Chamma da Amazônia, Amazon Dreams, Inovar, Digitalizar, Dynamis Techne, ITAIC, BIO+, Amazon Biotec, Mundo Digital Interativo e a Syanz. Entre as que receberam premiações regionais e nacionais, estão a Chamma da Amazônia e a Amazon Dreams. Ambas já têm forte atuação nos mercados nacional e internacional.

 




 Com um espaço físico especialmente construído para alojar temporariamente micro e pequenas empresas, a Incubadora-PIEBT oferece uma série de serviços, tais como cursos de capacitação gerencial, assessorias, consultorias, orientação na elaboração de projetos a instituições de fomento, serviços administrativos, acesso a informações entre outros. A Incubadora é reconhecida por oferecer suportes técnico, gerencial, operacional e agilizar o processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas.

Para o professor Gonzalo Enríquez, diretor da Agência de Inovação Tecnológica (Universitec), da qual a Incubadora faz parte , a Incubadora vem cumprindo o seu objetivo principal que é promover e disseminar o empreendedorismo inovador na comunidade acadêmica e empresarial local. Entretanto um dos desafios mais importantes, não apenas da Incubadora, mas também da própria Agência de Inovação Tecnológica (incluindo o PIEBT, a área de serviços de laboratórios e de propriedade intelectual), consiste na criação de um Ambiente de Inovação na Universidade, em conjunto com seus importantes Stakeholer, que se constitua em uma referência para a Amazônia.

Texto: Ascom / Universitec
Fotos: Alexandre Moraes

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Santos inocentes e criminosos.


Vejam como é interessante as visões do "Pensamento Único", quando é um membro do PT indiciado pela justiça, com provas de crimes e á espera de serem condenados. O Governo pede calma e quer a maior das justiças, para não condenar alguém que pode ser inocente. 


Ora, o caso do boato sobre extinção da Bolsa Família, em menos de três horas a Ministra Rosário encontrou os culpáveis criminosos.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A conferir


sábado, 18 de maio de 2013

O Pará prefere dinheiro fácil e rápido, mesmo que signifique pobreza do paraense


 Se o Pará tiver a inteligência de implantar  cinco projetos desta natureza em parques tecnológicos, não seriamos um Estado pobre e subdesenvolvido, criaríamos altas externalidades econômicas para gerar um verdadeiro desenvolvimento e não essa pobreza que não conseguimos superar. 



PCTGuamá terá unidade do CEABIO


A equipe do Centro de Estudos Avançados em Biodiversidade da UFPA (CEABio) teve o projeto aprovado pelo Conselho Curador do Parque de Ciência e Tecnologia - PCTGuamá . O CEABio representa um dos mais importantes centros de Pesquisa Básica em biodiversidade, com o qual conta a UFPA, e reúne uma equipe de pesquisadores, a maioria dos quais com formação acadêmica em áreas estratégicas para pesquisa em biodiversidade, como biotecnologia, química e biologia.

A apresentação feita pela equipe do CEABio mostrou, passo-a-passo, o processo de implantação do centro e ressaltou a importância dos produtos que serão gerados a partir das pesquisas que serão realizados pelo pesquisadores do Centro. Conforme o Plano de Negócios, os produtos serão extraídos, aproveitando a biodiversidade de plantas, peixes e microrganismos, existentes na Amazônia, sobre os quais a equipe de pesquisadores já estuda faz alguns anos.

Atuação - As áreas de atuação do CEABio serão a saúde, fitoterápicos, cosméticos e dermocosméticos e realização de serviços tecnológicos para empresas que precisem alargar suas pesquisas e colocar produtos de alto valor agregado, no mercado nacional e internacional.

A realização do Plano de Negócios contou com apoio técnico da Agência de Inovação Tecnológica (Universitec). Na ocasião foram apresentados os objetivos e o papel estratégico que cumprirá um centro de pesquisa de biodiversidade no Parque Tecnológico do Guamá, que incorpora uma área de serviços tecnológicos e produtos voltados para o mercado. Além das oportunidades e potencialidades da Amazônia aliados à experiência que o CEABio possui no desenvolvimento de produtos a partir da pesquisa básica.

Para conhecer e preservar a biodiversidade amazônica - O CEABio será coordenado pelo professor doutor Júlio Cesar Pieczarka, com o objetivo de desenvolver pesquisas para conhecer e preservar a biodiversidade amazônica com base no uso sustentável dos recursos naturais. Será construído em uma área de 2 mil m², no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (PCT-Guamá), situado na Cidade Universitária José da Silveira Netto, em Belém , em um prazo de até 24 meses.

De acordo com Julio Pieczarka, o apoio da Universitec foi importante, no sentido de orientar na formatação do Plano de Negócio que foi apresentado ao conselho curador do PCT-Guamá. E essa parceria irá se estender, uma vez que o CEABio contará com o apoio da Universitec no que se refere a viabilizar um acordo de cooperação que possa garantir a capacitação e formação de empreendedores biotecnólogos com objetivos de desenvolver empreendimentos que reforçem a geração de inovação no ambiente da Universidade e transferí-los para o mercado.

O diretor da Agência, professor Dr. Gonzalo Enríquez, ressaltou o papel de um empreendimento dessa natureza implantado no Parque e afirmou que o CEABio representa um dos mais importantes centros de alta tecnologia, que será implantado em um parque tecnológico, pela capacidade e competência na academia; e na pesquisa básica e tecnológica, o CEABIO será um empreendimento de negócios como poucos que existem no Brasil e que nos países desenvolvidos são rotineiros.


Linhas de pesquisa e geração de produtos tecnológicos de alto valor agregado do CABIo. 


1. Biodiversidade de vertebrados: Cultura de células-tronco

2. Biodiversidade de invertebrados: agroindústria

3. Ecologia de florestas tropicais: bioprospecção de espécies

vegetais com potencial para fármacos

3.1. Propagação de espécies lenhosas nativas da Amazônia:

indústria madeireira

3.2. Etnofarmácia: produção de remédios

3.3. Fitoquímica de derivados de espécies vegetais: uso medicinal

4. Citogenética da biodiversidade amazônica: determinação

de modelos animais

5. Genética molecular da biodiversidade: base genética de

princípios ativos.

6. Cultura celular e células tronco mesenquimais.

7. Mutagênese ambiental: testes de extratos vegetais com

potencial para fármacos

7.1. Estudo reprodutivo de biomarcadores: determinação de

modelos animais


Texto : Hellen Lobato – Ascom Universitec

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pará tem terceira pior margem de acesso à web do Brasil


Só faltava esse recorde. 





A indústria que menos cresce no Brasil, os piores indicadores de educação, de segurança, de saúde e a queda constante da produção agropecuária, do comércio...

Queda brutal da disponibilidade do setor serviços. 

Em fim estamos voltando ao século XIX, de onde na realidade nunca saímos. 

93% do valor da produção paraense é apenas setor minereo de baixo valor agregado, madeira e agronegócios, representam o restante 7%. 


Só temos recursos naturais que não são infinitos, como muitos acreditam....




segunda-feira, 13 de maio de 2013

Do mundo Vazio ao mundo Cheio. BEM VINDO!

domingo, 12 de maio de 2013

Em campanha

Do Blog do Cláudio Humberto. Veneno puro....



Campos e Aécio
Cotados para disputar a Presidência em 2014, o senador
mineiro Aécio Neves (PSDB) e
o governador Eduardo Campos (PSB) acertaram costurar
uma estratégia comum para
levar as eleições contra presidenta Dilma ao segundo
turno. Em conversa esta semana, os dois combinaram
de concentrar ataques ao
governo petista e convencer
os partidos a lançar o maior
número possível de candidatos à Presidência.

Todos contra um
Eduardo e Aécio planejam
reunião reservada com Marina Silva e Fernando Gabeira
(PV), também cotados para
concorrer a presidente.

União faz a força
Aécio Neves avalia que só será possível, e com dificuldades, superar a popularidade
de Dilma, se os adversários
se unirem nos dois turnos.

O Pará e seus desafios


Algo está errado no Pará, muita ilusão e pouca ação. 


O Liberal, 11 de maio de 2013
Repórter 70




terça-feira, 7 de maio de 2013

A economia nos limites

Para Lara Resende, a correlação entre nível de renda e bem-estar deixa de ser verdadeira em países muito ricos


A dimensão social da realidade econômica, deixada de lado pelos economistas; a estrutura física da Terra, abusada pela sanha produtiva da humanidade; o bem-estar que não se deixa medir pelas variáveis do crescimento da renda. São temas que poucos esperariam encontrar no texto de um economista. A não ser que esse economista se veja, em algum momento, como "ex-economista"; é o que chegou a fazer o carioca André Lara Resende no livro "Os Limites do Possível - A Economia Além da Conjuntura" (Portfolio Penguin, 288 págs., R$ 44,90), que reúne artigos redigidos entre 2006 e 2013, dez dos quais publicados noValor. O lançamento, na segunda-feira, inaugura o selo dedicado a economia e negócios da editora Companhia das Letras.

A definição como "ex-economista", nos anos que precederam a crise dos subprimes, deve-se em parte à conclusão do estudo do tema a que dedicou grande parte da carreira, a inflação crônica; e em parte, também, por desencanto com os rumos que a teoria macroeconômica tomou.

Já a crise iniciada em 2008, diz Lara Resende, ressuscitou seu interesse pelo assunto, acrescido de preocupações com problemas que estão nos limites da reflexão econômica, ou mesmo além desses limites.

Na década de 1980, o economista se dedicou ao problema da inflação crônica brasileira e fez parte das equipes que criaram os planos Cruzado e Real. No governo de Fernando Henrique Cardoso, ocupou o cargo de presidente do BNDES. Lara Resende fala ao Valor sobre os rumos da crise no mundo, seus reflexos no Brasil e as implicações de longo prazo para a humanidade como um todo.

Valor: O senhor introduz o livro com uma provocação: em 2006, considerava-se um "ex-economista" quando recebeu o prêmio de economista do ano da Ordem dos Economistas do Brasil. Em que consiste um "ex-economista"?

André Lara Resende: O prêmio me surpreendeu, eu me considerava um ex-economista, como se dissesse "missão cumprida"...


Valor: Por causa do Plano Real?

Lara Resende: Por todo o desafio de entender o problema da inflação crônica e a indexação, projeto ao qual me dediquei por muito tempo.


Valor: O senhor se mostra desencantado com a macroeconomia, que virou "uma área menor da matemática aplicada", com inveja da física, e cita Joseph Schumpeter [1883-1950] para lamentar a falta da dimensão social da disciplina.

Lara Resende: Depois do Plano Real, tive vontade de fazer uma imersão na teoria. No dia a dia do mercado financeiro, perdemos rapidamente pé com o que se faz na academia. Voltei a ler e concluí que estava chato demais. Era sempre a mesma coisa: o modelo dinâmico estocástico de equilíbrio geral e alguma variação. Não havia nenhuma contribuição nova. Então eu me disse: "Sou um ex-economista". Aí veio a crise e o tema voltou a ser interessante.


Valor: O desconforto com a macroeconomia é generalizado. Em livros, artigos de jornal, estudos, a disciplina é criticada por todos os lados. É preciso repensá-la desde a base?

Lara Resende: Com a crise, a área sofreu um baque enorme. Na segunda metade do século XX, a economia tentou mimetizar as ciências exatas, pensando que elas, sendo mais formais, usando o instrumental da matemática, dão respostas mais precisas. O instrumental matemático ajuda muito, sim, mas tem limite. A economia não é ciência exata, é parte das ciências sociais. Ela é um subconjunto de uma teoria filosófica. Formalizada, a economia foi conduzida a um beco sem saída. Ficou estéril. Baseada no modelo paradigmático de equilíbrio competitivo, sem nada a ver com a realidade, e no qual se introduzem distorções, para aproximá-lo de determinados problemas específicos da realidade. Isso é um jogo bastante repetitivo.

Valor: Com a crise, no Brasil e no mundo a atuação do Estado voltou ao primeiro plano. Como o senhor vê a volta da ação do governo?

Lara Resende: O caso brasileiro e o americano são bem diferentes. No Brasil, o governo usou a política fiscal com a desculpa de que era anticíclica. O que deveria ter sido feito era política monetária. Em nenhum momento a situação brasileira foi como a crise dos EUA e da Europa. Não houve estouro de bolha, nem excesso de endividamento. O Brasil foi atingido pela via do comércio externo. Foi uma janela de oportunidade perdida para baixar os juros. Na Europa e nos EUA, a questão era diferente. Com o que se aprendeu da crise de 1930, os governos conseguiram evitar o colapso. Com a política monetária, reduzindo os juros para zero e transferindo dívida privada para o setor público, chegou-se à situação de excesso de endividamento público, enquanto a dívida privada não foi eliminada. A política monetária já está no nível zero, mas a economia não se recupera. Essa é a situação que o Japão já enfrenta há 20 anos e agora parece ter chegado aos EUA. Qual é a solução?

Valor: Tanto no Japão quanto nos EUA, insiste-se em inundar o mercado com dinheiro.

Lara Resende: Não surpreende. Desde a visita de [Milton] Friedman [1921-2006] ao Japão, acredita-se que com mais moeda, ainda que por caminhos desconhecidos, reativa-se a economia. Quem se opõe é a linha keynesiana. [John Maynard] Keynes [1883-1946] mostrou que estamos na armadilha de liquidez e a política monetária é incapaz de reavivar a economia. A única solução é voltar a Keynes: política fiscal

com aumento de gastos públicos, para servir de motor de arranque para a economia. Os críticos aos keynesianos respondem que a situação é diferente dos anos 1930, quando o endividamento privado não existia, porque tinha sido destruído pela depressão. Hoje, tanto o setor privado quanto o público estão muito endividados.

"Temos de voltar ao conceito clássico da boa vida, relacionado a viver bem, à satisfação de prazeres, às fontes de felicidade"

Valor: Isso é um impasse? O risco de colapso foi só postergado, em vez de evitado?

Lara Resende: Houve uma opção clara: os custos sociais e políticos de uma depressão, ou seja, deixar que os muito endividados quebrem e a dívida desapareça, são muito altos. Hoje, ninguém questiona essa opção. Schumpeter talvez considerasse essa resposta um equívoco, porque o capitalismo precisa de forças destrutivas para se renovar. Sem a renovação, ganha-se ao evitar a crise, mas perde-se pela esterilização do dinamismo. O resultado é a longa estagnação. É substituir, como diz [Karl] Marx, o fim horroroso pelo horror sem fim.


Valor: No Brasil, tivemos o uso da política fiscal, depois a redução dos juros, e agora a inflação acima da meta e o crescimento baixo. Qual é a particularidade do caso brasileiro?

Lara Resende: Hoje, acho que há uma certa leniência com a inflação. Pode ser que seja um viés meu, um trauma com a inflação, mas acho essa leniência muito perigosa. A credibilidade do sistema de metas e do Banco Central foi conquistada a duras penas. Por exemplo, uma das explicações para as taxas de juros excepcionalmente altas nos últimos anos é que o BC tinha que obter credibilidade. Quando o BC finalmente começava a conseguir a credibilidade, ela começou a ser erodida. É preocupante.

Valor: E a política fiscal?

Lara Resende: O Brasil tem um problema essencial, que não é de hoje, mas dos últimos 50 anos, que é a insuficiência de poupança e, portanto, de investimento. Sem a poupança privada, a solução estaria na poupança pública: reduzir o déficit público e dar estímulo à poupança privada, para que invistam e aumentem a oferta. O Brasil tem feito exatamente o oposto. Estimula sempre a demanda agregada, que está batendo no teto, nos gargalos. Mas se fosse para aumentar gasto público, que fosse no investimento, não nos gastos correntes.

Valor: Seu texto de agosto de 2011 lista esses traços da economia brasileira. De lá para cá, a única variável relevante que se alterou foi a taxa de juros, com a política de redução da Selic.

Lara Resende: O que digo nesse artigo é justamente que a taxa de juros já deveria ter caído, na crise de 2008. Havia quem contra-argumentasse dizendo que, depois, a Selic teria de subir de novo. Quando o BC enfim baixou os juros, houve fortes críticas, mas eu não estava tão convencido de que fosse um erro. Agora acho que o BC subiu os juros com atraso.

Valor: Um objetivo da redução da Selic era incentivar o investimento de longo prazo. Em quanto tempo esse efeito é visível?

Lara Resende: Aumentar os investimentos de longo prazo e o investimento público é mais fácil de falar que de fazer. É necessário ter uma programação e uma logística que não são nada claras. Não se consegue investir com agilidade. O governo americano está tentando, por exemplo, e tem dificuldade.

Valor: E o investimento privado?

Lara Resende: No longo prazo, depende dos chamados "espíritos animais", que dependem, por sua vez, de muita confiança. Mas o governo tem sido titubeante e contraditório. Com isso, piorou muito a visão empresarial sobre o Brasil. Ainda mais no exterior, onde era muito positiva até há poucos anos, e agora está péssima. Foi uma guinada enorme. A percepção doméstica era mais matizada, não tão positiva, e agora não é tão negativa. Mas também piorou.

Valor: O senhor descreve o Plano Collor como "barroco, complexo e agressivo, embora fracassado". Em seguida, diz que ele reduziu o endividamento público e, sem isso, o Plano Real seria impossível. Essa relação é tão estreita assim?

Lara Resende: Esse trecho é uma provocação talvez forte demais. A inflação crônica é fruto do endividamento público excessivo. Só é possível estabilizar a economia se o endividamento for reduzido. No Brasil, o Plano Collor fez, de maneira violenta, agressiva, uma redução drástica no endividamento público, que facilitou o programa de estabilidade posterior. Por sinal, hoje posso dizer que eventualmente essa questão vai aparecer no mundo desenvolvido, também. Alguma forma de redução agressiva da dívida pública vai ser inevitável.

Valor: A desigualdade é um tema que aparece em vários textos, com a avaliação de que o bem-estar proporcionado pela diminuição da desigualdade beneficia também os ricos. Como se obtém uma sociedade mais igual sem arriscar a livre iniciativa e as liberdades individuais?

Lara Resende: A experiência do comunismo soviético levou a uma profunda desconfiança contra a busca da igualdade social, com a suspeita de que isso implique aceitar a redução das liberdades individuais. Mas é possível ter sociedades mais homogêneas e democráticas, como na Escandinávia. Os céticos dizem: basta garantir a igualdade de oportunidade. Mas mesmo esta não pode prescindir da ação de governo. As duas são importantes: igualdade de oportunidades e um mínimo de homogeneidade. Isso deve ser obtido não de forma autoritária, mas com políticas de compensação, que vão do investimento em educação à oferta de cultura.

Valor: Isso inclui as cotas universitárias?

Lara Resende: Eu tinha uma implicância com as cotas, porque é o tipo de coisa que sempre pode levar a abusos. Mas devo confessar que tive que rever minha opinião. Pensei muito nisso nos últimos anos e acho que políticas compensatórias devem ser adotadas.

Valor: Seu livro discute, também, o crescimento como paradigma da economia. A crise teria freado a crença no crescimento como meta absoluta. Como o senhor enxerga o tema do crescimento, a partir da crise de 2008?

"O raciocínio econômico está assentado sobre a ideia de que o processo produtivo cria sem exaurir o mundo físico"

Lara Resende: Esta crise é um caso clássico de crise financeira. O tema do crescimento econômico é importante por outro lado. Ele aparece como objetivo porque, até hoje, foi uma variável aproximativa para o bem-estar. Esse, sim, deve ser o objetivo da política econômica. Mas a correlação entre crescimento e bem-estar pode estar se esgotando. A evidência empírica mostra que é uma correlação verdadeira, mas só até um nível de renda surpreendentemente baixo. Algo como US$ 75 mil anuais de renda. Acima disso, a relação se enfraquece. O bem-estar está associado a outras coisas, como a homogeneidade social. A desigualdade é profundamente desagregadora do espírito social, que é importante para o bem-estar. É evidente, também, como ficou gritante com a entrada da China no mundo do consumo, que nas condições atuais de tecnologia é impossível manter 7 bilhões de pessoas com o padrão de consumo semelhante ao dos países desenvolvidos.

Valor: Além do limite do crescimento possível, haveria um limite do crescimento desejável?

Lara Resende: É preciso fazer essa pergunta. O país que está na fronteira desse problema é o Japão. Chega um ponto em que o país envelhece, reduzindo o crescimento via demografia; e as pessoas ficam saturadas com o consumo. Chegou-se a um nível de renda e de sofisticação em que não se avança mais. A saturação faz com que a economia tenda a ser menos dinâmica.

Valor: Os japoneses, agora, decidiram voltar a perseguir o crescimento. Shinzo Abe, o primeiro-ministro, promete dobrar a base monetária para reativar a economia.

Lara Resende: Tenho dúvidas sobre a tentativa de reanimar a economia artificialmente. A digestão de excesso de dívida com crescimento me parece hoje mais questionável que no passado. Abe quer levar ao extremo algo que começou no próprio Japão, por sugestão de Friedman, em 1998. Nos EUA, Ben Bernanke lançou o "quantitative easing" três vezes, embora menos agressivamente. De outra forma e

por questões políticas, o BCE [Banco Central Europeu] fez o mesmo, assim como o Banco da Inglaterra. É um grande ponto de interrogação em que vai dar esse experimento de política monetária.

Valor: Se a macroeconomia se preocupa tanto com o nível do produto, como ela tem de se transformar para pensar o "pós-crescimento"?

Lara Resende: Precisamos entender que o processo da economia, a produção, o consumo, cria um problema que é mais do que econômico. Existem limites físicos para o crescimento. Isso foi brilhantemente demonstrado por Nicholas Georgescu-Roegen [1906-1994], pioneiro da tese de que havia erro na concepção da economia que pode crescer sempre. O raciocínio econômico está assentado sobre a ideia de que o processo produtivo cria sem exaurir o mundo físico. Mas isso viola a lei da entropia. Todo processo de produção dissipa energia não recuperável. Aquilo que era correto e interessante conceitualmente, hoje tem aplicação prática.


Valor: Quais são os caminhos abertos para lidar com esse problema?

Lara Resende: Há duas teses radicalmente opostas. Os otimistas desconsideram o problema, dizendo que a evolução da tecnologia o resolverá. Do outro lado, a figura paradigmática do pessimismo soturno é James Lovelock, autor da teoria de Gaia. Ele diz: houve um desequilíbrio no macrossistema do planeta. O ser humano, que sempre somou algo como 200 milhões de pessoas sobre a Terra, de repente, em dois ou três séculos, passa a 7 bilhões. Isso é insustentável. É como uma epidemia, e a própria biosfera vai resolver a doença, reduzindo o número de humanos sobre a Terra. Como isso vai acontecer, não se sabe, mas vai. É uma posição bem desagradável, não? Não estamos habituados à ideia de que certas coisas não têm solução.

Valor: Não existe algum meio-termo um pouco mais palatável?

Lara Resende: No meio do caminho tem a posição dos ecologistas. É curiosa. Fala-se na passagem para o crescimento sustentável, mas tenho a impressão de que são duas palavras de um antagonismo radical. De que adianta juntar o aposto "sustentável" à noção de crescimento? Isso não a neutraliza. A tese de Robert e Edward Skidelsky, pai e filho [autores de "How Much is Enough?"], é que há um equívoco. O enriquecimento existe para que se aproveite a vida. Para ter uma boa vida. Temos de voltar ao conceito clássico da boa vida, relacionado a viver bem, à satisfação de prazeres, às fontes de felicidade. Mas eles são críticos, e concordo com eles, da ideia de usar o conceito de felicidade para substituir a renda. Não sabemos como definir a felicidade. Se é um conceito existencial, não é quantificável. Se é utilitarista, não pode ser referência como objetivo de vida. O filósofo Michael Sandel também discute a necessidade de mudar algo na cultura, na nossa visão de mundo. Teríamos de buscar uma vida confortável e agradável, largando o objetivo de possuir cada vez mais, especialmente bens materiais. Mas ainda estamos muito, muito longe disso.

Valor: Quando seus artigos começaram a tratar do "limite do possível", a recepção foi mais forte do que o senhor esperava. Como está esse debate, do ponto de vista intelectual?

Lara Resende: Ainda muito polarizado. Por um lado, há os otimistas de que falei, que desconsideram completamente essa questão, como se fosse um modismo, com apelo entre os jovens: "Quer fazer sucesso, então se diga verde"! Eles ficam irritados quando um economista - digamos assim - "neoclássico" leva o tema em

consideração. Do outro lado, há os que tratam o problema de modo quase religioso. Para eles, se acredito que o planeta tem limites físicos, sou contra o mercado, o sistema de preços, o capitalismo... Isso é uma falsa oposição. O sistema de preços competitivos não é nem de direita nem de esquerda. É um instrumento de transmissão de informação, com o qual muitos tipos de sociedade podem ser construídos.

Valor: Iniciativas de precificar os limites da Terra, como o Protocolo de Kyoto, não avançaram por motivos políticos: países muito relevantes, a começar pelos EUA, mantiveram distância.

Lara Resende: A precificação do problema ecológico reflete um caso clássico de falha de mercado. É um bem público, ou seja, sem custos privados, mas com custos públicos para o consumo. O preço não aparece para o indivíduo. Precificar esses custos com preços-sombra, através de regulamentação, dá de frente com o fato de que é um problema planetário, que exigiria uma governança mundial. Essa é outra questão: o mundo está interligado e precisa de governança internacional... Mas não tem.

Valor: No livro, o senhor associa a necessidade de regulação mundial à crise de 2008. Mas os avanços nesse sentido foram tímidos. Há espaço para tamanha coordenação internacional?

Lara Resende: Nenhuma tentativa de coordenação, desde 2008, foi objetiva. Ainda estamos com o arcabouço discutido na crise de 1930, que levou à conferência de Bretton Woods. Esse arcabouço parece ter ficado obsoleto e inadequado para o avanço de problemas cada vez mais supranacionais. Sempre fui entusiasta da União Europeia, achando que era o grande experimento nessa direção. Infelizmente, a moeda única foi uma precipitação. A crise está testando a convicção política, na UE, de que é necessária uma governança supranacional. Hoje, não está claro que esse teste vai sobreviver.

Valor: O senhor também sugere criar uma moeda supranacional, que não fosse vinculada às instituições nacionais. Como lhe parece essa discussão, que ressurgiu há dois anos?

Lara Resende: Sempre achei isso muito importante. Uma moeda internacional que não substitua as moedas nacionais. Haveria uma moeda de reserva internacional, emitida por um órgão de governança internacional. Não seria como os direitos especiais de saque, do FMI [Fundo Monetário Internacional]. Seria uma moeda no duro. Ela poderia ter circulação e câmbio livre com as moedas nacionais.

Valor: Isso faz lembrar o padrão-ouro.

Lara Resende: Com a diferença de que, como a oferta de ouro era limitada, o padrão-ouro criava problemas deflacionários enormes. O objetivo da moeda internacional seria evitar o efeito desorganizador de uma moeda nacional, como o dólar, funcionando como reserva internacional. Se o país precisa, faz política monetária com objetivos domésticos. Isso é muito desorganizador no plano internacional.

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Por Diego Viana e Robinson Borges | De São Paulo