sábado, 15 de outubro de 2011

Educação - Chile no primeiro lugar da América Latina. Brasil, nos últimos 12 lugares dentre 65 países.



No final do ano passado, a Organização para Cooperação dos Países Desenvolvidos (OCDE) divulgou a quarta edição de seu Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, o Pisa. O Brasil melhorou pouco e continuou entre as 12 últimas posições no ranking de 65 países. Do outro lado do mundo, a cidade chinesa de Xangai e a Coréia do Sul figuraram entre os primeiros colocados ao lado da sempre exemplar Finlândia. Na América Latina, o primeiro lugar é do agora conturbado sistema educacional chileno. O que leva estes países a estas posições?

A presidente da Comunidade Educativa, Beatriz Cardoso, é uma das brasileiras que melhor pode responder a esta pergunta. Ela passou dez dias em cada um destes países para colaborar com a série especial “Destino: Educação”, que estreia na próxima segunda-feira no Canal Futura em parceria com o Sesi e vai ter também um capítulo sobre o Canadá e outro sobre o Brasil.

Se antes de embarcar já achava que o ranking era um dado isolado que devia ser visto ao lado de outros fatores, na volta está convicta de que, sozinho, ele “afunila” e descarta a reflexão. “O ranking tem que existir, mas não pode ter a dimensão que ganha no Brasil”, diz ela. Por quê? A resposta está na descrição que faz dos primeiros colocados na entrevista a seguir.

iG: É possível tirar lições da educação de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia e Chile para o Brasil?
Beatriz: O objetivo era justamente contextualizar o sistema de ensino que gera estes primeiros lugares no Pisa e desmistificar o ranking. Fomos tentar entender qual a sociedade em que aqueles resultados aparecem e o que está dando base para a escola funcionar daquela forma. Não fomos buscar receita, mas compreensão do que está em jogo por trás do resultado e, aí sim, se existem elementos para o Brasil refletir.

iG: O que leva estes países as primeiras posições?
Beatriz: É a base cultural e socioeconômica. Em cada país por um motivo, mas é a pressão ou a cultura geral que levam a educação a ser tão importante. Isso nos faz pensar na nossa base, no que todos nós somos e queremos ser.

iG: Qual país deixou a melhor impressão?
Beatriz: A Finlândia me marcou inteira. Acho que é onde a gente tem mais a aprender. Lá entendemos porque o sistema responde tão bem às necessidades de todos: pela visão igualitária. Eles apostam em todos os cidadãos como pessoas competentes, independente do que eles queiram fazer. As carreiras técnicas são tão bem recebidas quanto as acadêmicas, porque são fundamentais para a sociedade da mesma forma. Há uma parceria muito grande com os pais, com os sindicatos, todo o sistema é a favor da melhor escola possível para todos.

iG: As escolas seguem um modelo massificado como no Brasil ou são diferentes umas das outras?
Beatriz: Lá o professor tem liberdade para fazer o que quiser. A palavra que me ocorre para resumir o sistema finlandês é confiança. O professor confia nos alunos e nas famílias e todos têm confiança de que o professor é extremamente competente. Em uma entrevista a professora diz que a obrigação dela é fazer com que o sistema crie condições para todos aprenderem, não só ela. Eles têm essa percepção de que cada um é importante.

iG: Como um país com sociedade tão diferente como a Coréia do Sul também consegue estar entre os primeiros?
Beatriz: Eles também têm uma base cultural muito forte, mas ali o que põe a educação em destaque na sociedade é a competição. Todo mundo no Brasil cita o exemplo da revolução que a Coréia do Sul promoveu na Educação, mas de que maneira? O compromisso com a educação é muito evidente, mas a competitividade chegou a um ponto extremo. Todo mundo quer ir para a melhor faculdade do mundo. Não é à toa que os índices de suicídio entre os estudantes já são altíssimos. A situação chegou a um ponto que o governo hoje tenta amenizar a pressão. As escolas estão proibidas de dar aulas depois da meia-noite para que eles descansem. Se deixar, nem dormem.

iG: O governo estabeleceu um limite máximo de tempo de estudo?
Beatriz: É para que não estudem o dia inteiro. Eles já vão para a escola pública às 7h30 da manhã e ficam até 4h da tarde, mas todo mundo vai para a particular depois disso e fica até tarde da noite estudando. As famílias cobram de forma muito pesada o resultado e as escolas focam nos melhores, todos querem estar entre os melhores. Enquanto falávamos com um bom aluno, o diretor estava visivelmente nervoso porque, para ele, aqueles minutos eram preciosos, um talento não deveria estar perdendo tempo dando entrevista.

iG: Nesta sociedade, os professores também tem autonomia?
Beatriz: Têm muita autonomia porque são extremamente preparados. A disputa para ser professor é enorme, uma vez que ele consegue a vaga é o dono da sua cadeira. Mas a competição perversa o atinge também. A pressão é enorme.

iG: Qual a grande motivação na China?
Beatriz: Esse é um caso muito interessante e complexo, toda a cultura deles é diferente para a gente. Todo mundo vai para a faculdade, não sei o que vai acontecer daqui 15 anos. A pressão é parecida com a da Coréia, mas ali é pela responsabilidade que o menino tem de cuidar da família. São todos filhos únicos e não existe sistema de previdência. A segurança financeira dos pais e avós depende do sucesso do estudante. Isso gera responsabilidade e cobrança bem grandes. Além disso, a base cultural é totalmente diferente. Não existe namorar, por exemplo. Não faz parte da rotina sair para passear, eles só pensam na universidade. Vão para casa depois da aula e continuam estudando.

iG: Outro país visitado pela sra., o Chile, tem passado por protestos de estudantes. O sistema merece ter recebido a melhor colocação da América Latina?
Beatriz: O Chile foi o primeiro que visitamos, em fevereiro, antes dos protestos, mas já tínhamos a sensação de que o modelo era insustentável. A colocação, que nem é tão boa (eles são o 45º lugar, se destacam pelo primeiro lugar na América Latina) se deve muito pelo fato de metade das matrículas serem do sistema particular. No Brasil, cerca de 90% dos estudantes estão no sistema público. Efetivamente a grande questão que apareceu no Chile foi a desigualdade, quem é pobre tem um tipo de escola, quem é rico, outro. Há conquistas, uma das coisas mais interessantes é o pacto pela educação, nós percebemos que eles colocam isso acima de um governo ou de outro, mas também não estão tão bem assim.

iG: Depois de conhecer esses lugares, qual papel a sra. atribui a listas como o Pisa?
Beatriz: O ranking é inevitável, não pode ser proibido, mas não pode ter a dimensão que ganha no Brasil. Na Finlândia, por exemplo, ninguém está preocupado com isso, o ranking não é sequer mencionado. Esta coisa de publicar lista de escola foca a avaliação no lugar errado. A prova é uma das medidas do sistema. Olhar só o Pisa, assim como o Enem, é afunilar o julgamento. Tem muita coisa por trás dos números.

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Fonte: Ig Educação

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Educação - O Brasil investe mais de cinco vezes por estudante universitário que no ensino básico




A edição atual da The Economist inclui um artigo sobre o estado das universidades na América Latina. A região como um todo tem padrões de baixa escolaridade. Seus alunos fazem muito mal em avaliações da OCDE PISA, que testam o 15-year-olds são capazes de fazer no básico: ler e compreender um texto em sua própria língua, e aplicar idéias matemáticas e científicas para situações cotidianas. Ele também tem uma maneira particularmente perversa de distribuir dinheiro, gastando proporcionalmente menos no ensino primário, que beneficia a todos, e mais no terciário, que é a reserva de poucos. (O Brasil gasta mais de cinco vezes mais por estudante universitário como faz por escola-primária de alunos, de longe a maior taxa no mundo. Em segundo lugar, o México gasta três vezes mais.)Que o dinheiro vai principalmente para os filhos de famílias abastadas, que são capazes de pagar ensino privado e, portanto, fazem bem em exames de admissão da universidade. E é geralmente distribuiu com pouca supervisão de ambos os governos ou estudantes, que geralmente têm muito pouca informação sobre a qualidade para pressionar por melhorias, e não tem o poder de fazer a diferença de qualquer maneira. Pessoal universitário na maioria dos países são unsackable funcionários públicos, enquanto os reitores são eleitos e, portanto, tendem a ser executado em uma plataforma de continuidade.O universidades estaduais paulistas, que estão puxando à frente da embalagem estão fazendo isso com a ajuda de financiamento do Estado generoso, o que lhes permite recolher melhores investigadores da região. Eles também são especializados. Brasil está emergindo como o Demos, um think tank britânico, descreve como uma "economia do conhecimento natural": uma que aumenta o valor de suas mercadorias abundantes pela aplicação da tecnologia, como a fabricação de biocombustíveis a partir da cana de açúcar. Que por sua vez faz com que seja possível reunir uma massa crítica de pesquisadores em um só lugar.Uma das três grandes organizações ranking, Quacquarelli Symonds (QS), produziu um ranking de universidades latino-americanas, os dez primeiros dos quais foram publicados na edição impressa. A lista completa está disponível aqui. Outras organizações classificação estão olhando com cuidado na região também. Times Higher Education, uma revista especializada semanal, diz que tem dados suficientes para produzir um ranking latino-americano. Mas ainda está trabalhando em sua metodologia: seu topo mundial 200 torna-se apenas 1% das instituições do mundo do ensino superior, que competem no mesmo mercado global para alunos e professores. Incluindo muitas instituições mais significaria ter de encontrar novas maneiras de comparar um grupo muito mais diversificado. Até a revista tem certeza que pode fazê-lo de forma justa, diz Phil Baty, o seu editor-adjunto, vai avançar com cautela.QS depende muito mais fortemente do que as outras organizações do ranking em medidas de reputação, o que lhe permite mover-se rapidamente em novas regiões. No entanto, que carrega a desvantagem de potencialmente sobre-avaliação das instituições de grande porte, especialmente aqueles cujos nomes incluem países ou cidades capital, como a Universidade de Buenos Aires ou a Universidade Nacional Autônoma do México. Eles têm centenas de milhares de estudantes cada e som como você deve ter ouvido falar deles, mesmo se você não tem. Ainda assim, um começo já foi feito na abertura universidades da região a um maior escrutínio. Isso só pode ajudá-los a melhorar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ministério quer criar um Vale do Silício da biodiversidade



Emancipar a economia verde no Brasil é um dos projetos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia. A intenção é criar parques tecnológicos que agreguem valor à biodiversidade. "É um projeto difícil e visionário", diz o secretário Carlos Nobre. "Isso existe há muitos anos em outros países, não é invenção do Brasil. O que é novo é o parque mirar a biodiversidade."
A intenção é criar, nas regiões mais biodiversas do país, um ou dois parques de pesquisa e desenvolvimento, nos moldes do Parque Tecnológico de São José dos Campos, (SP), atraindo empresas, pesquisadores, universidades e desenvolvendo novos produtos. 

O que se quer é criar um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que extrapole o padrão extrativista e chegue ao conceito de bioindústria, do economista Ignacy Sachs. Nobre exemplifica com o açaí: "Tem muito valor agregado, mas nós vendemos praticamente a polpa da fruta". No Brasil, só se faz sorvete. Na Califórnia, para onde o açaí foi levado em 1998 por dois surfistas que vieram competir no Recife, a fruta é transformada em 20 produtos diferentes.
 
"Lá é artigo de luxo. Um copo de açaí é vendido nos cafés a US$ 6 ou US$ 8", conta Nobre. O açaí já movimenta, no mundo, perto de R$ 5 bilhões. Nos EUA, fazem fitoterápicos, alimentos, cosméticos. "Ele sai da floresta a US$ 1 o litro. Em São Paulo alcança valor 20 vezes maior. Na Califórnia, 70 vezes maior. "Dá para desenvolver este potencial sem derrubar floresta." 

Já foram identificados 300 produtos amazônicos, mas o Brasil usa comercialmente só cinco ou seis - guaraná, açaí, castanha, cupuaçu, graviola e látex, não mais que isso. "Temos que desenvolver uma indústria que empregue, crie renda e gere desenvolvimento."
 
Para criar esta espécie de Vale do Silício da biodiversidade, Nobre convidou Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa Biota-Fapesp, para dirigir o Departamento de Políticas e Programas Temáticos da secretaria. A ideia é atrair para o parque indústrias de energias renováveis, farmacêuticas, de cosméticos. "Temos que quebrar essa lógica que vê uma área tropical com muita água e pouca densidade demográfica e pensa só na agricultura tradicional", diz "Temos uma economia verde, lucrativa, que é a economia do conhecimento natural."
 
Nobre lembra que existem hoje 750 mil km2 na Amazônia que estão desmatados, e desses, entre 160 mil km2 e 200 mil km2, abandonados. "Com uma fração disso, podemos aumentar a produtividade da carne e da soja sem expandir fronteira agrícola", diz. "É fazer com que retorne a ser produtivo o que já está desmatado." (DC)


domingo, 9 de outubro de 2011

Presidente do BC prevê recuo da inflação em outubro



Num instante em que o IBGE acaba de anunciar que a inflação bateu em 7,31% no acumulado de 12 meses, Alexandre Tombini prevê dias menos piores:

“Nosso horizonte é dezembro de 2012, mas em outubro [de 2011] a inflação em 12 meses vai começar a recuar em 0,30 ponto.”

Antes, o presidente do Banco Central previra que o pior momento da inflação de 2011 seria vivido em agosto. 

Vencido pelo índice de setembro (0,53%), Tombini reposicionou-se numa entrevista aos repórteres Valdo Cruz e Sheila D'Amorim.

Prefere realçar o itinerário, não os desvios conjunturais de rota:

“Desde o início do ano, nosso plano de voo, junto com outras políticas, era moderar o crescimento da economia brasileira…”

“…Há sinais cada vez mais nítidos de que essa moderação veio. Mas dissemos também que a política monetária atua com defasagem…”

“…E que, no segundo semestre [de 2011], a ação dessas políticas seria mais fortemente sentida. Isso vem ocorrendo.”

No comando de uma equipe que pisou no freio dos juros em meio à turbulência, Tombini ganhou um apelido molesto: “Pombini”.
No jargão do mercado, autoridades monetárias que suavizam o combate à inflação são chamadas de “pombos”. Adeptos do receituário conservador clássico, são os “falcões”.

‘Pombini’ dá de ombros: “Se é essa a avaliação, estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia.”
O governo opera com meta anual de inflação de 4,5%. O modelo prevê tolerância de dois pontos percentuais.
Significa dizer que, fechando em até 6,5%, a inflação de 2011 ainda estaria dentro da meta.
A expectativa do mercado está em 6,52%, ligeiramente acima do teto de 6,5%”, diz Tombini. “O regime [de metas] está preparado para essas questões….”
”…Dos países que seguem o sistema de metas, várias economias –Inglaterra, Nova Zelândia e outras— estão com inflação acima da banda ou acima da meta.”
Alheio à qualificação da plumagem, Tombini mantém a expectativa de promover novos tombos na taxa de juros.
“[…] Comunicamos na decisão de agosto, quando reduzimos a taxa básica de 12,5% para 12% ao ano, que ajustes moderados seriam consistentes com a convergência da inflação para a meta de 2012. Essa visão continua válida.”
Ele repisa o discurso segundo o qual o BC não deixou de operar com “autonomia” administrativa.
Já se sentiu pressionado por Dilma Rousseff a puxar os juros para baixo? “Não, absolutamente não”, declarou Tombini, em timbre de Falcão.
Há certa pressão em relação a qual é a visão do Banco Central em relação ao que está acontecendo…”
Há “uma cobrança de como o Banco Central está vendo o cenário internacional, o brasileiro.” Nada além disso.
De resto, o mandarim do BC disse que espera concluir o mandato, em 2014, com uma “inflação girando em torno da meta [4,5%] e uma economia crescendo de forma sustentável.” Algo “entre 4,5% e 5%.”

Josias de Souza/UOL