sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cristovam Buarque, Dilma a gerentona do Brasil


CRISTOVAM BUARQUE (no Senado). Eu tenho ultimamente falado aqui sobre equívocos, do Governo Federal, da Presidenta Dilma, quando a gente olha o sonho que a gente tem de um Brasil futuro.

Quando a gente analisa as medidas econômicas do Governo Dilma nos últimas semanas, e até meses, não dá para reconhecer que são corretas do ponto de vista imediato, mas absolutamente insuficientes, e as vezes incorretas, do ponto de vista de um sonho diferente de país.

Ela vai bem como gerente, mas vai mal como estadista. Eu fico triste por dizer isso. Mas a diferença do gerente para o estadista é que o gerente tem que resolver e se concentra na solução dos problemas de hoje; o estadista resolve os problemas de hoje, construindo o amanhã.

Analisemos a política econômica do Presidente Obama, que, inclusive por causa disso, perde muitos votos. O Presidente Obama, na hora de fazer o seu programa de recuperação da crise que ele herdou do governo anterior, não teve dúvida de que precisava gastar US$800 bilhões no setor produtivo.

Mas onde ele colocou esse dinheiro? Não colocou nas indústrias tradicionais, Senador Paim. Ele começou a investir no desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Ele começou a colocar no setor social, pagando melhores salários aos professores que, com isso, dinamizavam a economia pela renda. Ele teve a solução de gerente, com a visão de estadista.
Hoje, nós não vemos isso no Governo da Presidenta Dilma. Ela dá uma solução de gerente, reduzindo os impostos que pesam sobre os automóveis para vender mais carros. Ela não tem a sensibilidade de reorientar a indústria automobilística para outros produtos, uma vez que essa não é mais compatível com o médio e longo prazo da economia.

E eu tenho chamado isso, Senador Paim, de qual é o sabor que queremos para o bolo que a economia brasileira produz? Qual é o retrato que nós queremos para o País? Qual é o retrato que nós queremos para o País? Não apenas qual é o tamanho do produto que nós queremos cada vez maior para o País. Por exemplo, Senador Paim, nós queremos mais riqueza – ponto – ou queremos menos pobreza? É diferente.

Os economistas venderam por muitos anos a ideia de que se investindo na cúpula, essa renda se distribuiria. Foi falso, demonstrou falsidade isso. Essa ideia não acontece na dimensão suficiente.

Outro exemplo, Senador Paim, eu vejo todo mundo comemorando – e aqui acabou de sair o Senador Suplicy, que falou sobre a importância dos programas de transferência de renda –, mas, como gerente, a saída é aumentar o número de famílias com Bolsa Família; mas, como estadista, é diminuir a necessidade de famílias receberem Bolsa Família. É uma diferença radical.

O gerente, preocupado com a pobreza de hoje, aumenta o Bolsa Família – tudo bem, e tem que fazer isso –, mas o estadista, preocupado com o futuro, toma as medidas para que daqui a 20 anos a gente tenha o Bolsa Família como uma coisa da história. O Bolsa Escola também. São opções diferentes entre gerente e entre estadista.

Nós optamos, nesses últimos poucos anos – eu digo nós, o Brasil, através do Presidente Lula –, por termos Copa e Olimpíadas. Mas qual é o retrato que a gente quer do Brasil? Um país que faz as Olimpíadas ou um país que tem medalhas? É completamente diferente o que se tem que fazer para ter medalhas do que se tem que fazer para ter os estádios e as outras instalações das Olimpíadas. Como gerente, basta cuidar da Copa; como estadista, precisa-se cuidar da taça, precisa-se cuidar das medalhas de ouro, precisa-se cuidar de uma juventude com alto desempenho atlético.

Nós queremos mais viadutos – como todos os governantes comemoram –, ou nós queremos mais jardins, mais água encanada, mais esgoto, saneamento? O que nós queremos? Qual é o retrato que a gente quer? Como é que a gente quer que um satélite veja o Brasil, uma quantidade de viadutos ou um País com jardins, onde todos tenham água, onde todos tenham saneamento?

Nós queremos – e essa aqui, Senador Paim, é importante para mostrar a diferença entre o gerente e o estadista –, nós queremos mais cadeias para colocar os bandidos ou nós queremos um país onde não haja mais crime, onde tenhamos paz? É diferente a visão do estadista e do gerente. O gerente tem que dar solução para os bandidos de hoje, então se constroem mais cadeias; o estadista constrói uma sociedade com paz, uma sociedade em que possamos até um dia derrubar as cadeias. Gerente constrói cadeia; estadista faz um país que permite derrubar as cadeias porque o crime acabou.

Nós queremos mais consumo ou queremos menos endividamento? O gerente aumenta o endividamento para aumentar o consumo para o PIB parecer maior, mas o estadista deve construir um país, cujo retrato é o de uma sociedade sem endividamento, em que as famílias possam dormir tranquilas, como não dormem hoje 60% das famílias brasileiras com medo da conta do banco.

Nós estamos bem de gerência, mas estamos péssimos de estadismo. O gerente tem que recuperar a perda de competitividade do Brasil. O que faz ele? O gerente reduz impostos, pressiona a Previdência, reduz os gastos sociais que pesam sobre o salário, para reduzir o chamado custo Brasil. O que faz um estadista? Ele cria um sistema do conhecimento e da inovação, para que a competitividade volte pela inventividade, pela capacidade de inovação.
 
É completamente diferente a solução gerencial de reduzir o custo Brasil pela diminuição dos custos e a solução estadista para aumentar a quantidade de bens novos, com alto conhecimento, com alta taxa de tecnologia, que faça com o Brasil inteiro fique dependente de nós, em vez de nós dependentes deles.

O que a gente quer? Um Estado maior ou um Estado mais eficiente? É completamente diferente uma alternativa e outra.

Eu não falo daqueles que defendem o fim do Estado, porque aí é um estadismo inconsequente e sem compaixão pela parte pobre da população. Nós precisamos de um Estado atuante, presente. Mas a gente tem que comemorar cada vez mais o Estado maior ou cada vez mais o Estado eficiente?

Senador Paim, surpreende-me cada vez que vejo governantes que querem dizer que são bons em educação, dizendo que gastam mais em educação. Eu não quero saber se eles gastam mais, Senador, eu quero saber se eles têm mais meninos terminando o ensino médio com qualidade.

Um gestor é aquele que reduz os gastos para fazer o melhor possível. O estadista é aquele que busca o melhor olhando o futuro.

No Brasil, a gente perdeu essa perspectiva. Um prefeito diz que merece prêmios de educação porque gasta mais. Ele tem que gastar é melhor, e não mais.

Nós queremos cada brasileiro com carro ou queremos mais brasileiros com livros? Nós queremos, aliás, um País em que o satélite o mostre coalhado de automóveis ou nós queremos um País onde as pessoas riem porque conseguem ir depressa de um lugar para outro?

É completamente diferente a solução gerencial de fazer o possível para vender mais carros hoje e a solução de estadista de fazer com que, no futuro, as pessoas consigam se mover mais rapidamente e, mais que isso, consigam viver bem sem precisar de grandes locomoções dentro da cidade, por uma reorganização do espaço urbano, especialmente do setor produtivo ao mesmo tempo com o setor habitacional, em que as pessoas não precisem andar tanto.

Hoje, com as novas tecnologias, é perfeitamente possível uma parte dos nossos trabalhadores produzirem em casa, mesmo com relação aos produtos mais tradicionais, como móveis. Não precisa mais o trabalhador ir para a fábrica de móveis, Senador Paim; ele pode fazer uma parte dos móveis em uma oficina perto da casa dele e mandar por caminhão para uma indústria onde esses móveis vão ser feitos, aliás, como a indústria automobilística faz: ela monta o produto aqui no País com base em insumos recebidos do mundo inteiro.

Por que a gente não pode fazer isso de uma maneira muito maior? Posso fazer uma lista grande, mas vou colocar pelo menos mais um: nós queremos um país mais rico ou um país com melhor bem-estar? São duas coisas diferentes. Um país mais rico é aquele em que as pessoas têm mais dinheiro na conta bancária. Um país com maior bem-estar é aquele em que as pessoas sabem que, se ficarem doentes, não vão ficar pobres para pagar a conta; que, se ficarem sem dinheiro, o menino não vai ficar sem uma boa escola; que, no final do mês, ele pode caminhar tranquilo nas ruas. Nós queremos um país em que as pessoas tenham mais dinheiro ou mais tempo para andar de casa para um passeio, à noite, sem medo de serem assaltadas? Nós queremos um país com mais riqueza ou com menos mortos por violência? Nós queremos ter dinheiro para fazer casas com mais muralhas ou ter até menos dinheiro e uma casa não grande, mas saber que ninguém vai entrar nela, surpreender sua família com um revólver e levar o que você tem?

A Presidenta Dilma está acertando como gerente, mas está errando como estadista, e ela não foi eleita para ser gerente, porque, aí, a gente não elegeria, faríamos concurso público! Ela foi eleita para ser uma estadista num momento fundamental da nossa história, em que se precisa dar uma virada, como deu Getúlio Vargas, como deu Juscelino! É isso que a gente espera dela, uma estadista que traga um novo projeto de país, um retrato novo, que acabem as vergonhas brasileiras do analfabetismo, de crianças fora da escola, nas ruas, pedindo dinheiro, das notas do Ideb, das greves de universidades por 110 dias, ontem, de greves de trabalhadores da educação de base por meses seguidos. 
 
Este é um País em que, cada vez em que aumenta a sua riqueza, não diminuem suas vergonhas. Nós precisamos de um estadista que acabe com as nossas vergonhas. Para isso, a Presidenta Dilma deveria trazer um discurso completamente diferente dos seus pacotes econômicos que lança a cada semana – e agora está lançando um de aumentar os impostos de importação sobre bens de capital; ainda não foi tomada a decisão, mas, se for, aí é um erro ainda mais grave, não só de estadista, como de gerente, porque são esses bens que vão gerar a possibilidade de a gente crescer. Tem que aumentar impostos é sobre bens de consumo, que estão tirando o emprego das nossas indústrias, e não só dos bens de capital, que viriam para cá e permitiriam que os trabalhadores produzissem os bens de consumo aqui dentro.

A Presidenta Dilma pode estar acertando como “gerentona”, mas eu não votei nela, para ser gerente: eu votei nela para ser estadista, e, nisso, nesses dois anos, ela está frustrando a população brasileira.
  
O gerente é aquele que porta a motosserra. O estadista é aquele que carrega as crianças nos ombros. É completamente diferente!

O gerente tem que derrubar o máximo de árvores, o mais rápido possível, para aumentar o Produto Interno Bruto. O estadista se preocupa em como deixar que a economia produza sem destruir um patrimônio que pertence às gerações futuras – e é aí que está a diferença.
O gerente pensa em ganhar a próxima eleição. O estadista pensa em servir à próxima geração.
O gerente que saber como aumentar o Produto Interno Bruto. O estadista que saber como melhorar a qualidade do Produto Interno Bruto.

Há momentos em que esse problema de melhorar não se coloca, porque está indo tudo muito bem. Nós estamos em uma encruzilhada. As coisas não estão indo bem! A violência, a degradação ambiental, a falta de empregabilidade dos jovens, a perplexidade geral, o atraso do Brasil, mesmo produzindo mais, está mostrando que nós não estamos no bom caminho. Não é que nós estamos paralisados pelo pequeno PIB. Isso daí não é o mais grave! O mais grave é que, se o PIB crescer, nos leva a um caminho ruim; e, se ficar parado, sabemos que é uma tragédia.

Nós precisamos de uma proposta que melhore o PIB. Mas eu creio, Senador, que, neste momento, está havendo um esgotamento da visão tradicional de busca de projeto nacional. O projeto nacional, que vem desde os anos 30, com algumas modificações, se esgotou. E, nas próximas eleições, nós vamos querer saber quem é estadista e quem é gerente; quem promete continuar o mesmo, eficientemente; e quem promete fazer o novo, competentemente.

Eu espero que, nestas próximas eleições – porque num país não se vive pensando em uma eleição, tem que se pensar em dez eleições –, a geração inclusive que virá depois da atual aqui no Senado, a geração de crianças hoje jovens que nem ainda pensam em fazer política – e até por causa de uma das vergonhas nacionais querem fugir da política, por causa do vazio de ideias e da corrupção no comportamento –, que esses jovens, pelo menos eles, tragam aqui para esta Casa, levem para o Palácio do Planalto uma geração em que elejamos um estadista ou uma estadista, e não mais gerente, porque, para gerente, a gente faz concurso público, não faz eleição.

Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para colocar.
Obrigado.

Cachorro ganha destaque na FOLHA DE SP, mas crianças abandonadas.....


A cadela Polly, desaparecida desde a noite desta quarta-feira (5), em Porto Alegre, depois de ser levada no carro roubado de sua dona, foi devolvida na tarde desta quinta-feira (6). Um casal encontrou a shih tzu no estacionamento de um supermercado, na zona sul de Porto Alegre.

Conforme a comerciante Tatiane Sodré de Matos, 30, dona de Polly, a família foi avisada por um telefonema. "Ligaram para nós dizendo que tinham visto ela no bairro Nonoai. Meu marido foi ao local e confirmou. Ela está super bem, alegre e faceira", conta. "A minha filha é a mais feliz com a volta da Polly. Ela está eufórica", completou a comerciante.


Na noite de ontem, Tatiane foi rendida junto com a filha de oito anos e a mãe, de 62, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, quando chegavam em casa. O veículo foi encontrado intacto ainda durante a madrugada. Porém, o que ainda preocupava a família até o final da tarde de hoje era o desaparecimento da mascote.

Através das redes sociais e da imprensa, a comunidade se envolveu na busca por Polly. No início da tarde, havia relatos de que o animal tinha sido visto na zona sul de Porto Alegre, onde as buscas foram intensificadas pela família.
UOL NOTÍCIAS

Campanha de Haddad em SP é a mais cara do Brasil




Líder nas pesquisas com 35% das intenções de voto, o candidato do PRB a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, gastou até agora menos de um décimo do investido pelo rival Fernando Haddad (PT), que tem a campanha mais cara do país.

Depois de dois meses de campanha, Russomanno declarou à Justiça Eleitoral ter gasto R$ 1,3 milhão.

O petista, que tem 16% das intenções de voto e está tecnicamente empatado com José Serra (PSDB) em segundo lugar, teve despesa 11 vezes maior: R$ 16,5 milhões. O tucano disse ter gasto a metade deste valor: R$ 8,4 milhões.

Só com marketing, Haddad gastou mais que toda a campanha de Russomanno: R$ 3 milhões repassados à Polis, empresa do publicitário João Santana.

Outros R$ 2,9 milhões já haviam sido investidos no aluguel de carros de som. O PT ainda declarou gastos de R$ 1 milhão com advogados e R$ 960 mil com a assessoria de imprensa de Haddad.

O volume de investimentos explica a presença maior da propaganda petista nas ruas da cidade. O coordenador da campanha, Antonio Donato, afirmou que os gastos estão dentro do programado.

"Como o eleitor não conhecia Haddad, tivemos que antecipar muitas despesas para espalhar o rosto e o nome dele nos bairros, com apoio dos candidatos a vereador."

Os petistas disseram ter arrecadado R$ 10 milhões até aqui. Deste valor, quase 90% foram contabilizados como repasses do partido -- são as chamadas doações ocultas, em que a origem dos recursos não é discriminada.

O expediente é permitido pela Lei Eleitoral e, segundo Donato, atende a pedidos das empresas. "Os doadores preferem assim. Para nós, tanto faria divulgar", disse.

TOSTÃO

Russomanno investe no mote do "tostão contra o milhão", que elegeu Jânio Quadros prefeito pela primeira vez em 1953. "Estou fazendo uma campanha bem humilde", diz. "Estou conversando aos poucos com empresários, mas ajudas são bem-vindas."

O grosso da campanha é bancado com recursos públicos: o PRB repassou R$ 850 mil que recebeu do Fundo Partidário, mantido pela União, para o candidato.

Seus principais gastos são em panfletos no seu programa de TV --cerca de R$ 300 mil, 15% do que gastou Haddad. Ele tem apenas 2 minutos no horário eleitoral.

O marqueteiro Ricardo Bérgamo não aparece na contabilidade oficial. Ele disse trabalhar de graça para a campanha. (PAULO GAMA, BERNARDO MELLO FRANCO, DIÓGENES CAMPANHA E DANIELA LIMA). UOL.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Candidato do PMDB é acusado de ligação com milícias

Não tem virgem nem junior na terra de Deus

Durante o debate Folha/Rede TV, promovido na noite desta quarta-feira (5), no Rio de janeiro, candidato do PSOL acusou ao Prefeito  Eduardo Paes (PMDB), candidato a reeleção de ligação com milícias paramilitares.

No debate, o candidato do Psol, Marcelo Freixo voltou a ligar o atual chefe do Executivo carioca ao crescimento das milícias. Segundo o candidato do PSOL, ao falar do transporte alternativo na cidade, a relação do governo municipal com os grupos paramilitares "é profunda". "No transporte alternativo, a relação das milícias com a prefeitura é profunda. Esse é o principal braço econômico da milícia e a prefeitura tem responsabilidade sobre esse crescimento", afirmou.

"Esse é um bom debate. As milícias não cresceram sozinhas. Todo miliciano é dono de centro social, e muitos tem parceria com a Prefeitura do Rio. A milícia é uma máfia: eles estabelecem o domínio territorial com um projeto de ocupar o espaço eleitoral. Eles ajudaram a eleger muita gente, é uma máfia com projeto de poder. Basta ver que eles têm bases na Câmara", disse.

Paes revida e  disse não ser necessário "pedir ficha de antecedentes criminais" para participar de reuniões em seu gabinete --em referência a uma fotografia que mostra o candidato à reeleição em uma mesa com milicianos--, e afirmou que Freixo "deveria ler o seu próprio relatório", referindo-se à CPI das Milícias, da qual o deputado estadual foi presidente, ironizando o fato de um ex-candidato a vereador do PSOL ter sido identificado como um dos citados pela CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa do Rio.

Fonte - UOL. 

 

A ideia cujo tempo chegou | Ricardo Young 23000

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Vale acusa Suíça de 'campanha caluniosa'

Empresa diz que não descumpriu contratos e que está sendo usada em disputa política


Em meio a uma disputa judicial na Suíça, a Vale acusa as autoridades do país de estarem usando a mineradora numa briga política doméstica. E, segundo Clovis Torres, consultor-geral da Vale e responsável pela área de tributos, diante do que chamou de "campanha caluniosa", a empresa estaria disposta até a sair da Suíça, não fossem as restrições contratuais.

A empresa rejeita a informação de que violou acordos fiscais com os suíços e alega que está sendo usada de exemplo para outras multinacionais. "Fomos pegos para Cristo", disse Torres.
A mineradora vive uma polêmica em torno do pagamento de seus impostos na Suíça. O governo federal julgou que a mineradora não havia cumprido os critérios do acordo fechado entre a empresa e a região de Vaud, que dava à Vale amplas vantagens fiscais.

Para os suíços, a decisão da Vale de transformar seu escritório no país numa sede mundial, repatriando lucros bilionários de suas operações pelo planeta, não estava prevista quando a exoneração foi estabelecida, em 2006. Na versão das autoridades suíças, o escritório não estava destinado a ser uma sede mundial, com lucros bilionários.

Após cinco anos de vigência do acordo, os suíços decidiram impor uma multa de US$ 233 milhões e ainda reduzir a isenção fiscal de 80% para 60% nos próximos cinco anos. A empresa apelou da decisão, e a confirmação final ainda não saiu.

Torres admite que, no acordo de 2006, existiam condições. "Mas não havia um valor máximo sobre as movimentações." Ele reconhece que, desde 2006, o volume de recursos que passou pela Suíça e pela própria mineradora foi amplamente elevado. "Houve um aumento nos preços dos minérios, compramos a (canadense) Inco e passamos a ter produção em novos locais."
Torres admite que funções da empresa em outros locais foram transferidos para a Suíça e, num total, cerca de 200 empresas da holding mundial foram levadas para o país europeu. "Isso gerou mais receita e mais recursos."

Transparência. Segundo ele, porém, os números das movimentações cada vez maiores eram sempre apresentados ao Fisco de Vaud. "Não há surpresa. Isso nunca foi um problema", insistiu. "Não houve quebra de contratos por nossa parte. Nunca enganamos um país. Não estamos enganando ninguém. Tudo era transparente."


O executivo não hesitou em culpar a disputa política em Vaud pela eclosão da polêmica. Sua avaliação é de que o governo federal suíço optou ainda por estabelecer novas regras para a questão dos benefícios fiscais que cada cantão suíço pode dar e pretende colocar um basta à guerra fiscal entre as regiões para atrair empresas.

O problema, segundo ele, é que está "usando a Vale" como exemplo. "Foram eles que não cumpriram o contrato", disse. "Não estamos e nunca estivemos fechados a um diálogo. Se o governo acha que estamos ganhando muito dinheiro e quer redividir isso, estamos prontos a conversar", declarou.

Saída. Mas a própria Vale admite que já "não se sente segura" no país. Segundo Torres, se não fossem as limitações contratuais, a mineradora poderia deixar a Suíça e buscar uma nova sede mundial. Antes de avaliar a situação na Suíça, a Vale pensou em estabelecer sua sede em países como Holanda e Espanha.

O problema agora, segundo ele, é que o acordo de 2006 prevê que qualquer abandono unilateral de seus investimentos na Suíça faria a empresa ser obrigada a pagar impostos em sua totalidade pelos últimos cinco anos, uma conta milionária e que certamente pesaria para a empresa.

Se tivesse liberdade contratual, a Vale indica que dificilmente ficaria no país. "É por isso que eles (autoridades) estão agindo assim, sabem que não podemos pegar e sair", declarou. "Da forma que estamos sendo tratados, não era o lugar que eu imaginava." Torres acusa o governo de estar conduzindo uma "campanha caluniosa" e uma pressão pouco comum, sabendo das dificuldades financeiras que a Vale teria para deixar o país.

Nesta semana, o Tribunal Federal suíço rejeitou um recurso apresentado pela Vale. Torres explicou que o objetivo da Vale era o de acelerar o processo. "Não queríamos ficar mais presos a isso", disse. Mas o Tribunal rejeitou o recurso. "Agora, vamos aguardar a decisão de fundo", disse, indicando que não há uma decisão final em relação à cobrança da multa e nem sobre a redução da exoneração de 80% para 60%.

Segundo a Vale, o último recurso que foi negado pelo tribunal não tem relação direta com pagamento de multa. "O processo citado envolve o Governo federal suíço e o Governo do Cantão de Vaud. A Vale buscou aproveitar este processo para sugerir que a Justiça decidisse a respeito do mérito da discussão: se devem ou não ser mantidos os incentivos oferecidos à empresa para instalar-se no país. A Justiça negou o pedido da Vale para antecipar o julgamento do mérito", disse a empresa.

A versão apresentada pelas autoridades suíças é de que, ao rejeitar o recurso da Vale, a Justiça estaria abrindo caminho para que haja uma decisão sobre a redução dos benefícios fiscais da empresa na Suíça e sobre a aplicação da multa de US$ 233 milhões, versão que a Vale nega.


JAMIL CHADE O Estado de S. Paulo - 05/09/2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Com Lula, assistência social iguala educação em gastos federais, diz Ipea

Veja que o crescimento dos gastos -ou investimentos em educação e área social, é gritante, entre tanto, se observados em relação ao PIB a evolução dos mesmos itens é mais modesta.

Estudo divulgado nesta terça-feira (4) pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) --órgão do governo federal-- mostra que, ao final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, as políticas de assistência social consumiram R$ 44,2 bilhões dos gastos federais, montante equivalente ao utilizado em educação (R$ 45,5 bilhões).

Intitulado “Gasto Social Federal: prioridade macroeconômica no período 1995-2010”, o estudo aponta que, durante as duas gestões de Fernando Henrique Cardoso, os gastos federais com assistência social subiram de R$ 1,7 bilhão (0,08% do PIB) em 1995 para R$ 15,8 bilhões em 2002 (0,60% do PIB).

Já no primeiro ano de Lula (2003), os gastos federais com assistência social saltaram para R$ 17,4 bilhões (0,66% do PIB) e chegaram a R$ 44,2 bilhões (1,07% do PIB) em 2010, último ano do petista no governo. Durante os oito anos de FHC, os gastos com educação mantiveram-se estáveis e caíram na comparação com a evolução do PIB. Em 1995, o governo gastou R$ 19,7 bilhões ou 0,95% do PIB com educação. Já em 2002, os gastos foram de R$ 19,9 bilhões, o que representava 0,76%

Com Lula, os gastos federais com educação subiram de R$ 18,8 bilhões, ou 0,71 do PIB, em 2003, para R$ 45,5 bilhões, ou 1,11% do PIB em 2010 --valor próximo ao gasto com educação no mesmo ano.
Gasto social cresce 173%

O Ipea considera gastos sociais federais todo o dinheiro que o governo aplica em previdência social, benefícios a servidores públicos, saúde, assistência social, alimentação e nutrição, habitação e urbanismo, saneamento básico, trabalho e renda, educação, desenvolvimento agrário e cultura.

O estudo, que não traz dados referentes aos anos de 2011 e 2012, mostra que, entre 1995 e 2010, os gastos sociais aumentaram 173%.

De acordo com o Ipea, o total dos gastos sociais federais saltou, durante os governos de FHC, de 234 bilhões (11,24% do PIB) em 1995 para R$ 340 bilhões (12,92% do PIB), em 2002. Já durante os governos de Lula, os gastos sociais subiram de R$ 343 bilhões (12,95% do PIB) para R$ 638,5 bilhões (15,54% do PIB), em 2010.

Já considerando o gasto social per capta, a evolução foi de R$ 1.471 ao ano em 1995 para R$ 3.325 em 2010 --em 2002, o valor era de R$ 1.946 e, no ano seguinte, passou para R$ 1.941.

Em 2010, a previdência concentrava 47,5% dos gastos sociais do governo federal, o que representava R$ 303,5 bilhões. Na sequência, apareciam os gastos com benefícios de servidores públicos federais (93,1 bilhões, 14,6% do total), saúde (R$ 68,8 bilhões, 10,8% do total), educação, assistência social, políticas de emprego e defesa do trabalhador (R$ 33,8 bilhões, 5,3%) e habitação e urbanismo (R$ 33,1 bilhões, 5,2%).




Em R$ Bilhões Constantes Dez/2011 (corrigidos pelo IPCA mensal)

Áreas de Atuação
1995
2002
2003
2010
Alimentação e Nutrição
2,3
2,3
2,3
4,5
Assistência Social
1,7
15,8
17,4
44,2
Benefícios Serv. Púb. Federais
51,5
67,9
63,4
93,1
Cultura
0,5
0,5
0,5
1,7
Desenvolvimento Agrário
3,2
3,1
2,8
4,9
Educação
19,7
19,9
18,8
45,5
Emprego e Def. do Trabalhador
11,1
14,9
14,7
33,8
Habitação e Urbanismo
2,3
9
7,8
33,1
Previdência Social
103,7
160,2
172,9
303,5
Saneamento
0,7
2,2
0,9
5,4
Saúde
37,3
44,2
41,9
68,8
Total
234
340
343,3
638,5

Em % do PIB
Áreas de Atuação
1995
2002
2003
2010
Alimentação e Nutrição
0,11
0,09
0,09
0,11
Assistência Social
0,08
0,60
0,66
1,07
Benefícios Serv. Púb. Federais
2,46
2,57
2,38
2,26
Cultura
0,03
0,02
0,02
0,04
Desenvolvimento Agrário
0,16
0,12
0,11
0,12
Educação
0,95
0,76
0,71
1,11
Emprego e Def. do Trabalhador
0,53
0,56
0,55
0,82
Habitação e Urbanismo
0,11
0,35
0,29
0,81
Previdência Social
4,98
6,08
6,52
7,38
Saneamento
0,03
0,09
0,03
0,13
Saúde
1,79
1,68
1,58
1,68
 Total
11,24
12,92
12,95
15,54