quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Negocio da China. Biodiversidade pode entrar na troca.


 ��CHINA

Negócio
 
O Pará está descobrindo o
tal negócio da China. Que
o digam empresários e os
secretários das áreas de
Produção, Pesca e Mineração
do governo, depois do
encontro, sexta-feira passada,
com a missão chinesa no CIG,
comandada pelo presidente
da Câmara do Comércio
Brasil-China, Charle Tang,
naturalizado brasileiro e
profundo conhecedor das
potencialidades do Estado
na geração de negócios. A
China, para quem não sabe,
dispõe de US$ 3 bilhões
para investimento e tem hoje
o maior banco do mundo.


Troca

O negócio é o seguinte: a
China está disposta, desde
que tenha contrapartida,
a trazer uma siderúrgica
completa, só para instalar
no Pará, projetos de mineração
e biodiversidade. Em
troca, oferece fábricas de
moto, ônibus, investimento
em pesca e modernização
dos portos. Quanto à pesca,
setor que segue capengando
no Estado, os chineses planejam
fazer “joint venture” ou
trazer outro modelo capaz
de aproveitar 100% do potencial
da região.


Reporter 70 - O Liberal.

BLOG DO ENRÍQUEZ: Diálogo de Anônimos

BLOG DO ENRÍQUEZ: Diálogo de Anônimos: Serà que alguém jà se deu o trabalho de calcular, retrospectivamente, a "taxa de acerto" de algumas previsões? Desconfio que para alguma...

Diálogo de Anônimos



  • Serà que alguém jà se deu o trabalho de calcular, retrospectivamente, a "taxa de acerto" de algumas previsões?

Desconfio que para algumas, especialmente as dos economistas, uma tal taxa, se calculada, estaria bastante próxima do zero...

Quem sabe isso não estaria também em boa parte decorrente do fato que os economistas, em sua maioria, obstinam-se a aplicar modelos mecanicistas relativamente simples, que com sorte e exceções às vezes funcionam para realidades fisicas o menos remotas possiveis das condições de experiencias de laboratorio, às realidades sociais, nas quais os fatores humanos, biologicos e do pensamento, complexificam irremediavelmente o quadro dos modelos, tornando as hipoteses de racionalidade dos comportamentos individuais bastante frageis, resultando em margens muito amplas de imprevisibilidade.

Pelo jeito, com tais presmissas, a certeza do erro (que haverà erro) parece ser a unica coisa realmente previsivel com certeza (ou pelo menos com uma margem de erro aceitavel)!

Falar de "erro" do modelo de previsão nestas condições parece pleonastico... precisaria jogar o modelo fora e adotar outro!




  • Com a devida vênia e a (in)certeza de poder estar dizendo besteira, pergunto (baseado na jurisprudência de que perguntar não ofende): como ficam os ciclos econômicos, independente da duração? A tendência (trend) conteria elementos para previsão nos curto, médio e longo prazos? Claro que no último cenário (longo prazo) estaremos todos mortos, já dizia o poeta.

Dizia Keynes, com sua visão estática individualista e que vitimou nossa sociedade: no longo prazo todos estaremos mortos.  Delfim Netto foi atrás, quando Ricardo Arnst perguntou a ele no seu livro (O que os economistas pensam sobre sustentabilidade que, a propósito, nem sabia que os economistas pensavam...).  Ricardo perguntou: você não tem medo do que pode acontecer ao planeta e Delfim respondeu: "sou muito velho e não estarei aqui para viver isso". Além de Keynes temos outros cientistas que podem nos dizer com todas as letras que "sem a Amazônia todos estaremos mortos."  Outro poeta (Roegen) lembrou que do ponto de vista da nossa espécie animal somos praticamente imortais.  O nosso fim coletivo está ligado ao nosso individualismo, a falta de solidariedade da nossa espécie animal, entre nossos pares e com os demais seres vivos e ecossistemas (por que não ser carnívoros se não somos nós que entramos no corredor da morte e sofrimento extremo ao longo da vida com um sistema nervoso central?).

Outro poeta (Laszlos) também disse que o futuro não foi feito para ser previsto, mas para ser criado. Na cultura do bilionário e da celebridade que veste a roupa do bilionário para os lavados cerebrais (bilhões de pessoas) isso não faz o menor sentido. Vamos todos tomar Coca-Cola até morrer.

Os economistas são cassandras às avessas.  Apolo apaixonado pela Cassandra deu a ela o poder de prever o futuro, até o dia que ela se recusou em deitar com ele novamente. Nesse dia, ele a amaldiçoou e ela continuou prevendo o futuro, no entanto, ninguém iria mais acreditar nela.  Os economistas são cassandras às avessas, porque não conseguem prever o futuro, mas todos acreditam neles.

Por pura ideologia, claro, e interesse próprio. A crise de 2008 até hoje é uma crise final que vai terminar em colapso das economias e guerras, mesmo antes do colapso planetário. Muito simples: o crescimento não será restaurado, crescimento é um fim em si mesmo, não tem base de sustentação - embora também não tenha sustentabilidade socioambiental.

Incrível. Estamos vivendo o pior modelo econômico na mais alta potência - sem nomes, pois todos - comunismo, socialismo, ditadura, capitalismo - são idênticos e baseados em fluxos e nas falsas suposições que a sociedade pode ser extremamente desigual e que o planeta é inesgotável, inclusive na quantidade de água, apesar de serem claramente finitos.

O futuro que estamos criando no dia a dia é o do colapso total. Até agora não há nada que tenha alterado isso. Ao contrário.

Abraço

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Jornal do Leitor - O Liberal

 Entre Aspas

O atual
ministro da
Integração Nacional,
Fernando Bezerra Coelho
(foto), do PSB, e o ministro
baiano Geddel Vieira Lima
(PMDB), do governo Lula,
mostraram a todo o Brasil
que estão se lixando para
os seus superiores e para
a opinião pública. Eles
simplesmente distribuiram
a maior parte das verbas
destinadas a socorrer as
regiões afetadas pelas
enchentes no Brasil para
os seus redutos eleitorais
em Pernambuco e Bahia,
respctivamente. O
individuo que pratica um
ato desses precisa estar
certo de que ninguém vai
reclamar. Esta foi uma
das heranças do modo
de governar do Lula.
Chama o ministro para
uma conversa, troca um
voto ali, um apoio acolá,
e está tudo resolvido. É a
famosa governabilidade
brasileira. Mas parece que
a presidente Dilma não
gostou. Ela determinou
que a ministra da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, veja
o que está acontecendo
no ministério do Fernando
Bezerra. Muito bem. Vamos
aguardar o resultado desta
intervenção branca. Todos
esperam que Dilma tome
uma atitude firme contra
estes servidores e não
esmoreça com a conversa
dos oportunistas
que a rodeiam
no Palácio do
Planalto.
Wilson Gordon
Parker
wgparker@oi.com.br

"Dilma será constrangida à infidelidade", afirma sociólogo, ex-militante do Partidão, o PCB.


Raros analistas, transcorrido apenas um ano de observação, afirmam de modo tão categórico que a presidente Dilma Rousseff conduz um governo essencialmente diferente ao de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. Para o sociólogo Luiz Werneck Vianna, de 73 anos, professor da PUC-Rio,

Dilma realiza mudanças profundas que abrem novos caminhos na prometida marcha de continuidade à era Lula. Dilma separa-se do padrinho nos direitos humanos, na relação com os sindicatos - "a armação que Lula concebeu e fez funcionar está destruída" - e será cada vez mais impelida à infidelidade. Montará um governo com cara própria e o tocará sob a égide da racionalidade; e não para atender aos caprichos dos amigos e aliados. Dilma, afirma o pesquisador, já está introduzindo uma guinada no presidencialismo de coalizão brasileiro, com ministérios sem "porteira fechada". A tendência, prevê, é de uma coalizão mais programática.

A "estatolatria" de Lula, que significou uma volta ao varguismo e ao regime militar, dá espaço a uma presidente sintonizada com a agenda internacional de uma nova época em emergência, onde o Estado-nação perde força. Dilma é, e será, diferente de Lula, em primeiro lugar, por chegar ao poder em circunstâncias distintas - num mundo em mutação e em crise financeira - e, em segundo lugar, por estar dotada, com sua formação universitária em economia, da capacidade de calcular os riscos por ela mesma.

"É uma inflexão importante. Dilma está introduzindo uma mudança de fundo no presidencialismo de coalizão"

Ex-militante do Partidão, o PCB, quando foi aluno de curso de formação de quadros comunistas internacionais na então União Soviética, em 1974, Luiz Werneck Vianna mantém a posição em causas consideradas polêmicas. Defende as férias de 60 dias dos magistrados e critica o acerto de contas com o regime autoritário, nos moldes realizados pelos vizinhos sul-americanos: "Os direitos humanos dizem respeito aos vivos", afirma o sociólogo, que considera o empresário Eike Batista e a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) símbolos do capitalismo brasileiro em expansão. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Werneck Vianna ao Valor:

Valor: Qual é a sua avaliação do primeiro ano de Dilma Rousseff?
Luiz Werneck Vianna: Mudou em relação ao governo anterior, em que pese a própria Dilma.

Valor: Como assim?
Werneck Vianna: Independentemente de querer ser fiel ao patrono, ela vai ser constrangida à infidelidade. Já está montando um governo com cara própria. Caíram seis ministros, por denúncias de corrupção, sendo que o sétimo, o Nelson Jobim [ex-ministro da Defesa], era absolutamente chave. Foi uma perda imensa. Os outros significavam bem essa política do presidencialismo de coalizão do Lula. E essa é uma inflexão importante. A Dilma está introduzindo uma mudança de fundo na arquitetura do presidencialismo de coalizão no Brasil: [o ministério] não vai ser de porteira fechada. Tende a ser uma coalizão programática, o que nunca ocorreu no Lula. Era "Vem cá meu bem, que para você tem" e com isso você pode atender seu partido, seus amigos. A primeira implicação é uma mudança no sentido de partidos que parecem mais estruturados do que nossa filosofia admite. Para que o presidencialismo de coalizão programático funcione é preciso que os partidos estejam mais estruturados do que estão.

Valor: Quais são as evidências?
Werneck Vianna: Ela está conversando mais com os secretários-executivos sobre a realização de programas de governo. Na reforma ministerial, isso vai aparecer de forma mais definida.

Valor: A reforma vai ser importante para dar a cara dela.
Werneck Vianna: Vai definir qual será a natureza do presidencialismo de coalizão. Porque não há sociedade que tolere, com esse sistema de freios e contrapesos, e porque não há recursos para esses gastos perdulários. Tende a enxugar, tende a racionalizar. Essa é uma tendência do governo Dilma: racionalização.

Valor: O desafio é encontrar uma fórmula que não desagrade tanto a classe política, como a contenção de emendas parlamentares.
Werneck Vianna: E nem [desagrade] embaixo. Dependendo de como ela manobre, podemos ter turbulências. Politicamente, ela não tem ninguém relevante do lado dela. Perdeu o [Antonio] Palocci [ex-ministro da Casa Civil] e o Nelson Jobim. São quadros que ela não tem como recuperar.

Valor: O senhor critica uma certa "estatolatria" que haveria no Brasil. Dilma mudou em relação a Lula?
Werneck Vianna: Com ela, tende a diminuir. Se eu estiver certo, nós vamos ver nos próximos meses um progressivo distanciamento dos sindicatos e dos movimentos sociais em relação ao governo. O MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] já começou.
Valor: Isso é bom?
Werneck Vianna: Dá mais autonomia para a sociedade.
"Eike Batista e Kátia Abreu são os novos personagens do capitalismo brasileiro. Vigorosos, sem ostentação"

Valor: Por que Dilma abriria mão do arranjo político que foi tão bem sucedido com Lula?
Werneck Vianna: Porque ela está vivendo um outro mundo, onde terá que fechar o cofre. E porque nós estamos vivendo uma mudança de época. O mundo mudou. Sabemos do que estamos nos afastando, mas ainda não pressentimos para onde vamos.

Valor: De que nos afastamos?
Werneck Vianna: Do que se poderia caracterizar, como no diagnóstico da [filósofa] Nancy Fraser, de um paradigma keynesiano-westfaliano. Estamos indo para um mundo onde temas centrais da vida moderna são tratados por organismos que exercem jurisdição internacional, por exemplo os que mexem com economia, meio ambiente e terrorismo. Exemplo forte é o da Justiça internacional, com o Tribunal Penal, acima dos Estados nacionais. É uma época de inovação, de criação.

Valor: O Brasil, com o recente fortalecimento do peso do Estado, não seria um contraponto à tendência?
Werneck Vianna: Esse deslizamento está acontecendo numa escala mundial. O Estado-nação perde força. E as ideologias, comportamentos e atitudes que vieram com ele vêm se esmaecendo. Mas no segundo mandato de Lula, houve uma mirada no retrovisor. Foi um momento de forte adesão ao paradigma keynesiano-westfaliano, no momento em que esse paradigma no mundo perde força.

Valor: Como isso se deu?
Werneck Vianna: Houve um retorno a um repertório dos anos 30, do Estado Novo, do regime militar, do "Brasil país grande potência". O tema [westfaliano] da grandeza nacional foi um retorno quanto à política do regime militar, especialmente a do governo Geisel. Esse eixo Getulio-JK-regime militar se projetou inteiro no segundo mandato de Lula. Isso envolvendo políticas e valores do nacional-desenvolvimentismo. [O economista] Celso Furtado [1920-2004] foi guindado a uma figura ícone do governo. Agora mesmo, um navio importante recebeu o nome dele. Na política externa, teve acompanhamento, especialmente, nas relações com o mundo árabe, América Latina... Para não falar da forte "estatalização" do movimento sindical.

Valor: A relação com os sindicatos mudou muito?
Werneck Vianna: A Dilma herda esse eixo, mas só que o mundo deslizou, vem deslizando. A armação que Lula concebeu e fez funcionar está destruída. Este sindicalismo não tem mais o velho lugar, quando sentava com o presidente da República e deliberava como ia ser o salário mínimo futuro - tanto de produtividade, tanto de inflação - e que virou lei agora. Isso foi feito com Lula e eles. Não tem mais Dilma e eles.

Valor: Ter os sindicatos por perto não seria uma medida mais racional para Dilma?
Werneck Vianna: Mas a conta também é alta. Passa pela Previdência, pelo salário mínimo, ajuste fiscal, custo Brasil, não dá mais. Essa crise está limpando a névoa, está obrigando a que o argumento econômico seja mais respeitado. Há exemplos de fora: Itália, Espanha. As medidas dela não terão como objeto os que estão em cima, as elites econômicas, mas quem está embaixo. Você continua a viver num condomínio entre governo e elites econômicas do país. Sempre disse isso.

Valor: O combate à pobreza e a ascensão de uma nova classe média não contradizem essa ideia?
Werneck Vianna: Está sendo importante. Mas são processos que requerem muita maturação.

Valor: Que outras diferenças marcam o estilo Dilma?
Werneck Vianna: Há uma diferença irremovível: ela tem formação universitária e numa área determinada, em economia. Alguma coisa de economia ela entende. O Lula, não. Delegava. A crise chega com a presidente no olho do furacão, sabendo ler, interpretar e calcular os riscos por ela mesma.

Valor: O país está em boas mãos?
Werneck Vianna: Não estou avaliando se é melhor ou pior. Só sei que quando os sindicatos chegam, com as suas pretensões, ela tem objeções a fazer, como fez na época da votação do salário mínimo. "Isso eu não posso dar". Ela sabe que não pode dar. E em outras coisas, como Previdência, saúde, ela é obrigada a se adaptar a uma agenda mais racional-legal do que Lula, por razões econômicas e por razões de fortalecimento de um sistema de freios e contrapesos que foi se tornando cada vez mais importante, além da mídia.

Valor: Nestes termos weberianos, Dilma busca legitimar seu poder no mundo da técnica enquanto a fonte de Lula era o carisma?
Werneck Vianna: Pode-se dizer. Mas, independentemente desse cálculo, há constrangimentos que fazem com que ela seja orientada para esta direção, e não outra. Não tem como não aderir a este movimento. A cognição política pode ser a mesma, o que muda é a circunstância, é a "fortuna", para ficar na imagem cediça do Maquiavel. E, aí, a "virtù" tem que mudar também. O tema dos direitos humanos ganhou uma projeção no governo Dilma, que não teve no governo Lula. O movimento sindical sofreu - a meu ver foi uma ferida funda - um abalo, com a saída desse ministro [Carlos Lupi, do PDT], que vinha do atraso sindical.

Valor: Qual é a consequência?
Werneck Vianna: O movimento sindical vai conhecer a divisão real entre as centrais, por exemplo, entre CUT, Força...

Valor: Mais competitividade?
Werneck Vianna: Sim, e também mais independência em relação ao governo. Com o Lupi, houve a ampliação da vida sindical em torno dos projetos governamentais. O sindicalismo foi se expandindo, com todos os sindicatos se arregimentando ao governo.

Valor: Fora o acesso aos recursos do imposto sindical.
Werneck Vianna: E Lupi dando carta sindical para todo mundo e tudo isso aparelhado com ONGs. Mas, independentemente disso, o Lupi não caiu por causa da Dilma.

Valor: Por que ele caiu?
Werneck Vianna: Porque as instituições democráticas se reforçaram no país.

Valor: A Comissão de Ética da Presidência da República ganhou um peso que não tinha.
Werneck Vianna: A Comissão de Ética era para ter um outro papel, mais dócil. E não teve.

Valor: A recomendação de saída do ministro deixou a presidente numa saia-justa.
Werneck Vianna: Para ela, destituir a Comissão seria um desastre, nem poderia fazer. A Comissão teve uma importância inesperada. E mais: deixou uma raiz, um sedimento, deixou, digamos, uma jurisprudência.

Valor: Foi o nascimento de uma nova instituição de controle?
Werneck Vianna: Isso ao lado da Controladoria Geral da União e desses mecanismos todos que foram criados pela Constituinte ou depois dela, para que a sociedade pudesse fiscalizar o Executivo. Era tudo nominal, no papel. A esquerda em 1988 - consideradas as forças que mais tarde fundaram o PSDB e o PT, que já existia - não tinha a menor ideia do papel que essa institucionalidade iria ter. A presença dessas instituições e do Judiciário na vida política brasileira não foi algo que surgisse daquela intelligentsia e daquela esquerda. Isso não estava na cabeça do Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente], não estava na do Lula, do Ulysses [Guimarães, ex-presidente da Câmara dos Deputados e da Assembleia Nacional Constituinte].

Valor: Estava em quem?
Werneck Vianna: Parece que foi uma associação entre juristas e [o ex-governador de São Paulo] Mário Covas, especialmente o José Afonso da Silva [constitucionalista, ex-secretário de Segurança Pública de 1995 a 1999 e principal assessor jurídico de Covas quando ele era senador, na Constituinte].

Valor: Como deve ser a sucessão no Ministério do Trabalho?
Werneck Vianna: É difícil. Porque também não dá para entregar para um petista, que vem com a agenda prontinha lá daquele fórum de 2004 [o Fórum Nacional do Trabalho], com uma carga doutrinária sobre o assunto e a defesa da pluralidade sindical. Não pode entregar a um [Ricardo] Berzoini [ex-ministro do Trabalho, do PT, entre 2004 e 2005].

Valor: O PT no Ministério do Trabalho é um complicador?
Werneck Vianna: Acho impossível [a nomeação de um petista]. Ele é obrigado a fazer reforma. O Berzoini tentou. Fez uma emenda constitucional.

Valor: O senhor costuma mencionar em suas análises o processo de expansão do capitalismo no país. Quem o lidera e para onde ele vai?
Werneck Vianna: Vai sem projeto, politicamente desarmado. Mas tem sua energia, é voraz. Esse Eike Batista [presidente do grupo EBX e oitavo homem mais rico do mundo] pode ser considerado uma figura emblemática. Tem essa ética, com uma vida de monge, não é um homem de consumo conspícuo. Vive para servir à riqueza, à acumulação, como se fosse um herói calvinista. Ele é bem representativo. E os homens do agronegócio também. A [senadora] Kátia Abreu [do PSD de Tocantins e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)] é outra. São os novos personagens do capitalismo brasileiro. Vigorosos, sem fraquezas, sem ostentação. Os Matarazzo [de São Paulo] tinham uma vida mais aristocrática.

Valor: Seu trabalhos sobre judicialização da política são referência. Como o senhor avalia as críticas às tentativas de se podar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)?
Werneck Vianna: Isso vai na esteira do mesmo processo de intensificação do mecanismo de controle [das instituições brasileiras].

Valor: O CNJ é importante?
Werneck Vianna: Freios e contrapesos fazem parte de uma dinâmica que tem funcionado cada vez mais.

Valor: Prerrogativas dos magistrados, como férias de 60 dias, são justificáveis?
Werneck Vianna: É uma atividade terrível. Há determinadas profissões que também têm férias mais extensas, escafandristas, esse tipo de coisa. A sociedade é que tem que estabelecer isso.

Valor: A Comissão da Verdade não chega tardiamente?
Werneck Vianna: A minha posição não acompanha as posições majoritárias aí na intelligentsia. Acho que a gente deve recuperar a história, mas o passado passou. Página virada. Cada país fez, em circunstâncias diferentes. Você, à esta altura, rasgar a Lei da Anistia, seria jogar o país numa crise, não sei para quê.

Valor: E para conhecer as circunstâncias das mortes, sem punição, como aprovado?
Werneck Vianna: Isso deve existir, com estes limites.

Valor: Os militares recorrem sempre à acusação de revanchismo.
Werneck Vianna: Mas, vem cá, as grandes lideranças que nos trouxeram à democracia tiveram muito clara essa questão: anistia real, geral e irrestrita. As forças derrotadas, ou seja, a luta armada, querem reabrir esta questão? Não foram elas que nos trouxeram à democracia. Nos momentos capitais, ela não estava à frente, na luta eleitoral, na luta política, na Constituinte. Era um outro projeto.
Valor: Por isso ela é menos legítima para reivindicar investigações sobre o período?
Werneck Vianna: É politicamente anacrônica. O país foi para frente. Tem uma ex-prisioneira política na Presidência da República. Altos dignitários da administração têm a mesma origem que ela.
Valor: Os direitos humanos não deveriam estar além do conflito entre projetos à esquerda ou à direita?
Werneck Vianna: Os direitos humanos dizem respeito aos vivos. Aos mortos, o velho direito de serem enterrados como Antígona [protagonista da tragédia grega de Sófocles] quis enterrar o irmão em solo pátrio. É o que esta Comissão da Verdade está fazendo.

Acredite. Lupi outra vez

BRASÍLIA – O ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi vai reassumir nesta segunda-feira a presidência nacional do PDT. A informação é do presidente nacional em exercício da sigla, André Figueiredo. Lupi foi exonerado do Ministério do Trabalho em dezembro, depois de denúncias de irregularidades. A posse será em reunião do partido na Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, no Rio.

Lupi está licenciado da presidência da legenda desde 2008, quando assumiu a Pasta do Trabalho. Ele foi reeleito para o cargo em 2011. “Como foi eleito na convenção para um mandado de dois anos, ele reassume naturalmente a presidência do partido”, afirmou Figueiredo.

O Movimento de Resistência Leonel Brizola afirmou, em seu site, que discorda da volta de Lupi à presidência do PDT “por não ver condições políticas nem éticas para a volta ao cargo de pessoa com tantas explicações a dar à sociedade”. A entidade também convocou para esta segunda-feira uma manifestação contra a recondução do ex-ministro ao cargo.

Carlos Lupi foi acusado no fim do ano passado de ter sido beneficiado por um suposto esquema de cobrança de propina em convênios do ministério celebrados com Organizações Não Governamentais (ONGs). O pedetista também teria viajado em um jatinho providenciado pelo dono de uma entidade com contratos com a Pasta quando cumpria agenda oficial.

Além disso, reportagem do jornal “Folha de São Paulo” apontou que Lupi teria acumulado cargos comissionados na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
(Daniela Martins / Valor)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ana Julia Reclama de notícia requentada e avisa que recorrerá à justiça. Aguardamos desenlace.

Veja diálogo democrático com Ana Julia que reclama de notícias requentadas que a acusam de prestação de contas irregulares. Ela se defende e pede que poste no Blog do Enriquez a sua defesa.  Solicitação satisfeita no Twitter, já que foi aí que Tweetie a matéria


GONZALO E V ENRIQUEZ

Ana Julia. Indicada diretora de subsidiária do BB, ex-governadora PA enrolada com sumiço de R$ 77 mi - ÉPOCA | Tempo


Oi Enriquez. Pediria, que vc também postasse a nossa resposta, onde informo que recorrerei à Justiça tbm, no seu Blog. Obrigada! 





Olá Ana Julia. A nota d Época não foi para O Blog. Aí só publico temas sobre os que tenho total dominio. É bom entrar na justiça contra AGE
7 de ene a las 19:11


Ana Júlia

Publica também esta rersposta. É democrático: Resposta à “denúncia” requentada na Época  

Publicada!
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Africanos e palestinos são "não-pessoas", e aquecimento global é um "não-problema"



Noam Chomsky

Em 15 de junho, três meses após o início do bombardeio da Otan na Líbia, a União Africana apresentou ao Conselho de Segurança da ONU sua posição em relação ao ataque –na verdade, um bombardeio por seus agressores imperialistas tradicionais: França e Reino Unido, com participação dos Estados Unidos, que inicialmente coordenaram o ataque, e marginalmente alguns outros países.


É preciso lembrar que ocorreram duas intervenções. A primeira, sob a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, adotada em 17 de março, pedia uma zona de exclusão aérea, um cessar-fogo e medidas para proteção dos civis. Após poucos meses, essa intervenção foi deixada de lado assim que o triunvirato imperialista se uniu ao exército rebelde, atuando como sua força aérea.

No início do bombardeio, a União Africana pediu por esforços diplomáticos e negociações para impedir uma provável catástrofe humanitária na Líbia. Em um mês, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros se uniram à UA, incluindo um importante país membro da Otan, a Turquia.

De fato, o triunvirato ficou um bocado isolado em seus ataques –visando eliminar um tirano caprichoso a quem apoiaram quando foi vantajoso. A esperança era de um regime mais flexível às exigências ocidentais de controle sobre os ricos recursos da Líbia e, talvez, que oferecesse uma base africana para o Comando dos Estados Unidos para a África, Africom, até o momento confinado a Stuttgart.

Ninguém sabe se os esforços relativamente pacíficos pedidos pela Resolução 1973 da ONU, apoiada por grande parte do mundo, teria tido sucesso em impedir a perda terrível de vidas e a destruição que se seguiu na Líbia.

Em 15 de junho, a UA informou ao Conselho de Segurança que “ignorar a UA por três meses e prosseguir com os bombardeios contra o território sagrado da África era despótico, arrogante e provocador”. A UA apresentou um plano para negociações e policiamento dentro da Líbia por forças da UA, juntamente com outras medidas de reconciliação –sem sucesso.

O pedido da UA ao Conselho de Segurança também apresentava o fundamento para suas preocupações: “A soberania tem sido uma ferramenta de emancipação para os povos da África que estão começando a traçar caminhos transformadores para a maioria dos países africanos, após séculos de comércio de escravos, colonialismo e neocolonialismo predatórios. Ataques negligentes contra a soberania dos países africanos são, portanto, o equivalente a infligir novas feridas contra o destino dos povos africanos”.

O apelo africano pode ser encontrado no jornal indiano “Frontline”, mas foi praticamente ignorado no Ocidente. Isso não causa surpresa: os africanos são “não-pessoas”, usando o termo de George Orwell para aqueles inaptos a entrar na história.

Em 12 de março, a Liga Árabe ganhou o status de pessoas ao apoiar a Resolução 1973 da ONU. Mas a aprovação logo desapareceu, quando a Liga não apoiou o bombardeio subsequente contra a Líbia pelo Ocidente.

E em 10 de abril, a Liga Árabe voltou a ser não-pessoa ao pedir à ONU que também impusesse uma zona de exclusão aérea sobre Gaza e suspendesse o bloqueio israelense, sendo virtualmente ignorada.

Isso faz sentido. Os palestinos são um modelo de não-pessoas, como vemos regularmente. Considere a edição de novembro/dezembro da “Foreign Affairs”, que abriu com dois artigos sobre o conflito entre israelenses e palestinos.

O primeiro, escrito pelas autoridades israelenses Yosef Kuperwasser e Shalom Lipner, atribui aos palestinos a culpa pela continuidade do conflito, ao se recusarem a reconhecer Israel como um Estado judeu (de acordo com a norma diplomática: Estados são reconhecidos, mas não setores privilegiados dentro deles).

O segundo, pelo acadêmico americano Ronald R. Krebs, atribui o problema à ocupação israelense; o artigo é intitulado: “Como a Ocupação está Destruindo a Nação”. Que nação? Israel, é claro, prejudicado por manter suas botas no pescoço das não-pessoas.

Outra ilustração: em outubro, manchetes anunciavam a libertação de Gilad Shalit, o soldado israelense que foi capturado pelo Hamas. O artigo na “The New York Times Magazine” foi dedicado ao sofrimento de sua família. Shalit foi libertado em troca de centenas de não-pessoas, sobre as quais sabemos pouco, fora o debate sobre se a libertação delas pode prejudicar Israel.

Nós também não sabemos nada sobre as centenas de outros detidos em prisões israelenses, por longos períodos sem uma acusação.

Entre os prisioneiros não mencionados estão os irmãos Osama e Mustafa Abu Muamar, civis sequestrados pelas forças israelenses que atacaram a Cidade de Gaza em 24 de junho de 2006 –um dia antes da captura de Shalit. Os irmãos então “desapareceram” dentro do sistema carcerário de Israel.

Independente do que alguém pense a respeito da captura de um soldado de um exército inimigo, o sequestro de civis é um crime muito mais sério –a menos, é claro, que eles sejam meras não-pessoas.

Certamente esses crimes não se comparam a muitos outros, entre eles os crescentes ataques contra os cidadãos beduínos de Israel, que vivem em Negev, no sul do país.

Eles estão sendo expulsos sob um novo programa que visa destruir dezenas de aldeias beduínas para as quais eles foram expulsos anteriormente. Por razões benignas, é claro. O Gabinete israelense explicou que 10 assentamentos judeus seriam fundados lá “para atrair uma nova população para Negev” –isto é, substituir não-pessoas por pessoas legítimas. Quem faria objeção a isso?

A estranha raça de não-pessoas pode ser encontrada em toda parte, inclusive nos Estados Unidos: nas prisões que são um escândalo internacional, nas cozinhas, nas favelas e cortiços.

Mas os exemplos são enganadores. A população mundial como um todo está à beira de um buraco negro.

Nós vemos lembretes diários, mesmo em incidentes pequenos –por exemplo, no mês passado, quando os republicanos na Câmara dos Deputados americana barraram uma reorganização virtualmente sem custo para investigação das causas dos eventos climáticos extremos de 2011 e fornecimento de previsões melhores.

Os republicanos temiam que ela poderia ser uma abertura para “propaganda” sobre o aquecimento global, um não-problema segundo o catecismo recitado pelos pré-candidatos daquele que, anos atrás, costumava ser um partido político autêntico.

Pobre espécie triste.
Tradução: George El Khouri Andolfato