sexta-feira, 25 de junho de 2010

Energia - Venezuela expropia plataformas amaricanas, é pouco

A Venezuela anunciou que vai estatizar 11 plataformas de petróleo da americana Helmerich & Payne, sob a acusação de que a empresa está boicotando a produção venezuelana de petróleo.

A empresa paralisou no ano passado suas plataformas após o governo não pagar uma dívida referente a serviços já prestados. Ontem o presidente executivo da Helmerich & Payne, Hans Helmerich, disse que não havia sido notificado da intenção do governo. Ele exigiu que o governo salde a dívida, avaliada em US$ 43 milhões.

O governo americano - que mantém uma relação conflituosa com o governo do presidente Hugo Chávez - também reagiu. "Se eles tomarem essa iniciativa, nós falaremos com eles para que compensem os proprietários das plataformas", disse Mark Toner, um dos porta-vozes do Departamento de Estado dos EUA.

Toner disse ainda que a iniciativa de Caracas não contribui para o clima de investimentos na Venezuela. Na quarta-feira à noite, o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, que acumula o cargo de presidente da estatal de petróleo, PDVSA, disse que a estatização é uma resposta a empresas que se opõem ao governo Chávez e que agem para minar a produção de petróleo. A produção nacional vem caindo nos últimos anos.

"Há um grupo de donos de plataformas que vem se negando a negociar com a PDVSA os pagamentos pelos serviços e que tem preferido manter esses equipamentos encostados há um ano em Anaco, no Estado de Anzoátegui", disse o ministro.

"Esse é o caso específico da Helmerich & Payne. Nós não vamos permitir que eles sabotem nossas operações." Segundo Ramírez, com a estatização o governo pretende ampliar a produção de petróleo no país.

A estatização das plataformas precisa ainda ser aprovada pela Assembleia Nacional - onde Chávez tem maioria. O governo vinha alertando que empresas com equipamentos parados poderiam ser alvo de estatizações. No ano passado, mais de 60 empresas de prestação de serviços do setor do petróleo passaram para o controle do Estado.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Meio ambiente - Belo Monte e ambientalistas

Os ignocentes.

Belo Monte, a floresta e a árvore

Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Se o Brasil for impedido de ampliar o aproveitamento do potencial hidroelétrico, então será forçado a recorrer ao uso de combustível fóssil

Publicado na Folha de São Paulo, 19 de maio de 2010

QUE CARNAVAL estão fazendo os ambientalistas e ecopalermas em torno da futura usina de Belo Monte, a ser implantada no médio Xingu, na Amazônia.

O primeiro crime, segundo eles, seria o sacrifício de 500 km 2 de mata, ou seja, a mesma área que, em média, tem sido desmatada a cada dois dias neses últimos anos, devido ao comércio de madeiras e à invasão da soja e do gado na Amazônia.

Esse exército extemporâneo de Brancaleone é composto de conservacionistas de diversas espécies. Além de uma tribo de índios locais e de bem-intencionados, porém mal informados, estudantes e intelectuais, veem-se artistas de Hollywood e de outras culturas, malabaristas, fanfarrões e pseudointelectuais.

Será que esses senhores deixaram de comprar móveis de mogno, ou se manifestaram perante seus governos, ou boicotaram a carne e a soja produzidas na Amazônia? Será que percebem que a área alagada pelo projeto Belo Monte corresponde a tão somente 0,01% da Amazônia brasileira e que bastariam 0,025% do rebanho nacional de gado para invadi-la, dentro da média atual de ocupação?

Ou seja, da maneira como está planejada Belo Monte, usina de fio d'água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condições ecológicas e também financeiras.

Alguns talvez argumentem que, somando vários 0,01% do território da Amazônia, então se ocuparia parcela apreciável do território amazônico Ah, que bênção seria se tivéssemos mais uma meia dúzia de Belo Montes!

Mas, infelizmente, não existem tais riquezas. Tudo bem, vão dizer os mais inteligentes e bem-intencionados "ignocentes" (neologismo composto por 50% de inocência + 50% de ignorância), mas e a biodiversidade?

Ora, qualquer espécie que esteja espontaneamente restrita a um território de 500 km 2, excetuando-se algumas confinadas a pequenas ilhas, já está em extinção. Só um ignorante pode pensar em perda de biodiversidade nessas circunstâncias. E é claro que muitos espécimes vão sucumbir, milhares, se não milhões de formigas, carunchos e talvez até alguns mamíferos.

Em compensação, 20 milhões de brasileiros poderão ter luz em suas casas, muitos outros locais passarão a ter benefícios do progresso, poderão ver pela TV o "Programa do Ratinho". Indústrias geradoras de emprego serão implantadas. É isso que os "ignocentes" não percebem.

Eles veem a árvore, mas não percebem a floresta onde ela está inserida, sem a qual não pode a árvore sobreviver. Quanto à questão social, é preciso lembrar que o caso de Belo Monte é muito diferente do de Três Gargantas, na China, onde a densidade da população ribeirinha era extremamente elevada.

O governo chinês admite que precisou realocar 1 milhão de habitantes; outras organizações falam em 2 e até 3 milhões. Em contraste, considera-se que, em Belo Monte, apenas dois ou três milhares de habitantes são computados e que, na mudança, ganhariam significativamente quanto a infraestrutura e conforto pessoal.

Os índios da região amazônica são, em origem, seminômades, deslocando-se periodicamente sempre que recursos naturais se escasseiem devido ao extrativismo a que eles mesmos recorrem. Portanto, dos pontos de vista cultural, psicológico e até mesmo material, contrariamente ao que pretendem alguns ambientalistas, o índio pouco ou nada sofrerá.

Vejamos por que são tão ingênuos esses bem-intencionados verdolengos. Se o Brasil for impedido de ampliar o aproveitamento do seu potencial hidroelétrico, será forçado a recorrer ao combustível fóssil, pois a energia eólica, embora desejável sob vários aspectos de sustentabilidade, não oferece segurança de fornecimento acima de certo nível de participação em um sistema integrado.

Além do mais, a distribuição de ventos pode mudar com as inexoráveis mudanças climáticas, devido ao aquecimento global. E, se jamais o pré-sal vier a se concretizar, não haverá como convencer os líderes governamentais de que usinas termoelétricas a óleo combustível serão prejudiciais à humanidade. Será que tais ambientalistas não percebem que não deixam alternativa ao país senão o uso de combustíveis fósseis, o que acarretará, inelutavelmente, embora a longo prazo, a desertificação da Amazônia, dentre outras catástrofes?

Com isso, não será apenas a meia dúzia de saimiris que perecerá nos 500 km 2 da usina Belo Monte, mas toda, ou quase toda, a biodiversidade da Amazônia e do resto do planeta. Não percebem esses "ignocentes" que a usina e suas eventuais congêneres constituem a melhor arma que têm o Brasil e a humanidade para combater o aquecimento global e, com isso, defender a integridade da floresta Amazônica e das demais matas de todo o planeta?

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 78, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.