quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Novembro Azul, de olho no câncer de próstata

Dr Ronaldo Hueb Baroni
Para contribuir com as informações sobre os cuidados e tratamento de possíveis doenças da próstata, o Blog traz uma entrevista sobre o processo e a importância do diagnóstico e estadiamento do câncer de próstata por meio de exames de imagem. 

 Para falar sobre o assunto, reproduzimos entrevista com o Dr Ronaldo Hueb Baroni, médico radiologista formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com doutorado na mesma instituição, e especialização em Ressonância Magnética abdominal no Beth Israel Deaconess Hospital da Harvard Medical School.

Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2014 teremos 68.800 novos casos de câncer de próstata. No Brasil, este é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. No entanto, o aumento nas taxas de incidência pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos de diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação e pelo aumento na expectativa de vida.

Segundo o Baroni, “O exame de Ressonância Magnética (RM) é atualmente uma importante ferramenta para o diagnóstico do câncer de próstata, porém não substitui os métodos tradicionais empregados no rastreamento do câncer de próstata (dosagem de PSA- Antígeno Prostático Específico no sangue e toque retal) nem na sua confirmação diagnóstica (biópsia guiada por ultrassonografia transretal).

O papel da RM no rastreamento tumoral é o de identificar nos pacientes com suspeita clínica baseada em alteração do PSA e/ou do toque retal, as áreas de maior suspeita para tumores clinicamente significantes. Elas poderão ser submetidas a biópsias dirigidas com obtenção de fragmentos adicionais, aumentando a eficácia da biópsia na confirmação diagnóstica”.

A RM, assim como outros métodos não invasivos, tem dificuldade em diagnosticar tumores pequenos e bem diferenciados (não significantes), e apresenta melhores resultados nos casos com maior significância clínica. Isso é benéfico na decisão do tratamento mais apropriado para cada caso, principalmente quando houver indicação de Vigilância Ativa. Em resumo, quanto mais avançado o tumor, mais facilmente ele é identificado e caracterizado pela RM.

O exame tem duração aproximada de 30 minutos e durante esse tempo o paciente deve permanecer imóvel. “Atualmente dispomos de aparelhos de RM com ´túnel´ mais amplo e curto, o que proporciona maior conforto e reduz a ocorrência de claustrofobia. O paciente é orientado a tomar um laxante oral na véspera e no dia do exame, Além disso, duas medicações endovenosas são administradas no momento do estudo: um antiespasmódico para reduzir o peristaltismo intestinal e o contraste a base de gadolínio para aumentar a eficácia do diagnóstico de tumores”, explica Baroni.

RM multiparamétrica

A identificação de áreas suspeitas para tumores na RM é feita com base nas suas características de imagem nos diversos parâmetros da RM (baixo sinal em T2, restrição à difusao das moléculas de água e hipervascularização pós-contraste), daí o nome de RM multiparamétrica da próstata. “Quando elaboramos o laudo, usamos uma escala de suspeição para tumores que vai de 1 a 5, sendo 1 muito baixa suspeita para tumores clinicamente significantes, e 5 muito alta suspeita para tumores clinicamente significantes”, complementa o médico.

Segundo Baroni, o exame de RM multiparamétrica da próstata só deve ser feito quando solicitado pelo urologista, que é capaz de determinar se o paciente irá se beneficiar do método ou não. Uma vez realizada a RM e com base no seu resultado, o urologista irá avaliar a necessidade ou não de dar continuidade à investigação por meio de biópsia. Se houver a necessidade de biópsia, a mesma deve ser feita idealmente através da fusão das imagens da RM com as imagens da ultrassonografia transretal realizada durante o procedimento.

Estadiamento do câncer de próstata

Segundo Baroni, o estadiamento define a extensão de um tumor, tanto local quanto à distancia. A RM é considerada o método de escolha para estadiamento local de tumores prostáticos (pesquisa de extensão extracapsular e invasão de vesículas seminais), especialmente quando combinada aos chamados nomogramas clínicos, em casos selecionados. Porém, cada vez mais a RM vem ganhando destaque como método complementar no rastreamento de tumores iniciais sem perder o seu papel no estadiamento local.

Finalizando a entrevista, o médico alerta que “a RM multiparamétrica é um método complementar no diagnóstico e estadiamento dos tumores prostáticos, devendo sua utilização ser feita de forma criteriosa e sob recomendação do urologista ou médico responsável pelo paciente. Muitos trabalhos estão em curso no momento, inclusive no nosso serviço, para aprimorar ainda mais o método e aumentar o seu papel na avaliação das neoplasias e outras patologias da próstata”.

Ronaldo Hueb Baroni: Médico radiologista formado pela FMUSP, com doutorado na mesma instituição, e especialização em Ressonância Magnética abdominal no Beth Israel Deaconess Hospital da Harvard Medical School. Atualmente ocupa o cargo de chefe do Grupo de Radiologia Geniturinária do HC-FMUSP, e coordena o Setor de Ressonância Magnética e o Grupo de Imagem Abdominal do Hospital Israelita Albert Einstein.

Contato:

Telefones: (11) 21512452 / 21512487

Email: ronaldo.baroni@einstein.br

Equipe Urologia Vida

Tags:câncer de próstata, Ressonância Magnética, urologia, urologia vida

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Encarar os fatos




Estamos num momento muito importante. Ele definirá qual será nosso futuro nos próximos quatro anos e deixará marcas na nossa história até o fim dos tempos. As próximas gerações vão continuar a "ler" na evolução gráfica do nosso PIB os seus instantes de "avanços" e de "retrocessos". Todo o resto que hoje parece sólido, o tempo dissolverá: os erros e os acertos das políticas sociais e econômicas voluntaristas, os bônus ou os ônus externos, os exageros monetários, fiscais, salariais e cambiais, os argumentos falaciosos, a contabilidade "criativa", as tentativas de violações das identidades da contabilidade nacional e os desmandos administrativos praticados em gigantescas empresas estatais. Até os bons resultados e as críticas impertinentes serão esquecidos.

A grande certeza - comprovada por nosso passado - é que tudo será corrigido, com custos maiores ou menores, dependendo da inteligência e da aceitação da realidade por parte do renovado poder incumbente. No eletrocardiograma dos períodos de FHC, de Lula e de Dilma, só restará o crescimento do PIB e, talvez (apenas talvez), um registro mais leve dos avanços nas políticas que incentivaram o aumento da igualdade de oportunidade. O fato é que nem estas, nem o Brasil foram descobertos em 1994! A crueldade estatística é que as escaras produzidas no indicador do PIB, não importa se por má sorte ou pelas contradições entre a política social e a econômica, não desaparecerão. São perdas definitivas que atrasaram nosso avanço relativo na construção da sociedade civilizada. O governo Dilma Rousseff terá registro por muitos motivos, mas será lembrado, de 2018 em diante, pela marca que deixar no PIB. No período FHC, o PIB cresceu pouco: 2,3% ao ano. No período Lula, melhorou: 4,1% ao ano. No período 2011-2014, apenas 1,6% ao ano. A herança do primeiro mandato é pesada. Para repetir a pobre performance do PIB total de FHC, será preciso crescer pelo menos 12% no período 2015-2018, ou seja, 3% ao ano, em média, o que não parece tarefa trivial.

É tempo, portanto, de enfrentar fatos elementares incontornáveis:

Governo Dilma será lembrado pela marca que deixar no PIB


1) Que para a sociedade não existe nada que não consuma recursos. A passagem grátis de ônibus do Paulo nem é seu "direito", nem é "dever" do Estado: ela será, necessariamente, paga pelo Pedro. O Estado, que tem o monopólio da força, pode obrigar a transferência do custo cobrando imposto do Pedro e registrando o subsídio do Paulo no orçamento. Mas isso tem um limite na paciência do Pedro!

2) A sociedade não pode distribuir o que ainda não foi produzido, a não ser recebendo um presente externo (uma melhoria das relações de troca, que é sempre transitória como aconteceu em 2003-2010) ou tomando emprestado no exterior (que a nossa experiência mostra que sempre termina muito mal). Logo vamos ter de nos acomodar com nossos próprios recursos.

3) Que essas duas restrições não são "ideológicas". São "físicas". Elas abrigam neoclássicos, marxianos, keynesianos, kaleckianos e até marcianos e impõem cuidadosa harmonia entre as políticas redistributivas e o nível de investimento que determina a taxa de crescimento do PIB. Sem crescimento, por motivo interno (investimento e exportação) ou externo ("bônus" ou "dívida"), a redistribuição continuada levará ao desastre. Isso nada tem a ver com a defesa do "capitalismo", considerado como um fenômeno "quase natural" e o "horizonte intransponível da sociedade civilizada", como querem alguns ingênuos "cientistas" que esquecem a história. Ele é um mero instante naquela construção, como mostraram Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920), John Maynard Keynes (1883-1946), Joseph Schumpeter (1883-1850), Karl Polanyi (1886-1964), Fernand Braudel (1902-1985) e Albert Hirschman (1915-2012).

4) Que a política fiscal bem conduzida é a mãe de todas as políticas. É ela que: a) permite uma política de "meta de inflação" crível que quando; b) apoiada por uma política salarial que "acredita" na "meta", permite o aumento relativo do salário real e o controle da taxa de inflação com pequenas manobras sobre a taxa de juro real de longo prazo e c) deixa espaço para uma política cambial que estimula o nível interno de atividade.

5) A situação interna e a externa hoje não são nada favoráveis. Um programa crível, mas apoiado apenas num duro ajuste fiscal pontual e no aumento da taxa de juros real, poderá nos levar a uma recessão da qual não nos livraremos sem graves custos sociais, econômicos e políticos. Por outro lado, um programa de "pouco mais do mesmo" aprofundará o desânimo e continuará a piorar os indicadores sociais e econômicos até que ocorra uma crise.

Salta aos olhos que, em parte por conta da própria estagnação do PIB, a situação fiscal não é sustentável. Sua correção, entretanto, exige um programa transparente que a corrija em dois ou três anos, mas cuja credibilidade antecipe expectativas favoráveis aos investimentos e dê conforto aos trabalhadores no inevitável processo de ajuste. Não resta ao governo outra alternativa que não seja a de cooptar a confiança do setor privado para ajudar a realizá-lo.

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

E-mail: ideias.consult@uol.com.br