sábado, 6 de setembro de 2014

Alguém duvidava? Vem mais por aí, trabalho dobrado para advogados do oficialismo

Ex-diretor da Petrobras entrega políticos em delação premiada  

Os políticos receberiam, segundo Costa, 3% 
do valor dos contratos da Petrobras

SÃO PAULO - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, aceitou delatar esquema de corrupção que existiria na Petrobras envolvendo partidos políticos e empreiteiras, em troca do perdão judicial ou, ao menos, de uma redução expressiva de sua pena, no caso de ser condenado – Costa pode ter pena de até 30 anos de reclusão por delitos de corrupção envolvendo a petrolífera. Ele é réu na Justiça Federal e permanece em prisão preventiva.

Segundo Costa, que começou a indicar os nomes dos envolvidos no dia 29 de agosto, seriam 12 senadores e 50 deputados filiados principalmente a PT, PMDB e PP e que, de acordo com sua versão, receberam 3% de comissão sobre o valor de face de cada um dos contratos da Petrobras estabelecidos durante sua gestão na diretoria da empresa, de 2004 a 2012.

Outros dois partidos de menor representação também integrariam o suposto esquema de corrupção incrustrado na Petrobras, apontou Costa em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF).

Segundo um investigador ligado ao caso, Costa também elencou diversas empreiteiras que obtiveram contratos para prestação de serviços e obras com a Petrobras. Dentre elas estariam nomes das maiores construtoras do país, que também doaram recursos para campanhas eleitorais dos partidos políticos com maiores representações no Congresso.

A Justiça do Paraná afirma que a delação ainda não foi oficialmente judicializada, que está na fase em que o MPF recebe as informações para, em momento posterior durante a instrução penal, propor a colaboração premiada ao juízo do caso, a 13ª vara criminal da Justiça Federal de Curitiba.

VALOR ECONÔMICO


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Perguntas sem respostas



A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, faltou a uma entrevista ao Jornal da Globo e o programa exibiu as perguntas direcionadas à candidata. Esta seria a segunda edição da série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência nas eleições de 2014.

Marina Silva, a candidata do PSB, foi a primeira entrevistada do programa, na segunda-feira (1º). Dilma seria entrevistada pelos apresentadores William Waack e Christiane Pelajo, que ainda assim leram no ar as perguntas que seriam feitas para Dilma na terça-feira (2).

O não comparecimento da presidente não foi explicado pela atração. Esta foi a primeira vez que um dos candidatos não participou desde o início da série de entrevista, em 2002. Confira abaixo a lista de perguntas direcionadas para a atual presidente do Brasil:

1. Os últimos índices oficiais de crescimento indicam que o país entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de que muitos países comparáveis ao nosso estão crescendo mais?

2. A senhora continuará a represar os preços da gasolina e do diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para a Petrobras?

3. A forma como é feita a contabilidade dos gastos públicos no Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro e fora do país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como a senhora responde a isso?

4. A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano passado, tinha investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O que deu errado?

5. Em 2002, o então candidato Lula prometeu erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi a vez da senhora, em campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice aumentou pela primeira vez, depois de 15 anos. Por quê?

6. A senhora considera correto dar dentes postiços para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu programa eleitoral de televisão?

O candidato do PSDB, Aécio Neves, será o entrevistado desta quarta-feira (3). Por conta de um pedido dos candidatos, foi combinado que as entrevistas seriam gravadas e exibidas na íntegra.



 



Dilma falta a entrevista no Jornal da Globo

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dilma e as ações anticorrupção






Ao comentar uma resposta de Aécio, Dilma disse que seu governo combateu a corrupção ao fortalecer a Polícia Federal e ao aprovar leis, como a Ficha Limpa.


"É importante lembrar que no governo meu e do presidente Lula nós fortalecemos a Polícia Federal. E a Polícia Federal promoveu 162 operações de combate à corrupção, lavagem de dinheiro, e crime financeiro. Também no governo meu e do presidente Lula, a CGU ganhou status de ministério. Criamos o portal da Transparência, aprovamos a lei de acesso à informação, da Ficha Limpa, da punição dos corruptores e do combate às organizações criminosas."


A Lei da Ficha Limpa, entretanto, não foi enviada ao Congresso pelo Executivo. Trata-se de um projeto de iniciativa popular, aprovado no Legislativo e sancionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Marina: Licenciamento ambiental terá agilidade, sem perder qualidade




SÃO PAULO - A presidenciável Marina Silva (PSB) afirmou nesta terça-feira que, se for eleita, o licenciamento ambiental terá agilidade, mas qualidade, ao responder uma crítica recorrente de que grandes obras ficaram paradas em sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. “[Vamos resolver o problema] Fazendo com que os licenciamentos tenham agilidade, sem perda de qualidade. Quando chegamos ao Ministério do Meio Ambiente, existiam 40 hidrelétricas paralisadas. Quando deixamos, apenas oito não foram resolvidas”, afirmou, durante sabatina do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Segundo Marina, em sua gestão no ministério foram reduzidos os funcionários temporários e aumentado o número dos servidores de carreira. “Fizemos concurso público e saímos de quantidade muito pequena de servidores, de oito funcionários de carreira do ministério, e uns 70 temporários, para apenas oito temporários e 150 de carreira”.

Ela disse que a concessão de licenças para grandes obras, como a transposição do Rio São Francisco, da BR-364 e das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau saíram em sua gestão. “Elas não foram concluídas, mas não foi por falta de licença ambiental”, disse.

A candidata brincou ainda com uma pergunta do público, que questionou quem seriam os ministros em um eventual governo Marina. "Podem ficar tranquilos, serei a Presidente da República, então não serei a Ministra do Meio Ambiente", disse.

Marina afirmou ainda ser a favor da extração do petróleo da camada pré-sal, mas que o país precisa buscar outras formas de energia para não ficar dependente de uma única fonte, a exemplo do que é feito no resto do mundo. “[O pré-sal] É uma riqueza que precisa ser explorada com as melhores tecnologias e que vai ajudar a avançarmos na Educação, como implantar o estudo em tempo integral em todo o país”, afirmou. “Mas é fundamental também investir em novas fontes de geração de energia. Hoje, por exemplo, se perde o equivalente a quatro Belo Montes pelo não aproveitamento do bagaço da cana de açúcar”, disse.

Marina disse que não tem nenhum preconceito com a construção de usinas hidrelétricas. “O que precisamos é buscar viabilidade econômica, ambiental e social para os projetos”, disse, sem comentar projetos específicos. A candidata também disse que não pretende desativar as usinas termoelétricas, que são o tipo mais sujo de geração, antes de ter soluções alternativas para os períodos de seca. Deu como exemplo de possível substituição a biomassa.

Ela criticou ainda o uso político da Petrobras, mas evitou comentar se aumentará o preço da gasolina, que está represado no atual governo. “O que está sendo feito com os preços administrados para controlar a inflação tem custo muito alto para todos os brasileiros. Espero que a presidente Dilma está com a responsabilidade de fazer isso, o faça, sem prejudicar o próximo governo”, disse. “Ela é que tem que fazer a correção dos erros que cometeu.”


Por Raphael Di Cunto | Valor

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Debate na Band | B2 - Nova política completo

Marina Silva é entrevistada no Jornal da Globo

A candidata do PSB à Presidência da República foi entrevistada por William Waack e Christiane Pelajo.



Christiane Pelajo: Boa noite, candidata. Eu vou fazer a primeira pergunta e nosso tempo começa a contar a partir de agora. Candidata, desde sexta-feira, quando foi lançado, o seu programa de governo foi modificado em itens como casamento entre gays. Houve um recuo em relação a algumas reivindicações de movimentos que defendem os homossexuais. É um recuo da senhora em relação à constatação de que a senhora é mais conservadora do que alguns eleitores acreditavam? Na verdade, é uma concessão à religião num estado laico?

Marina Silva: Na verdade, Chris, o que aconteceu foi que houve um erro de processo. A equipe do programa de governo foi quem fez a correção. Eu nem interferi nesse processo. Aconteceram duas falhas. Uma foi em relação à energia nuclear, que na parte de ciência e tecnologia estava dito que iria, no finalzinho de uma frase, ampliar a participação da energia nuclear na matriz energética brasileira. E a outra foi que o documento que foi encaminhado como contribuição pelo movimento LGBT, não foi considerado documento da mediação do debate, foi um documento tal qual eles enviaram. Vários setores mandaram contribuições e obviamente que nenhum setor colocou 100% das propostas que colocou. Eu mesma que sou ambientalista não iria ter a pretensão de que todas as propostas que eu apresentei iriam ficar ipsis litteris. Então o que aconteceu foi uma correção, porque houve uma mediação no debate. Mas os direitos civis da comunidade LGBT, o respeito à sua liberdade individual, o combate ao preconceito, isso está muito bem escrito no nosso programa, melhor do que dos outros candidatos.

William Waack: Candidata, quanto à energia nuclear a gente volta ainda ao assunto. A senhora é contra ou a favor o casamento gay?

Marina Silva: A Constituição brasileira, ela tem uma diferenciação em relação ao casamento. O casamento é utilizado para pessoas de sexo diferente. Para pessoas do mesmo sexo, o que a lei assegura, o que o Supremo já deu ganho de causa com os mesmos direitos, equivalentes ao do casamento, é a união civil.

Christiane Pelajo: Mas não a lei, candidata, a senhora?

William Waack: É a resposta que a senhora tem dado. A senhora, qual é a sua posição?

Marina Silva: A minha posição é de respeito à liberdade individual das pessoas. Nós vivemos em um estado laico, as pessoas têm o direito de exercitar sua liberdade, independente da condição social, de raça ou de orientação sexual.

William Waack: Se eu fizer uma manchete dizendo: a candidata Marina Silva é a favor do casamento gay. Eu estou errado?

Marina Silva: Em termos da palavra casamento você está errado, porque o que nós defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

William Waack: A manchete correta então seria: Marina Silva é contra o casamento gay?

Marina Silva: A manchete seria: Marina Silva é a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo.

William Waack: Casamento é uma palavra que não sai da sua boca.

Marina Silva: É que é a forma como nós colocamos no nosso programa.

Christiane Pelajo: O que que impede a senhora de ser a favor da lei que equipara a homofobia ao racismo. É religião?

Marina Silva: Não. É que a lei que está em tramitação, ela ainda não faz a diferenciação adequada em vários aspectos. Por exemplo, ninguém pode defender homofobia, qualquer forma de preconceito, discriminação. Por outro lado, você tem os aspectos ligados à convicção ou à manifestação de uma opinião. Você tem que separar isso. E na lei isso não está adequadamente claro. Por isso que nós não colocamos tal qual o movimento havia encaminhado, reafirmando o que está no PLC, da forma como está. Mas há que se ter sim os regramentos legais, para que não se permita nenhuma forma de discriminação, nenhum tipo de preconceito e que se possa tratar todas as pessoas com direitos iguais, porque afinal de contas, como eu disse, nós vivemos em um estado laico, que não pode permitir discriminação contra quem quer que seja.

Christiane Pelajo: Candidata, hoje saiu uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo, dizendo que em momentos cruciais a senhora decide com base em consultas aleatórias à Bíblia. Eu gostaria de saber se isso é verdade. E também gostaria de saber se a senhora acha que um presidente pode agir assim, ou se um presidente deveria agir sempre com avaliação realista dos fatos.

Marina Silva: Todos nós agimos em base, na relação realista dos fatos, mas os seres humanos, eles têm uma subjetividade. Uma pessoa que crê, obviamente que tem na Bíblia uma referência, assim como tem na referência a arte, a literatura. Às vezes, você pode ter um insight assistindo um filme. O quanto nós já avançamos do ponto da ciência e da tecnologia, pela capacidade antecipatória, que você encontra, enfim, na indústria cinematográfica.

Christiane Pelajo: Mas a senhora toma decisões lendo a Bíblia aleatoriamente? É verdade isso?

Marina Silva: Olha, isso é uma forma que as pessoas foram construindo, ou estão construindo, pra tentar passar uma imagem de que eu sou uma pessoa que é fundamentalista, essas coisas que muita gente de má fé acabam fazendo.

William Waack: Mas a senhora é uma pessoa profundamente religiosa. Seria absolutamente normal que a senhora procurasse num texto religioso amparo para as decisões que senhora toma. A pergunta é a seguinte: qual é o tamanho desse amparo que a senhora toma em preceitos religiosos, frente ao que a senhora pretende ser, que é governante de todos os brasileiros, tomando decisões nacionais.

Marina Silva: O mesmo amparo que você pode tomar a partir de outros referenciais. A Bíblia é, sem sombra de dúvida, uma fonte de inspiração pra qualquer pessoa que é cristã ou que é um judeu, enfim, e que não vai negar que é uma fonte de inspiração, mas existem outras fontes de inspiração, às quais eu já me referi. As decisões são tomadas com base racional pra todas as pessoas. Agora, dificilmente você vai encontrar uma pessoa que diga que ela é 100% racional. Essa pessoa estaria presa à realidade, e com certeza, se os especialistas do comportamento forem avaliar uma pessoa como essa, vai ver que ela tem uma subjetividade muito pobre. Qualquer pessoa forma, toma as suas decisões considerando vários aspectos. Ele é atravessado pela cultura; se tem crença, pela espiritualidade; se é da ciência, pelo conhecimento científico. O ser humano não é uma unidade, digamos, pura de alguma coisa não é? Somos seres subjetivos, e a subjetividade é uma riqueza interior, para qualquer ser humano.

William Waack: Nós estamos entrando no campo da política e imediatamente vem à minha mente algumas das críticas que a senhora tem feito recorrentemente ao que a senhora chama de crise da democracia representativa brasileira. Democracia essa que lhe permitiu, candidata, de vereadora a ser duas vezes candidata a presidente. A senhora é um exemplo de uma democracia representativa que permite que as pessoas ascendam. Que crise é essa, afinal?

Marina Silva: Eu tenho falado na verdade, William, da crise da política.

William Waack: Que é diferente da crise da democracia representativa. Mas é essa que a senhora criticou mais. A democracia representativa.

Marina Silva: Não, eu não teci nenhum comentário em relação a isso.

William Waack: Está no seu programa.

Marina Silva: Eu tenho falado de uma crise da política e nessa crise, obviamente, que você tem que reconhece-la. Eu não acho que as pessoas devam fazer vistas grossas para o que está acontecendo, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Cada vez....

Christiane Pelajo: Mas crise da política ou da democracia? O William falou em crise da democracia.

Marina Silva: Eu diria que a gente precisa aprofundar sim a nossa democracia.

William Waack: Isso significa democracia direta, por conselhos populares?

Marina Silva: Não, é uma combinação das duas coisas. Ampliar a participação das pessoas, ao mesmo tempo melhorar a qualidade da representação e das nossas instituições. Se nós partirmos do princípio de que a representação tá muito boa, obrigada, de que não temos problemas em relação às instituições políticas, nós vamos ficar metidos na situação de crise dramática que nós estamos hoje no Brasil, em que as conquistas que alcançamos a duras penas estão sendo ameaçadas pelo atraso na política, e até mesmo por um certo descolamento das pessoas em relação à capacidade de acreditar que os políticos e os partidos podem ajudar a resolver os seus problemas. O que eu busco é aperfeiçoar a nossa democracia, democratizar a nossa democracia, combinando a participação correta e legítima, pelo o que é assegurado na Constituição, dos cidadãos. Nós somos eleitos para representar, não é para substituir o representado.

William Waack: A sua crítica tem um eixo muito forte, no sentido de pedir mais participação popular ou participação direta. O que a senhora quer dizer exatamente? A senhora apoia, por exemplo, os conselhos populares que o Congresso quer derrubar, e que não descritos como uma herança do bolivarianismo, que tem causado enormes prejuízos às instituições políticas na América Latina?

Marina Silva: Uma coisa importante pra a gente pensar, William, é o que que significa ampliar a participação das pessoas? Isso não tem nada a ver com bolivarianismo, isso tem a ver com melhorar a qualidade das instituições. Se nós não partimos do princípio de que os partidos precisam se renovar na sua forma, em relação à linguagem, às suas estruturas, nós vamos criar um descolamento. Eu sempre...

William Waack: Mas isso não tem a ver com conselhos populares, candidata. O que a senhora está dizendo, melhorar as instituições, isso vale para qualquer democracia representativa.

Marina Silva: Vale para qualquer democracia. E quem foi que disse...

William Waack: A pergunta é: a senhora é a favor da democracia direta?

Marina Silva: E quem foi que disse? Eu sou a favor da combinação das duas coisas. A Constituição brasileira assegura as duas coisas. Nós não podemos achar que uma coisa é em prejuízo da outra. Pelo contrário. Há um processo de retroalimentação entre a participação do cidadão dos diferentes setores que enriquece o processo democrático e, obviamente, que temos que ter instituições que passam a ser o polo estabilizador da democracia.

William Waack: O Congresso, no caso?

Marina Silva: O Congresso Nacional. Eu fui senadora durante 16 anos, né? Eu tive que aprovar projetos de lei convencendo os meus pares. Como ministra do Meio Ambiente eu dialoguei com todos os parlamentares. Aprovei projetos de leis que eram quase impossíveis de serem aprovados, como é o caso da Lei de Gestão de Florestas Públicas, a Lei da Mata Atlântica, a lei que criou o serviço florestal brasileiro, a lei que criou as concessões públicas para florestas, que era um mito.

William Waack: Ou seja, a senhora está considerando todos os argumentos a favor das instituições existentes e não de conselhos populares.

Marina Silva: Eu estou dizendo que quando se tem a contribuição da sociedade, o Parlamento, o Executivo, todos nos enriquecemos. O que eu fiz como ministra para conseguir reduzir desmatamento, na proporção que conseguimos, foi transformando boas ideias em políticas públicas, dos movimentos sociais, da academia, do próprio Congresso e dos gestores públicos. Hoje não tem mais essa ideia de que você faz as coisas pura e simplesmente para a sociedade. Você faz com a sociedade. Fazer com é diferente de fazer para. Conheço muitas pessoas que estão dizendo ai que é um perigo dizer que vai governar com a participação da sociedade. Mas também não é bom achar que vai governar apenas para os partidos.

Christiane Pelajo: Candidata, a gente tem que fazer um pequeno intervalo, mas a gente volta daqui a pouquinho com a segunda parte da entrevista com a candidata do PSB, Marina Silva.

Christiane Pelajo: Estamos de volta com a entrevista da candidata do PSB à presidência da República, Marina Silva. O seu tempo volta a contar a partir de agora, candidata. Candidata, a senhora já se comprometeu em manter o tripé: meta de inflação, câmbio flutuante, superávit fiscal. Eu queria saber como é que a senhora vai pilotar a economia no ano que vem, 2015. Um ano que os economistas, todos concordam, que vai ser necessário um ajuste forte com corte grande de despesas.

Marina Silva: Em primeiro lugar, recuperando o tripé da política macroeconômica brasileira. Nós estamos vivendo diante de uma situação em que essa conquista da sociedade brasileira está sendo completamente desconstituída. A presidente Dilma ganhou o governo dizendo que ia fazer a baixa dos juros, que iria reduzir a inflação e que iria fazer o nosso país crescer. O nosso país não está crescendo, a inflação está aumentando e os juros estão subindo. É fundamental que o país tenha estabilidade econômica para que a gente não perda as conquistas que já alcançamos, inclusive as conquistas sociais, e que a gente possa aumentar o investimento. E, para aumentar investimento, é fundamental que se readquira confiança. A confiança, ela se dá em dois níveis: uma é a confiança que o governante passa. E eu sinto que a sociedade brasileira e os investidores já não conseguem mais ter confiança no governo e na forma como a presidente Dilma governa. E a outra forma é combinando os instrumentos de política macroeconômica com os instrumentos de política microeconômica, criando um ambiente favorável para o investimento, aonde você não tem essa situação que nós estamos vivendo agora. Nós temos, por dois trimestres consecutivos, o país crescendo de uma forma que já faz com que tenhamos o risco de uma contração na nossa economia.

Christiane Pelajo: A senhora quer manter os programas sociais atuais e ainda criar outros. A senhora disse hoje, inclusive, que vai conseguir isso apenas melhorando gasto e arrecadação. É o que todos os políticos em campanha, no mundo inteiro, dizem. Candidata, a senhora vai aumentar impostos? É a minha pergunta.

Marina Silva: O nosso compromisso é de não aumentar impostos.

Christiane Pelajo: E como é que a senhora vai conseguir?

Marina Silva: O nosso compromisso é de dar eficiência ao gasto público. Tem muitos desperdícios, inclusive o desperdício da corrupção, e quando o país volta a crescer, a gente vai conseguindo o espaço fiscal para poder fazer os investimentos sociais. É uma questão de escolha. A escolha, se o principio é, de que queremos prover à sociedade com a saúde que acolhe quando mais se precisa desse acolhimento, e não deixar as pessoas morrendo nos hospitais, nós vamos conseguir os meios para os 10% do orçamento bruto para investir na saúde. Se a nossa escolha é de que queremos que os jovens tenham o passe livre, nós vamos ter os recursos, fazendo todos esses esforços que acabamos de fazer. Se conseguiu R$ 500 bilhões para ungir empresas que recebem esses recursos a juros subsidiados e depois se vem com os argumentos de que não é possível alocar os recursos para atender os brasileiros na saúde, na educação, na segurança?

William Waack: Candidata, deixa eu trazer a sua atenção para outras questões estratégicas que tem a ver com economia. O pré-sal, por exemplo, é talvez a aposta do atual governo, não só como instrumento de arrecadação, mas, sobretudo, como instrumento de desenvolvimento. A senhora tem dito, por exemplo, hoje, que o pré-sal é uma prioridade entre outras. O que isso significa? Que a senhora deixará o pré-sal caminhando de maneira morna?

Marina Silva: Isso significa que, se eu disser que a educação é uma prioridade entre outras, eu estou dizendo que a educação é prioridade, mas a saúde também é prioridade. Se eu estou dizendo que o pré-sal é uma prioridade entre outras, eu estou dizendo que nós vamos explorar os recursos do pré-sal, mas também vamos dar um passo à frente. Vamos investir em energia limpa com o uso da biomassa, o uso do vento, o uso do sol. William, não faz sentido termos a maior área de insolação do planeta e termos a quantidade de energia solar que nós temos. A Alemanha tem ‘zero vírgula nada’ de sol e tem 20% de sua matriz energética de energia solar. Nós temos um enorme potencial de biomassa e nós não estamos fazendo os investimentos. É você cuidar do lugar onde a bola está, mas sem ficar apenas nesse lugar. É você ir também para onde a bola vai estar. E o mundo inteiro está correndo atrás da ideia de uma economia de baixo carbono. O petróleo é uma necessidade não é só do Brasil, não, é do planeta. Ainda não se conseguiu a fonte de geração de energia que vai substituir esse combustível fóssil.

William Waack: A senhora tem sido uma entusiasta do etanol, que a senhora, nome que a senhora não citou na sua longa lista de energias que poderiam combinar com as energias fósseis e garantir ao Brasil uma nova matriz. A senhora vai subir a gasolina quando, pra salvar o etanol?

Marina Silva: Na verdade essa política desastrosa do governo, que está subsidiando gasolina, inclusive fazendo a importação desse combustível com um preço elevado, e que acabou destruindo a indústria do etanol. O que eu espero é que os preços administrados pelo governo possam ser corrigidos pelo próprio governo e criarmos os mecanismos.

William Waack: A senhora está querendo que o governo desarme a bomba para a senhora? Que essa bomba cai no seu colo.

Marina Silva: Não, eu quero é que se tenha uma visão de país e não uma visão apenas das eleições. Essa visão tacanha de se pensar apenas em como vai ganhar o voto do cidadão e deixando a conta para depois, a conta da energia, a conta de todos os preços administrados, que senão a inflação estaria pior, isso não é a melhor governança. Eu fico impressionada como é que se sacrifica os recurso de milhares de anos por apenas uma eleição. É por isso que eu sou contra a reeleição. Eu estou dizendo que só vou ter um mandato de quatro anos, porque eu não quero governar pensando no que eu vou fazer para a próxima eleição. Eu quero governar pensando o que eu quero deixar para as futuras gerações e o que eu quero é um país que seja capaz de crescer, de fazer os investimentos, de ter credibilidade, de apostar em infraestrutura. Hoje nós perdemos quase 30% da nossa produção agrícola por falta de armazenamento, por falta de estrada, por fata de visão estratégica. Nós precisamos investir em educação de qualidade. Por isso que nós temos a proposta da educação integral de tempo integral. É ela que gera igualdade de oportunidade para que a gente possa ter um futuro para nossa juventude.

Christiane Pelajo: Candidata, a gente estava falando de energia e nós sabemos que as termelétricas salvaram o Brasil esse ano, mas o seu programa de governo ele fala em reduzir gradativamente o uso delas, porque elas poluem muito. A senhora vai mandar desligar as termelétricas, colocando em risco a luz na casa das pessoas em épocas em que hidrelétricas estão com baixo reservatório?

Marina Silva: Falando desse jeito tem um certo, uma certa simplificação do problema.

William Waack: Mas é o dilema do governante.

Marina Silva: Vamos pensar da seguinte forma. Nós hoje temos as termoelétricas como um recurso complementar quando os reservatórios baixam. Com um custo muito alto. Se nós estivéssemos já investido na geração distribuída de biomassa, por exemplo, utilizando o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, que é equivalente a três, quatro Belo Monte, com certeza nós teríamos uma energia, um megawatt/hora de R$ 200. Hoje, nós estamos com o megawatt/hora de R$ 1.000 a R$ 1.700. Você advoga isso como política e defende isso como meio da nossa matriz energética. Nós não podemos prescindir dessa fonte auxiliar, mas nós temos que buscar os novos investimentos. É isso que nós estamos propondo: ter uma matriz energética limpa, segura e diversificada, utilizando o grande potencial que o Brasil tem. Não faz sentido um país como o nosso não investir adequadamente em energia eólica, em energia solar. E, quando faz os investimentos, você tem a produção de energia eólica, mas não tem a forma como fazer a transmissão.

William Waack: Mas candidata, a senhora tem um nome internacional nessa discussão, uma discussão que a senhora conhece bastante bem. Por isso a senhora conhece bastante também as críticas que os especialistas fazem, toda vez que a energia eólica ou solar ou a biomassa, ou mesmo o etanol são mencionados nesse contexto. Os especialistas costumam dizer que são fontes suplementares. Portanto, não nos livram de um apagão, que se o Brasil tivesse crescendo, estaria provavelmente ai. Os especialistas estão errados?

Marina Silva: Olha, os especialistas também dizem que o Brasil pode avançar cada vez mais com fontes limpas de geração de energia. Eu não vejo nenhum especialista que advogue que nós tenhamos um modelo que vai sujar cada vez mais a nossa matriz energética. Nós temos uma grande fonte de geração que é a hidroeletricidade, 63% desse potencial está na Amazônia. Se os projetos tem viabilidade econômica, viabilidade ambiental e viabilidade social, é fundamental que se faça esses projetos. Mas é preciso avançar, é preciso fazer os novos investimentos. A China tá fazendo isso, a Alemanha tá fazendo isso, o mundo inteiro está investindo nas fontes renováveis de geração de energia. O Brasil, que tem a vantagem comparativa, infinitamente maior do que todos esses países, de ter as fontes naturais para a geração de energia, ele não está transformando esses meios em vantagens competitivas. Isso é falta de plano, de visão estratégica, é ficar preso aonde a bola está e não ir para onde a bola vai estar. É combinar as duas coisas. Eu repito, o pré-sal é importante, é uma fonte de riqueza, vamos utilizar os recursos para a educação, mas também para a ciência, para a tecnologia, para a inovação, para que o Brasil possa dar um passo à frente.

Christiane Pelajo: Candidata, muito obrigada pela sua entrevista. Uma boa noite para a senhora.

William Waack: Boa noite e obrigado.

Debate mostrou quem é a pedra no sapato da presidente


Nas duas vezes em que teve a oportunidade de fazer pergunta para outros candidatos, a presidente Dilma Rousseff escolheu Marina Silva. A candidata do PSB é a pedra no sapato de Dilma, ainda líder nas pesquisas, mas com diferença cada vez menor em relação ao segundo colocado.

O debate de ontem, à primeira vista, deixou a impressão de uma polarização entre Dilma e Marina, com Aécio Neves correndo por fora, no terceiro lugar, e não entre PT e PSDB, como estavam convencidas as direções dos dois partidos.

Merece registro, no entanto, a postura do candidato do PSDB. A não ser por uma breve menção às "contradições" de Marina, já no final do debate, Aécio, em geral, poupou a candidata do PSB e foi contundente nas críticas à presidente. Nem mesmo o formato do debate explica o fato de o terceiro não tentar desconstruir o segundo colocado.

Desde a época em que o candidato do PSB era Eduardo Campos o acerto com o PSDB, no segundo turno, era dado como favas contadas. Agora o PSDB começa a vislumbrar a hipótese de atacar a posição de Dilma Rousseff. Não foi por acaso que o candidato, mais do que no debate da Rede Bandeirantes, passou a falar em mudanças.

Marina, por seu turno, virou vidraça. Ela foi cobrada por Dilma a explicar como pretende abrir mão de receitas e ao mesmo tempo assegurar recursos para programas cuja execução chega à casa dos R$ 140 bilhões. "Não são promessas, são compromissos".

No decorrer da campanha ou no segundo turno, com tempo igual de televisão para os candidatos, Marina terá de encontrar explicações mais precisas que a realização de uma "política macroeconômica saudável".

Outro ponto que deve exigir mais satisfações de Marina é a questão da governabilidade: como a candidata pretende aprovar seus projetos no Congresso, sem contar com partidos fortes na retaguarda e uma ampla base de sustentação política.

Em alta nas pesquisas, é natural que Marina passe a ser referência nos debates. A presidente leva a desvantagem de ser atacada por todos os outros adversários e ter que ela própria investir contra Marina, o que nunca é um bom negócio, porque a palavra final cabe sempre a quem foi chamado a responder a pergunta. Se há alguma polarização visível e entre governo (Dilma) e oposição (todos os outros)

No centro do ringue, Marina sobreviveu. Estava calma, inclusive quando teve de responder à pergunta sobre quais empresas contrataram suas palestras. Não se destacou, mas também não cometeu nenhum erro capaz de comprometer seu crescimento nas pesquisas.

Aécio Neves bem que tentou levar o debate para a economia, especialmente para o fato de o país se encontrar numa "recessão técnica". Marina ainda falou em "contração", mas o assunto morreu por aí. No debate da Bandeirantes, Dilma tentou polarizar com Aécio e as "medidas impopulares" que ele se declarara disposto a tomar, para fazer um ajuste econômico. Ficou por aí.

Se alguém contava com o debate para definir o voto, deve esperar pelos próximos, dia 28, na Record, e no dia 2 de outubro na TV Globo.

Por Raymundo Costa | De São Paulo

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Ideia de renúncia, para apoiar Marina, ronda Aécio Neves


SÃO PAULO - A ideia da renúncia seguida do apoio a Marina Silva ronda o candidato Aécio Neves, segundo reportagem exclusiva publicada no Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor. Seria a maneira de despachar o PT já no primeiro turno das eleições, sem correr o risco de uma eventual virada no segundo turno, algo que até hoje não ocorreu nas eleições, desde 1989, quando foi restabelecida a eleição direta para presidente da República.

Aécio tem prazos. Assim como o PT, o candidato do PSDB apostou na polarização e se deu mal. Contra a maioria das apostas no PSDB, Aécio ainda acredita numa resposta positiva do eleitorado, em meados de setembro, quando aposta que sua propaganda eleitoral começará a apresentar resultados. De qualquer forma, o programa de Aécio, cada vez mais, fala para Minas Gerais.

Mal na disputa presidencial, Aécio também enfrenta problemas em Minas, onde seu candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, está comendo poeira no rastro de Fernando Pimentel, o único petista a liderar a corrida para o governo do Estado, nos quatro maiores colégios eleitorais. O próprio Aécio não tem o desempenho esperado em Minas. Em algum momento da campanha, o candidato terá de se concentrar na campanha mineira, de modo a assegurar sua base de apoio mineira para as próximas eleições.

Também não é certo, a esta altura, que se Aécio desistir e apoiar Marina a fatura será liquidada no primeiro turno. Hoje a presidente está consolidada no segundo turno, graças sobretudo ao forte apelo que seu nome mantém nas regiões Norte e Nordeste. O problema de Dilma é que ela não amplia nem para o primeiro nem para o segundo turno, conforme demonstram as últimas pesquisas.

É improvável que Aécio aceite algum tipo de acordo com Marina já no primeiro turno, mas o simples f ato de a proposta circular nas áreas afins ao candidato, eleitores fiéis que agora pensam no voto útil em Marina, dá uma ideia do tamanho do apoio que se delineia em torno da candidata do PSB. Na hora em que o PT perder a eleição, a disponibilidade dos o utros partidos para se aproximar será grande.

No segundo turno, a tendência do PSDB é apoiar Marina Silva e ajudá-la a governar, se ela for eleita, como apontam as pesquisas. Ao contrário do que aconteceu em 1992, quando era oposição e se recusou a compor com o governo Itamar Franco, o PT tem muitos interesses em jogo e deve pensar com mais receptividade a ideia de dar apoio congressual a Marina. O problema é que Marina se tornou a primeira opção ao PT. O mercado financeiro é parceiro de Marina porque não quer o PT no governo.

Nos cálculos dos políticos mais experientes, Marina não precisará compor com o PT. Ela pode fazer maioria tranquila com partidos médios e apoios nos maiores, mas, sobretudo, vai jogar luz sobre o Congresso. Marina terá uma agenda dura, para trazer as pessoas da rua, os manifestantes de junho. É evidente que haverá gente no Congresso tentando esconder com mão de gato, mas será muito mais difícil com uma relação transparente.

Dilma, no momento, tem maioria instável no Congresso. Pode-se afirmar que Marina deve ter uma minoria estável. Ela também vai contar com o apoio da mais tradicional sigla brasileira, o PG, o Partido do Governo, aquele que está com qualquer que seja o presidente no Palácio do Planalto. Mas a candidata do PSB também quer inverter a lógica adotada pela presidente para a nomeação dos ministros.

Assim, não será o PSDB, por exemplo, que vai dizer “eu quero fulano”. Marina vai escolher, até porque poderá dizer que não tem interesse na reeleição. É uma negociação que não está sobre a mesa. E quando fala que não quer disputar um segundo mandato, Marina Silva desarma os partidos e seus eventuais candidatos em relação a ela. Pode montar um ministério de melhor qualidade. Eduardo Campos, o candidato cuja morte virou de ponta cabeça a sucessão presidencial, era mais gestor e menos equipe. Marina, que o sucedeu, é menos gestora mas tem mais equipe

O PSDB deve declarar apoio a Marina Silva no segundo turno da eleição, se as pesquisas atuais forem confirmadas em 5 de outubro. A dúvida no entorno da candidata do PSB é sobre o apoio do PT. Afinal, Lula é candidato declarado em 2018. O fato de Marina não querer disputar um novo mandato ajuda um entendimento, se houver convencimento de que ela não cederá a pressões para permanecer, caso faça um bom governo.

A situação do PT hoje é muito diferente daquela vivida quando o partido teve de decidir se apoiava ou não Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor. Não se trata simplesmente de uma questão de manter cargos, isso também existe, mas de projetos e políticas em andamento que são muito caras ao partido. Diz um integrante da coordenação da campanha de Dilma: “Na época do governo Itamar nós éramos oposição. Agora, com um monte de gente no governo, nós vamos ficar”.

Leia mais informações na coluna de Raymundo Costa na edição desta terça-feira do Valor.