Amazônia, meio ambiente, ecologia, biodiversidade, desenvolvimento sustentável, ciência e tecnologia, incubadoras e parques tecnológicos, política nacional e internacional - Amazonia, the environment, ecology, biodiversity, sustainable development, science and technology, incubators and technology parks, national and international policy
Mostrando postagens com marcador Cristovam Buarque. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cristovam Buarque. Mostrar todas as postagens
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
O tamanho do pré-sal e o uso eleitoral da riqueza ainda inexistente
![]() |
Cristovam Buarque é senador |
Brasil não cabe dentro de um poço de petróleo, nem deve esperar por ele
Não usar a riqueza do pré-sal seria uma estupidez, usá-la para iludir a nação é uma indecência. As estimativas para as reservas do pré-sal podem não ser exatas, mas não são mitos, são resultados de pesquisas geológicas; a exploração na sua profundidade não é um mito, a engenharia dispõe de ferramentas; a crença de que pode ser feita sem riscos para a ecologia não é um mito, embora haja exemplos de vazamentos em campos similares; a expectativa de que a demanda e os preços continuarão altos não é um mito, apesar das novas fontes.
Mito, contudo, é a afirmação de que o pré-sal mudará a realidade brasileira.
Se tudo der certo, em 2036 a receita líquida prevista do setor petrolífero corresponderá a R$ 100 bilhões, aproximadamente R$ 448 por brasileiro, quando a renda per capita será de R$ 27.800, estimando crescimento de 2% ao ano para o PIB. Apesar da dimensão da sua riqueza, o pré-sal não terá o impacto que o governo tenta passar. Explorá-lo é correto, concentrar sua receita na educação é ainda mais correto, mas é indecente usar o pré-sal como uma ilusão para enganar a nação e como mecanismo para justificar o adiamento de investimentos em educação.
O Brasil não cabe dentro de um poço de petróleo, nem deve esperar por ele.
Mito também é a afirmação de que a educação brasileira será universalizada e dará um salto de qualidade graças ao pré-sal. Em 2030, uma educação de qualidade universal custará cerca de R$ 511 bilhões, para o custo/aluno/ano de R$ 9.500. Se tudo der certo, a totalidade dos recursos do setor petrolífero destinada à educação corresponderá a R$ 37 bilhões, apenas 7,2% do necessário.
Também é um mito dizer que o atual governo teve a iniciativa da proposta de investir 75% dos royalties do petróleo em educação. A partir do momento da descoberta do pré-sal, 44 projetos de lei foram apresentados na Câmara e no Senado.
Mas foi com a aprovação do substitutivo PLC 41/2013 ao PL 323/2007, do deputado Brizola Neto, em 14/8/2013, após parecer favorável do deputado André Figueiredo (PDT-CE), que se determinou o destino de 100% dos royalties para a educação e a saúde. As atas mostram que os líderes da base de apoio ao governo tentaram impedir a aprovação, mas foram derrotados no voto.
Além de não serem destinados à educação os R$ 15 bilhões dos Bônus de Assinatura do Leilão do Campo de Libra, os recursos dos royalties não estão sendo aplicados. Até 28 de agosto, um ano depois da sanção da lei, apenas R$ 912 milhões foram efetivamente transferidos para o Ministério da Educação, ou seja, somente 13,5% do valor de R$ 4,2 bilhões previsto pela Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014.
Enquanto o mundo vive uma revolução no conhecimento, estamos ficando para trás, eufóricos com a promessa de mudar nossa triste realidade educacional no futuro distante, com base em um recurso ainda na profundidade de sete mil metros e que não será suficiente. E o pouco prometido não está sendo cumprido.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Discurso histórico
Discurso do Cristovam Buarque na convenção do PDT com com a posição contraria à chapa PT-PMDB em 2014.
COMPANHEIRAS E COMPANHEIROS BRIZOLISTAS
Hoje, é um dia em que já não cabem propostas.
Estamos aqui para ratificar uma decisão já tomada pelo Partido desde o final de 2006, quando aceitamos trocar nossas propostas e nosso ideário por um ministério no governo recém-eleito e contra o qual vínhamos fazendo oposição desde o tempo de Brizola. Nestes quase dez anos, a decisão de continuar no governo foi mantida todos os dias. Atravessamos os escândalos no governo, inclusive no nosso ministério, sem uma crítica, uma autocrítica, nem ao menos uma análise sobre o que acontecia no País, no governo e em nosso partido. Assistimos a timidez das políticas sem oferecer propostas mais ousadas.
Ninguém pode negar avanços sociais e econômicos ao longo deste período. Mas não deveríamos deixar passar os equívocos, por omissão e por ação. Apesar de avanços no número de alunos no ensino superior fechamos os olhos à falta de prioridade à educação de base; não podemos deixar de elogiar programa como “mais médicos”, mas criticando o caos na saúde pública; tínhamos obrigação de denunciar a corrupção; não podíamos nos calar diante do desastre criado pelo aparelhamento de nossas estatais, especialmente da Petrobrás, símbolo do progresso, do potencial e do engenho brasileiro, criada por nosso maior líder que foi Getúlio Vargas; calamos diante da violência nas ruas; assistimos passivamente, arrogantemente, as manifestações do povo nas ruas.
Chegamos a 2014 com o partido entregue ao governo. O povo está nas ruas e nós lutando por um quartinho no fundo do palácio.
Nem ao menos dedicamos um minuto para pensar por que o povo está nas ruas, por que seu descontentamento e o que fazer para o Partido reencontrar sua aliança com o povo e com a história.
Para ficar no governo de hoje, abandonamos a história.
Sobretudo, não estamos levando em conta o esgotamento do atual modelo.
As bases do rumo que o Brasil segue desde 1994 estão esgotadas, enferrujadas.
Por vinte anos baseamos nosso destino na busca do:
- crescimento econômico tradicional,
- do controle da inflação,
- da transferência assistencial de rendas para os mais pobres,
- da democracia parlamentar.
O crescimento tradicional se esgotou.
É irresponsabilidade histórica continuar insistindo no rumo de uma economia baseada na exportação de bens primários e na produção de bens industriais dos anos 50 e 70. Ainda mais, para manter o governo nem tomando decisões muito arriscadas:
- gasta R$ 170 bilhões por ano de incentivos fiscais;
- aceita elevados déficits sistemáticos em conta corrente, além de déficit na balança comercial, o que não acontecia desde 2000;
- comemora o perfil de nosso produto que nada tem da economia do conhecimento que caracteriza o mundo de hoje;
- vê a economia se desindustrializando sem fortalecer um setor de criação de economia do conhecimento;
- incentiva e induz uma economia baseada no aumento do consumo à custa da necessária poupança para a construção do futuro;
- temos uma taxa de poupança interfira 13%, a menor taxa entre os países representativos da economia mundial, provocando o pequeno crescimento do nosso PIB e sacrificando o futuro;
- não consegue domar os juros, nem a inflação;
- temos uma das piores posições do mundo na classificação de competitividade;
- comemora-se sermos o sétimo PIB, já fomos o 5º, sem perceber que per capita estamos em 54ª posição e no Índice de Desenvolvimento Humano em 85º lugar, nosso PIB pode ser grande, mas é velho e mal destribuído.
- nossos preços sobem em taxas que assustam a população, com medo da carestia.
- o mercado de trabalho (bandeira historicamente ligada ao PDT): está aquecido (com taxa de desocupação em 7,1%), mas a qualidade do emprego está muito aquém do que o Brasil precisa.
Os postos de ocupação criados têm baixo salários, implicam em altíssima rotatividade e estão em geral ligados a atividades no setor de serviços (em geral com baixa produtividade). Além disso, há um número muito elevado de pessoas que não procuram emprego: Estima-se que 62,6 milhões de brasileiros estão fora da força de trabalho. São pessoas na idade de trabalhar, mas que não estão ocupadas nem procurando emprego.
A base para a manutenção da estabilidade monetária se esgotou.
Nos últimos anos houve um relaxamento nas âncoras que mantém a estabilidade de preços. Os gastos públicos têm previsões muito preocupantes para o futuro próximo. A âncora cambial se esgota, devido ao seu impacto negativo sobre nossa competitividade internacional. Somos obrigados a elevar taxas de juros. A lei de responsabilidade fiscal vem sendo desrespeitada.
A base das transferências assistenciais está se esgotando.
O programa de bolsas tem um papel fundamental na necessária generosidade para enfrentar a pobreza extrema de milhões de nossos compatriotas excluídos do essencial para a sobrevivência. Mas sem a garantia de escola de qualidade ele virá um programa assistencial, não um programa transformador social. O programa de transferência de renda completa vinte anos desde seu início, com características educacionais, em um governo do PT com a participação do PDT em Brasília; 15 anos desde sua expansão para todo o Brasil. Graças ao governo Lula e Dilma a ampliação permitiu atender praticamente todos que dela precisam. Sem esta ampliação o quadro da pobreza teria continuado da forma assustadora e vergonha-se do passado. Mas esta base social das últimas décadas demonstra esgotamento estrutural pela incapacidade de oferecer uma porta de saída clara e eficiente que faça com que nenhum brasileiro precise mais dela;
O governo não tem sido capaz, nem demonstra compromisso em transformar os “beneficiários de bolsas” em “geradores de renda”.
Vale lembrar, que apesar de seu pequeno custo como proporção do PIB, apenas 0,5%, hoje 76% da receita federal vão para gastos de transferências de renda, no lugar de investimentos para gerar renda. E esta proporção cresce de maneira que nos próximos dez anos o governo estará completamente esgotado em suas finanças, se esta população não migrar da necessidade de bolsa para a geração de renda.
Nossa democracia se mostra não apenas esgotada, mas viciada.
Esgotada pelos vícios da corrupção generalizada em todos os setores da sociedade, muito especialmente no comportamento político:
- com regras eleitorais atreladas ao poder econômico e que dificultam renovação;
- sem estratégia para o longo prazo e viciado no imediatismo;
- sem uma vida partidária, sem identidades ideológica e moral;
- totalmente pragmática e desprogramática;
- com tolerância à corrupção;
- sem uma convivência estável entre os três poderes.
Em consequência, uma democracia desacreditada e desmoralizada como o povo demonstra nas ruas. Vivemos uma guerrilha organizada pelas redes sociais, sem lideranças, sem programas, sem partidos; com manifestações, que unem desiludidos e desesperados, capazes de inviabilizar o bom funcionamento da sociedade e criando um caldeirão propício para tentativas autoritárias, vindas de quem está no poder ou de quem faz oposição; e sem prioridades comprometidas com a transformação social, que deve ser a obrigação de todo partido progressista como o nosso, criado sob a liderança de Brizola.
Companheiros e companheiras, nos últimos meses discute-se qual será o legado a ser deixado pela Copa do Mundo. É cedo para saber se qualquer dos legados prometidos serão cumpridos:
- se os estádios serão pagos pelo setor privado;
- se haverá melhoria substancial na mobilidade social e por que esta melhoria precisava de uma Copa, uma vez que todos os recursos e decisões de investimento são nacionais;
- se haverá uma elevação da renda que compõe os gastos.
Mas, desde já pode-se dizer que um legado da Copa foi a descoberta pelo povo de que além da corrupção no comportamento dos políticos, há também uma corrupção na definição das prioridades, optando-se por investimentos para o presente dos ricos, sem compromissos com as transformações estruturais, sociais, econômicas, culturais que o País precisa para seu futuro e nossa população pobre precisa para ser incluída definitivamente, estruturalmente, sem necessidade de transferência de renda.
O povo descobriu que nós, os políticos e nossos partidos não estamos sintonizados com o espírito das ruas. Apesar disso, ruas não entraram em nossas análises para a decisão que tomaremos nem na definição das prioridades que deveríamos levar ao governo que nos propomos continuar apoiando.
Repito, o poder está nas ruas e nós estamos buscando um quartinho no palácio.
Esgotamento das bases do modelo de desenvolvimento e funcionamento da sociedade e da economia está provocando uma implosão.
O futuro está implodindo no vergonho estado de nossas escolas, mesmo depois de 12 anos de governo do PT e 8 de nossa participação nele. As tentativas de erradicação do analfabetismo e as mudanças na educação de base iniciadas em 2003, inclusive com o programa Escola Ideal para implantação de horário integral pela federalização da educação de base, nos moldes defendidos por Brizola e Darcy, foram interrompidas a partir de 2004. A ideia de um programa de federalização entregue ao governo em Setembro de 2011 nunca foi nem ao menos considerada. O resultado é o aumento no número de analfabetos em 2013 em relação a 2012.
Tudo isso por fazer a opção e definir prioridade pela ampliação do Ensino Superior. O governo Lula e Dilma com programas de cotas e o PROUNI foram capazes de ampliar substancialmente o número de alunos no ensino superior, e mudar o perfil social e racial destes alunos, mas este sucesso se esgota ao esbarrar na fragilidade dos alunos que nele entram depois de um ensino médio insuficiente.
O futuro do País está implodindo nos limites de nossa economia sem poupança, sem capital conhecimento, com excesso de gastos públicos, com dependência de incentivos fiscais, sem possibilidade de reduzir os juros.
O futuro do País está implodindo na necessidade de transferência de renda sem as quais em vez de gerar renda nossa população se mantém na assistência e cai de volta na fome e na miséria, cada vez que a inflação corrói o valor da bolsa.
O futuro de nosso País está implodindo em uma democracia corrupta, corruptora, viciada no imediatismo, sem partidos programáticos, sem políticos atentos e comprometidos com o povo, uma democracia sob suspeição pelo povo.
Está na hora do PDT recuperar os sonhos de sua Fundação, reler o que dizia Brizola e os demais líderes históricos e apresentar um programa para o futuro do Brasil. A proposta apresentada pelo PDT na campanha presidencial de 2006, sob o titulo de “A Revolução pela Educação – Como Fazer!”, poderia ser a base para uma revisão que permitisse ao partido ter um programa para o futuro. O ideal seria que tivéssemos um candidato a presidente, o que propus com a tranquilidade de quem há seis meses disse que não aceitaria ser este candidato. Mas, se não escolhesse um candidato próprio, que ao menos cumpríssemos nossa obrigação com o País e o nosso povo entregando aos candidatos as nossas propostas alternativas transformadoras. A análise destes tempos vai nos acusar de termos perdido o vigor transformador que caracterizou nossa fundação e nossa política até recentemente.
Ouvi a algumas semanas do presidente Lupi que é muito difícil sair de um governo depois que entramos nele e nos acostumamos com cargos. Ele falava mais em relação aos nossos problemas locais, onde os companheiros não aceitam sair dos governos estaduais. Mas, se é difícil sair do governos, muitas vezes é irresponsabilidade continuar neles, escolhendo o silêncio e o apoio cego, humilhado, subordinado e alienado.
O povo está nas ruas, não é hora de silenciar para manter um quartinho no palácio.
Perder a sintonia com o descontentamento das ruas, deixar de apresentar, defender e lutar pelas reformas que o Brasil necessita, fiscal, educacional, industrial, agrícola, política é ignorar os sonhos de Brizola; manter-se na subserviência é não lembrar mais de Brizola; ser apenas um puxadinho de partidos no poder em troca um ministério é romper com Brizola. Como seus herdeiros, não temos este direito.
Sem a liderança do Lupi nos anos seguintes à morte do Brizola, dificilmente o PDT teria sobrevivido, mas se continuar nosso rumo conforme os últimos anos, o PDT não sobreviverá como uma entidade política para fazer as reformas que o País precisa. Além de conservador, será um partido apêndice. Não temos o direito de deixar que isso aconteça.
Mas, as decisões já estão tomadas para 2014, não adianta propor qualquer rumo no lugar do atrelamento. Resta recuperar depois os erros do presente. Olhar para 2018 e os quatro anos que temos até lá. Nos preparando para enfrentar o esgotamento e propor um novo rumo para o País graças a um novo rumo para nosso PDT.
Nunca foi tão importante quanto agora gritar bem alto “Viva Brizola” e fazermos com que este grito seja coerente com nossas posições e lutas, não apenas um grito vazio, sem sintonia com a realidade.
Viva Brizola, viva o PDT.
Cristovam Buarque.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Cristovam Buarque diz que Bolsa Família terá fracassado se ainda existir em 20 anos
Para o senador, programa deveria aliar ações de Educação para não ser mais necessário no futuro
BRASÍLIA - O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) subiu à tribuna do Senado nesta segunda-feira e elogiou a série de reportagens publicada pelo GLOBO neste domingo (veja matéria aqui no blog), sobre os beneficiários do Bolsa Família. Para o senador, o auxílio é benéfico, mas deve se tornar desnecessário no futuro, com adoção de ações na área da Educação. Para o senador, a manutenção do programa daqui a 20 anos apontaria um fracasso.- Seria uma tragédia se o Brasil de hoje não tivesse a Bolsa Família. E será uma tragédia se, daqui a 20 anos, a gente continuar precisando da Bolsa Família. E a saída é a educação - discursou Cristovam.
O senador afirmou que o Bolsa Família é um avanço da democracia ao transferir renda para os mais pobres, mas fracassa por não oferecer ensino de qualidade aos filhos dos beneficiários. Ele criticou o governo da presidente Dilma Rousseff por não apoiar projeto de lei de autoria dele que obriga os pais atendidos pelo programa a comparecer à escola dos filhos pelo menos uma vez por ano.
- A matéria do GLOBO de ontem (domingo), a meu ver, tem um papel histórico. Porque pela primeira vez se mostra, com dados, que as famílias estão perpetuando a necessidade de uma bolsa. E, se isso acontece, o programa fracassou, apesar de assistir bem. Assistiu, mas fracassou. É como você manter uma pessoa na UTI sem curá-la. Não basta ficar dando remédio. É preciso dar o remédio e dar a cura. O Bolsa Família é um remédio, a educação é a cura que permitiria que essas famílias saíssem da pobreza.
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Cristovam Buarque, Dilma a gerentona do Brasil
CRISTOVAM BUARQUE (no Senado). Eu tenho ultimamente falado aqui sobre equívocos, do Governo Federal, da Presidenta Dilma, quando a gente olha o sonho que a gente tem de um Brasil futuro.
Quando a gente analisa as medidas econômicas do Governo Dilma nos últimas semanas, e até meses, não dá para reconhecer que são corretas do ponto de vista imediato, mas absolutamente insuficientes, e as vezes incorretas, do ponto de vista de um sonho diferente de país.
Ela vai bem como gerente, mas vai mal como estadista. Eu fico triste por dizer isso. Mas a diferença do gerente para o estadista é que o gerente tem que resolver e se concentra na solução dos problemas de hoje; o estadista resolve os problemas de hoje, construindo o amanhã.
Analisemos a política econômica do Presidente Obama, que, inclusive por causa disso, perde muitos votos. O Presidente Obama, na hora de fazer o seu programa de recuperação da crise que ele herdou do governo anterior, não teve dúvida de que precisava gastar US$800 bilhões no setor produtivo.
Mas onde ele colocou esse dinheiro? Não colocou nas indústrias tradicionais, Senador Paim. Ele começou a investir no desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Ele começou a colocar no setor social, pagando melhores salários aos professores que, com isso, dinamizavam a economia pela renda. Ele teve a solução de gerente, com a visão de estadista.
Hoje, nós não vemos isso no Governo da Presidenta Dilma. Ela dá uma solução de gerente, reduzindo os impostos que pesam sobre os automóveis para vender mais carros. Ela não tem a sensibilidade de reorientar a indústria automobilística para outros produtos, uma vez que essa não é mais compatível com o médio e longo prazo da economia.
E eu tenho chamado isso, Senador Paim, de qual é o sabor que queremos para o bolo que a economia brasileira produz? Qual é o retrato que nós queremos para o País? Qual é o retrato que nós queremos para o País? Não apenas qual é o tamanho do produto que nós queremos cada vez maior para o País. Por exemplo, Senador Paim, nós queremos mais riqueza – ponto – ou queremos menos pobreza? É diferente.
Os economistas venderam por muitos anos a ideia de que se investindo na cúpula, essa renda se distribuiria. Foi falso, demonstrou falsidade isso. Essa ideia não acontece na dimensão suficiente.
Outro exemplo, Senador Paim, eu vejo todo mundo comemorando – e aqui acabou de sair o Senador Suplicy, que falou sobre a importância dos programas de transferência de renda –, mas, como gerente, a saída é aumentar o número de famílias com Bolsa Família; mas, como estadista, é diminuir a necessidade de famílias receberem Bolsa Família. É uma diferença radical.
O gerente, preocupado com a pobreza de hoje, aumenta o Bolsa Família – tudo bem, e tem que fazer isso –, mas o estadista, preocupado com o futuro, toma as medidas para que daqui a 20 anos a gente tenha o Bolsa Família como uma coisa da história. O Bolsa Escola também. São opções diferentes entre gerente e entre estadista.
Nós optamos, nesses últimos poucos anos – eu digo nós, o Brasil, através do Presidente Lula –, por termos Copa e Olimpíadas. Mas qual é o retrato que a gente quer do Brasil? Um país que faz as Olimpíadas ou um país que tem medalhas? É completamente diferente o que se tem que fazer para ter medalhas do que se tem que fazer para ter os estádios e as outras instalações das Olimpíadas. Como gerente, basta cuidar da Copa; como estadista, precisa-se cuidar da taça, precisa-se cuidar das medalhas de ouro, precisa-se cuidar de uma juventude com alto desempenho atlético.
Nós queremos mais viadutos – como todos os governantes comemoram –, ou nós queremos mais jardins, mais água encanada, mais esgoto, saneamento? O que nós queremos? Qual é o retrato que a gente quer? Como é que a gente quer que um satélite veja o Brasil, uma quantidade de viadutos ou um País com jardins, onde todos tenham água, onde todos tenham saneamento?
Nós queremos – e essa aqui, Senador Paim, é importante para mostrar a diferença entre o gerente e o estadista –, nós queremos mais cadeias para colocar os bandidos ou nós queremos um país onde não haja mais crime, onde tenhamos paz? É diferente a visão do estadista e do gerente. O gerente tem que dar solução para os bandidos de hoje, então se constroem mais cadeias; o estadista constrói uma sociedade com paz, uma sociedade em que possamos até um dia derrubar as cadeias. Gerente constrói cadeia; estadista faz um país que permite derrubar as cadeias porque o crime acabou.
Nós queremos mais consumo ou queremos menos endividamento? O gerente aumenta o endividamento para aumentar o consumo para o PIB parecer maior, mas o estadista deve construir um país, cujo retrato é o de uma sociedade sem endividamento, em que as famílias possam dormir tranquilas, como não dormem hoje 60% das famílias brasileiras com medo da conta do banco.
Nós estamos bem de gerência, mas estamos péssimos de estadismo. O gerente tem que recuperar a perda de competitividade do Brasil. O que faz ele? O gerente reduz impostos, pressiona a Previdência, reduz os gastos sociais que pesam sobre o salário, para reduzir o chamado custo Brasil. O que faz um estadista? Ele cria um sistema do conhecimento e da inovação, para que a competitividade volte pela inventividade, pela capacidade de inovação.
É completamente diferente a solução gerencial de reduzir o custo Brasil pela diminuição dos custos e a solução estadista para aumentar a quantidade de bens novos, com alto conhecimento, com alta taxa de tecnologia, que faça com o Brasil inteiro fique dependente de nós, em vez de nós dependentes deles.
O que a gente quer? Um Estado maior ou um Estado mais eficiente? É completamente diferente uma alternativa e outra.
Eu não falo daqueles que defendem o fim do Estado, porque aí é um estadismo inconsequente e sem compaixão pela parte pobre da população. Nós precisamos de um Estado atuante, presente. Mas a gente tem que comemorar cada vez mais o Estado maior ou cada vez mais o Estado eficiente?
Senador Paim, surpreende-me cada vez que vejo governantes que querem dizer que são bons em educação, dizendo que gastam mais em educação. Eu não quero saber se eles gastam mais, Senador, eu quero saber se eles têm mais meninos terminando o ensino médio com qualidade.
Um gestor é aquele que reduz os gastos para fazer o melhor possível. O estadista é aquele que busca o melhor olhando o futuro.
No Brasil, a gente perdeu essa perspectiva. Um prefeito diz que merece prêmios de educação porque gasta mais. Ele tem que gastar é melhor, e não mais.
Nós queremos cada brasileiro com carro ou queremos mais brasileiros com livros? Nós queremos, aliás, um País em que o satélite o mostre coalhado de automóveis ou nós queremos um País onde as pessoas riem porque conseguem ir depressa de um lugar para outro?
É completamente diferente a solução gerencial de fazer o possível para vender mais carros hoje e a solução de estadista de fazer com que, no futuro, as pessoas consigam se mover mais rapidamente e, mais que isso, consigam viver bem sem precisar de grandes locomoções dentro da cidade, por uma reorganização do espaço urbano, especialmente do setor produtivo ao mesmo tempo com o setor habitacional, em que as pessoas não precisem andar tanto.
Hoje, com as novas tecnologias, é perfeitamente possível uma parte dos nossos trabalhadores produzirem em casa, mesmo com relação aos produtos mais tradicionais, como móveis. Não precisa mais o trabalhador ir para a fábrica de móveis, Senador Paim; ele pode fazer uma parte dos móveis em uma oficina perto da casa dele e mandar por caminhão para uma indústria onde esses móveis vão ser feitos, aliás, como a indústria automobilística faz: ela monta o produto aqui no País com base em insumos recebidos do mundo inteiro.
Por que a gente não pode fazer isso de uma maneira muito maior? Posso fazer uma lista grande, mas vou colocar pelo menos mais um: nós queremos um país mais rico ou um país com melhor bem-estar? São duas coisas diferentes. Um país mais rico é aquele em que as pessoas têm mais dinheiro na conta bancária. Um país com maior bem-estar é aquele em que as pessoas sabem que, se ficarem doentes, não vão ficar pobres para pagar a conta; que, se ficarem sem dinheiro, o menino não vai ficar sem uma boa escola; que, no final do mês, ele pode caminhar tranquilo nas ruas. Nós queremos um país em que as pessoas tenham mais dinheiro ou mais tempo para andar de casa para um passeio, à noite, sem medo de serem assaltadas? Nós queremos um país com mais riqueza ou com menos mortos por violência? Nós queremos ter dinheiro para fazer casas com mais muralhas ou ter até menos dinheiro e uma casa não grande, mas saber que ninguém vai entrar nela, surpreender sua família com um revólver e levar o que você tem?
A Presidenta Dilma está acertando como gerente, mas está errando como estadista, e ela não foi eleita para ser gerente, porque, aí, a gente não elegeria, faríamos concurso público! Ela foi eleita para ser uma estadista num momento fundamental da nossa história, em que se precisa dar uma virada, como deu Getúlio Vargas, como deu Juscelino! É isso que a gente espera dela, uma estadista que traga um novo projeto de país, um retrato novo, que acabem as vergonhas brasileiras do analfabetismo, de crianças fora da escola, nas ruas, pedindo dinheiro, das notas do Ideb, das greves de universidades por 110 dias, ontem, de greves de trabalhadores da educação de base por meses seguidos.
Este é um País em que, cada vez em que aumenta a sua riqueza, não diminuem suas vergonhas. Nós precisamos de um estadista que acabe com as nossas vergonhas. Para isso, a Presidenta Dilma deveria trazer um discurso completamente diferente dos seus pacotes econômicos que lança a cada semana – e agora está lançando um de aumentar os impostos de importação sobre bens de capital; ainda não foi tomada a decisão, mas, se for, aí é um erro ainda mais grave, não só de estadista, como de gerente, porque são esses bens que vão gerar a possibilidade de a gente crescer. Tem que aumentar impostos é sobre bens de consumo, que estão tirando o emprego das nossas indústrias, e não só dos bens de capital, que viriam para cá e permitiriam que os trabalhadores produzissem os bens de consumo aqui dentro.
A Presidenta Dilma pode estar acertando como “gerentona”, mas eu não votei nela, para ser gerente: eu votei nela para ser estadista, e, nisso, nesses dois anos, ela está frustrando a população brasileira.
O gerente é aquele que porta a motosserra. O estadista é aquele que carrega as crianças nos ombros. É completamente diferente!
O gerente tem que derrubar o máximo de árvores, o mais rápido possível, para aumentar o Produto Interno Bruto. O estadista se preocupa em como deixar que a economia produza sem destruir um patrimônio que pertence às gerações futuras – e é aí que está a diferença.
O gerente pensa em ganhar a próxima eleição. O estadista pensa em servir à próxima geração.
O gerente que saber como aumentar o Produto Interno Bruto. O estadista que saber como melhorar a qualidade do Produto Interno Bruto.
Há momentos em que esse problema de melhorar não se coloca, porque está indo tudo muito bem. Nós estamos em uma encruzilhada. As coisas não estão indo bem! A violência, a degradação ambiental, a falta de empregabilidade dos jovens, a perplexidade geral, o atraso do Brasil, mesmo produzindo mais, está mostrando que nós não estamos no bom caminho. Não é que nós estamos paralisados pelo pequeno PIB. Isso daí não é o mais grave! O mais grave é que, se o PIB crescer, nos leva a um caminho ruim; e, se ficar parado, sabemos que é uma tragédia.
Nós precisamos de uma proposta que melhore o PIB. Mas eu creio, Senador, que, neste momento, está havendo um esgotamento da visão tradicional de busca de projeto nacional. O projeto nacional, que vem desde os anos 30, com algumas modificações, se esgotou. E, nas próximas eleições, nós vamos querer saber quem é estadista e quem é gerente; quem promete continuar o mesmo, eficientemente; e quem promete fazer o novo, competentemente.
Eu espero que, nestas próximas eleições – porque num país não se vive pensando em uma eleição, tem que se pensar em dez eleições –, a geração inclusive que virá depois da atual aqui no Senado, a geração de crianças hoje jovens que nem ainda pensam em fazer política – e até por causa de uma das vergonhas nacionais querem fugir da política, por causa do vazio de ideias e da corrupção no comportamento –, que esses jovens, pelo menos eles, tragam aqui para esta Casa, levem para o Palácio do Planalto uma geração em que elejamos um estadista ou uma estadista, e não mais gerente, porque, para gerente, a gente faz concurso público, não faz eleição.
Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para colocar.
Obrigado.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
"O Brasil é o retrato da globalização", diz Cristovam Buarque

Os três títulos procuram porquês, e não estranha que seu livro, "Um Novo Mundo Feliz: Dicionário pessoal dos horrores e das esperanças do mundo globalizado" (ed. Taurus, 2010), busque precisamente as modificações que a modernidade deixou nas palavras. "Há novas palavras, ou as mesmas mas com outros usos. Para ter as soluções, é preciso entender o que enfrentamos."
"A globalização causou uma brecha entre ricos e pobres que supera a desigualdade e exige outras interpretações", afirma. Engenheiro, economista e ex-reitor da Universidade de Brasília, Buarque não esquece que foi um professor. A cada pergunta, pede papéis e desenha diagramas para esclarecer suas respostas. "Não há país que exemplifique melhor os problemas atuais que o meu. O Brasil é o retrato da globalização. Apenas alguns metros separam os milionários dos mais pobres, mas não existe uma convivência."
Segundo Buarque, a globalização aumentou o abismo entre as classes. "É verdade que há um mundo globalizado, mas este só pertence à classe alta", salienta. Dá como exemplo o hotel onde se realiza a entrevista. "Este hotel não se distingue de um em Nova York, em São Paulo ou em Kinshasa", afirma. "Os ricos voam nos mesmos aviões, leem os mesmos livros, vestem a mesma roupa e até usam a mesma gravata."
Um mundo separado por "muralhas modernas", o que define como "a cortina de ouro": a firme divisão entre classes. O maior risco, acrescenta, é o desinteresse e a frieza da sociedade moderna em relação à miséria. Frieza diante de assuntos tão sérios quanto as "meninas Paraguai" que menciona em seu livro: menores de idade que se prostituem nas cidades do nordeste do Brasil por R$ 1,99.
Leia a matéria completa no UOL Aqui
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Aqui em Brasília - Crianças desaparecidas en Luziânia (GO)
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi o primeiro parlamentar a visitar as mães dos jovens desaparecidos de Luziânia (GO), em 29 de janeiro, e o primeiro a exigir a presença da Polícia Federal nas investigações. Mas somente nesta terça (9), o ministro da Justiça, Tarso Genro, aceitou o pleito das mães e do senador.
Veja mais no Blog do Cristovam
Veja mais no Blog do Cristovam
quarta-feira, 27 de maio de 2009
EDUCAÇÃO - Senado defende Cristovam para Unesco
O presidente da Comissão de Educação, do Senado Federal, Flávio Arns (PT-PR), enviou hoje (26) um pedido ao presidente Lula para que apóie a indicação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O parlamentar pede que Lula intervenha na decisão do Itamaraty em apoiar o egípcio Farouk Hosni, que disputa o cargo e tem o Brasil como aliado. Segundo o presidente da comissão, o pedido manifesta a vontade da maioria do Senado. Cristovam Buarque agradeceu o esforço dos colegas e lembrou que, além dele, há também o nome do brasileiro Márcio Barbosa na disputa. O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) já declarou que não mudará a decisão. Segundo ele, o apoio do Brasil à indicação do egípcio faz parte de uma “política brasileira de aproximação com o mundo árabe”.
Leia aqui na coluna do Cláudio Humberto
Leia aqui na coluna do Cláudio Humberto
Assinar:
Postagens (Atom)