“É um primeiro passo, um passo na direção certa. Mas atenção aos entusiasmos muito fáceis: para vencer o desafio que temos pela frente, para frear as mudanças climáticas tornando-as compatíveis com a sobrevivência da nossa sociedade, é necessário fazer mais”. Jeremy Rifkin, o presidente da Foundation on Economic Trends, acolhe com prudente satisfação o anúncio da nova política energética de Obama.
A mudança de rota é clara. Depois de oito anos da presidência Bush, vira-se a página.
Não tenho dúvidas dos desastres ambientais determinados pela presidência Bush. Agora, efetivamente, essa página foi virada. Mas é necessário ir adiante, é necessário virar outras páginas para chegar a concluir o processo de transformação epocal do qual estamos vendo só o início.
É o que o senhor chama de terceira revolução industrial, um processo lento. Não se corre o risco de perder o fio condutor?
Não é que a eletricidade substituiu o vapor de um dia para o outro: são mudanças de época que ocorrem de maneira irregular, com acelerações rápidas em uma área e retraimentos em outra.
Quais deveriam ser os próximos passos da Casa Branca para sustentar esse processo de mudança?
Além das centrais elétricas, é preciso apontar em direção a outros dois pilares da terceira revolução industrial. Antes de tudo, intervir sobre os edifícios não só para limitar os desperdícios, mas para se completar um salto tecnológico mais difícil. Casas e escritórios devem produzir energia, não consumi-la. A tecnologia para chegar a esse resultado já está ao alcance da nossa mão: isolamento térmico, painéis solares que envolvam o edifício, geotermia, energia do lixo e também as minieólicas farão, sim, com que as casas se transformem em microcentrais elétrica.
O terceiro pilar?
É a consequência lógica do anterior. O sistema que descrevi tem uma geometria profundamente diferente da atual árvore de distribuição da energia elétrica, que segue o velho modelo baseado em alguns grandes ramos e os ramos menores para baixo. Nascerá a internet da energia: uma rede elétrica interativa e descentralizada, capaz de ler a oferta e as necessidades que surgem em cada ponto, criando, em cada momento, a melhor sinergia possível. É um modelo mais confiável, porque reduz os riscos de blecaute; mais seguro porque a energia é produzida no lugar; mais democrático, porque substitui o poder de poucos com a contribuição de milhões de pessoas.
Para se chegar a esse salto, é necessário tornar mais convenientes as fontes renováveis: é a isso que Obama aponta.
E, de fato, o anúncio da Casa Branca é uma ótima notícia. Mas, repito, é só a premissa para uma mudança que deverá ser muito mais radical: sem a visão de conjunto, sem a capacidade de pensar a longo prazo, o relançamento das fontes renováveis corre o risco de ficar privado de bases sólidas.
No próximo sábado, o senhor estará em Bolonha para encerrar o festival de urbanística, apresentando o manifesto para a arquitetura do próximo milênio. Será todo centrado na questão energética?
Certamente. Hoje, os edifícios consumem entre 30% e 40% do total da energia utilizada e produzem um equivalente percentual de gás carbônico. Imaginar uma transformação como essa que eu descrevi quer dizer abraçar um conceito de arquitetura novo e revolucionário. Se acrescentarmos a esses elementos o uso do hidrogênio como recipiente flexível para a energia produzida pelas fontes renováveis, obteremos o quadro de uma sociedade pós-monóxido de carbono, na qual será muito mais agradável viver. E é também o único modelo capaz de reiniciar o sistema econômico que emperrou
A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 27-01-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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