quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

MÉXICO, DF - NOVO POPULISMO ESTÁ EMERGINDO NO MÉXICO

No México, crise econômica aumenta as chances eleitorais de um populista

Elisabeth MalkinEm Cidade do México (México)

Assim que este ano começou, a figura política dominante da esquerda mexicana parecia caminhar rapidamente rumo à irrelevância. Mas Andres Manuel Lopez Obrador ainda não está morto. Faz apenas dois anos que Amlo, conforme é conhecido o ex-prefeito da Cidade do México, era a força impulsionadora da polarizada política mexicana.


Após ter perdido por pouco a presidência e liderado durantes meses protestos de ruas, alegando ter sido roubado nas urnas, a política reduziu-se a uma só questão: quem era a favor dele e quem era contra. No ano passado, a atenção pública começou a distanciar-se de Obrador. O povo, a mídia e muitos dos seus apoiadores simplesmente seguiram em frente, deixando que a confusão em torno da eleição de 2006 se apagasse na história.Mas há sinais de que os esforços de Lopez Obrador para reativar a sua carreira política podem estar dando resultado, à medida que o aprofundamento da recessão cria oportunidades para a sua nova marca registrada de populismo econômico.


A questão agora é saber se ele capitalizará esse ímpeto para refazer e expandir a coalizão que lhe permitiu chegar muito perto de obter a presidência. Em um comício na semana passada em Zocalo, a imensa praça central da Cidade do México, Lopez Obrador, 55, atraiu dezenas de milhares de eleitores que o apoiam. Embora a multidão não fosse nada se comparada às centenas de milhares de pessoas que participaram dos seus comícios no auge da campanha presidencial de 2006, ela foi significativamente maior do que as que compareceram aos comícios de Obrador no ano passado.


Ao contrário dos seus eventos de campanha, este comício foi realizado sem o apoio da máquina partidária, que transportava eleitores de todo o país, demonstrando uma base substancial de apoio firme. Afirmando que a economia só piorará, Lopez Obrador anunciou uma campanha para pressionar o governo a cortar gastos inúteis, reduzir os preços pagos pelo consumidor e os impostos e fazer mais pelos pobres. "O nosso governo precisa continuar exigindo uma mudança da política econômica, que tem se revelado um fracasso", disse ele.


"O modelo precisa ser mudado. Não se pode colocar vinho novo em garrafas velhas".As palavras foram claramente bem recebidas pela sua base formada por uma classe trabalhadora pobre. "Achamos que ele é de fato capaz de mudar as coisas, de forma que o povo tenha o direito de decidir", afirma Aide Florentino, que faz parte de uma pequena cooperativa de vestuários na região rural ao sul da Cidade do México."Não é importante que Lopez Obrador seja o presidente", opina Victor Baltasar, 49, que veio de Guadalajara, onde é supervisor do sistema ferroviário da cidade.


"O importante é que as coisas mudem".Mas o aumento da ansiedade quanto à economia pode estar amplificando a mensagem de Obrador. Apesar das medidas do governo com o objetivo de estimular a economia e proteger as famílias contra os piores efeitos da crise, há um clamor generalizado para que se faça mais, por parte de grupos de eleitores de várias faixas sociais, incluindo grupos empresariais, de camponeses pobres e de pescadores. Essa exigência poderia alterar o cálculo político.


"O México é fundamentalmente um país conservador", diz Federico Estevez, analista político do Instituto Tecnológico Autônomo do México. "Mas, em 2009, as cartas são diferentes".Referindo-se à esquerda, ele diz: "Creio que eles estão com um coringa ou um par de ases". Faltando três anos para a próxima eleição presidencial, não se sabe exatamente quais são as ambições de Lopez Obrador. Ele chama a sua nova campanha de um movimento social e deseja claramente ser uma força reconhecida. Mas o relacionamento com o seu próprio partido continua ruim. No ano passado ele perdeu uma batalha com uma facção rival pela presidência da legenda, o Partido da Revolução Democrática, ou PRD, e não ocupa mais nenhum cargo oficial no partido ou no governo.


O ponto mais baixo da sua trajetória foi registrado no outono passado, quando a maioria dos senadores do seu partido rompeu com ele para aprovarem uma importante legislação referente ao setor de energia, enquanto os seus apoiadores enfrentaram policiais na tentativa de bloquear a votação. Para muitos que apoiaram a sua chapa presidencial, o estilo político do tipo "briga de rua" usado por Lopez Obrador tornou-se um problema.


A sua campanha para reverter o resultado da eleição de 2006, que ele perdeu por uma diferença de apenas 0,6% em relação aos votos de Felipe Calderon, consistiu de manifestações de massa e da criação de uma cidade de barracas que fechou as principais avenidas da capital durante semanas. Recusando-se a admitir a derrota, mesmo após o tribunal eleitoral de maior alçada no país ter declarado que o vencedor foi Calderon, Obrador organizou uma grande cerimônia pública na qual ele próprio proferiu o juramento como o "presidente legítimo" do México, um título que continua reivindicando.

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