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terça-feira, 7 de maio de 2013

A economia nos limites

Para Lara Resende, a correlação entre nível de renda e bem-estar deixa de ser verdadeira em países muito ricos


A dimensão social da realidade econômica, deixada de lado pelos economistas; a estrutura física da Terra, abusada pela sanha produtiva da humanidade; o bem-estar que não se deixa medir pelas variáveis do crescimento da renda. São temas que poucos esperariam encontrar no texto de um economista. A não ser que esse economista se veja, em algum momento, como "ex-economista"; é o que chegou a fazer o carioca André Lara Resende no livro "Os Limites do Possível - A Economia Além da Conjuntura" (Portfolio Penguin, 288 págs., R$ 44,90), que reúne artigos redigidos entre 2006 e 2013, dez dos quais publicados noValor. O lançamento, na segunda-feira, inaugura o selo dedicado a economia e negócios da editora Companhia das Letras.

A definição como "ex-economista", nos anos que precederam a crise dos subprimes, deve-se em parte à conclusão do estudo do tema a que dedicou grande parte da carreira, a inflação crônica; e em parte, também, por desencanto com os rumos que a teoria macroeconômica tomou.

Já a crise iniciada em 2008, diz Lara Resende, ressuscitou seu interesse pelo assunto, acrescido de preocupações com problemas que estão nos limites da reflexão econômica, ou mesmo além desses limites.

Na década de 1980, o economista se dedicou ao problema da inflação crônica brasileira e fez parte das equipes que criaram os planos Cruzado e Real. No governo de Fernando Henrique Cardoso, ocupou o cargo de presidente do BNDES. Lara Resende fala ao Valor sobre os rumos da crise no mundo, seus reflexos no Brasil e as implicações de longo prazo para a humanidade como um todo.

Valor: O senhor introduz o livro com uma provocação: em 2006, considerava-se um "ex-economista" quando recebeu o prêmio de economista do ano da Ordem dos Economistas do Brasil. Em que consiste um "ex-economista"?

André Lara Resende: O prêmio me surpreendeu, eu me considerava um ex-economista, como se dissesse "missão cumprida"...


Valor: Por causa do Plano Real?

Lara Resende: Por todo o desafio de entender o problema da inflação crônica e a indexação, projeto ao qual me dediquei por muito tempo.


Valor: O senhor se mostra desencantado com a macroeconomia, que virou "uma área menor da matemática aplicada", com inveja da física, e cita Joseph Schumpeter [1883-1950] para lamentar a falta da dimensão social da disciplina.

Lara Resende: Depois do Plano Real, tive vontade de fazer uma imersão na teoria. No dia a dia do mercado financeiro, perdemos rapidamente pé com o que se faz na academia. Voltei a ler e concluí que estava chato demais. Era sempre a mesma coisa: o modelo dinâmico estocástico de equilíbrio geral e alguma variação. Não havia nenhuma contribuição nova. Então eu me disse: "Sou um ex-economista". Aí veio a crise e o tema voltou a ser interessante.


Valor: O desconforto com a macroeconomia é generalizado. Em livros, artigos de jornal, estudos, a disciplina é criticada por todos os lados. É preciso repensá-la desde a base?

Lara Resende: Com a crise, a área sofreu um baque enorme. Na segunda metade do século XX, a economia tentou mimetizar as ciências exatas, pensando que elas, sendo mais formais, usando o instrumental da matemática, dão respostas mais precisas. O instrumental matemático ajuda muito, sim, mas tem limite. A economia não é ciência exata, é parte das ciências sociais. Ela é um subconjunto de uma teoria filosófica. Formalizada, a economia foi conduzida a um beco sem saída. Ficou estéril. Baseada no modelo paradigmático de equilíbrio competitivo, sem nada a ver com a realidade, e no qual se introduzem distorções, para aproximá-lo de determinados problemas específicos da realidade. Isso é um jogo bastante repetitivo.

Valor: Com a crise, no Brasil e no mundo a atuação do Estado voltou ao primeiro plano. Como o senhor vê a volta da ação do governo?

Lara Resende: O caso brasileiro e o americano são bem diferentes. No Brasil, o governo usou a política fiscal com a desculpa de que era anticíclica. O que deveria ter sido feito era política monetária. Em nenhum momento a situação brasileira foi como a crise dos EUA e da Europa. Não houve estouro de bolha, nem excesso de endividamento. O Brasil foi atingido pela via do comércio externo. Foi uma janela de oportunidade perdida para baixar os juros. Na Europa e nos EUA, a questão era diferente. Com o que se aprendeu da crise de 1930, os governos conseguiram evitar o colapso. Com a política monetária, reduzindo os juros para zero e transferindo dívida privada para o setor público, chegou-se à situação de excesso de endividamento público, enquanto a dívida privada não foi eliminada. A política monetária já está no nível zero, mas a economia não se recupera. Essa é a situação que o Japão já enfrenta há 20 anos e agora parece ter chegado aos EUA. Qual é a solução?

Valor: Tanto no Japão quanto nos EUA, insiste-se em inundar o mercado com dinheiro.

Lara Resende: Não surpreende. Desde a visita de [Milton] Friedman [1921-2006] ao Japão, acredita-se que com mais moeda, ainda que por caminhos desconhecidos, reativa-se a economia. Quem se opõe é a linha keynesiana. [John Maynard] Keynes [1883-1946] mostrou que estamos na armadilha de liquidez e a política monetária é incapaz de reavivar a economia. A única solução é voltar a Keynes: política fiscal

com aumento de gastos públicos, para servir de motor de arranque para a economia. Os críticos aos keynesianos respondem que a situação é diferente dos anos 1930, quando o endividamento privado não existia, porque tinha sido destruído pela depressão. Hoje, tanto o setor privado quanto o público estão muito endividados.

"Temos de voltar ao conceito clássico da boa vida, relacionado a viver bem, à satisfação de prazeres, às fontes de felicidade"

Valor: Isso é um impasse? O risco de colapso foi só postergado, em vez de evitado?

Lara Resende: Houve uma opção clara: os custos sociais e políticos de uma depressão, ou seja, deixar que os muito endividados quebrem e a dívida desapareça, são muito altos. Hoje, ninguém questiona essa opção. Schumpeter talvez considerasse essa resposta um equívoco, porque o capitalismo precisa de forças destrutivas para se renovar. Sem a renovação, ganha-se ao evitar a crise, mas perde-se pela esterilização do dinamismo. O resultado é a longa estagnação. É substituir, como diz [Karl] Marx, o fim horroroso pelo horror sem fim.


Valor: No Brasil, tivemos o uso da política fiscal, depois a redução dos juros, e agora a inflação acima da meta e o crescimento baixo. Qual é a particularidade do caso brasileiro?

Lara Resende: Hoje, acho que há uma certa leniência com a inflação. Pode ser que seja um viés meu, um trauma com a inflação, mas acho essa leniência muito perigosa. A credibilidade do sistema de metas e do Banco Central foi conquistada a duras penas. Por exemplo, uma das explicações para as taxas de juros excepcionalmente altas nos últimos anos é que o BC tinha que obter credibilidade. Quando o BC finalmente começava a conseguir a credibilidade, ela começou a ser erodida. É preocupante.

Valor: E a política fiscal?

Lara Resende: O Brasil tem um problema essencial, que não é de hoje, mas dos últimos 50 anos, que é a insuficiência de poupança e, portanto, de investimento. Sem a poupança privada, a solução estaria na poupança pública: reduzir o déficit público e dar estímulo à poupança privada, para que invistam e aumentem a oferta. O Brasil tem feito exatamente o oposto. Estimula sempre a demanda agregada, que está batendo no teto, nos gargalos. Mas se fosse para aumentar gasto público, que fosse no investimento, não nos gastos correntes.

Valor: Seu texto de agosto de 2011 lista esses traços da economia brasileira. De lá para cá, a única variável relevante que se alterou foi a taxa de juros, com a política de redução da Selic.

Lara Resende: O que digo nesse artigo é justamente que a taxa de juros já deveria ter caído, na crise de 2008. Havia quem contra-argumentasse dizendo que, depois, a Selic teria de subir de novo. Quando o BC enfim baixou os juros, houve fortes críticas, mas eu não estava tão convencido de que fosse um erro. Agora acho que o BC subiu os juros com atraso.

Valor: Um objetivo da redução da Selic era incentivar o investimento de longo prazo. Em quanto tempo esse efeito é visível?

Lara Resende: Aumentar os investimentos de longo prazo e o investimento público é mais fácil de falar que de fazer. É necessário ter uma programação e uma logística que não são nada claras. Não se consegue investir com agilidade. O governo americano está tentando, por exemplo, e tem dificuldade.

Valor: E o investimento privado?

Lara Resende: No longo prazo, depende dos chamados "espíritos animais", que dependem, por sua vez, de muita confiança. Mas o governo tem sido titubeante e contraditório. Com isso, piorou muito a visão empresarial sobre o Brasil. Ainda mais no exterior, onde era muito positiva até há poucos anos, e agora está péssima. Foi uma guinada enorme. A percepção doméstica era mais matizada, não tão positiva, e agora não é tão negativa. Mas também piorou.

Valor: O senhor descreve o Plano Collor como "barroco, complexo e agressivo, embora fracassado". Em seguida, diz que ele reduziu o endividamento público e, sem isso, o Plano Real seria impossível. Essa relação é tão estreita assim?

Lara Resende: Esse trecho é uma provocação talvez forte demais. A inflação crônica é fruto do endividamento público excessivo. Só é possível estabilizar a economia se o endividamento for reduzido. No Brasil, o Plano Collor fez, de maneira violenta, agressiva, uma redução drástica no endividamento público, que facilitou o programa de estabilidade posterior. Por sinal, hoje posso dizer que eventualmente essa questão vai aparecer no mundo desenvolvido, também. Alguma forma de redução agressiva da dívida pública vai ser inevitável.

Valor: A desigualdade é um tema que aparece em vários textos, com a avaliação de que o bem-estar proporcionado pela diminuição da desigualdade beneficia também os ricos. Como se obtém uma sociedade mais igual sem arriscar a livre iniciativa e as liberdades individuais?

Lara Resende: A experiência do comunismo soviético levou a uma profunda desconfiança contra a busca da igualdade social, com a suspeita de que isso implique aceitar a redução das liberdades individuais. Mas é possível ter sociedades mais homogêneas e democráticas, como na Escandinávia. Os céticos dizem: basta garantir a igualdade de oportunidade. Mas mesmo esta não pode prescindir da ação de governo. As duas são importantes: igualdade de oportunidades e um mínimo de homogeneidade. Isso deve ser obtido não de forma autoritária, mas com políticas de compensação, que vão do investimento em educação à oferta de cultura.

Valor: Isso inclui as cotas universitárias?

Lara Resende: Eu tinha uma implicância com as cotas, porque é o tipo de coisa que sempre pode levar a abusos. Mas devo confessar que tive que rever minha opinião. Pensei muito nisso nos últimos anos e acho que políticas compensatórias devem ser adotadas.

Valor: Seu livro discute, também, o crescimento como paradigma da economia. A crise teria freado a crença no crescimento como meta absoluta. Como o senhor enxerga o tema do crescimento, a partir da crise de 2008?

"O raciocínio econômico está assentado sobre a ideia de que o processo produtivo cria sem exaurir o mundo físico"

Lara Resende: Esta crise é um caso clássico de crise financeira. O tema do crescimento econômico é importante por outro lado. Ele aparece como objetivo porque, até hoje, foi uma variável aproximativa para o bem-estar. Esse, sim, deve ser o objetivo da política econômica. Mas a correlação entre crescimento e bem-estar pode estar se esgotando. A evidência empírica mostra que é uma correlação verdadeira, mas só até um nível de renda surpreendentemente baixo. Algo como US$ 75 mil anuais de renda. Acima disso, a relação se enfraquece. O bem-estar está associado a outras coisas, como a homogeneidade social. A desigualdade é profundamente desagregadora do espírito social, que é importante para o bem-estar. É evidente, também, como ficou gritante com a entrada da China no mundo do consumo, que nas condições atuais de tecnologia é impossível manter 7 bilhões de pessoas com o padrão de consumo semelhante ao dos países desenvolvidos.

Valor: Além do limite do crescimento possível, haveria um limite do crescimento desejável?

Lara Resende: É preciso fazer essa pergunta. O país que está na fronteira desse problema é o Japão. Chega um ponto em que o país envelhece, reduzindo o crescimento via demografia; e as pessoas ficam saturadas com o consumo. Chegou-se a um nível de renda e de sofisticação em que não se avança mais. A saturação faz com que a economia tenda a ser menos dinâmica.

Valor: Os japoneses, agora, decidiram voltar a perseguir o crescimento. Shinzo Abe, o primeiro-ministro, promete dobrar a base monetária para reativar a economia.

Lara Resende: Tenho dúvidas sobre a tentativa de reanimar a economia artificialmente. A digestão de excesso de dívida com crescimento me parece hoje mais questionável que no passado. Abe quer levar ao extremo algo que começou no próprio Japão, por sugestão de Friedman, em 1998. Nos EUA, Ben Bernanke lançou o "quantitative easing" três vezes, embora menos agressivamente. De outra forma e

por questões políticas, o BCE [Banco Central Europeu] fez o mesmo, assim como o Banco da Inglaterra. É um grande ponto de interrogação em que vai dar esse experimento de política monetária.

Valor: Se a macroeconomia se preocupa tanto com o nível do produto, como ela tem de se transformar para pensar o "pós-crescimento"?

Lara Resende: Precisamos entender que o processo da economia, a produção, o consumo, cria um problema que é mais do que econômico. Existem limites físicos para o crescimento. Isso foi brilhantemente demonstrado por Nicholas Georgescu-Roegen [1906-1994], pioneiro da tese de que havia erro na concepção da economia que pode crescer sempre. O raciocínio econômico está assentado sobre a ideia de que o processo produtivo cria sem exaurir o mundo físico. Mas isso viola a lei da entropia. Todo processo de produção dissipa energia não recuperável. Aquilo que era correto e interessante conceitualmente, hoje tem aplicação prática.


Valor: Quais são os caminhos abertos para lidar com esse problema?

Lara Resende: Há duas teses radicalmente opostas. Os otimistas desconsideram o problema, dizendo que a evolução da tecnologia o resolverá. Do outro lado, a figura paradigmática do pessimismo soturno é James Lovelock, autor da teoria de Gaia. Ele diz: houve um desequilíbrio no macrossistema do planeta. O ser humano, que sempre somou algo como 200 milhões de pessoas sobre a Terra, de repente, em dois ou três séculos, passa a 7 bilhões. Isso é insustentável. É como uma epidemia, e a própria biosfera vai resolver a doença, reduzindo o número de humanos sobre a Terra. Como isso vai acontecer, não se sabe, mas vai. É uma posição bem desagradável, não? Não estamos habituados à ideia de que certas coisas não têm solução.

Valor: Não existe algum meio-termo um pouco mais palatável?

Lara Resende: No meio do caminho tem a posição dos ecologistas. É curiosa. Fala-se na passagem para o crescimento sustentável, mas tenho a impressão de que são duas palavras de um antagonismo radical. De que adianta juntar o aposto "sustentável" à noção de crescimento? Isso não a neutraliza. A tese de Robert e Edward Skidelsky, pai e filho [autores de "How Much is Enough?"], é que há um equívoco. O enriquecimento existe para que se aproveite a vida. Para ter uma boa vida. Temos de voltar ao conceito clássico da boa vida, relacionado a viver bem, à satisfação de prazeres, às fontes de felicidade. Mas eles são críticos, e concordo com eles, da ideia de usar o conceito de felicidade para substituir a renda. Não sabemos como definir a felicidade. Se é um conceito existencial, não é quantificável. Se é utilitarista, não pode ser referência como objetivo de vida. O filósofo Michael Sandel também discute a necessidade de mudar algo na cultura, na nossa visão de mundo. Teríamos de buscar uma vida confortável e agradável, largando o objetivo de possuir cada vez mais, especialmente bens materiais. Mas ainda estamos muito, muito longe disso.

Valor: Quando seus artigos começaram a tratar do "limite do possível", a recepção foi mais forte do que o senhor esperava. Como está esse debate, do ponto de vista intelectual?

Lara Resende: Ainda muito polarizado. Por um lado, há os otimistas de que falei, que desconsideram completamente essa questão, como se fosse um modismo, com apelo entre os jovens: "Quer fazer sucesso, então se diga verde"! Eles ficam irritados quando um economista - digamos assim - "neoclássico" leva o tema em

consideração. Do outro lado, há os que tratam o problema de modo quase religioso. Para eles, se acredito que o planeta tem limites físicos, sou contra o mercado, o sistema de preços, o capitalismo... Isso é uma falsa oposição. O sistema de preços competitivos não é nem de direita nem de esquerda. É um instrumento de transmissão de informação, com o qual muitos tipos de sociedade podem ser construídos.

Valor: Iniciativas de precificar os limites da Terra, como o Protocolo de Kyoto, não avançaram por motivos políticos: países muito relevantes, a começar pelos EUA, mantiveram distância.

Lara Resende: A precificação do problema ecológico reflete um caso clássico de falha de mercado. É um bem público, ou seja, sem custos privados, mas com custos públicos para o consumo. O preço não aparece para o indivíduo. Precificar esses custos com preços-sombra, através de regulamentação, dá de frente com o fato de que é um problema planetário, que exigiria uma governança mundial. Essa é outra questão: o mundo está interligado e precisa de governança internacional... Mas não tem.

Valor: No livro, o senhor associa a necessidade de regulação mundial à crise de 2008. Mas os avanços nesse sentido foram tímidos. Há espaço para tamanha coordenação internacional?

Lara Resende: Nenhuma tentativa de coordenação, desde 2008, foi objetiva. Ainda estamos com o arcabouço discutido na crise de 1930, que levou à conferência de Bretton Woods. Esse arcabouço parece ter ficado obsoleto e inadequado para o avanço de problemas cada vez mais supranacionais. Sempre fui entusiasta da União Europeia, achando que era o grande experimento nessa direção. Infelizmente, a moeda única foi uma precipitação. A crise está testando a convicção política, na UE, de que é necessária uma governança supranacional. Hoje, não está claro que esse teste vai sobreviver.

Valor: O senhor também sugere criar uma moeda supranacional, que não fosse vinculada às instituições nacionais. Como lhe parece essa discussão, que ressurgiu há dois anos?

Lara Resende: Sempre achei isso muito importante. Uma moeda internacional que não substitua as moedas nacionais. Haveria uma moeda de reserva internacional, emitida por um órgão de governança internacional. Não seria como os direitos especiais de saque, do FMI [Fundo Monetário Internacional]. Seria uma moeda no duro. Ela poderia ter circulação e câmbio livre com as moedas nacionais.

Valor: Isso faz lembrar o padrão-ouro.

Lara Resende: Com a diferença de que, como a oferta de ouro era limitada, o padrão-ouro criava problemas deflacionários enormes. O objetivo da moeda internacional seria evitar o efeito desorganizador de uma moeda nacional, como o dólar, funcionando como reserva internacional. Se o país precisa, faz política monetária com objetivos domésticos. Isso é muito desorganizador no plano internacional.

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Por Diego Viana e Robinson Borges | De São Paulo

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas - Apresentações disponíveis



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domingo, 18 de abril de 2010

Agenda ecológica - A Natureza como Limite da Economia.

Lançamento de livro sobre teoria econômica e ecologia, no Instituto de Estudos Avançados da USP.

Transmição ao VIVO pela WEB no endereço do IEA/USP Aqui Dia 19/4/2010
Falta 1 dia para o início do evento.
Duração: 1 dia

Agência FAPESP – No dia 19 de abril, às 15h, Andrei Cechin, doutorando da Universidade de Wageningen (Holanda), José Eli da Veiga, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, debaterão o tema “A natureza como limite da economia”, no auditório do Instituto de Estudos Avançados da USP.

O título do debate dá nome ao livro de Cechin, que será lançado na ocasião. A Natureza como Limite da Economia, publicado pelo Senac São Paulo e pela Edusp com apoio da FAPESP, coloca a economia como um subsistema do ambiente e, portanto, sujeita às leis da física, especialmente à Lei da Entropia. Durante o evento também será lançado o livro Economia Socioambiental (Senac São Paulo), organizado por Veiga.

O professor convidou especialistas a apresentarem uma abordagem brasileira das questões socioambientais. O trabalho resultou em 14 capítulos com reflexões sobre a desarmonia entre os conceitos de civilização, progresso e natureza. A sede do IEA fica na rua da Reitoria (antiga Travessa J), 374, Cidade Universitária. O evento será transmitido ao vivo pela internet no endereço www.iea.usp.br/aovivo. Mais informações podem ser obtidas com Inês Iwashita pelo e-mail ineshita@usp.br ou telefone (11) 3091-1685.

Os limites impostos pelo ambiente sobre os processos econômicos serão discutidos em debate no dia 19 de abril, às 15h, no IEA. Andrei Cechin, doutorando da Universidade de Wageningen, Holanda, falará sobre seu livro “A Natureza como Limite da Economia” (Senac São Paulo-Edusp-Fapesp), que será lançado na ocasião. A exposição será seguida de debate com José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. A coordenação será de Wagner Costa Ribeiro, coordenador do Grupo de Estudos de Ciências Ambientais do Instituto.

Segundo Cechin, a economia é um subsistema do ambiente e, por isso, não pode contrariar as leis da física, em especial a Lei da Entropia (2ª Lei da Termodinâmica). Ressalta que toda a vida econômica se alimenta de energia e matéria de baixas entropias e produz resíduos de alta entropia. Para ele, os economistas, concentrados no fluxo circular monetário, parecem ter se esquecido do fluxo metabólico real e isso pode causar um ‘crescimento antieconômico’, com custos maiores do que benefícios.


No evento também será lançado o livro “Economia Socioambiental” (Senac São Paulo), organizado por José Eli da Veiga. O livro contém 14 capítulos escritos por especialistas convidados. Os autores debatem a abordagem brasileira das questões socioambientais e refletem sobre a desarmonia entre os conceitos de civilização, progresso e natureza. Esse desacordo, pequeno no passado, cresceu assustadoramente com o modelo econômico capitalista, uma vez que, segundo Eli da Veiga, “o individualismo metodológico da teoria econômica ignora sistematicamente a natureza hierárquica dos sistemas sociais e ecológicos”.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Meio Ambiente - Biocombustíveis: meta da UE pode levar 100 milhões de pessoas a passar fome

 Mais de 100 milhões de pessoas poderão passar fome se a UE cumprir a meta fixada para os biocombustíveis, alerta a agência ActionAid.

Mais de 100 milhões de pessoas poderão passar fome se os 27 Estados-membros da UE cumprirem as metas estabelecidas pela legislação europeia para os biocombustíveis, conclui um relatório da agência internacional anti-pobreza ActionAid.

Os 27 comprometeram-se a obter 10% dos combustíveis consumidos no sector dos transportes a partir de fontes renováveis até 2020, o que implica quadruplicar o consumo actual, segundo a ActionAid. E 2/3 deste aumento do consumo será assegurado através de importações, com origem maioritária nos países em desenvolvimento. A substituição de culturas alimentares por culturas destinadas ao fabrico de biocombustíveis vai provocar um aumento nos preços dos alimentos nesses países.

De acordo com a ActionAid, cada vez que os preços aumentarem 1% mais 16 milhões de pobres começarão a passar fome. Biocombustíveis não reduzem emissões de CO2 Por outro lado, a organização fez as contas e concluiu que "a maioria dos biocombustíveis industriais não reduzem as emissões de gases com efeito de estufa quando comparados com os combustíveis que substituem".

E para a União Europeia alcançar a quota de 10% "a área total de terras necessárias para o crescimento de biocombustíveis industriais nos países pobres poderia atingir os 175 mil quilómetros quadrados, isto é, metade da área da Itália". A maioria dos biocombustíveis industriais vendidos no mercado mundial é fabricada a partir do milho, trigo, cana-de-açúcar e óleos vegetais, como os óleos de palma, soja e colza. Impacto negativo nos países pobres A ActionAid salienta que o impacto local da sua introdução nos países em desenvolvimento é grande, porque gera a deslocação de populações, a escassez e subida de preço dos alimentos, falsas expectativas de criação de empregos e a desflorestação.

Leia a reportagem completa no Expresso Aqui

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Leituras - Livro do mês, Recomendo

A a raíz da catastrofe acontecida no Haiti, vêm à memória um trabalho de Jarred Diamond, "O Colapso"

O autor analisa como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso', Diamond discute o que fez com que algumas das grandes civilizações do passado entrassem em colapso e o que podemos extrair disso.

Abordando desde a cultura da Polinésia pré-histórica na ilha de Páscoa às outrora florescentes civilizações nativas americanas dos anasazis e maias, analisa as causas da decadência da colônia viking medieval na Groenlândia e chega ao mundo moderno (o caso do hait é uma mostra éxemplar). Com isso traça um panorama catastrófico e mostra o que acontece quando desperdiçamos nossos recursos ignoramos os sinais de nosso meio ambientequando nos reproduzimos rápido demais ou cortamos árvores em excesso. Danos ambientaismudanças climáticasrápido crescimento populacionalparcerias comerciais instáveis e pressões de inimigos foram fatores na queda de algumas sociedadescontudo outras encontraram soluções para esses mesmos problemas e subsistiram.

Uma das características da sociedade contemporânea é que ela tem como eixo axial não a distribuição de bens, mas a distribuição de riscos. Riscos que têm conduzido à ruína muitos povos em diversos momentos históricos como muito bem documentado por Jarred Diamond no livro.

O autor ressalta fatores mais importantes que, no passado, teriam determinado a queda de civilizações em diversos continentes. Eles podem servir de exemplo para a explicação do sucesso ou do fracasso de toda uma civilização, segundo aponta o autor.

Apesar de que esses fatores não são atribuídos apenas a danos ambientais, conforme aponta Diamond (2007), ele menciona cinco causas que podem levar uma sociedade ao colapso. São elas: dano ao meio ambiente, mudança climática, relação com países vizinhos de cooperação ou de enfrentamento, e falta de políticas públicas dos governos e dirigentes. Dos cinco fatores referidos pelo Diamond, interessa ressaltar três, já que eles guardam relação direta com a realidade da floresta amazônica (DIAMOND, 2007, p. 27-32).

1. O dano que as próprias pessoas têm infringido ao meio ambiente. O autor aponta que a extensão e a reversibilidade de tal dano dependem, em parte, de propriedades inerentes às pessoas (p.ex., quantas árvores cortam por hectare a cada ano) e, em parte, de propriedades inerentes ao meio ambiente (p. ex., quantas sementes germinam por hectare e quão rapidamente as árvores crescem por ano). Tais propriedades ambientais referem-se tanto à fragilidade quanto a resiliência (potencial para se recuperar dos danos sofridos). Portanto, o porquê de apenas certas sociedades sofrerem colapsos ambientais pode estar relacionado à imprudência de seus povos, à excepcional fragilidade de alguns aspectos do meio ambiente, ou ambos.

2. A mudança climática. O termo hoje tende a se associar com o aquecimento global provocado pelo homem. Na verdade, segundo afirma o autor, o clima pode ficar mais quente, mais frio, mais úmido ou mais seco, ou variável entre meses e anos, em razão de alterações de forças naturais que influenciam o clima e que nada têm a ver com os seres humanos (p.ex., erupções vulcânicas, mudanças de temperatura produzidas pelo Sol, mudanças de orientação do eixo da Terra, etc.). A questão central é: o colapso foi causado pelo impacto ambiental humano ou por mudanças climáticas naturais? Segundo o autor, o que demonstrou ser fatal para produzir o colapso foi a combinação da mudança climática com o impacto ambiental.

3. As respostas que as sociedades dão aos problemas, sejam ambientais ou não. Sociedades diferentes respondem de modo diferente a problemas semelhantes. A história mostra que muitas sociedades no passado tiveram problemas de desmatamento. Entre elas, as sociedades das terras altas de Nova Guiné, Japão, Tikopia e Tonga desenvolveram um manejo florestal bem-sucedido e continuaram a prosperar, enquanto Ilha de Páscoa, Mangareva e Groenlândia Nórdica não conseguiram um bom manejo florestal e, por isso, entraram em colapso. As razões para tal estão nas respostas que foram dadas pelas instituições políticas, econômicas e sociais, e de seus valores culturais. Dessa forma, aponta o autor, tais instituições e valores afetam o modo como as sociedades resolvem (ou tentam resolver) seus problemas.

O trabalho de Diamond ajuda a compreender a realidade da Amazônia atual e de muitas outras regiões (o caso do Haiti é um bom exemplo), principalmente por sua abordagem metodológica comparativa, o que permite extrair importantes lições que podem servir de alerta para as sociedades atuais quanto ao rápido desmatamento que a Amazônia vem experimentando, particularmente, nos últimos 30 anos.

Como reflexão pode-se afirmar que o trabalho do autor é importante porque revela que a discussão sobre o crescimento industrial e populacional, bem como os impactos e a crise que provocam no meio ambiente, não é recente. Todavia, essas questões vêm se agravando, conforme revelado pelos diferentes fóruns que tratam do tema.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pará e as possibilidades de um verdadeiro modelo de desenvolvimento sustentável

Dia 26 de janeiro será realizado um importante debate no IDESP (veja a notícia no Blog do Alencar) onde será debatido o modelo de desenvolvimento, por economistas do Pará, entre eles o ex-secretário da Fazenda, José Raimundo Trinidade, o Chefe da Casa Civil e articulador político dao Governo, Claúdio Puty e o professor do Naea/Ufpa, Francisco de Assis Costa (chiquito), todos eles do mesmo partido e são ou foram técnicos do Governo do Estado e, seguramente continuaram a ser, se a governadora é reeleita. Nesse sentido são em certa medida os "ideólogos" do modelo que existe hoje no Estado. Poucas novidades se espera desse diálogo, entre três economistas que pensam  o desenvolvimento de forma muito parecida. Como não teremos alguma outra proposta de desenvolvimento para o Pará, esse diálogo será mais um ato oficial da posse do nosso colega Zé Raimundo ao frente do IDESP que um debate com algúm contraditório.

Aproveito a oportunidade para meus desejos de que o novo diretor do IDESP realize um excelente trabalho ao frente dessa importante instituição, como estou certo que realizará.

Como não gosto passar em branco quando existem debates da importância daqujele que será realizado no IDESP, não aguentei a vontade de postar alguma questões que tenho discutido, sobre a crise dos modelos de desenvolvimento e as possibilidades de um novo modelo que contribua com a sustentabilidade da Amazônia.

Na realidade, este ártigo é apenas um extrato de outros trabalhos que já publiquei e onde o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi analisado em detalhe. O objetivo desta postagem é, apenas, mostrar que a noção de desenvolvimento é bem mais complexa daquela que usualmente vemos no cardápio dos programas que os diversos governos do Estado do Pará tem difundido como "desenvolvimento sustentável"

Seguem, abaixo, algumas críticas ao conceitos de desenvolvimento sustentável e como ele tem sido erradamente entendido até hoje.

CRÍTICAS E ALTERNATIVAS AO MODELO DE DESENVOLVIMENTO ATUAL

Existe um amplo leque de economistas, aqui referidos, que apresenta críticas e alternativas ao já esgotado modelo de desenvolvimento, baseado no aumento da produção material e no consumo excessivo e de uma população sempre crescente. A expansão se dá de forma contínua, levando, de um lado, ao aumento da extração e uso de recursos naturais e ambientais, e, de outro lado, geram cada vez maiores volumes de resíduos e rejeitos de alto potencial nocivo que são lançados livremente no meio ambiente.
Essa dinâmica tem sido particularmente agravada a partir de meados do séc. XX, em que houve um grande aumento de escala da economia mundial até os dias atuais. Essa escala, em termos muito gerais, tem dois componentes básicos: a magnitude da população humana e o nível de renda per capita. Nos cinqüenta anos posteriores à Segunda Guerra mundial, por exemplo, a população do Brasil mais do que triplicou, e o PIB aumentou mais de 12 vezes. Por seu turno, a população mundial passou de 1,5 bilhão de pessoas, em 1900, para 6,3 bilhões, em 2003, e o PIB global, no mesmo período, cresceu de 900 bilhões para 3 trilhões de dólares.

A questão que se apresenta é: será que não existem limites para essa expansão? Será que a economia mundial pode continuar com esse modelo de crescimento, a se expandir indefinidamente, sem provocar sérias repercussões nas diversas esferas e segmentos da sociedade? Esse conjunto de questões adquiriu grande relevância no final dos anos 1960. Uma discussão mais elaborada da comunidade internacional sobre os limites do desenvolvimento no planeta data da década de 1970. Foi quando se iniciaram os primeiros debates sobre o risco da degradação do meio ambiente global. O assunto era novidade na época, já que, até então, a preocupação se centrava na escassez de recursos naturais, como ameaça ao processo de desenvolvimento.

O Clube de Roma e os limites do crescimento

“Os limites para o crescimento”, conhecido como Relatório do Clube de Roma, foi o documento resultante de uma ampla pesquisa conduzida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Dennis Meadows. Ele alerta para os riscos ocasionados por um modelo de crescimento econômico que não leva em conta a capacidade dos recursos naturais do planeta, entre outros aspectos. O estudo afirma que, mantidos os níveis de industrialização, de poluição, de produção de alimentos e de extração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos.

Para alcançar a estabilidade econômica e ecológica, Meadows propõe o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial; mostram a realidade dos recursos limitados e rediscutem a velha tese de Malthus (economista britânico da escola clássica, discípulo de Adam Smith, escreveu um texto sobre os efeitos da constante tendência de todas as formas de vida de aumentar sua população além da capacidade de provisão de alimentos) do perigo do crescimento desenfreado da população mundial. A tese do necessário crescimento zero significava um ataque direto à filosofia do crescimento contínuo da sociedade industrial e uma crítica indireta a todas as teorias do desenvolvimento industrial que se basearam nela. As respostas críticas às teses de Meadows surgiram conseqüentemente entre os teóricos que se identificaram com as teorias do crescimento.

Posteriormente, em 1997, foi publicado documento que atualiza o estudo “Limites do crescimento”, realizado pela equipe do Clube do Roma, denominado “Beyond the limits: confronting global colapse” (Além dos limites do crescimento), realizado por Donella Meadows, Dennis Meadows e Jorgen Randers. Os autores reafirmam que a civilização está mais próxima do colapso e longe de alcançar a sustentabilidade, para isso eles utilizaram modelos modernos que permitissem uma visão abrangemte do que ocorrerá ao planeta Terra, explorando futuros prováveis e analisando cenários pessimistas e otimistas.

Crescente entropia e as irreversibilidades do sistema em Georgescu-Roegen

Nicolas Georgescu-Roegen publicou, em 1971, The Entropy Law and the Economic Process. Entretanto, embora considerada revolucionária, ela passou despercebida pela economia convencional. Os motivos disso estão relacionados ao fato de que a introdução da segunda lei da termodinâmica (Lei da Entropia) no raciocínio econômico forçaria a revisões profundas no corpo teórico convencional. A começar pela representação básica do funcionamento da economia por intermédio do diagrama do fluxo circular entre firmas e unidades de consumo, onde não há lugar para os recursos naturais como insumos e como rejeitos lançados ao meio ambiente. Aparentemente, seria fácil incluir o meio ambiente nessa representação analítica. No entanto, tal representação de fluxo circular é inerente à epistemologia mecanicista do paradigma teórico neoclássico, onde existem apenas movimentos reversíveis e qualitativamente neutros.

O que é importante ressaltar da obra de Georgescu é a introdução da idéia de irreversibilidade e de limites na teoria econômica, que decorre da segunda lei da termodinâmica em contraposição à primeira lei (transformação da matéria), para a qual essa idéia não faz sentido e sobre a qual se baseia, implicitamente, a teoria econômica convencional.

A obra de Georgescu serviu de inspiração para novas abordagens emergentes que se dedicam ao estudo da relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente, tais como a economia ecológica e a versão da ecologia profunda do desenvolvimento sustentável.

Da visão convencional do desenvolvimento à economia ecológica de Martínez Alier

Representantes da economia ecológica, ressaltam que a economia convencional – ou neoclássica – se concentra principalmente no sistema de preços e tem uma concepção metafísica da realidade econômica, que funcionaria como um perpetuum mobile lubrificado pelo dinheiro (Figura 1). As empresas vendem bens e serviços e com isso remuneram os fatores da produção (terra trabalho e capital) -fluxo circular.




Figura 1: A economia como um fluxo circular (sistema fechado)

A visão analítica da economia ambiental neoclássica considera o ecossistema terrestre como simples fonte ilimitada de recursos de bens e serviços ambientais para o sistema econômico. Os limites impostos pela disponibilidade de cada recurso natural são relativos, uma vez que poderiam ser indefinidamente superados pelo progresso tecnológico, que os substitui por recursos mais abundantes. Esse processo de substituição, por sua vez, é estimulado pela escassez relativa de bens e serviços ambientais, não havendo risco de perdas irreversíveis potencialmente catastróficas. Em outras palavras, trata-se de um processo que é fundamentalmente reativo. Assim, a economia neoclássica foca seus esforços somente na alocação dos recursos, sem se preocupar com a sustentabilidade da escala e com a distribuição justa da riqueza. As políticas de gestão dos recursos naturais se simplificam na atribuição de valores econômicos a esses bens e serviços, de modo a criar condições para que a atuação dos agentes econômicos não gere externalidades negativas.

Nesse sentido, a economia convencional se vê como um sistema fechado entre produtores de mercadorias e consumidores, coordenados pelos mercados onde se formam os preços que guiam suas decisões (Figura 2). Para essa abordagem o livre jogo das forças de mercado em situação de livre competição (o que significa perfeita informação dos agentes econômicos) será capaz de promover a mais eficiente alocação de recursos, a mais elevada produção, a mais justa distribuição de renda, o mais rápido progresso tecnológico.
De forma contrária, a economia ecológica vê o planeta Terra como um sistema aberto (Figura 2). Segundo Martínez Alier, a economia ecológica é um novo campo de estudos criado por ecólogos e economistas cuja pretensão é “levar a natureza em consideração” não somente em termos monetários, mas, sobretudo, em termos físicos e sociais. A economia ecológica coloca no centro da sua análise a incomensurabilidade de valores.



Figura 2– A economia como sistema aberto
Fonte: MARTÍNEZ ALIER & ROCA JUSMET (2003)

Para a economia ecológica, existem limites absolutos, dados pela capacidade de suporte da terra e que o progresso científico e tecnológico não tem como superar. Além disso, considera-se que existem riscos de perdas irreversíveis potencialmente catastróficas, o que implica um processo de ajuste que não pode ser apenas reativo, mas sim fundamentalmente proativo. Nesse sentido, é preciso tomar decisões que, de forma preventiva, se antecipem ao agravamento dos problemas ambientais, sendo que tais decisões precisam que ser tomadas, via de regra, em um contexto de grande incerteza, decorrente da incapacidade da ciência em prever todas as conseqüências de um determinado problema ambiental. Nesse contexto, o “princípio da precaução” aparece como uma inovação institucional da maior importância.

Para a economia ecológica, a alocação dos recursos ocupa o terceiro lugar na ordem de prioridade. Primeiro busca-se definir a escala, baseada nos limites ecossistêmicos. Depois busca-se uma distribuição mais justa. E somente então parte-se para a alocação eficiente dos recursos. A economia ecológica acredita que o crescimento infinito da economia só pode ser restringido por intermédio de políticas públicas, num contexto de boa governança e de fortalecimento das instituições. Acredita também que a estabilização do consumo de recursos naturais per capita dependerá de uma mudança de valores, com base, em ultima instância, em considerações de ordem ética.

Haveria, portanto, de se passar de uma “civilização do ter” para uma “civilização do ser”, Segundo afirmara Ignacy Sachs. Outros valores como a solidariedade inter e intragerações têm de se afirmar num contexto de controvérsias e incertezas científicas decorrentes da complexidade dos problemas ambientais globais. A determinação da escala que se considere sustentável só pode ser realizada por intermédio de processos coletivos de tomada de decisão.

A economia ecológica abrange também à economia neoclássica ambiental e a transcende. Ao incluir a avaliação física dos impactos ambientais da economia humana, considera que o mercado não é a solução de todos os problemas da economia e que regulação dos fatores da natureza pela simples ação do mercado não é suficiente.

A perspectiva da ecologia profunda (Deep Ecology)

A ecologia profunda é uma das abordagens que questiona de forma mais veemente o modelo dominante de desenvolvimento. A ecologia profunda adota como princípio básico a idéia de que todos os seres vivos têm direito a existência; isso equivale a dizer que os seres humanos não têm o direito de provocar a extinção de outras criaturas ou de brincar de Deus ao decidir quais as espécies que nos servem e, portanto, que se pode permitir que vivam. Essa perspectiva rejeita a visão antropocêntrica arraigada de que a humanidade está no centro de tudo que tem valor e que as outras criaturas só têm valor enquanto têm alguma utilidade. Em vez disso, todas as coisas vivas têm um valor intrínseco, quer dizer, animais, plantas, bactérias, vírus, e os animais não são mais importantes do que as plantas e os mamíferos não são mais valiosos do que os insetos.

Uma importante expressão do pensamento associado à ecologia profunda é a de Herman Daly . Segundo Daly, a noção de desenvolvimento sustentável, popularizada pelo Relatório Brundtland, tem contribuído para localizar realmente a questão nos primeiros lugares da ordem de prioridades das Nações Unidas e dos bancos multilaterais de desenvolvimento. Entretanto, afirma Herman Daly, tinha-se a esperança de que a notória contradição de uma economia mundial que cresce a taxas de 5% a 10% ao ano, no que diz respeito aos limites ecológicos, seria resolvido na discussão posterior. Mas, na prática, “o relatório Brundtland tem defendido a necessidade de crescimento econômico a taxas de 5% ou 10% como elemento integrante de um desenvolvimento sustentável”. Nesse sentido, deveria ter se referido ao “crescimento sustentável”.

Daly alerta que o desenvolvimento – não o crescimento – sustentável supõe uma gestão de recursos renováveis que segue três princípios: 1) as taxas de coleta devem ser iguais às taxas de regeneração (produção sustentável); 2) as taxas de emissão de resíduos devem ser iguais às capacidades naturais de assimilação dos ecossistemas que geram os resíduos, e 3) os recursos não-renováveis devem ser administrados de maneira que sua taxa de esgotamento se limite à taxa de criação de substitutos renováveis. Outros fatores, como a tecnologia ou escala da economia, também têm de se harmonizar com o desenvolvimento sustentável.

O autor chama a atenção para o significado vago das definições de crescimento sustentáveis. Segundo ele, apesar das inúmeras aproximações de especialistas e de economistas ecológicos, ainda não se alcançou uma definição adequada. Para o autor, um simples dicionário basta para saber que crescer tem a ver com “aumentar de tamanho” por adição de material, por intermédio da assimilação ou o “acrescentamento”. Desenvolver significa, por sua vez, “expandir ou realizar as potencialidades com que se conta; aceder gradualmente a um estado mais pleno, maior, ou melhor”.

Conforme aponta Daly:

O crescimento é incremento quantitativo da escala física; desenvolvimento, a melhora qualitativa ou concretização das potencialidades. Uma economia pode crescer sem desenvolver-se, ou se desenvolver sem crescer, ou fazer ambas as coisas, ou nenhuma. Posto que a economia humana é um subsistema de um ecossistema global finito que não cresce, ainda que se desenvolva, está claro que o crescimento da economia não pode ser sustentável em um período longo de tempo.

Segundo Daly, os economistas dedicam tanta atenção ao crescimento do PIB que o confundem com “crescimento econômico”, sem admitir a possibilidade de que este pode ser “não-econômico”, já que custos marginais derivados dos sacrifícios ambientais e sociais poderiam ser maiores que o valor dos benefícios da produção. O anterior nos faria mais pobres e não mais ricos, pelo que deveria denominar-se “crescimento não-econômico”.

Existem provas empíricas convincentes de que alguns países do Norte entraram já numa etapa de crescimento antieconômico. Mas, como se pode eliminar a pobreza se não através do crescimento? A resposta é evidente, embora para muitos seja desagradável: mediante a redistribuição, o controle populacional e o aumento da produtividade dos recursos naturais. Considera-se que os dois primeiros fatores são politicamente impossíveis. O terceiro é apoiado até que se reconhece que os maiores níveis de produtividade, insumos de mão-de-obra e capital se alcançaram através do uso “consciente” de recursos.

Segundo o autor, a orientação do progresso econômico deveria mudar do crescimento quantitativo ao qualitativo e iniciar uma etapa de desenvolvimento sustentável, uma economia estável ou uma “condição estacionária” da população e do capital, se utilizarmos o conceito clássico de John Stuart Mill.

O breve resgate da noção, das críticas e das alternativas ao desenvolvimento, proposto por diferentes escolas e autores, permitiu constatar que, apesar de importantes contribuições, elas são ainda insuficientes para abarcar toda a complexidade do desenvolvimento de regiões ricas em recursos naturais, mas com graves restrições socioeconômicas.

Será que essas sociedades devem se resignar com a pobreza, a fim de manter sua riqueza natural ou, ao contrário, utilizar seus recursos para melhorar os indicadores econômicos e sociais? A preocupação primeira da Deep-ecology não é a pobreza, já que o ser humano ocupa a mesma ordem de importância de outras espécies vivas. Da mesma forma, a economia ecológica, embora agregue a necessidade de governança e uma melhor distribuição da riqueza, seu princípio da precaução, se levado ao extremo, pode imobilizar ações voltadas para a implementação de uma política de sustentabilidade, da forma em que considere as pessoas e comunidades da Amazônia como os principais atores do desenvolvimento sustentável.

A principal questão repousa na dificuldade de entender o desenvolvimento de forma holística. A economia ecológica, por exemplo, constrói sua argumentação a partir do espaço econômico e não do amplo espaço geográfico que o desenvolvimento sustentável propõe. Além disso, a relação entre pobreza e riqueza é pouco aprofundada como um fator determinante do desenvolvimento.

Cansei. Em outra oportunidade será abordado o conceito de desenvolvimento sustentável que, com algumas condicionantes, se apresenta como um dos mais adequados para o estudo da realidade da região amazônica.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Energia - Preço do petróleo US$1 milhão o Barril?



Quanto custaria o barril de petróleo se fosse considerado o tempo da formação das jazidas. Já houve quem calculasse isso. Há 15 anos, escutei numa palestra de Martínez-Alier que o custo seria de cerca de 1.000.000 de dólares o barril. Se pagamos 75 dólares, o resto é subsídio.

Clovis Cavalcanti - ECOECO

Sociedade Brasileira de Economia Ecológica-ECOECO

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meio Ambiente - Ignacy Sachs critica venda de créditos de carbono e defende dirigíveis


Desenvolver mantendo a floresta preservada. O desafio está sendo debatido desde ontem na Estação Gasômetro, no III Encontro Anual Fórum Amazônia Sustentável, que termina hoje. Durante o evento, foi assinada uma Carta Aberta ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo que ele e seus ministros conclamem os demais líderes mundiais à importância da elaboração de uma acordo 'ambicioso, justo e com força de Lei', em Copenhague. Estudiosos, organizações sociais, governos, empresários e Organizações não Governamentais (Ongs) participam do evento, último realizado no Brasil antes da Conferência do Clima, no mês de dezembro, em Copenhague, na Dinamarca.

Entre os convidados de ontem, um nome que virou referência no assunto, sendo considerado mundialmente como um dos maiores especialistas em desenvolvimento sustentável: professor Ignacy Sachs, da Escola de Altos Estudos Sociais de Paris. Na ocasião, Sachs falou da importância do zoneamento ecológico-econômico; da certificação de origem de produtos; da necessidade da melhoria das condições de transporte. Sachs também criticou a venda de créditos de carbono.

'Se o meu vizinho polui e eu começo a tossir, eu não vou parar de tossir quando ele comprar um pedaço da floresta e continuar poluindo. Nós temos que resolver esses problemas através de projetos e não de programas individuais de compra ou venda de carbono', disse Ignacy Sachs, durante a palestra de abertura.

O especialista acredita que um dos caminhos para tentar resolver o problema seria avançar na política de zoneamento ecológico-econômico. Mas ele lembra da necessidade de fiscalizar a área envolvida. 'Não é suficiente fazer apenas um documento. Vamos em seguida fazer um monitoramento da execução ou não execução da área zoneada. Poderia ser o caso de se instituir um certificado obrigatório', sugeriu.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ECONOMIA ECOLÓGICA - DEBATE SOBRE "A TRAGÉDIA DOS BENS COMUNS" DE GARRET HARDIN

Mais um debate na SBPC em Manaus


Aspectos ecológicos, políticos, sociais e econômicos foram discutidos com o objetivo de traçar novos parâmetros para a redução das emissões de gases e a preservação das florestas.

Por Annyelle Bezerra

Discutir sobre as mudanças climáticas, suas consequências e as possíveis soluções esteve entre as propostas do simpósio “Problemas do Desenvolvimento na Perspectiva Econômico-ecológica: aplicações ao caso da Amazônia”, realizado nesta quinta-feira (16) no Campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

A atividade era parte da programação da 61ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Manaus e que termina nesta sexta-feira (17).

Coordenado pelo professor da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Clóvis Cavalcante, o simpósio contou ainda com a participação do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, da professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Socorro Chaves, e do economista e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gonzalo Enriquez.

O carbono como geração de riqueza para o País e a floresta em pé gerando um lucro maior que atividades como pecuária e agricultura foram as principais ideias defendidas por Fearnside. De acordo com o pesquisador os serviços ambientais gerados pela floresta podem vir a ser uma das possibilidades para a desaceleração das mudanças climáticas. Mas, segundo ele, apesar do tema estar em evidência, a situação ainda não é a esperada.

“Este é um assunto quente em termos de pesquisa, mas na prática, apesar de todo o discurso, o desmatamento está aumentando, e a tendência é aumentar cada vez mais. O que se verifica é um grande descompasso”, afirma o pesquisador.

Para Socorro Chaves, o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil é incompatível com as peculiaridades de cada região. “O modelo de desenvolvimento vigente se baseia na miséria e na fome da grande população mundial, enquanto somente uma minoria detém os recursos”, ressalta a professora.

O desenvolvimento tecnológico, segundo Chaves, destrói as chances da sociedade de se desenvolver de forma igualitária. E, na Amazônia, a situação se apresenta de maneira ainda mais acentuada, pois o modelo de desenvolvimento da região sempre esteve baseado na ocupação de território e no domínio político da população local.

Dificuldades de compreensão

Os cientistas, ainda segundo Chaves, têm dificuldade em compreender as comunidades da região, pois o modelo de organização utilizado para estudá-las se baseia no modelo de organização urbano.

“Nas comunidades, por exemplo, o conceito de proteção do conhecimento é totalmente oposto ao do urbano. Lá significa difundi-lo, enquanto para nós é apreender e não passar adiante”, esclarece ela.

Para ele, o grande desafio é “reacender” a chama da utopia por uma nova sociedade. “É preciso a criação de alternativas adequadas de respeito à diversidade biológica e sócio-cultural, além da melhoria de vida, em prol de um futuro com protagonismo e cidadania”, enfatizou.

Bem comum?

Gonzalo Enriquez, em sua palestra “Economia da biodiversidade e a sustentabilidade da Amazônia na visão da economia ecológica”, ressaltou o que ele chama de “perigosa” conceituação de “bem comum”, que, segundo ele, representa hoje um dilema entre a propriedade coletiva e a de ninguém, simultaneamente.

Além disso, questões como a globalização e o seu papel no desencadeamento de tragédias estiveram entre os destaques.

No Brasil, segundo o economista, as políticas de redução do desmatamento ainda se baseiam no método atrasado. “O governo corre atrás do prejuízo, e não existe uma conversa entre a política ambiental e a produtiva”, afirma ele.

Segundo Enriquez, as políticas governamentais que deveriam reduzir as derrubadas têm tido resultados inversos. “Em menos de um mês, se liberou aproximadamente 10 bilhões de reais para ruralistas. Claro que quem está do lado verde pula para o outro lado”, esclarece o economista.

Desenvolvimento VS. Crescimento

Para Cavalcante, um dos pontos principais é fazer a diferenciação entre desenvolvimento e crescimento. Enquanto o primeiro está relacionado às melhorias sociais e à expansão da cidadania, o segundo se limita a aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) do país. E, com isso, consequentemente aumentando as desigualdades sociais.

“A sociedade é sempre atropelada pelo crescimento. Um exemplo disso é a hidrelétrica de Balbina, construída sem levar em consideração os impactos para a comunidade que lá vivia”, ressaltou.

terça-feira, 28 de julho de 2009

DESMATAMENTO - Ecologistas e agropecuaristas se enfrentam pelo desmatamento da Amazônia


As riquezas da Amazônia são fontes de muita cobiça, em especial a dos agropecuaristas. E o debate que opõe ecologistas e ruralistas em torno do desenvolvimento dessa região povoada por 23 milhões de habitantes mobiliza o fervor dos defensores de cada campo.

Recentemente, foram os ecologistas que obtiveram uma vitória, ao tomar o mundo agrícola de surpresa. Um relatório da ONG Greenpeace sobre a criação descontrolada de gado na Amazônia levou as três principais redes de supermercados a suspenderem suas compras de carne proveniente de áreas desmatadas ilegalmente. Os contratos de diversos abatedouros também foram suspensos, o Banco Mundial rescindiu contrato com o frigorífico Bertin e a justiça entrou com ações contra 21 fazendas. "É preciso conscientizar as pessoas, pois a Amazônia está ameaçada pelo eixo do mal que alia o gado - o Brasil é o principal exportador mundial de carne - , à exploração ilegal de madeira e ao avanço da soja e da cana de açúcar", diz Paulo Adário, coordenador de campanha para o Greenpeace.

Um argumento que vai contra a maior defensora do agronegócio, a senadora do partido conservador Democratas (DEM), Kátia Abreu: "Não é crime produzir para exportar", se rebela aquela que preside também a Confederação Nacional da Agricultura, "pois nós não destruímos a vegetação, mas sim a substituímos por alimentos". Seu argumento choca: o agronegócio representa um terço do PIB e das exportações do país.

Essa rica fazendeira do Estado de Tocantins assumiu o papel de porta-voz dos agricultores que "muitas vezes não se expressam bem, são tímidos, rudes, simples". Assim que chega a Brasília, ela troca seu jeans por uma saia e sapatos envernizados e defende seus protegidos da tribuna do Senado. Ela também conta com o apoio da bancada ruralista, o grupo de deputados que apoiam a causa agrícola, com 150 dos 513 deputados.

"Kátia Abreu tem uma visão moderna do mundo agrícola, e o defende como uma tigresa", garante o agrônomo Dante Scolari, conselheiro para a comissão parlamentar da Agricultura. No Brasil, os lobistas miram os congressistas, apesar (ou por causa?) de sua reputação abominável de "corruptos".

Coletes à prova de bala e escolta

"Os ecologistas não devem ter o monopólio do debate", defende Kátia Abreu, que exigiu a demissão do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, depois de tê-lo ouvido chamar os grandes fazendeiros de "vigaristas". Ela diz: "Então para que interesses serve essa ONG estrangeira que só fala mal, em vez de também dizer ao mundo que o Brasil conservou 52% de sua vegetação original?"

Tratados com hostilidade por seus detratores, os militantes do Greenpeace percorrem a Amazônia por sua conta e risco. Com base em Manaus, Paulo Adário foi ameaçado de morte, e durante dois anos, esse homem de cinquenta e poucos anos grande e forte viveu com um colete à prova de balas, e uma escolta da polícia federal. Em 2005, a irmã missionária Dorothy Stang, defensora dos pequenos agricultores, foi assassinada por matadores de aluguel pagos por latifundiários.

Paulo Adário abandona a floresta para falar em encontros internacionais. "As autoridades brasileiras tremem diante de pressões internacionais", ele afirma, acreditando que o presidente Lula ainda não decidiu entre o desenvolvimento predatório e o desenvolvimento sustentável.

Enquanto eles o ouvem promover a solução brasileira dos biocombustíveis, os militantes do Greenpeace exigem que o Brasil prove que etanol de cana de açúcar não contribui para a destruição da Amazônia e do ambiente.

Esses dois adversários, entretanto, concordam quanto à solução que salvaria a majestosa floresta de novas destruições.

"A remuneração do serviço ambiental é a solução para todos nossos problemas", garante Kátia Abreu. "É preciso criar uma economia do meio ambiente onde o Estado criaria infraestruturas e créditos para uma exploração sustentável", completa Paulo Adário.

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

AMAZÔNIA - OS NOVOS LIMITES DO CRESCIMENTO




Notícias Segunda-Feira, 20 de julho de 2009

DEBATE SOBRE A ECONOMIA ECOLÓGICA E A SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA
7. Economia ecológica

Especialistas de instituições de ensino e pesquisa da Amazônia apontam necessidade de o sistema econômico mundial se submeter às leis da natureza

Segundo pesquisadores reunidos em mesa-redonda durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na semana passada em Manaus, olhar a Amazônia sob o ponto de vista da perspectiva econômico-ecológica deve provocar uma mudança de paradigma à medida que os problemas e desafios da região passem a ser tratados prioritariamente com enfoque ecológico, antes de o aspecto econômico vir à tona.

Clóvis Cavalcanti, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, destacou que os conceitos de meio ambiente são anteriores à economia. “Mas o meio ambiente pode e precisa existir sem a sociedade. O sistema econômico mundial deve se submeter e ser subordinado ao ecossistema e às leis da natureza”, disse o também membro fundador da Sociedade Internacional para a Economia Ecológica (ISEE, na sigla em inglês) e da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Ecoeco).

“Estamos acabando com o meio ambiente e com a vida social da Amazônia em troca de promessas muitas vezes vazias de aceleração do crescimento e do bem-estar humano, em que o aumento do PIB [Produto Interno Bruto] traz a destruição dos valores ambientais e culturais cultivados ao longo de séculos de convivência entre os habitantes da região”, disse.

Gonzalo Vasquez Enriquez, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), disse que “não é possível só crescer de forma exponencial, pois essa curva ascendente levaria o mundo a uma situação de colapso”, alertou ele, citando em seguida a importância do relatório The limits of growth, produzido em 1972 por uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, para a organização não governamental The Club of Rome.

O relatório trata de problemas cruciais para o desenvolvimento da humanidade, como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. “A sociedade pode e está destruindo a Amazônia, mas de alguma forma a humanidade terá que pagar por isso”, disse Enriquez.

“Os avanços tecnológicos não estão sendo suficientes para resolver o problema dos limites físicos dos bens naturais. O crescimento pelo crescimento está deixando cada vez mais evidente o limite dos recursos do meio ambiente, não trazendo soluções técnicas para a manutenção da biodiversidade e promovendo o aumento do poder e da necessidade de consumo pela sociedade moderna”, afirmou.

Para Philip Fearnside, pesquisador titular do Departamento de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), um grande desafio para o futuro da Amazônia é a criação de meios de conversão dos serviços oferecidos pela floresta, como a manutenção da biodiversidade e dos estoques de carbono, em um fluxo de renda para as comunidades que garanta o desenvolvimento sustentável da região.

“É bem melhor transformar algo que é sustentável em desenvolvimento do que tentar fazer com que uma forma de desenvolvimento não-sustentável se converta em sustentável”, disse o pesquisador que há mais de 30 anos tem se destacado no trabalho de apoio à valorização dos serviços ambientais da Amazônia.

“O desenvolvimento implica a criação de uma base econômica de suporte para a população e, a fim de ser sustentável, essa base de suporte deve manter-se por muito tempo”, apontou Fearnside que, antes do Protocolo de Kyoto (1997), já havia proposto a compensação dos serviços ambientais da floresta amazônica com base na manutenção de estoques de carbono, ou com pagamentos na forma de uma porcentagem anual do valor dos estoques.
(Thiago Romero, da Agência Fapesp, 20/7)
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