A história é narrada, no ano de 2004, pelo personagem Iván, um aspirante a escritor que atua como veterinário em Havana e, a partir de um encontro enigmático com um homem que passeava com seus cães, retoma os últimos anos da vida do revolucionário russo Leon Trotski, seu assassinato e a história de seu algoz, o catalão Ramón Mercader, voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e encarregado de executá-lo. Esse ser obscuro, que Iván passa a denominar 'o homem que amava os cachorros', confia a ele histórias sobre Mercader, um amigo bastante próximo, de quem conhece detalhes íntimos. Diante das descobertas, o narrador reconstrói a trajetória de Liev Davidovitch Bronstein, mais conhecido como Trotski, teórico russo e comandante do Exército Vermelho durante a Revolução de Outubro, exilado por Joseph Stalin após este assumir o controle do Partido Comunista e da URSS, e a de Ramón Mercader, o homem que empunhou a picareta que o matou, um personagem sem voz na história e que recebeu, como militante comunista, uma única tarefa - eliminar Trotski. São descritas sua adesão ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, a mudança de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético, numa série de revelações que preenchem uma história pouco conhecida e coberta, ao longo dos anos, por inúmeras mistificações. As duas trajetórias ganham sentido pleno quando Iván projeta sobre elas sua própria experiência na Cuba moderna, seu desenvolvimento intelectual e seu relacionamento com 'o homem que amava os cachorros'.
Amazônia, meio ambiente, ecologia, biodiversidade, desenvolvimento sustentável, ciência e tecnologia, incubadoras e parques tecnológicos, política nacional e internacional - Amazonia, the environment, ecology, biodiversity, sustainable development, science and technology, incubators and technology parks, national and international policy
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A história se repete como mínimo duas vezes
A história é narrada, no ano de 2004, pelo personagem Iván, um aspirante a escritor que atua como veterinário em Havana e, a partir de um encontro enigmático com um homem que passeava com seus cães, retoma os últimos anos da vida do revolucionário russo Leon Trotski, seu assassinato e a história de seu algoz, o catalão Ramón Mercader, voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e encarregado de executá-lo. Esse ser obscuro, que Iván passa a denominar 'o homem que amava os cachorros', confia a ele histórias sobre Mercader, um amigo bastante próximo, de quem conhece detalhes íntimos. Diante das descobertas, o narrador reconstrói a trajetória de Liev Davidovitch Bronstein, mais conhecido como Trotski, teórico russo e comandante do Exército Vermelho durante a Revolução de Outubro, exilado por Joseph Stalin após este assumir o controle do Partido Comunista e da URSS, e a de Ramón Mercader, o homem que empunhou a picareta que o matou, um personagem sem voz na história e que recebeu, como militante comunista, uma única tarefa - eliminar Trotski. São descritas sua adesão ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, a mudança de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético, numa série de revelações que preenchem uma história pouco conhecida e coberta, ao longo dos anos, por inúmeras mistificações. As duas trajetórias ganham sentido pleno quando Iván projeta sobre elas sua própria experiência na Cuba moderna, seu desenvolvimento intelectual e seu relacionamento com 'o homem que amava os cachorros'.
domingo, 29 de abril de 2012
O futuro da história
Uma das vozes conservadoras influentes, e também controversas, da academia e da política americanas, Francis Fukuyama defende a criação de uma organização multilateral no nordeste da Ásia, incluída a China - cujo modelo econômico e político considera insustentável -, capaz de harmonizar interesses nacionais e que, ao mesmo tempo, funcionaria como uma espécie de fórum para discussão de questões também presentes na agenda geopolítica dos Estados Unidos. Essa é a tese central do livro "Multilateralismo na Ásia Oriental", coletânea de artigos organizada por Fukuyama e Kent E. Calder, agora publicada no Brasil.
Foi quando ainda era um dos jovens talentos da universidade Johns Hopkins - onde hoje ocupa posto de direção nas atividades do Centro de Estudos da Ásia Oriental -, que Fukuyama cunhou a expressão "fim da história". Referia-se, dessa forma, à queda do muro de Berlim e à desintegração da União Soviética como confirmação conclusiva, a seu ver, da supremacia do liberalismo econômico e político no mundo contemporâneo, que estaria então definitivamente estabelecida.
Vinte anos depois de "O Fim da História e o Último Homem" chegar às livrarias, Fukuyama publicou em janeiro, na revista "Foreign Affairs", um texto em que critica os exageros da liberalização econômica americana. Segundo ele, o ultraliberalismo proporcionou um cenário propício ao enfraquecimento da classe média e ao aumento das desigualdades sociais nos Estados Unidos. Um dos nomes responsáveis pela disseminação da chamada Doutrina Reagan, de apoio maciço aos movimentos anticomunistas (inclusive armados) como forma de esgotamento da União Soviética, Fukuyama se alinhou aos neoconservadores nos anos 90 e apoiou a invasão do Iraque.
"O Brasil precisa continuar a diversificar sua base econômica e multiplicar o investimento em educação"
O desencanto de Fukuyama com o governo de George W. Bush - chegou a comparar o neoconservantivismo ao leninismo - e o apoio, em 2008, a Barack Obama, são considerados por analistas de variados espectros uma evidência da radicalização da direita americana, na qual não haveria mais lugar para nomes conservadores como o dele.
Nesta entrevista, Fukuyama fala da exaustão, de certo modo já perceptível, do modelo chinês (recusou-se a comentar o fato de que parte da academia considera este o "século chinês"), comenta problemas de governabilidade das democracias liberais avançadas, valoriza a possível influência do Brasil em questões relacionadas aos direitos humanos e adverte para a importância de o país multiplicar o investimento em educação como primeira condição para acelerar o desenvolvimento.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Fukuyama ao Valor.
Valor:
Na semana passada, a Índia testou com sucesso seu primeiro míssil nuclear de longo alcance, gerando protestos do Paquistão e da China. Há uma preocupação em relação à escalada da corrida armamentícia na Ásia Oriental, não por acaso região cada vez mais prioritária na estratégia militar americana. Dentro desse contexto, qual a real possibilidade para a criação, como o senhor defende desde a publicação do livro nos Estados Unidos, em 2008, da formação de uma organização multilateral de peso no Extremo Oriente?
Francis Fukuyama: Ainda penso ser importante a criação de uma organização voltada exclusivamente para a discussão de assuntos de segurança no nordeste da Ásia. É de fato possível que a Coreia do Norte entre em um súbito colapso e vai haver uma corrida para ocupar o vácuo. O principal interesse da China é evitar a reunificação da Coreia, um estado democrático aliado dos Estados Unidos. Os chineses não querem tropas americanas estacionadas na fronteira. Na teoria, Estados Unidos, Coreia e China deveriam ser capazes de desnuclearizar a Península Coreana ou mesmo de terminar oficialmente a aliança Estados Unidos-Seul no caso de uma unificação. Mas não é possível sequer iniciarmos iniciativas diplomáticas a esse respeito por causa das sensibilidades chinesas. Um fórum regular que pudesse cuidar desses tópicos seria extremamente desejável.
Valor: Mas ainda é possível conter a China? Pequim hoje conta com mais embaixadas na África do que Washington e já é o principal parceiro comercial de boa parte dos países da América Latina...
Fukuyama: Veja bem, os Estados Unidos não têm interesse algum em conter os investimentos chineses ou as relações comerciais de Pequim mundo afora. Não têm. Quando falamos em "conter" a China, estamos pensando em questões de segurança internacional, como, por exemplo, na visão de Pequim sobre o Mar da China, que eles querem controlar de forma absoluta. Ou nas relações com Taiwan. Especificamente quando pensamos nesses tópicos, é certamente possível para os países que se sentem ameaçados pela China trabalhar juntos para limitar a influência de Pequim.
Valor: O pré-candidato republicano à Casa Branca Mitt Romney defende práticas comerciais mais duras em relação a Pequim. Ele acusou o governo Obama de "tolerar a sujeição de nossos interesses comerciais a Pequim". É possível para os Estados Unidos, na atual conjuntura econômica, serem de fato mais duros com a China? Qual a sua avaliação sobre as relações Washington-Pequim no governo Obama?
Fukuyama: Creio que deveríamos tratar a desvalorização da moeda chinesa da mesma forma como se trata a exportação de produtos subsidiados. Deveríamos tê-los ameaçado com uma tarifa de entrada proporcional ao peso da desvalorização, o que certamente levaria o caso para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Aliás, não há qualquer diferença conceitual entre subsídio e desvalorização artificial da moeda. Não acredito que tal atitude levaria a uma guerra comercial com Pequim e sim a uma situação de barganha, em que os chineses provavelmente seriam forçados a retroceder. Mas isso só seria possível de fato se outros países ameaçados pelas importações chinesas se juntassem ao clube. Estou pensando aqui especialmente no Brasil, que vem sofrendo com um processo de desindustrialização por conta da política monetária chinesa.
"Partidos políticos de centro-esquerda e centro-direita são indispensáveis como forma de representação das novas classes médias"
Valor: O senhor acredita que o crescimento econômico implicará naturalmente uma abertura democrática na China? Qual papel o Brasil, como um dos Brics, poderia exercer na questão do respeito aos direitos humanos na China?
Fukuyama: Creio que a China acabará por se democratizar. Nem o modelo político nem o econômico de Pequim são sustentáveis a longo prazo. O modelo exportador já começou a diminuir sua força substancialmente e há uma necessidade crescente de elevar o consumo, ao lado de pressões para a liberalização política. Neste exato momento, o modelo chinês se mostra vulnerável, como se vê no caso de Bo Xilai [principal líder do PC Chinês em Chongquing, preso no mês passado por causa de um escândalo de corrupção e abuso de poder] e nas crescentes dificuldades vividas pela elite política. Mas não acredito que Brasília poderia exercer um papel importante na China, especialmente por causa da ausência de uma oposição formal no país. Em outras partes do planeta, no entanto, a presença do Brasil seria muito importante. Fiquei extremamente desapontado com o ex-presidente Lula, que virou as costas para a Revolução Verde no Irã e chegou a dizer que não havia diferença entre o regime e a oposição democrática. O Brasil, por causa de sua própria história, com uma ditadura recente, tem a obrigação de ter uma atitude mais decisiva contra regimes totalitários.
Valor: Mesmo com a ascensão chinesa e a crise nos Estados Unidos e na Europa, o senhor segue acreditando que a única via para a modernização é através do liberalismo democrático?
Fukuyama: Sim, a sociedade moderna só é viável por meio da democracia liberal. O único competidor real é o modelo chinês. A China se moderniza de forma autoritária, mas trata-se de um modelo impossível de se exportar, intrínseco de sociedades asiáticas com determinadas especificidades culturais. Mas não estou dizendo que todos os países vão se desenvolver da mesma forma ou que as diversas formas de capitalismo democrático serão idênticas em todas as sociedades. O modelo capitalista da Europa setentrional é muito diferente do americano e, também, do da Europa meridional. Em meu livro mais recente, "As Origens da Ordem Política", procuro mostrar como foi acidental e fortuito o desenvolvimento da democracia liberal.
Valor: Não estaríamos vivendo uma crise do modelo democrático liberal que o senhor defende no livro? Não há uma crescente descrença, no Ocidente, em relação a instituições como o Congresso e o Poder Judiciário?
Fukuyama: Não, não há uma crise universal da democracia liberal. Na América Latina, tivemos três presidentes, Lula, Michelle Bachelet, no Chile, e Álvaro Uribe, na Colômbia, que deixaram o governo com aprovação acima dos 70%. Ou seja, algo está indo bem na região. Na Europa, há uma divisão entre facções pró e contra uma Comunidade Europeia clientelista. A Alemanha e os países escandinavos são exemplos de governos que conseguiram controlar seus déficits orçamentários enquanto mantêm bons níveis de confiança. Espanha, Grécia e Itália são estados capturados por partidos políticos, com níveis muito mais baixos de apoio popular. Ou seja, a crise não é universal.
Valor: Então vamos falar dos Estados Unidos. Em janeiro, o senhor escreveu o artigo "O futuro da história" para a revista "Foreign Affairs", que repercutiu fortemente no universo acadêmico. O senhor inicia seu texto com uma pergunta: "A democracia liberal pode sobreviver ao declínio da classe média?" O senhor já chegou a uma resposta? E quais são as forças que no momento ameaçam a democracia liberal americana?
Fukuyama: Concordo que as democracias avançadas estão experimentando uma crise de governabilidade. Todas demonstraram dificuldade na hora de tomar decisões duras. Também se revelaram frágeis, passíveis de serem capturadas por lobbies poderosos e grupos de interesses. Parte do problema se dá porque o público espera altos níveis de benefícios que algumas dessas sociedades certa vez foram capazes de gerar, mas que já não são sustentáveis do ponto de vista fiscal. E falta vontade política para se informar ao público sobre a nova realidade.
"A sociedade moderna só é viável por meio da democracia liberal. O modelo autoritário aplicado na China é impossível de exportar"
Valor: Em contrapartida, há uma explosão de populismo nos Estados Unidos, à direita, com o Tea Party, e à esquerda, com o Ocupem Wall Street. Qual papel esses movimentos terão nas eleições presidenciais de novembro?
Fukuyama: O Tea Party já passou do seu clímax de influência. Conseguiu mover o Partido Republicano para uma direção tão extremista e estreita que provavelmente custará esta eleição à oposição, com nova vitória de Obama, a não ser que tenhamos uma nova recessão até o fim do ano. O Ocupem Wall Street jamais foi um movimento de massas, mas um grupo pequeno de ativistas que encontraram um novo nicho. Não terão influência nas eleições, a não ser que se organizem melhor e aprendam a dialogar com a classe trabalhadora, na qual estão os cidadãos que de fato sofrem com o aumento da desigualdade social nos Estados Unidos.
Valor: No Brasil, vivemos a experiência oposta, com uma ascensão sem precedente histórico em direção à classe média. Como o senhor vê a era Lula?
Fukuyama: O crescimento da classe média é crítico para a estabilidade da democracia brasileira, única maneira de se evitar a polarização entre as elites e os pobres. O populismo pode ser utilizado de forma positiva, como no caso de Franklin Roosevelt nos anos 30, em que se construiu o estado de bem-estar americano, mas também pode ser uma força destrutiva, como no caso de Hitler, ou apropriado por demagogos autoritários, como Hugo Chávez. A América Latina precisa de partidos políticos de centro-esquerda e centro-direita cada vez mais fortes, representando as novas classes médias, que precisam se sentir incluída no sistema.
Valor: Também na "Foreign Affairs", no início do mês, o especialista em mercados emergentes Ruchir Sharma escreveu artigo em que alerta sobre a fragilidade da ascensão da classe média brasileira, dependente de um contexto de crescimento baseado nos preços altos das matérias-primas. O senhor concorda com esse ponto de vista?
Fukuyama: Concordo. A maior parte do crescimento brasileiro na última década deu-se por consequência da demanda global - especialmente a chinesa - por matéria-prima. Essa situação não vai durar eternamente. O Brasil precisa continuar diversificando sua base econômica. O que Brasília precisa fazer, na prática, é multiplicar o investimento em educação, para que o país suba de vez a ladeira.
Valor: Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o senhor afirmou que os Estados Unidos estão começando a se parecer com a América Latina. O que quis dizer com isso?
Fukuyama: Tradicionalmente, a América Latina é uma das regiões com maior desigualdade social, que chega a níveis dos quais os Estados Unidos vão se aproximando. É isso. Também é importante lembrar que, como muita gente na América Latina, os americanos não querem pagar mais impostos. Eles também acreditam que os governos vão desperdiçar os recursos arrecadados. O resultado é a falta de investimentos em serviços públicos, o que acaba confirmando a impressão dos que não querem pagar mais impostos.
Valor: Em "As Origens da Ordem Política", o senhor usa o exemplo da Dinamarca como modelo de um Estado funcional. Esse é um modelo passível de exportação?
Fukuyama: A Dinamarca é um país pequeno, com população de 5,5 milhões. É um país relativamente homogêneo, cujas experiências não são facilmente reproduzíveis em outras realidades. Existem como um ideal, mas, como também destaco no livro, nem mesmo os dinamarqueses sabem bem como chegaram aonde chegaram. A Dinamarca é um ponto de referência.
Valor: O senhor já foi apresentado como uma "estrela do rock" da academia americana. Nunca se cansa de ser mencionado, até hoje, como o cientista político que cunhou a expressão "o fim da história"?
Fukuyama: Sim. Mas também aprendi que não há nada que se possa fazer a respeito. Sempre tenho a esperança de que as pessoas prestem mais atenção no que estou dizendo hoje e não no que escrevi há 30 anos.
"Multilateralismo na Ásia Oriental - Perspectivas para a Estabilidade Regional"
Organização de Francis Fukuyama e Kent E. Calder. Tradução de Nivaldo Montingelli Jr. Editora Rocco. 336 págs., R$ 48,50
Por Eduardo Graça | para o Valor, de Nova York
Foi quando ainda era um dos jovens talentos da universidade Johns Hopkins - onde hoje ocupa posto de direção nas atividades do Centro de Estudos da Ásia Oriental -, que Fukuyama cunhou a expressão "fim da história". Referia-se, dessa forma, à queda do muro de Berlim e à desintegração da União Soviética como confirmação conclusiva, a seu ver, da supremacia do liberalismo econômico e político no mundo contemporâneo, que estaria então definitivamente estabelecida.
Vinte anos depois de "O Fim da História e o Último Homem" chegar às livrarias, Fukuyama publicou em janeiro, na revista "Foreign Affairs", um texto em que critica os exageros da liberalização econômica americana. Segundo ele, o ultraliberalismo proporcionou um cenário propício ao enfraquecimento da classe média e ao aumento das desigualdades sociais nos Estados Unidos. Um dos nomes responsáveis pela disseminação da chamada Doutrina Reagan, de apoio maciço aos movimentos anticomunistas (inclusive armados) como forma de esgotamento da União Soviética, Fukuyama se alinhou aos neoconservadores nos anos 90 e apoiou a invasão do Iraque.
"O Brasil precisa continuar a diversificar sua base econômica e multiplicar o investimento em educação"
O desencanto de Fukuyama com o governo de George W. Bush - chegou a comparar o neoconservantivismo ao leninismo - e o apoio, em 2008, a Barack Obama, são considerados por analistas de variados espectros uma evidência da radicalização da direita americana, na qual não haveria mais lugar para nomes conservadores como o dele.
Nesta entrevista, Fukuyama fala da exaustão, de certo modo já perceptível, do modelo chinês (recusou-se a comentar o fato de que parte da academia considera este o "século chinês"), comenta problemas de governabilidade das democracias liberais avançadas, valoriza a possível influência do Brasil em questões relacionadas aos direitos humanos e adverte para a importância de o país multiplicar o investimento em educação como primeira condição para acelerar o desenvolvimento.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Fukuyama ao Valor.
Valor:
Francis Fukuyama: Ainda penso ser importante a criação de uma organização voltada exclusivamente para a discussão de assuntos de segurança no nordeste da Ásia. É de fato possível que a Coreia do Norte entre em um súbito colapso e vai haver uma corrida para ocupar o vácuo. O principal interesse da China é evitar a reunificação da Coreia, um estado democrático aliado dos Estados Unidos. Os chineses não querem tropas americanas estacionadas na fronteira. Na teoria, Estados Unidos, Coreia e China deveriam ser capazes de desnuclearizar a Península Coreana ou mesmo de terminar oficialmente a aliança Estados Unidos-Seul no caso de uma unificação. Mas não é possível sequer iniciarmos iniciativas diplomáticas a esse respeito por causa das sensibilidades chinesas. Um fórum regular que pudesse cuidar desses tópicos seria extremamente desejável.
Valor: Mas ainda é possível conter a China? Pequim hoje conta com mais embaixadas na África do que Washington e já é o principal parceiro comercial de boa parte dos países da América Latina...
Fukuyama: Veja bem, os Estados Unidos não têm interesse algum em conter os investimentos chineses ou as relações comerciais de Pequim mundo afora. Não têm. Quando falamos em "conter" a China, estamos pensando em questões de segurança internacional, como, por exemplo, na visão de Pequim sobre o Mar da China, que eles querem controlar de forma absoluta. Ou nas relações com Taiwan. Especificamente quando pensamos nesses tópicos, é certamente possível para os países que se sentem ameaçados pela China trabalhar juntos para limitar a influência de Pequim.
Valor: O pré-candidato republicano à Casa Branca Mitt Romney defende práticas comerciais mais duras em relação a Pequim. Ele acusou o governo Obama de "tolerar a sujeição de nossos interesses comerciais a Pequim". É possível para os Estados Unidos, na atual conjuntura econômica, serem de fato mais duros com a China? Qual a sua avaliação sobre as relações Washington-Pequim no governo Obama?
Fukuyama: Creio que deveríamos tratar a desvalorização da moeda chinesa da mesma forma como se trata a exportação de produtos subsidiados. Deveríamos tê-los ameaçado com uma tarifa de entrada proporcional ao peso da desvalorização, o que certamente levaria o caso para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Aliás, não há qualquer diferença conceitual entre subsídio e desvalorização artificial da moeda. Não acredito que tal atitude levaria a uma guerra comercial com Pequim e sim a uma situação de barganha, em que os chineses provavelmente seriam forçados a retroceder. Mas isso só seria possível de fato se outros países ameaçados pelas importações chinesas se juntassem ao clube. Estou pensando aqui especialmente no Brasil, que vem sofrendo com um processo de desindustrialização por conta da política monetária chinesa.
"Partidos políticos de centro-esquerda e centro-direita são indispensáveis como forma de representação das novas classes médias"
Valor: O senhor acredita que o crescimento econômico implicará naturalmente uma abertura democrática na China? Qual papel o Brasil, como um dos Brics, poderia exercer na questão do respeito aos direitos humanos na China?
Fukuyama: Creio que a China acabará por se democratizar. Nem o modelo político nem o econômico de Pequim são sustentáveis a longo prazo. O modelo exportador já começou a diminuir sua força substancialmente e há uma necessidade crescente de elevar o consumo, ao lado de pressões para a liberalização política. Neste exato momento, o modelo chinês se mostra vulnerável, como se vê no caso de Bo Xilai [principal líder do PC Chinês em Chongquing, preso no mês passado por causa de um escândalo de corrupção e abuso de poder] e nas crescentes dificuldades vividas pela elite política. Mas não acredito que Brasília poderia exercer um papel importante na China, especialmente por causa da ausência de uma oposição formal no país. Em outras partes do planeta, no entanto, a presença do Brasil seria muito importante. Fiquei extremamente desapontado com o ex-presidente Lula, que virou as costas para a Revolução Verde no Irã e chegou a dizer que não havia diferença entre o regime e a oposição democrática. O Brasil, por causa de sua própria história, com uma ditadura recente, tem a obrigação de ter uma atitude mais decisiva contra regimes totalitários.
Valor: Mesmo com a ascensão chinesa e a crise nos Estados Unidos e na Europa, o senhor segue acreditando que a única via para a modernização é através do liberalismo democrático?
Fukuyama: Sim, a sociedade moderna só é viável por meio da democracia liberal. O único competidor real é o modelo chinês. A China se moderniza de forma autoritária, mas trata-se de um modelo impossível de se exportar, intrínseco de sociedades asiáticas com determinadas especificidades culturais. Mas não estou dizendo que todos os países vão se desenvolver da mesma forma ou que as diversas formas de capitalismo democrático serão idênticas em todas as sociedades. O modelo capitalista da Europa setentrional é muito diferente do americano e, também, do da Europa meridional. Em meu livro mais recente, "As Origens da Ordem Política", procuro mostrar como foi acidental e fortuito o desenvolvimento da democracia liberal.
Valor: Não estaríamos vivendo uma crise do modelo democrático liberal que o senhor defende no livro? Não há uma crescente descrença, no Ocidente, em relação a instituições como o Congresso e o Poder Judiciário?
Fukuyama: Não, não há uma crise universal da democracia liberal. Na América Latina, tivemos três presidentes, Lula, Michelle Bachelet, no Chile, e Álvaro Uribe, na Colômbia, que deixaram o governo com aprovação acima dos 70%. Ou seja, algo está indo bem na região. Na Europa, há uma divisão entre facções pró e contra uma Comunidade Europeia clientelista. A Alemanha e os países escandinavos são exemplos de governos que conseguiram controlar seus déficits orçamentários enquanto mantêm bons níveis de confiança. Espanha, Grécia e Itália são estados capturados por partidos políticos, com níveis muito mais baixos de apoio popular. Ou seja, a crise não é universal.
Valor: Então vamos falar dos Estados Unidos. Em janeiro, o senhor escreveu o artigo "O futuro da história" para a revista "Foreign Affairs", que repercutiu fortemente no universo acadêmico. O senhor inicia seu texto com uma pergunta: "A democracia liberal pode sobreviver ao declínio da classe média?" O senhor já chegou a uma resposta? E quais são as forças que no momento ameaçam a democracia liberal americana?
Fukuyama: Concordo que as democracias avançadas estão experimentando uma crise de governabilidade. Todas demonstraram dificuldade na hora de tomar decisões duras. Também se revelaram frágeis, passíveis de serem capturadas por lobbies poderosos e grupos de interesses. Parte do problema se dá porque o público espera altos níveis de benefícios que algumas dessas sociedades certa vez foram capazes de gerar, mas que já não são sustentáveis do ponto de vista fiscal. E falta vontade política para se informar ao público sobre a nova realidade.
"A sociedade moderna só é viável por meio da democracia liberal. O modelo autoritário aplicado na China é impossível de exportar"
Valor: Em contrapartida, há uma explosão de populismo nos Estados Unidos, à direita, com o Tea Party, e à esquerda, com o Ocupem Wall Street. Qual papel esses movimentos terão nas eleições presidenciais de novembro?
Fukuyama: O Tea Party já passou do seu clímax de influência. Conseguiu mover o Partido Republicano para uma direção tão extremista e estreita que provavelmente custará esta eleição à oposição, com nova vitória de Obama, a não ser que tenhamos uma nova recessão até o fim do ano. O Ocupem Wall Street jamais foi um movimento de massas, mas um grupo pequeno de ativistas que encontraram um novo nicho. Não terão influência nas eleições, a não ser que se organizem melhor e aprendam a dialogar com a classe trabalhadora, na qual estão os cidadãos que de fato sofrem com o aumento da desigualdade social nos Estados Unidos.
Valor: No Brasil, vivemos a experiência oposta, com uma ascensão sem precedente histórico em direção à classe média. Como o senhor vê a era Lula?
Fukuyama: O crescimento da classe média é crítico para a estabilidade da democracia brasileira, única maneira de se evitar a polarização entre as elites e os pobres. O populismo pode ser utilizado de forma positiva, como no caso de Franklin Roosevelt nos anos 30, em que se construiu o estado de bem-estar americano, mas também pode ser uma força destrutiva, como no caso de Hitler, ou apropriado por demagogos autoritários, como Hugo Chávez. A América Latina precisa de partidos políticos de centro-esquerda e centro-direita cada vez mais fortes, representando as novas classes médias, que precisam se sentir incluída no sistema.
Valor: Também na "Foreign Affairs", no início do mês, o especialista em mercados emergentes Ruchir Sharma escreveu artigo em que alerta sobre a fragilidade da ascensão da classe média brasileira, dependente de um contexto de crescimento baseado nos preços altos das matérias-primas. O senhor concorda com esse ponto de vista?
Fukuyama: Concordo. A maior parte do crescimento brasileiro na última década deu-se por consequência da demanda global - especialmente a chinesa - por matéria-prima. Essa situação não vai durar eternamente. O Brasil precisa continuar diversificando sua base econômica. O que Brasília precisa fazer, na prática, é multiplicar o investimento em educação, para que o país suba de vez a ladeira.
Valor: Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o senhor afirmou que os Estados Unidos estão começando a se parecer com a América Latina. O que quis dizer com isso?
Fukuyama: Tradicionalmente, a América Latina é uma das regiões com maior desigualdade social, que chega a níveis dos quais os Estados Unidos vão se aproximando. É isso. Também é importante lembrar que, como muita gente na América Latina, os americanos não querem pagar mais impostos. Eles também acreditam que os governos vão desperdiçar os recursos arrecadados. O resultado é a falta de investimentos em serviços públicos, o que acaba confirmando a impressão dos que não querem pagar mais impostos.
Valor: Em "As Origens da Ordem Política", o senhor usa o exemplo da Dinamarca como modelo de um Estado funcional. Esse é um modelo passível de exportação?
Fukuyama: A Dinamarca é um país pequeno, com população de 5,5 milhões. É um país relativamente homogêneo, cujas experiências não são facilmente reproduzíveis em outras realidades. Existem como um ideal, mas, como também destaco no livro, nem mesmo os dinamarqueses sabem bem como chegaram aonde chegaram. A Dinamarca é um ponto de referência.
Valor: O senhor já foi apresentado como uma "estrela do rock" da academia americana. Nunca se cansa de ser mencionado, até hoje, como o cientista político que cunhou a expressão "o fim da história"?
Fukuyama: Sim. Mas também aprendi que não há nada que se possa fazer a respeito. Sempre tenho a esperança de que as pessoas prestem mais atenção no que estou dizendo hoje e não no que escrevi há 30 anos.
"Multilateralismo na Ásia Oriental - Perspectivas para a Estabilidade Regional"
Organização de Francis Fukuyama e Kent E. Calder. Tradução de Nivaldo Montingelli Jr. Editora Rocco. 336 págs., R$ 48,50
Por Eduardo Graça | para o Valor, de Nova York
sábado, 26 de novembro de 2011
Sobre China. Kissinger - recomendo.
Secretário de Estado e Assessor de Segurança Nacional de dois
presidentes (Richard Nixon e Gerald Ford, 1969-1977), o cientista
político Henry Kissinger foi o principal arquiteto da aproximação entre
os Estados Unidos e a China comunista, como uma maneira de pressionar a
União Soviética, contra a qual os dois países tinham interesses comuns.
Em seu livro mais recente, Sobre a China,
Kissinger conta os bastidores dessa diplomacia triangular e procura
traçar o panorama da história das relações internacionais chineses do
século XIX aos dias atuais. Contudo, o resultado é decepcionante, pois
Kissinger está preso a um formato de reflexão intelectual que leva em
conta somente as intenções dos principais líderes políticos e dá pouca
ou nenhuma atenção às grandes transformações das sociedades, ao
desenvolvimento econômico e a temas como democracia e direitos humanos.
As primeiras 200 páginas do livro são dedicadas à análise histórica
do período de declínio da China, com as guerras do Ópio, as concessões
feitas às potências ocidentais, ao Japão e à Rússia e, finalmente, o
turbulento período da primeira metade do século XX, com o colapso do
império, a proclamação da República, a ocupação japonesa, a guerra civil
entre nacionalistas e comunistas e a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung
na década de 1960. É uma história fascinante, mas foi narrada e
analisada de modo mais competente do que aquele feito por Kissinger por
autores como o historiador britânico Jonathan Spence, em seu Em busca da China moderna, e o economista italiano Giovanni Arrighi em Adam Smith em Pequim.
O foco de Kissinger é no modo como o imperador e os principais
mandarins (altos funcionários) da China precisaram abandonar a ideia de
que eram o centro das relações internacionais e se inserir no sistema de
Estados liderados pelas potêncas ocidentais. Esse processo ocorreu pela
força e, após derrotas em guerras para os britânicos, os chineses
“convidaram outros países europeus [a estabelecer postos comerciais na
China] com o propósito de primeiro estimular e depois manipular a
rivalidade entre eles”. Para Kissinger, é parte do “princípio de
derrotar os bárbaros próximos com o auxílio dos bárbaros distantes”.
O cientista político afirma que o paradigma chinês de pensar a
diplomacia é bastante diferente do Ocidental. Enquanto este se baseia na
vitória total e tem no xadrez seu principal modelo, a maneira da China
seria melhor ilustrada pelo jogo tradicional Wei qi, uma espécie de
gamão que “implica um conceito de cerco estratégico” e no pensamento de
Sun Tzu com sua “ênfase nos elementos psicológicos e políticos acima dos
puramente militares”. A metáfora é bonita, mas, com ligeiras
adaptações, o que o autor classifica como tradição oriental poderia ser
igualmente usado para descrever certas medidas dos Estados Unidos
durante a Guerra Fria, como o Plano Marshall e a criação da OTAN.
– Negociando com os Comunistas –
O livro torna-se mais interessante quando aborda a China após a Revolução Comunista de 1949. Kissinger examina os erros cometidos pela liderança dos Estados Unidos naquela época, mostrando como a rigidez ideológica do período os cegou para as possibilidades de explorar as divergências crescentes entre Pequim e Moscou, e atrelou Washington a uma aliança ineficaz com o regime nacionalista em Taiwan. Medos e desconfianças fizeram com que os Estados Unidos creditassem ao governo comunista chinês intenções agressivas com relação à Coréia, numa escalada que culminou com a guerra de 1950-2, que terminou num surpreendente impasse militar – ninguém esperava tal desempenho do exército chinês, desgastado após o longo embate contra japoneses e nacionalistas.
O livro torna-se mais interessante quando aborda a China após a Revolução Comunista de 1949. Kissinger examina os erros cometidos pela liderança dos Estados Unidos naquela época, mostrando como a rigidez ideológica do período os cegou para as possibilidades de explorar as divergências crescentes entre Pequim e Moscou, e atrelou Washington a uma aliança ineficaz com o regime nacionalista em Taiwan. Medos e desconfianças fizeram com que os Estados Unidos creditassem ao governo comunista chinês intenções agressivas com relação à Coréia, numa escalada que culminou com a guerra de 1950-2, que terminou num surpreendente impasse militar – ninguém esperava tal desempenho do exército chinês, desgastado após o longo embate contra japoneses e nacionalistas.
Kissinger enumera as razões pelas quais a União Soviética e a China
divergiram entre si, apesar do regime comunista comum – disputas
ideológicas por influência no Terceiro Mundo, conflitos regionais na
Ásia, problemas de fronteira. Novamente, o cisma é melhor narrado por
outros autores, como The Sino-Soviet Split, de Lorenz Luthi.
O que Kissinger tem a oferecer são anedotas – algumas delas saborosas
– sobre suas negociações com líderes chineses como Mao, Zhou Enlai e
Deng Xiaoping. Ele vê o primeiro como um filósofo camponês desconfiado e
astuto, o segundo como um diplomata refinado, um mandarim cortês como
os que serviram os imperadores. Claramente foi seu interlocutor
favorito: “Mao era ávido por acelerar a história: Zhou se satisfazia em
explorar suas correntes”. O terceiro é elogiado como pragmático e
direto: “Ele incubia seus subordinados de inovar, depois endossava o que
funcionava.” Há bons perfis dos líderes chineses da era de Deng, como o
reformador heterodoxo Zhao Zyiang, o presidente Jiang Zemin e o
chanceler Qian Quichen (“um dos ministros das Relações Exteriores mais
habilidosos que já conheci”).
Maurício Santoro.
Doutor em Ciência Política, é professor do MBA em Relações
Internacionais da Fundação Getúlio Vargas-RJ e colaborador da Globo
News, rádio Band News e Folha de S. Paulo.
sábado, 23 de outubro de 2010
Discurso do Allende sobre ser ou não ser cristão - qualquer referência ao Brasil é mera coincidência
Sempre a história nós permite encontrar inspiração para falar com o povo.
É com tristeza eu ver que dediquei 20 anos de minha vida à um projeto quer se degenera a cada dia. Tenho dito. (Edir Veiga).
A experiência internacional européia dos partidos sociais democratas e
trabalhistas no poder experimentou um caminho análogo. Todos os partidos
transformaram-se progressivamente de partidos de massas em partidos de
mobilização eleitoral. A luta pela transformação social se transmutou em
luta pelo controle de parcela do poder de Estado, ou seja, governos e
parlamentos.
O "envelhecimento" destes atores partidários redundou no cochilo frente à emergência de uma nova agenda pública, a partir da década de 1970, temas como: questões ambientais globais e locais, direitos humanos, liberdade opção sexual, questões culturais, artísticas, ética na política, etc. Esta agenda passou "desapercebida" pelos partidos da esquerda tradicional.
Ancorados nesta nova agenda pública, não captadas pelos partidos, emergiu organizações da sociedade civil que canalizaram toda esta nova agenda sócio-ambiental- cultual, fazendo emergir o poderoso movimento do terceiro setor, que ao ganharem musculatura, testemunharam a mudança do papel dos partidos políticos para uma dimensão meramente relacionada à institucionalidade estatal.
No Brasil o PT conheceu a conquista de governos estaduais e federal e experimentou a mais fantástica alteração objetiva em sua forma de ver o mundo, a política e as relações com o aparelho de Estado. Num curto espaço de tempo, de 15 anos, o PT trocou a negação total de alianças com partidos de centro e chegou a se aliar até com partidos da direita ideológica.
O PT vem se estatizando a passos largos, os movimentos sociais influenciados pelo PT, perdeu seus principais quadros, que viraram parlamentares, assessores ou governantes. Enquanto isso, estes mesmos movimentos sociais, dirigidos por líderes poucos expetimentados e despreparados foi progressivamente manietado peloa direção política emanados dos governos.
O debate entre meios e fins ou entre filosofia e política foi esquecido. A adesão completa à institucionalidade do sistema eleitoral e partidário foi total. Em nome de conquistar governos e parlamentos adentrou-se ao tortuoso caminho do financiamento de campanhas, para não depender do empresariado, muitos governantes e parlamentares foram flagrados no famoso caixa 2. Muitos líderes renomados foram fulminados em escândalos públicos.
As lideranças partidárias cometem, a cada dia, pecados mortais contra a marca PT. Até com "inimigos" históricos e recentes aparecem abraçados no palaque eletrônico (TV), a exemplo do que ocorreu com Almir Gabriel no Pará, ou com Collor em Alagoas.
Assim o PT caiu no pragmatismo mais deslavado, abandonou seu compromisso histórico com uma ética republicana e se comporta eleitoralmente com os partidos tradicionais, pagando formiguinhas, bandeirolas e boca de urna.
Confissiones de um Militante da esquerda Paraense
É com tristeza eu ver que dediquei 20 anos de minha vida à um projeto quer se degenera a cada dia. Tenho dito. (Edir Veiga).
Eleições no Brasil: a esquerda caiu no pragmatismo desvairado
O "envelhecimento" destes atores partidários redundou no cochilo frente à emergência de uma nova agenda pública, a partir da década de 1970, temas como: questões ambientais globais e locais, direitos humanos, liberdade opção sexual, questões culturais, artísticas, ética na política, etc. Esta agenda passou "desapercebida" pelos partidos da esquerda tradicional.
Ancorados nesta nova agenda pública, não captadas pelos partidos, emergiu organizações da sociedade civil que canalizaram toda esta nova agenda sócio-ambiental- cultual, fazendo emergir o poderoso movimento do terceiro setor, que ao ganharem musculatura, testemunharam a mudança do papel dos partidos políticos para uma dimensão meramente relacionada à institucionalidade estatal.
No Brasil o PT conheceu a conquista de governos estaduais e federal e experimentou a mais fantástica alteração objetiva em sua forma de ver o mundo, a política e as relações com o aparelho de Estado. Num curto espaço de tempo, de 15 anos, o PT trocou a negação total de alianças com partidos de centro e chegou a se aliar até com partidos da direita ideológica.
O PT vem se estatizando a passos largos, os movimentos sociais influenciados pelo PT, perdeu seus principais quadros, que viraram parlamentares, assessores ou governantes. Enquanto isso, estes mesmos movimentos sociais, dirigidos por líderes poucos expetimentados e despreparados foi progressivamente manietado peloa direção política emanados dos governos.
O debate entre meios e fins ou entre filosofia e política foi esquecido. A adesão completa à institucionalidade do sistema eleitoral e partidário foi total. Em nome de conquistar governos e parlamentos adentrou-se ao tortuoso caminho do financiamento de campanhas, para não depender do empresariado, muitos governantes e parlamentares foram flagrados no famoso caixa 2. Muitos líderes renomados foram fulminados em escândalos públicos.
As lideranças partidárias cometem, a cada dia, pecados mortais contra a marca PT. Até com "inimigos" históricos e recentes aparecem abraçados no palaque eletrônico (TV), a exemplo do que ocorreu com Almir Gabriel no Pará, ou com Collor em Alagoas.
Assim o PT caiu no pragmatismo mais deslavado, abandonou seu compromisso histórico com uma ética republicana e se comporta eleitoralmente com os partidos tradicionais, pagando formiguinhas, bandeirolas e boca de urna.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Leituras - Livro do mês, Recomendo
A a raíz da catastrofe acontecida no Haiti, vêm à memória um trabalho de Jarred Diamond, "O Colapso"
O autor analisa como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso', Diamond discute o que fez com que algumas das grandes civilizações do passado entrassem em colapso e o que podemos extrair disso.
Abordando desde a cultura da Polinésia pré-histórica na ilha de Páscoa às outrora florescentes civilizações nativas americanas dos anasazis e maias, analisa as causas da decadência da colônia viking medieval na Groenlândia e chega ao mundo moderno (o caso do hait é uma mostra éxemplar). Com isso traça um panorama catastrófico e mostra o que acontece quando desperdiçamos nossos recursos ignoramos os sinais de nosso meio ambientequando nos reproduzimos rápido demais ou cortamos árvores em excesso. Danos ambientaismudanças climáticasrápido crescimento populacionalparcerias comerciais instáveis e pressões de inimigos foram fatores na queda de algumas sociedadescontudo outras encontraram soluções para esses mesmos problemas e subsistiram.
Uma das características da sociedade contemporânea é que ela tem como eixo axial não a distribuição de bens, mas a distribuição de riscos. Riscos que têm conduzido à ruína muitos povos em diversos momentos históricos como muito bem documentado por Jarred Diamond no livro.
O autor ressalta fatores mais importantes que, no passado, teriam determinado a queda de civilizações em diversos continentes. Eles podem servir de exemplo para a explicação do sucesso ou do fracasso de toda uma civilização, segundo aponta o autor.
Apesar de que esses fatores não são atribuídos apenas a danos ambientais, conforme aponta Diamond (2007), ele menciona cinco causas que podem levar uma sociedade ao colapso. São elas: dano ao meio ambiente, mudança climática, relação com países vizinhos de cooperação ou de enfrentamento, e falta de políticas públicas dos governos e dirigentes. Dos cinco fatores referidos pelo Diamond, interessa ressaltar três, já que eles guardam relação direta com a realidade da floresta amazônica (DIAMOND, 2007, p. 27-32).
1. O dano que as próprias pessoas têm infringido ao meio ambiente. O autor aponta que a extensão e a reversibilidade de tal dano dependem, em parte, de propriedades inerentes às pessoas (p.ex., quantas árvores cortam por hectare a cada ano) e, em parte, de propriedades inerentes ao meio ambiente (p. ex., quantas sementes germinam por hectare e quão rapidamente as árvores crescem por ano). Tais propriedades ambientais referem-se tanto à fragilidade quanto a resiliência (potencial para se recuperar dos danos sofridos). Portanto, o porquê de apenas certas sociedades sofrerem colapsos ambientais pode estar relacionado à imprudência de seus povos, à excepcional fragilidade de alguns aspectos do meio ambiente, ou ambos.
2. A mudança climática. O termo hoje tende a se associar com o aquecimento global provocado pelo homem. Na verdade, segundo afirma o autor, o clima pode ficar mais quente, mais frio, mais úmido ou mais seco, ou variável entre meses e anos, em razão de alterações de forças naturais que influenciam o clima e que nada têm a ver com os seres humanos (p.ex., erupções vulcânicas, mudanças de temperatura produzidas pelo Sol, mudanças de orientação do eixo da Terra, etc.). A questão central é: o colapso foi causado pelo impacto ambiental humano ou por mudanças climáticas naturais? Segundo o autor, o que demonstrou ser fatal para produzir o colapso foi a combinação da mudança climática com o impacto ambiental.
3. As respostas que as sociedades dão aos problemas, sejam ambientais ou não. Sociedades diferentes respondem de modo diferente a problemas semelhantes. A história mostra que muitas sociedades no passado tiveram problemas de desmatamento. Entre elas, as sociedades das terras altas de Nova Guiné, Japão, Tikopia e Tonga desenvolveram um manejo florestal bem-sucedido e continuaram a prosperar, enquanto Ilha de Páscoa, Mangareva e Groenlândia Nórdica não conseguiram um bom manejo florestal e, por isso, entraram em colapso. As razões para tal estão nas respostas que foram dadas pelas instituições políticas, econômicas e sociais, e de seus valores culturais. Dessa forma, aponta o autor, tais instituições e valores afetam o modo como as sociedades resolvem (ou tentam resolver) seus problemas.
O trabalho de Diamond ajuda a compreender a realidade da Amazônia atual e de muitas outras regiões (o caso do Haiti é um bom exemplo), principalmente por sua abordagem metodológica comparativa, o que permite extrair importantes lições que podem servir de alerta para as sociedades atuais quanto ao rápido desmatamento que a Amazônia vem experimentando, particularmente, nos últimos 30 anos.
Como reflexão pode-se afirmar que o trabalho do autor é importante porque revela que a discussão sobre o crescimento industrial e populacional, bem como os impactos e a crise que provocam no meio ambiente, não é recente. Todavia, essas questões vêm se agravando, conforme revelado pelos diferentes fóruns que tratam do tema.
O autor analisa como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso', Diamond discute o que fez com que algumas das grandes civilizações do passado entrassem em colapso e o que podemos extrair disso.
Abordando desde a cultura da Polinésia pré-histórica na ilha de Páscoa às outrora florescentes civilizações nativas americanas dos anasazis e maias, analisa as causas da decadência da colônia viking medieval na Groenlândia e chega ao mundo moderno (o caso do hait é uma mostra éxemplar). Com isso traça um panorama catastrófico e mostra o que acontece quando desperdiçamos nossos recursos ignoramos os sinais de nosso meio ambientequando nos reproduzimos rápido demais ou cortamos árvores em excesso. Danos ambientaismudanças climáticasrápido crescimento populacionalparcerias comerciais instáveis e pressões de inimigos foram fatores na queda de algumas sociedadescontudo outras encontraram soluções para esses mesmos problemas e subsistiram.
Uma das características da sociedade contemporânea é que ela tem como eixo axial não a distribuição de bens, mas a distribuição de riscos. Riscos que têm conduzido à ruína muitos povos em diversos momentos históricos como muito bem documentado por Jarred Diamond no livro.
O autor ressalta fatores mais importantes que, no passado, teriam determinado a queda de civilizações em diversos continentes. Eles podem servir de exemplo para a explicação do sucesso ou do fracasso de toda uma civilização, segundo aponta o autor.
Apesar de que esses fatores não são atribuídos apenas a danos ambientais, conforme aponta Diamond (2007), ele menciona cinco causas que podem levar uma sociedade ao colapso. São elas: dano ao meio ambiente, mudança climática, relação com países vizinhos de cooperação ou de enfrentamento, e falta de políticas públicas dos governos e dirigentes. Dos cinco fatores referidos pelo Diamond, interessa ressaltar três, já que eles guardam relação direta com a realidade da floresta amazônica (DIAMOND, 2007, p. 27-32).
1. O dano que as próprias pessoas têm infringido ao meio ambiente. O autor aponta que a extensão e a reversibilidade de tal dano dependem, em parte, de propriedades inerentes às pessoas (p.ex., quantas árvores cortam por hectare a cada ano) e, em parte, de propriedades inerentes ao meio ambiente (p. ex., quantas sementes germinam por hectare e quão rapidamente as árvores crescem por ano). Tais propriedades ambientais referem-se tanto à fragilidade quanto a resiliência (potencial para se recuperar dos danos sofridos). Portanto, o porquê de apenas certas sociedades sofrerem colapsos ambientais pode estar relacionado à imprudência de seus povos, à excepcional fragilidade de alguns aspectos do meio ambiente, ou ambos.
2. A mudança climática. O termo hoje tende a se associar com o aquecimento global provocado pelo homem. Na verdade, segundo afirma o autor, o clima pode ficar mais quente, mais frio, mais úmido ou mais seco, ou variável entre meses e anos, em razão de alterações de forças naturais que influenciam o clima e que nada têm a ver com os seres humanos (p.ex., erupções vulcânicas, mudanças de temperatura produzidas pelo Sol, mudanças de orientação do eixo da Terra, etc.). A questão central é: o colapso foi causado pelo impacto ambiental humano ou por mudanças climáticas naturais? Segundo o autor, o que demonstrou ser fatal para produzir o colapso foi a combinação da mudança climática com o impacto ambiental.
3. As respostas que as sociedades dão aos problemas, sejam ambientais ou não. Sociedades diferentes respondem de modo diferente a problemas semelhantes. A história mostra que muitas sociedades no passado tiveram problemas de desmatamento. Entre elas, as sociedades das terras altas de Nova Guiné, Japão, Tikopia e Tonga desenvolveram um manejo florestal bem-sucedido e continuaram a prosperar, enquanto Ilha de Páscoa, Mangareva e Groenlândia Nórdica não conseguiram um bom manejo florestal e, por isso, entraram em colapso. As razões para tal estão nas respostas que foram dadas pelas instituições políticas, econômicas e sociais, e de seus valores culturais. Dessa forma, aponta o autor, tais instituições e valores afetam o modo como as sociedades resolvem (ou tentam resolver) seus problemas.
O trabalho de Diamond ajuda a compreender a realidade da Amazônia atual e de muitas outras regiões (o caso do Haiti é um bom exemplo), principalmente por sua abordagem metodológica comparativa, o que permite extrair importantes lições que podem servir de alerta para as sociedades atuais quanto ao rápido desmatamento que a Amazônia vem experimentando, particularmente, nos últimos 30 anos.
Como reflexão pode-se afirmar que o trabalho do autor é importante porque revela que a discussão sobre o crescimento industrial e populacional, bem como os impactos e a crise que provocam no meio ambiente, não é recente. Todavia, essas questões vêm se agravando, conforme revelado pelos diferentes fóruns que tratam do tema.
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