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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Diplomacia à deriva



Por Rosângela Bittar

A presidente Dilma Rousseff demitiu o chanceler Antonio Patriota em boa hora, por motivo forte, para alívio dela, do staff do Itamaraty enjoado da perda de poder e prestígio e, com certeza, do próprio ministro, cansado de ouvir todos os dias advertências sobre sua demissão iminente. Dilma queria, e não escondia, defenestrá-lo há muito tempo, por que não o fez não se sabe. Talvez pela dificuldade que tem de trocar ministros. Suas frituras são longas e dolorosas.

Escolheu para substituí-lo o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, um diplomata em quem já confiava porque, apesar do fiasco da Rio+20, avaliou que ele foi hábil negociador e fez tudo o que podia para reduzir o fracasso a só uma aparência.

Acaba por aí a clareza do episódio de remoção do senador boliviano Roger Molina da embaixada brasileira na Bolívia para Brasília, conduzido espetacularmente estrada afora por Eduardo Saboia, o encarregado de negócios da embaixada e embaixador substituto, hoje já um herói nacional pelo quixotesco feito.

Figueiredo tem missão que desafia o hábil negociador

sábado, 26 de novembro de 2011

Sobre China. Kissinger - recomendo.




Secretário de Estado e Assessor de Segurança Nacional de dois presidentes (Richard Nixon e Gerald Ford, 1969-1977), o cientista político Henry Kissinger foi o principal arquiteto da aproximação entre os Estados Unidos e a China comunista, como uma maneira de pressionar a União Soviética, contra a qual os dois países tinham interesses comuns. Em seu livro mais recente, Sobre a China, Kissinger conta os bastidores dessa diplomacia triangular e procura traçar o panorama da história das relações internacionais chineses do século XIX aos dias atuais. Contudo, o resultado é decepcionante, pois Kissinger está preso a um formato de reflexão intelectual que leva em conta somente as intenções dos principais líderes políticos e dá pouca ou nenhuma atenção às grandes transformações das sociedades, ao desenvolvimento econômico e a temas como democracia e direitos humanos.

As primeiras 200 páginas do livro são dedicadas à análise histórica do período de declínio da China, com as guerras do Ópio, as concessões feitas às potências ocidentais, ao Japão e à Rússia e, finalmente, o turbulento período da primeira metade do século XX, com o colapso do império, a proclamação da República, a ocupação japonesa, a guerra civil entre nacionalistas e comunistas e a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung na década de 1960. É uma história fascinante, mas foi narrada e analisada de modo mais competente do que aquele feito por Kissinger por autores como o historiador britânico Jonathan Spence, em seu Em busca da China moderna, e o economista italiano Giovanni Arrighi em Adam Smith em Pequim.

O foco de Kissinger é no modo como o imperador e os principais mandarins (altos funcionários) da China precisaram abandonar a ideia de que eram o centro das relações internacionais e se inserir no sistema de Estados liderados pelas potêncas ocidentais. Esse processo ocorreu pela força e, após derrotas em guerras para os britânicos, os chineses “convidaram outros países europeus [a estabelecer postos comerciais na China] com o propósito de primeiro estimular e depois manipular a rivalidade entre eles”. Para Kissinger, é parte do “princípio de derrotar os bárbaros próximos com o auxílio dos bárbaros distantes”.

O cientista político afirma que o paradigma chinês de pensar a diplomacia é bastante diferente do Ocidental. Enquanto este se baseia na vitória total e tem no xadrez seu principal modelo, a maneira da China seria melhor ilustrada pelo jogo tradicional Wei qi, uma espécie de gamão que “implica um conceito de cerco estratégico” e no pensamento de Sun Tzu com sua “ênfase nos elementos psicológicos e políticos acima dos puramente militares”. A metáfora é bonita, mas, com ligeiras adaptações, o que o autor classifica como tradição oriental poderia ser igualmente usado para descrever certas medidas dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, como o Plano Marshall e a criação da OTAN.

– Negociando com os Comunistas –
O livro torna-se mais interessante quando aborda a China após a Revolução Comunista de 1949. Kissinger examina os erros cometidos pela liderança dos Estados Unidos naquela época, mostrando como a rigidez ideológica do período os cegou para as possibilidades de explorar as divergências crescentes entre Pequim e Moscou, e atrelou Washington a uma aliança ineficaz com o regime nacionalista em Taiwan. Medos e desconfianças fizeram com que os Estados Unidos creditassem ao governo comunista chinês intenções agressivas com relação à Coréia, numa escalada que culminou com a guerra de 1950-2, que terminou num surpreendente impasse militar – ninguém esperava tal desempenho do exército chinês, desgastado após o longo embate contra japoneses e nacionalistas.

Kissinger enumera as razões pelas quais a União Soviética e a China divergiram entre si, apesar do regime comunista comum – disputas ideológicas por influência no Terceiro Mundo, conflitos regionais na Ásia, problemas de fronteira. Novamente, o cisma é melhor narrado por outros autores, como The Sino-Soviet Split, de Lorenz Luthi.

O que Kissinger tem a oferecer são anedotas – algumas delas saborosas – sobre suas negociações com líderes chineses como Mao, Zhou Enlai e Deng Xiaoping. Ele vê o primeiro como um filósofo camponês desconfiado e astuto, o segundo como um diplomata refinado, um mandarim cortês como os que serviram os imperadores. Claramente foi seu interlocutor favorito: “Mao era ávido por acelerar a história: Zhou se satisfazia em explorar suas correntes”. O terceiro é elogiado como pragmático e direto: “Ele incubia seus subordinados de inovar, depois endossava o que funcionava.” Há bons perfis dos líderes chineses da era de Deng, como o reformador heterodoxo Zhao Zyiang, o presidente Jiang Zemin e o chanceler Qian Quichen (“um dos ministros das Relações Exteriores mais habilidosos que já conheci”).

 Maurício Santoro.
 Doutor em Ciência Política, é professor do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas-RJ e colaborador da Globo News, rádio Band News e Folha de S. Paulo.

sábado, 16 de julho de 2011

Banho de sal grosso


O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, 74, sofreu um "pequeno traumatismo craniano" após cair no chuveiro na noite passada, mas está "bem", disse nesta sexta-feira seu médico pessoal, Alberto Zangrillo.

Silvio Berlusconi "caiu na ducha e bateu a cabeça". "Estava cansado e segue cansado (...) mas sofreu apenas um pequeno traumatismo craniano", declarou Zangrillo à Rádio 24.

"Após a queda, realizamos um exame para avaliar a inflamação que sempre ocorre após um traumatismo, mas Berlusconi está bem".

"Tudo vai bem, o scanner deu negativo", garantiu o médico, antes de revelar que Berlusconi sofreu uma "forte contusão" na nuca e sente dores na mandíbula.

Após o exame, Berlusconi saiu do hospital com a prescrição de uma "simples terapia analgésica e já foi dar um passeio", concluiu Zangrillo.

Presente na tarde de hoje na Câmara dos Deputados para assistir à adoção definitiva do plano de austeridade, "Il Cavaliere" explicou aos parlamentares que escorregou no banheiro na noite passada e que regressaria a Milão para ser examinado por seu médico pessoal.

domingo, 20 de março de 2011

Ataques à Líbia roubam a cena da visita de presidente



Bombardeios começaram quando ocorria banquete e brinde de líder norte-americano e Dilma no Itamaraty

Início do conflito fez diplomacia brasileira temer o cancelamento das agendas da comitiva americana no Brasil

ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA
FERNANDO RODRIGUES
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

O ataque à Líbia roubou a cena na primeira visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com um detalhe que deixou as autoridades brasileiras desoladas: os bombardeios começaram na hora do banquete e dos brindes dele e de Dilma Rousseff no Itamaraty.

Obama fez um discurso muito rápido, ofereceu o tradicional brinde e acabava de sentar à mesa, às 14h30, quando Thomas Donilon, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, aproximou-se e cochichou algo ao seu ouvido: a guerra havia começado.

Simultaneamente, o chefe da assessoria de imprensa do Itamaraty, ministro Tovar Nunes, recebeu a informação pelo celular de um assessor e entrou quase correndo no salão para comunicar ao chefe, o chanceler Antonio Patriota.

Patriota deu a volta na mesa e avisou a presidente. Obama, Dilma, o chanceler brasileiro e o conselheiro americano falaram então, ali mesmo, sobre a guerra.

Líbia foi o assunto do banquete e permeou todo o dia em Brasília. Ocorreu o que o Planalto e a diplomacia brasileira temiam: que o conflito ofuscasse a visita de Obama no noticiário internacional.

ATRASO
Desde a véspera, a equipe de Dilma monitorava os passos de Obama, temendo que ele pudesse cancelar a vinda de última hora. A primeira providência da presidente, ontem, foi perguntar a assessores se os ataques haviam começado.

Obama manteve a viagem, mas o episódio atrasou a chegada dele ao Planalto. Antes de subir a rampa, ele participou de uma teleconferência para discutir o ataque.

Os dois presidentes se reuniam quando um assessor de Obama lhe entregou um bilhete. Após ler a mensagem, o presidente disse a Dilma que acabara de dar autorização ao bombardeio. A cúpula de países ocidentais e árabes em Paris decidia então pelo ataque.

No Itamaraty, em seguida, o foco de Obama também foi a Líbia, tanto que ele determinou que o conselheiro Donilon trocasse sua cadeira na mesa principal por outra mais discreta, de onde pudesse acompanhar a situação minuto a minuto. Em seu lugar, sentou-se seu chefe de gabinete, William Daley.

A Casa Branca também cancelou a coletiva de imprensa do vice-conselheiro de segurança nacional, Mike Froman, sobre os acordos econômicos feitos ontem.

Em vez de uma entrevista coletiva, como se esperava, o presidente norte-americano preferiu uma conversa com um grupo de jornalistas estrangeiros.

Na declaração ao lado de Dilma no Planalto, com a decisão sobre o ataque tomada, mas antes do início dos bombardeios, ele disse que "houve um consenso muito forte [a favor da resolução da ONU que permitiu o ataque]".

Naquele momento, o que menos interessava era a visita ao Brasil e os acordos selados e já se falava até em cancelamento do resto da viagem no país.


Colaborou PATRÍCIA CAMPOS MELLO , enviada especial a Brasília