O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), uma
maravilhosa experiência de finais da década passada, do século passado. Uma experiência
inovadora baseada em centros de desenvolvimento tecnológicos
existentes na maioria dos países desenvolvidos do mundo, que hoje são sucesso na relação da inovação tecnológica e o mercado, menos no Brasil.
Funciona a marcha lenta, desde sua inauguração, em 1999. Adolesceu e continua sofrendo problemas de gestão. É o mal do Brasil, as pessoas erradas nos lugares errados,o resultado, uma grande incompetência e uma falta absoluta de foco, resultado? Um elefante branco que está no "mato sem cachorro" nos dizia o
ex-presidente do CNPq, o saudoso Lynaldo Cavalcante.
São cinco ministérios os responsáveis pela gestão do CBA. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), O Ministério do Meio Ambiente (MMA), são os donos que brigam pela paternidade do filho. O Ministério de desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), quem tem os recursos e repassa para a Superintendência da zona Franca de Manaus (ZFM).
Como se não fosse pouco, o Ministério de Agricultura e Produção Agropecuária (MAPA) reclama pela tutoria do ativo tecnológico instalado. Cachorro que tem muito dono morre defome, reza o provérbio.
Em diversas oportunidades fui chamado para contribuir com a implantação e
posterior gestão da área de negócios do CBA.
Primeiro na equipe de planejamento
estratégico da implantação do Centro e depois, para realização do Plano de
Negócios que deu vida à Incubadora do CBA.
Tudo estava muito bem idealizado, todos
os atributos, todas as qualidades estavam perfeitamente claras, o conjunto da
obra era uma grande proposta para aproveitar comercialmente a floresta, para
gerar inovações que agregassem valor aos produtos da biodiversidade.
O sonho era e continua sendo a construção de um grande laboratório que inovasse, a partir de biodiversidade e transformasse as inovações tecnológicas em produtos para o mercado internacional.
Óleos essenciais, insumos para a indústria de cosméticos e dermocosméticos, fitoterápicos e muitos outros produtos que alargariam as cadeias produtivas, gerando empregos verdes e contribuindo com a construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Mas tudo está a ser realizado. Vamos esperar que o governo atue mais e fale menos.
LEIA O ARTIGO DO VALOR ECONÔMICO ABAIXO, EU NÃO LI, MAS GOSTEI.
Por Marlene Jaggi | Para o Valor, de Manaus
João Augusto Cabral, coordenador da área de produtos naturais do CBA: "Não conseguimos sequer emitir cheque"
Comum na Amazônia, a copaíba é um exemplo do imenso potencial da
biodiversidade local que poderia, mas não vem sendo explorado. Cascas e
óleo da árvore são bastante utilizados pela medicina popular, por sua
eficácia no tratamento de inflamações, mas até agora o país não
conseguiu agregar valor à sua utilização. Entre 1999 e 2009, o Brasil
era o país com mais publicações sobre copaíba (76), mas sequer aparecia
na lista dos que depositaram patentes sobre o insumo. No mesmo período,
os EUA tinham registro de 17 patentes.
Essa contradição é um dos muitos argumentos utilizados pelos
cientistas e pesquisadores do Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA)
para atrair olhares para o quadro da instituição, cuja missão é promover
o desenvolvimento sustentável da Amazônia, por meio da inovação
tecnológica.
Com 12 mil m2 de construção, 25 laboratórios bem equipados e uma
qualificada equipe de cientistas e pesquisadores, o prédio é, há dez
anos, o "elefante branco" da floresta. Sem definição de um modelo de
gestão, o investimento de R$ 91 milhões feito em 2002 não passou, até
agora, de sua fase de implantação. "Não conseguimos sequer emitir um
cheque porque não temos CNPJ", diz João Augusto da Silva Cabral,
coordenador da área de produtos naturais do CBA e responsável por quatro
laboratórios criados para estudar espécies vegetais de interesse
econômico.
Cabral é um dos 70 cientistas dos laboratórios que resistem,
trabalhando como bolsista no CBA. Segundo ele, embora engessada, a
instituição está preparada para coletar e receber amostras da
biodiversidade, preparar, produzir, analisar e testá-las mediante
demanda dos setores bioindustrial, agroindustrial, farmacêutico e
cosmético. Mas não consegue avançar por falta de definição do modus
operandi e por depender de fluxos irregulares de recursos.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, assegura que a situação
do CBA vai mudar. "Temos orientação expressa da presidenta Dilma para
dar prioridade ao centro, que é vital para potencializar novos polos na
região", diz. De fato, a instituição foi criada para atuar em áreas
pouco exploradas na Zona Franca de Manaus: cosméticos, bioterápicos (uso
humano e animal), alimentos funcionais e nutracêuticos, energias
alternativas e novos materiais, em parceria com os governos federal e
estadual, institutos de pesquisa, universidades e empresas.
Atualmente, o CBA administra alguns projetos em parceria com
empresas, estuda a utilização de insumos naturais e identifica
oportunidades de utilização em produtos finais, como "Derris, Ryania e
Quassia" na produção de inseticidas naturais, e de frutos com funções
especiais (fenóis, polifenóis, probiótico) na fabricação de alimentos
naturais. "Poderíamos fazer muito mais e mais rápido", diz Maria Luiza
Ricart, coordenadora do núcleo de produção de extratos, das unidades
pré-pilotos, que simulam a manipulação de cosméticos, medicamentos e
alimentos funcionais, e da planta de processos industriais.
Uma das áreas do CBA que vem conseguindo responder à demanda interna e
externa é a Central Analítica, formada por laboratórios de química
analítica, espectroscopia, ressonância magnética, preparação de amostras
e proteínas. As unidades realizaram no ano passado 1.452 análises, um
número expressivo, mas que vem caindo desde 2008, ano em que o número de
análises passou de 2.000, informa o coordenador da área, Massayoshi
Yoshida.
Os integrantes do comitê interministerial responsável pela definição
do modelo de gestão já foram designados, mas até agora o modelo não foi
definido. A mais recente conquista do CBA, em 2011, foi a autorização do
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético de acesso ao patrimônio
genético da Amazônia "com a finalidade de constituir e integrar coleção
que visa a atividades com potencial de uso econômico, como a
bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico."
Enquanto essa estrutura não decola, projetos de empresas de TI ganham
espaço. É o caso do Instituto Nokia de Tecnologia (INT), situado ao
lado da fábrica da Nokia, em Manaus. Cerca de 300 pessoas trabalham no
INT para desenvolver aplicações de serviços em telefonia móvel no
Brasil. "O foco foi na área de pesquisa em mecânica", conta André
Erthal,diretor técnico do INT. O instituto também se destaca no
desenvolvimento de aplicativos para celulares.