Folha de
São Paulo
Emancipar
a economia verde no Brasil é um dos projetos da Secretaria de Políticas e
Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A intenção é criar parques tecnológicos que agreguem valor à biodiversidade.
"É um projeto difícil e visionário", diz o secretário Carlos Nobre.
"Isso existe há muitos anos em outros países, não é invenção do Brasil. O
que é novo é o parque mirar a biodiversidade."
A intenção
é criar, nas regiões mais biodiversas do país, um ou dois parques de pesquisa e
desenvolvimento, nos moldes do Parque Tecnológico de São José dos Campos, (SP),
atraindo empresas, pesquisadores, universidades e desenvolvendo novos produtos.
O que se
quer é criar um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que extrapole o
padrão extrativista e chegue ao conceito de bioindústria, do economista Ignacy
Sachs. Nobre exemplifica com o açaí: "Tem muito valor agregado, mas nós
vendemos praticamente a polpa da fruta". No Brasil, só se faz sorvete. Na
Califórnia, para onde o açaí foi levado em 1998 por dois surfistas que vieram
competir no Recife, a fruta é transformada em 20 produtos diferentes.
"Lá é
artigo de luxo. Um copo de açaí é vendido nos cafés a US$ 6 ou US$ 8",
conta Nobre. O açaí já movimenta, no mundo, perto de R$ 5 bilhões. Nos EUA,
fazem fitoterápicos, alimentos, cosméticos. "Ele sai da floresta a US$ 1 o
litro. Em São Paulo alcança valor 20 vezes maior. Na Califórnia, 70 vezes
maior. "Dá para desenvolver este potencial sem derrubar floresta."
Já foram
identificados 300 produtos amazônicos, mas o Brasil usa comercialmente só cinco
ou seis - guaraná, açaí, castanha, cupuaçu, graviola e látex, não mais que
isso. "Temos que desenvolver uma indústria que empregue, crie renda e gere
desenvolvimento."
Para criar
esta espécie de Vale do Silício da biodiversidade, Nobre convidou Carlos
Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
coordenador do programa Biota-Fapesp, para dirigir o Departamento de Políticas
e Programas Temáticos da secretaria. A ideia é atrair para o parque indústrias
de energias renováveis, farmacêuticas, de cosméticos. "Temos que quebrar
essa lógica que vê uma área tropical com muita água e pouca densidade demográfica
e pensa só na agricultura tradicional", diz "Temos uma economia
verde, lucrativa, que é a economia do conhecimento natural."
Nobre lembra que existem hoje 750
mil km2 na Amazônia que estão desmatados, e desses, entre 160 mil km2 e 200 mil
km2, abandonados. "Com uma fração disso, podemos aumentar a produtividade
da carne e da soja sem expandir fronteira agrícola", diz. "É fazer
com que retorne a ser produtivo o que já está desmatado." (DC)
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