A “prima-dona” da economia
14 de março de 2012
A
economia moderna gira, sem exagero, em torno do automóvel. Sua
produção, os serviços que demanda, a infraestrutura que necessita e a
energia que consome são o principal impulso da atividade produtiva. Não
importa que mais carros entulhem ao absurdo as cidades, que o transporte
rodoviário seja ineficiente, que a poluição que gera seja insuportável e
que a garantia de seu suprimento energético tenha sido o principal
objetivo das recentes guerras “antiterror”. O fato é que o PIB se
“alimenta” do automóvel.
Repare
leitor que no caso dos automóveis, utilitários, caminhões e ônibus o que
mais importa, na avaliação dos efeitos nefastos, é a frota e não o
aumento da produção anual. E o Reino Unido continua absorvendo, segundo o
artigo Peak stuff: the data
cerca de 2 milhões de carros por ano (2,5 milhões em 2007, antes da
crise e em ascensão desde 2010), com consequente aumento constante da
frota. O que é agravado pelo fato de que os carros duram mais, com a
crise tendem a rodar por mais tempo e apesar de menores são mais
pesados. O mesmo ocorre com os demais tipos de veículos mencionados.
Duas
consequências deste fato saltam aos olhos imediatamente. Não faz o menor
sentido falar em pico material enquanto a frota continua crescendo. E,
ainda mais importante e dramático, é que enquanto o automóvel for a
“prima dona” da economia, o modelo econômico não muda.
Aliás, nem queda do número de veículos novos é razoável esperar-se. No artigo Carros de sobra
de Míriam Leitão publicado em O Globo em 20 de janeiro pode-se perceber
que o setor fará de tudo para escoar sua produção potencial. A
indústria mundial está ociosa em 20 milhões de veículos, cinco vezes
mais que o mercado brasileiro que consumiu 3,7 milhões em 2011. A
previsão é que este número aumente para 24 milhões em 2012 e que a
capacidade produtiva chegue a 103 milhões de veículos.
Esta é
alias uma das principais razões para suspeitar da chamada economia
verde. Se as novas tecnologias forem destinadas, entre outros usos, à
troca de motores a combustão por elétricos não estarão dando uma real
contribuição para superar os agudos problemas que a inviável enfase no
transporte individual, em detrimento do público, geram.
Bem,
prosseguindo na questão do pico material, o próprio conceito de recurso
material e sua medida precisam ser ser revistos. O peso é importante mas
não decisivo para afirmar que seja possível crescimento sem aumento no
uso de recursos. A quantidade é um indicador que tem que ser considerado
também, e provavelmente, é tão importante quanto.
De fato, a
tendência à miniaturização e diminuição do peso de uma parte dos
produtos consumidos não significa que o uso de recursos naturais e
intermediários seja menor. Eles vem em muitos casos de cadeias
produtivas distintas com impactos diferentes na absorção de recursos e
no meio ambiente, como os encanamentos prediais, por exemplo.
Em geral
temos visto também o aumento na quantidade de itens consumidos resultado
da redução nos custos, aprimoramento e criação de novos tipos de
produtos e serviços. Computadores pessoais, notebooks, netbooks,
tablets, celulares e os chamados “smart phones” são claros exemplos de
expansão, aprimoramento e inovação.
Tal aumento
na quantidade de itens consumidos, independentemente do peso, parece
ser uma tendência inevitável gerada pela inovação tecnológica e a
sofisticação dos hábitos das pessoas, o que leva à crescente
diversificação dos bens que consomem. E não parece razoável atribuir
isto ao consumismo ou pressão do marketing das empresas. Linhas inteiras
de novos produtos são geradas a partir de novos conceitos, dos quais
tiram partido as empresas. Um bom exemplo é o do crescente
reconhecimento da importância do exercício físico. Academias,
vestuários, calçados, alimentos, bebidas e outro produtos deste segmento
passaram a ser indispensáveis.
Ainda em relação à questão do pico de recursos, Alan Boccatto, da lista “Decrescimento“,
lembra que mesmo que houvesse redução no uso de recursos, o que não é o
caso, estes em muitos casos são finitos e não renováveis no horizonte
da civilização humana. Minérios, petróleo e atmosfera são bons exemplos.
Assim é,
pois, que por mais que se queira, a tese da sustentabilidade já nasceu
capenga. Tudo o que não é fluxo, como bens agropastoris, não é
sustentável por definição, já que ocorre degradação contínua do estoque.
Termino sugerindo que você, leitor, participe da pesquisa relacionada ao tema, no post que se segue.
Fonte: NOVA ECONOMIA.
http://anovaeconomia.wordpress.com/sobre/
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