À noite, na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, só se vê a escuridão que não acaba, mas os ruídos que se escutam contam toda a história. É a sinfonia da dor.
O chiado dos tanques e dos carros de combate israelenses indica que o metal de guerra continua entrando na faixa. De repente, sem aviso, ouvem-se estrondos que provocam uma espécie de pequeno terremoto; às vezes é a artilharia israelense que cospe, outras são foguetes Qasam lançados pelo Hamas de algum ponto de Gaza.
Ao longe se ouve o uivo das ambulâncias; algumas se dirigem a toda velocidade para os hospitais do interior de Gaza, levando mais feridos palestinos; outras correm para a fronteira israelense, transportando vítimas de um projétil de morteiro islâmico.
No ar corre o incessante rugido dos aviões sem piloto israelenses, que com suas poderosas câmeras desnudam a superfície palestina, fazendo uma radiografia - nunca totalmente precisa - de tudo o que acontece em seu território. Os estrangeiros, quando dormem em território palestino, demoram para conciliar o sono por causa desse ruído monótono e contínuo. Quando se fala disso com os palestinos, não entendem a que nos referimos: um jornalista de Gaza que viajou à Espanha me contou que custava a dormir porque sentia falta do ruído dos aviões teleguiados.
De repente, sempre na escuridão, ouve-se um silvo que gela o sangue e se vê uma luz. Dois segundos e uma eternidade depois, ouve-se uma explosão que faz tremer um grupo de jornalistas que, apinhados como que para se esquentar, transmitem ao vivo para países de todo o mundo. Até então moviam-se na fronteira como se fossem imunes às bombas. Depois do estrondo ensurdecedor na Torre de Babel jornalística, todos gritam a mesma coisa. "What was that impact?"... "Isso foi um tanque?"... "Mi pare di avere veduto un missile!"...
Segundos depois surgem da escuridão dois monstruosos helicópteros Apache que se eclipsam na noite até que lançam uma bola de fogo sobre algum alvo em Gaza.
Há poucos dias centenas de jornalistas de todo o mundo estavam festejando o Natal e o fim de ano com suas famílias em pontos distantes espalhados pelos cinco continentes, e agora se encontram em uma terra estranha, em uma guerra que não lhes pertence e que nem sempre conseguem entender.
Para se inteirar do que está acontecendo, os jornalistas gritam muitas vezes em seus telefones celulares para os colegas de suas respectivas redações, gente sentada em uma poltrona que acompanha minuciosamente as agências de informação... "Diga-me... o que está acontecendo aqui?"... De repente chega um táxi diretamente do aeroporto: é um jornalista japonês que escreveu a crônica antes de chegar. Todos os idiomas se misturam em uma espécie de esperanto da guerra.
Os momentos mais difíceis são quando, sem esperar, ninguém sabe por quê, sempre na escuridão, ocorrem longo silêncios... Todos esperam que isso não signifique que está passando um anjo. Mas o temor interno é que pouco depois, segundos depois, em Gaza ou em Israel, alguém não possa mais tremer.
Henrique Cymerman
Do La Vanguardia
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