Amazônia, meio ambiente, ecologia, biodiversidade, desenvolvimento sustentável, ciência e tecnologia, incubadoras e parques tecnológicos, política nacional e internacional - Amazonia, the environment, ecology, biodiversity, sustainable development, science and technology, incubators and technology parks, national and international policy
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
COP30 em Belém do Pará: o sopro de esperança no limite do tempo
Gonzalo V Enríquez
É extremamente relevante destacar a importância da realização da COP30 para
Belém, para o Brasil e para o planeta. Trata-se, sem dúvida, de um marco
histórico — o maior divisor de águas da história contemporânea da região. No
contexto das mudanças climáticas, este é o evento mais significativo do mundo,
realizado no coração da área mais emblemática quando se trata de questões
geopolíticas globais. E é justamente nesse cenário que se revela, com absoluta
clareza, uma verdade incontestável: o planeta está perigosamente próximo do
ponto de não retorno.
Ao caminhar pelas diversas áreas da COP30, percebi que
ninguém permanece impassível diante deste evento. Cada participante, ao
transitar pelos espaços onde se realiza o maior encontro planetário da história
contemporânea sobre o clima e o futuro da humanidade, sente-se impactado pelos
acontecimentos, pelos relatos e pelas inúmeras visões que representantes de todo
o mundo apresentam nas mesas de debate.
Embora as instituições oficiais sejam
mais estruturadas e poderosas — e, por isso, consigam transmitir suas propostas
com maior força — as representações não oficiais também se fazem ouvir. Elas
conseguem firmar compromissos e trazer demandas daqueles que raramente têm voz
em eventos oficiais sobre o passado, o presente e o futuro do planeta. Este
palco, construído na porta de entrada da floresta, representa uma oportunidade
única para que comunidades tradicionais e originárias — indígenas,
extrativistas, quilombolas, ribeirinhas e tantas outras que habitam a Amazônia —
possam finalmente ser ouvidas.
São povos que, historicamente, têm sido os
últimos a receber os benefícios dos regimes e das políticas públicas. Agora,
neste momento, encontram espaço para se manifestar antes que o tempo se esgote.
A COP30 trouxe chefes de Estado e suas delegações, pesquisadores e cientistas,
diplomatas, empresas globais, investidores — grandes e pequenos — além de
organizações internacionais.
Trouxe também obras estruturantes que Belém
aguardava há décadas. Trouxe visibilidade e responsabilidade. E, mais do que
isso, trouxe um legado que não se encerra com a partida das delegações. Ele
permanece vivo na infraestrutura, no turismo, na mobilidade, no saneamento, na
economia e, sobretudo, na autoestima da cidade e de seu povo. Mais de 190
representantes de todo o planeta conheceram nossa região e admiraram nossa
cultura e tradições, preservadas ao longo dos anos.
Quem não suportou o clima
foi embora antes do fim da COP30. Foram, precisamente, os que mais contribuíram
para o aquecimento global, retirando-se de forma deselegante e grosseira. No
Brasil, os críticos do avanço civilizatório — os anticiência, os que até pouco
tempo afirmavam que a Terra era plana — não perderam a oportunidade de atacar a
organização do evento em Belém do Pará. Como sempre, defensores de modelos
estrangeiros apontavam cidades mais desenvolvidas para sediar a conferência.
Alegavam que era distante demais vir até Belém, que o calor de 40º, as chuvas da
tarde e a falta de ar-condicionado seriam suficientes para decretar o fracasso
da COP30. Chegaram a comemorar quando um estande pegou fogo, atingindo uma área
onde se realizavam negociações importantes.
No entanto, em menos de dez minutos o princípio de incêndio foi controlado, e as negociações prosseguiram
normalmente até hoje, sexta-feira, 21 de novembro de 2025, quando a COP30 — a
COP da floresta, do Brasil, dos povos amazônicos — está sendo encerrada. Sob
qualquer perspectiva, o evento foi um sucesso. O planeta conheceu a floresta
amazônica, nossa cultura, nossa gastronomia e o povo hospitaleiro da região.
Aqui estiveram rainhas, reis, presidentes e delegados de alto nível da maioria
dos países do mundo.
A lista é extensa, mas todos retornam a seus países levando
uma lembrança da nossa Amazônia. As primeiras declarações e acordos já vieram a
público. A “Declaração Final dos Povos — Participação Social na Agenda de Ação
da COP30” foi entregue às autoridades de todo o mundo. Trata-se do
documento-síntese das contribuições dos movimentos sociais para o enfrentamento
das mudanças climáticas. O documento reúne contribuições articuladas por meio do
Fórum Interconcelhios e dos Fóruns de Participação Social dos Estados da
Amazônia Legal, com coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República
(SGPR).
Na solenidade de entrega, a coordenadora de Mobilização da COP30,
Luciana Abade, lembrou que a presidência da Conferência do Clima, no Brasil,
inovou ao criar um pilar específico para a mobilização. “Porque, ao discutir a
crise climática, estamos discutindo também a nossa vida, o nosso futuro”,
afirmou. Já o secretário-executivo da SGPR, Josué Rocha, reforçou o compromisso
do governo federal com a agenda dos movimentos sociais: “Nosso ministério está
ao lado dos movimentos para construir essa agenda de ação, que sabemos que
começa com a COP30, mas não termina com a realização da conferência.”
O documento, que também reúne contribuições dos debates sobre mudanças climáticas
ocorridos no PPA Participativo, nos Diálogos Amazônicos, no Plano Clima
Participativo e no G20 Social, está organizado em torno de seis eixos temáticos:
I – Transição nos setores de energia, indústria e transporte II – Gestão
sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade III – Transformação da
agricultura e dos sistemas alimentares IV – Construção de resiliência em
cidades, infraestrutura e água V – Promoção do desenvolvimento humano e social
VI – Catalisadores e aceleradores, incluindo financiamento, tecnologia e
capacitação A proposta mais importante do Brasil foi a criação do Fundo
Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), apresentado inicialmente na COP de Dubai
em 2023 e reforçado na COP30 em Belém.
Até agora, o fundo já recebeu promessas
de cerca de US$ 5,5 bilhões, incluindo US$ 1 bilhão do próprio governo
brasileiro, com meta de chegar a US$ 10 bilhões até 2026 e US$ 125 bilhões no
longo prazo
O TFFF é a proposta mais importante do Brasil no cenário
internacional, com apoio financeiro robusto e adesão de dezenas de países.
• O Fundo Amazônia foi revitalizado e diversificado, com novos doadores além dos
históricos, ampliando o financiamento de projetos sustentáveis na região.
• Juntos, os dois fundos posicionam o Brasil como líder global na agenda de
preservação das florestas tropicais. Finalmente, estamos no aguardo das
negociações finais da COP30, ainda hoje vamos conhecer.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário