segunda-feira, 27 de julho de 2009

CHILE - COMPLICAM-SE AS ELEIÇÕES PARA A DIREITA E O CENTRO POLÍTICO


Desafiante chileno aposta em reformas
Marco Enríquez-Ominami deixa o partido de Bachelet e já alcança 13% em pesquisas com candidatura independente


Cineasta de 35 anos, que tem biografia marcada pela ditadura, prega para a classe média, extrato disputado entre governo e oposição

DA REPORTAGEM LOCAL

Num Chile onde pesquisas mostram o desinteresse em geral, e dos jovens em particular, pela política -1 em cada 5 chilenos com menos de 30 anos está registrado para votar- um candidato desafiante e jovem tem catalisado atenções.
É Marco Enríquez-Ominami, 35, deputado eleito para seu primeiro mandato pelo Partido Socialista (PS), de Michelle Bachelet. Ele deixou o partido para se lançar candidato independente e aparece na pesquisa nacional mais recente com surpreendentes 13% dos votos.
Carismático, cabelos sobre os ombros, é filósofo, cineasta, casado com uma jornalista de TV e usa todas as ferramentas de internet que Barack Obama transformou na ordem do dia da política dos "outsiders".
Nesta semana, enquanto estava em caravana pelo Chile, ele repetiu à Folha, por e-mail, o discurso que preocupa a coalizão governista.
"A Concertação é hoje uma instituição conservadora. Acumulou poder e privilégios que deve defender", disse. "Isso faz com que a segunda onda de reformas democratizadoras seja incompatível com ela."

O deputado não ataca a popular presidente, mas o candidato governista Eduardo Frei. Diz que o ex-presidente se junta aos progressistas "por razões instrumentais" e não quer uma reforma tributária.

A mudança é um eixo de seu programa, que prevê mais impostos para empresas e fortunas e menos para pobres e classe média, a quem ele prega igualdade de condições para competir na pouco móvel sociedade chilena.
Um discurso eficaz para a classe média, especialmente em seus extratos mais baixos, é um desafio para a Concertação, já que esse grupo não se sente diretamente beneficiado pelas políticas sociais do governo e é intensamente disputado pela campanha oposicionista.

O desafiante se vende como a versão 2010 de Bachelet, que, como primeira mulher presidente, representava frescor na política chilena. No passado, anunciou que faria um documentário sobre Hugo Chávez, mas tem criticado os ataques do venezuelano a ONGs de direitos humanos. À Folha ele frisou que seus projetos de mudança precisarão de tempo para gerar "consensos".
O deputado causou controvérsia ao defender uma negociação de uma saída do mar para a Bolívia -mas sem soberania boliviana sobre o território.

Ditadura
Como muitos políticos chilenos, sua vida foi marcada pela ditadura. O pai guerrilheiro e fundador do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), Miguel Enríquez Espinosa, rejeitou exilar-se e foi morto pelo regime Pinochet em 1974. No exílio, sua mãe se uniu a outro mirista, o hoje senador Carlos Ominami, que o adotou.
Para a Concertação, o pior pesadelo é ver Enríquez-Ominami superando Frei nas pesquisas, quadro temporariamente afastado por recente levantamento nacional. A meta é não atacá-lo para não alijar seus eleitores no segundo turno. O mesmo cálculo fazem os direitistas. Mas o senador Ominami acha que, sim, o filho pode mais: "No início da eleição americana, Obama não era favorito". (FLÁVIA MARREIRO)

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