BRASÍLIA - Fragilizado e sem a certeza de ainda ter maioria consolidada no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), está sendo pressionado a decidir seu destino político em agosto, quando acaba o recesso do Congresso. Aliados da base governista no Senado apostam que Sarney não resistirá à pressão cada vez mais forte das ruas após a divulgação de gravações da Polícia Federal, e tentarão articular uma solução negociada com o próprio Sarney. Hoje, o presidente do Senado não tem mais a certeza de que dispõe dos 41 votos necessários para barrar, no plenário da Casa, qualquer iniciativa de retirá-lo do cargo. É o que mostra reportagem de Isabel Braga e Cristiane Jungblut na edição desta segunda em O GLOBO. Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discute a crise do Senado em reunião com ministros da coordenação política.
A reunião antecipada do Conselho de Ética, antes do fim do recesso, está praticamente descartada. Mas, segundo Casagrande, ex-membro do Conselho, haverá uma batalha quando os conselheiros voltarem a se reunir. Isso porque o grupo de Sarney defende que, se o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), decidir engavetar as representações contra o presidente da Casa, o único recurso possível é levar o tema ao plenário do Conselho. Mas o entendimento é que o regimento prevê recurso ao plenário do Senado. Nesse caso, Sarney precisa ter 41 votos (entre os 80 colegas) para impedir tanto a abertura de processo, em caso de recurso, como de cassação. E sua base de apoio, sem o DEM e provavelmente sem o PT, está em torno de 40 votos.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, Lula não deve fazer novas defesas públicas de Sarney, mas ainda quer a manutenção do aliado no comando do Senado, por temer que a oposição assuma o cargo em caso de licença. Nem mesmo os aliados acreditam que Lula volte a enquadrar o PT, cobrando um novo recuo da bancada no Senado, depois da nota do líder, senador Aloizio Mercadante (SP), pedindo a afastamento de Sarney até o esclarecimento das denúncias. Mas Lula, afirmam interlocutores, interpretou a nota não como uma mudança de postura da bancada, e sim como uma manifestação de Mercadante como líder.
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