Quanto mais atrasado um país, mais milagrosa é a sua taxa de crescimento; uma hora, porém, a China terá de parar de imitar e começar a criar, desacelerando
A China é o exemplo de sucesso do século 21. O país se tornou o maior
produtor industrial do mundo no ano passado e, em breve, passará a ter também o
maior PIB entre todas as nações, em ambos os casos ultrapassando os EUA.
Apesar desses resultados espetaculares, o sucesso é perfeitamente explicável
e não pode ser considerado um milagre. Ao mesmo tempo, é impossível para
qualquer país continuar nesse ritmo por muito mais tempo. É difícil precisar
quando exatamente o ritmo vai cair, mas isso é inevitável.
Um país atrasado tecnologicamente pode conseguir elevadas taxas de
crescimento do PIB durante um determinado período. Isso pode ocorrer se existir
uma diferença significativa entre a fronteira tecnológica mundial e a desse
país. Um exemplo ilustra essa possibilidade.
Ao longo dos anos, a indústria de computadores nos países desenvolvidos
desenvolveu novos processadores, passando por 286, 386, 486 e Pentiums, até o
Quad Core.
Um país atrasado, sem acesso a computadores, pode adotar a última tecnologia
disponível, sem a necessidade de passar por todas as etapas anteriores. Ele não
vai pagar o custo da inovação, mas sim o da imitação, geralmente menor.
O salto de produtividade é gigantesco em um curto espaço de tempo, assim
como o consequente crescimento econômico. Esse salto é maior do que aquele
verificado pelos países que foram obrigados a passar por todas as etapas do
processo de evolução da tecnologia.
Processo dessa natureza ocorreu com a China quando ela decidiu se integrar à
comunidade econômica internacional. Em 2000, ano em que entrou para a
Organização Mundial de Comércio (OMC), o seu PIB per capita era de um país de
renda baixa, o equivalente a 10% do PIB per capita que os EUA tinham em 1985.
Demorou somente sete anos para ela passar a ser uma economia de renda média,
com o PIB per capita correspondendo a 20% do PIB per capita dos EUA em 1985.
O Japão e o Brasil, por exemplo, demoraram, respectivamente, 37 e 17 anos
para dar o mesmo salto, como mostraram os economistas Stephen Parente e Edward
Prescott, que desenvolveram essa ideia de adoção de tecnologia.
Quanto mais tardiamente um país entra no jogo, mais espetacular será o
"milagre".
Assim, é totalmente injusta a comparação do desempenho econômico recente do
Brasil com o chinês -ou até mesmo com o indiano, frequentemente utilizado por
analistas.
A colocação desses países no mesmo saco ("Brics") é enganosa. É de
se esperar um crescimento mais vigoroso da China, dado o seu estágio de
desenvolvimento. Apesar do seu sucesso recente, ela tem ainda um PIB per capita
de 70% do brasileiro.
À medida que a diferença entre os desenvolvimentos tecnológicos da China e
da fronteira do mundo se reduz, o mesmo ocorrerá com as suas taxas de
crescimento. É verdade que os chineses investem substancialmente em educação e
que os pais cobram dedicação dos seus filhos aos estudos. Mas eles vão ter de
parar de imitar e vão ter de criar, o que é mais difícil.
Não é surpreendente, portanto, que analistas comecem a tentar prever o
inevitável: quando o ritmo econômico do gigante perderá a força.
Esses exercícios de futurologia são sempre difíceis, mas o certo é que o
Brasil, cedo ou tarde, não mais contará com os expressivos ganhos dos termos de
troca e com o seu consequente aumento de riqueza, ambos obtidos desde que a
China entrou na OMC. O preço em dólares das nossas exportações subiu quase 150%
entre 2002 e 2011.
Aumentos importantes de riqueza terão de ser conquistados. Isso exigirá mais
qualidade na educação e na infraestrutura, além de reformas estruturais.
Cuidado: a China vai perder o fôlego, e a vida vai ficar um pouco mais difícil.
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