A partir de relatos do xamã e líder yanomami Davi Kopenawa, nasce a publicação A queda do céu, testemunho da cultura de um povo, além de manifesto xamânico e grito de alerta vindo do coração da Amazônia.
Com 800 páginas contendo dois cadernos com 16 fotos cada, o livro A queda do céu, Palavras de um xamã yanomami,
será lançado no próximo 30 de setembro, na França, pela coleção Terre
Humaine da editora Plon. Foi escrito a partir de relatos de Davi
Kopenawa, recolhidos em língua yanomami pelo etnólogo Bruce Albert, seu
amigo há mais de 30 anos.
O líder Yanomami relata sua história e suas meditações de xamã frente
ao contato predador dos brancos com o qual seu povo teve de se
defrontar depois dos anos 1960. Ao final, ele alerta em tom profético
que quando a Amazônia sucumbir à devastação desenfreada e o último xamã
morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo.
O livro, cujos direitos de publicação no Brasil foram adquiridos pela
Companhia das Letras, é composto de três partes: a primeira, Tornar-se outro,
retrata a vocação xamânica de Davi desde a infância até sua iniciação
na idade adulta, descrevendo a riqueza de um saber cosmológico secular. A
segunda parte, denominada A fumaça do metal, relata por meio
de sua experiência pessoal, não raro dramática, a história do avanço dos
brancos sobre a floresta – missionários, garimpeiros entre outros – e
sua bagagem de epidemias, violência e destruição.
Finalmente, a terceira
parte, A queda do céu, refere-se à odisseia vivida por Davi ao
denunciar a dizimação de seu povo nas viagens que fez à Europa e aos
Estados Unidos. Entremeado por visões xamânicas e por meditações
etnográficas sobre os brancos, o relato termina em um profético apelo
que anuncia a morte dos xamãs e a “queda do céu” sobre aqueles que Davi
chama de “o povo da mercadoria”.
“É um dos mais impressionantes testemunhos reflexivos jamais
oferecidos por um pensador oriundo de uma tradição cultural indígena”,
avalia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Fruto da colaboração exemplar
entre dois intelectuais, um xamã ameríndio e um antropólogo europeu, o
livro é uma prova eloquente do brilhantismo da imaginação conceitual
indígena, de sua potência analítica e sua nobreza existencial. As
reflexões de Davi Kopenawa, magistralmente traduzidas e cuidadosamente
comentadas por Bruce Albert, constituem uma autêntica antropologia
indígena, uma visão do homem e do mundo que não mostra qualquer
condescendência para conosco, o “povo da mercadoria” – e suas razões são
propriamente irrespondíveis.
Kopenawa nos dá um aviso e faz uma
profecia. Quem tiver juízo, que ouça.”
Leia entrevista
concedida ao Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), em
Brasília, no dia 09 de março de 1990 na qual Davi Kopenawa Yanomami
respondeu na própria língua às perguntas do antropólogo Bruce Albert
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