terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Chuva financeira - não adianta guardachuvas

INTERNACIONAIS - O PROBLEMA DA CRIS ECONÔMICA COMEÇA PELAS FINANÇAS E OS DESDOBRAMENTOS SÃO IMPREDICÍVEIS.

Cofres públicos vazios, desaceleração da economia chinesa e consequências da mudança climática para produção de alimentos são algumas das ameaças apontadas pelo WEF no relatório "Riscos globais 2009".

A menos de duas semanas do início do próximo Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos, a organização do evento apresenta um panorama sombrio para a economia mundial este ano.

O relatório, elaborado pela resseguradora Swiss Re, o banco Citigroup, a seguradora Zurich Financial Services e a sociedade de bolsa americana Marsh & McLennan, servirá de base para as discussões sobre "a agenda de depois da crise", na reunião anual do WEF, de 28 de janeiro a 1° de fevereiro, em Davos.

O documento aponta 26 perigos para o mundo em 2009. O WEF considera improvável que a situação econômica melhore este ano. Pelo contrário: a crise financeira e econômica pode até se agravar.

"O valor dos ativos imobiliários, que diminuiu à metade em pouco tempo, ainda não atingiu o fundo do poço. O círculo vicioso da queda de valor das aplicações, amortizações e o consequente aumento da pressão sobre o capital próprio dos bancos vão continuar", afirma.

TIRO PELA CULATRA

O WEF traça um quadro sombrio principalmente para as finanças públicas. "Os enormes gastos com que os governos apóiam as instituições financeiras são uma ameaça à precária situação financeira de países como os EUA, a Grã-Bretanha, França, Itália, Espanha e Austrália."

Esses países, com crescentes gastos públicos e populações envelhecidas, "devem valorizar todos os riscos" e "não perder a perspectiva" além do futuro imediato, advertiu o economista-chefe do Zurich Financial Services, Daniel Hofmann.

Segundo ele, "2008 foi o ano em que a crise bateu no sistema financeiro, enquanto 2009 será o ano em que a crise passará à economia real".

A desaceleração da economia chinesa a um crescimento de menos de 6% ao ano terá efeitos para toda a debilitada economia mundial, além de atingir internamente o país, com aumento de desemprego e redução das importações, escrevem os analistas.

Segundo Sheana Tambourgi, diretora de pesquisas de risco do WEF, a crise financeira mostrou que crises globais só podem ser minimizadas com uma ação globalmente coordenada. "Isso vale para todos os tipos de crise. Crises globais exigem uma resposta participativa e nunca podem ser atacadas isoladamente", disse Tambourgi.

PROTECIONISMO E CLIMA DE VELÓRIO

O diretor de risco da resseguradora Swiss Re, Raj Singh, advertiu sobre uma outra ameaça: a mudança climática, que afetará muito mais os países em desenvolvimento, mas terá efeitos econômicos globais. Segundo ele, por isso, os governos "não podem olhar para outro lado" na hora de planejar seus investimentos.

"As previsões econômicas para 2009 são sombrias para a maioria das economias", afirma o WEF. O Fórum aponta um quadro desolador: mercados voláteis, falta de liquidez, aumento de desemprego e de confiança dos consumidores, crise alimentar, instabilidade das matérias-primas, queda do dólar, diminuição de recursos naturais e fissuras no "governo global".

O relatório do WEF mostra que os países emergentes não são imunes à crise econômica. "Ficou claro que, quanto às mudanças cíclicas, as economias emergentes e desenvolvidas continuam a ser fortemente correlacionadas, um fato que pode ter ficado escondido por anos sem fortes recessões." O WEF prevê aumento do protecionismo nos emergentes como reação à crise.

Para evitar o esperado clima de velório em Davos, o WEF ainda tenta espalhar um pouco de otimismo. "Toda crise é uma oportunidade e 2009 oferece a ocasião de reforçar a política de governo mundial e de construir uma vontade política para restaurar a estabilidade financeira", afirma o relatório. Mas também esse otimismo forçado não deve mudar o quadro.

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