RIO DE JANEIRO - "Até nas flores se encontra a diferença da sorte: umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte." Esse poema se aprendia nas escolas do passado. Hoje, a diferença da sorte atinge até mesmo os partidos políticos, que podem ser resumidos em situação e oposição.
Para a oposição, dona Dilma é presidente da República. Para a situação (PT e aliados), é presidenta, como ela própria gosta de ser tratada. É fácil identificar quem é a favor ou contra o governo. Embora não se diga de uma moça que é "estudanta", de uma mulher acamada que é "doenta" ou "pacienta", a sutileza do tratamento é uma declaração de princípios, um programa
de salvação nacional.
Há também uma outra sutileza que define os rumos ideológicos e transcendentais da atual situação nacional. Os veículos de comunicação, principalmente as TVs oficiais e as oficiosas, quando botam no ar os debates no Supremo Tribunal Federal (STF), identificam o programa como "ação penal 470". Tudo certo, a informação não foi sonegada nem deformada. As emissoras não comprometidas com o governo se referem ao mesmo programa de outra forma: "mensalão" --um tiro que o PT disparou no próprio pé.
Palavras e palavras. O pai de Samuel encontrou Isaac e declarou, contristado: "Meu coração está cheio de tristeza, soube que o seu filho Jacó está dando!". No dia seguinte, Isaac procurou o pai de Samuel, com o coração transbordando de alegria: "Meu filho não está dando, está tomando!".
Palavras, palavras e palavras servem para isso mesmo. O papa Pio 11, antecessor de Pio 12, fez uma advertência severa contra o nazismo --que, em 1933, tomava o poder na Alemanha. Recebeu uma resposta oficial daquele país, justificando o regime ali adotado. O papa reclamou: "Perdemos o sentido das palavras!".
Carlos Heitor Cony é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances e diversas adaptações de clássicos.
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