Em recuperação, ex-presidente evita viagens
Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais disputado do país faz uma campanha reclusa.
Ainda em recuperação — com garganta fragilizada pelo tratamento contra o câncer —, o ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de bastidores.
Até agora, Lula fez apenas dois comícios, em Belo Horizonte e Salvador. A ausência dos palanques, além de seguir orientação médica que proíbe discursos inflamados de mais de 10 minutos, evita melindrar candidaturas de partidos aliados no plano federal.
Em Porto Alegre, por exemplo, Lula só deve participar de eventos com Adão Villaverde caso o petista dê uma arrancada nas pesquisas.
Diante das restrições, Lula gravou depoimentos para a propaganda de cerca de 120 candidatos do PT. As sessões se encerraram na última semana e não deverão ser retomadas, salvo alguma necessidade específica. A despeito da voz claudicante, Lula tem se demonstrado disposto e bem humorado.
Para Villaverde, ele gravou mais de 30 minutos de depoimento. O ex-presidente, contudo, sofre acessos de tosse cada vez que conversa demais, o que o deixa extremamente irritado. Isso também contribui para a preferência às gravações, que dispensam deslocamentos e são feitos nos estúdios do Instituto Lula, em São Paulo, em ambiente climatizado.
— Trinta segundos do Lula na TV atinge milhões de eleitores, muito mais gente do que um comício — compara o deputado federal Paulo Ferreira (RS), membro do grupo eleitoral do PT.
Movimentos políticos já visam à sucessão de Dilma
Desde o início do período eleitoral, Lula tem se empenhado com ênfase somente na candidatura de Fernando Haddad em São Paulo. Na terça-feira, por exemplo, os dois participaram de uma plenária com sindicalistas. Para a tarde deste sábado, estavam previstos dois comícios na capital paulista. Foi por pressão do ex-presidente que Marta Suplicy recebeu um ministério em troca do engajamento na campanha e que Dilma Rousseff gravou um depoimento para a propaganda do ex-ministro.
— Ele teve uma conversa séria com a presidente. Todos os esforços são para levar Haddad ao segundo turno — comenta um petista com trânsito no Planalto.
Na cúpula do PT, a vitória em São Paulo é considerada prioritária. Os dirigentes consideram a cidade, com 8 milhões de eleitores e um dos maiores orçamentos do país, fundamental para a reeleição de Dilma em 2014. É em nome de uma nova vitória de Dilma que Lula ensaia um armistício com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos.
Eles haviam rompido por causa da sucessão no Recife e em Belo Horizonte, onde PT e PSB lançaram candidaturas distintas. Neste domingo, Campos participa de um ato da campanha de Haddad em São Paulo. Lula, em contrapartida, não deve viajar à capital pernambucana, onde o petista Humberto Costa foi superado nas pesquisas pelo afilhado de Campos, Geraldo Julio.
Com a reaproximação, o ex-presidente tenta evitar que os socialistas reprisem em 2014 a parceria estabelecida em Belo Horizonte com o PSDB. Lá, as duas legendas estão juntas pela reeleição de Márcio Lacerda, deixando o concorrente petista isolado.
Não por acaso, foi na capital mineira, berço político do senador tucano Aécio Neves, que Lula fez seu primeiro comício este ano, há duas semanas.
Zero Hora.
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