sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Faz sentido o Brasil ajudar a Europa?

A China teria cogitado comprar toda a dívida da Grécia e, assim, evitar a debacle daquele país europeu. O propósito seria abortar, no nascedouro, o recrudescimento da crise financeira internacional. O crescimento da economia chinesa, graças ao modelo exportador, depende muito da economia mundial.

Os chineses teriam chegado à conclusão, no entanto, de que o socorro à Grécia teria consequências internas e geopolíticas imprevisíveis. No primeiro caso, as autoridades teriam dificuldade de explicar a ajuda ao seu próprio povo. Apesar da exuberância dos últimos anos, os chineses têm renda per capita muito inferior à média das economias avançadas e à da própria Grécia.

Segundo dados do FMI, a renda per capita da China é hoje de US$ 8,1 mil, menos da metade da brasileira (US$ 16,5 mil). No conceito de Paridade do Poder de Compra (PPP, na sigla em inglês), sobe para US$ 13,7 mil (ainda menor que a do Brasil, que é de US$ 15,1 mil). Os países avançados têm, respectivamente, renda per capita média de US$ 50,5 mil e US$ 46,5 mil. A Grécia, de US$ 30,9 mil e US$ 33,3 mil.
Do ponto de vista geopolítico, a compra da dívida grega deslocaria de Washington para Pequim o centro das grandes decisões políticas internacionais. Os chineses, evidentemente, querem chegar lá, mas possivelmente avaliaram que isso também traria consequências imprevisíveis para o seu já delicado equilíbrio político interno. Ser uma potência mundial acarreta custos, e é o caso de se pensar: o povo chinês já está em condições de arcar com esses custos?

Soa estranho o entusiamo de autoridades brasileiras com uma possível operação de ajuda financeira do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a economias europeias. A ideia, no caso brasileiro, seria diversificar a aplicação de reservas cambiais, comprando títulos de governos europeus.

O principal critério de aplicação de reservas é segurança e, por essa razão, o Brasil aplica a maior parte das suas em títulos to Tesouro americano, mesmo amargando uma situação insólita — o Tesouro capta recursos, grosso modo, à taxa Selic (12% ao ano) e compra papéis americanos de rentabilidade baixíssima (2% ao ano, no caso de títulos de dez anos).

O quesito segurança não é, neste momento, algo que se possa dar como certo no caso dos papéis emitidos por governos europeus, guardadas as honrosas exceções (Alemanha à frente). É verdade que a rentabilidade, por essa razão, vem tornando esses títulos mais atrativos — a Itália aceitou há pouco pagar 5,6% de juros ao ano em papéis de cinco anos.

Ao contrário do Brasil, a China acumula reservas a partir de excedentes fiscais. O governo gasta menos do que arrecada e usa a diferença para comprar divisas. Na experiência brasileira, o governo se endivida a um preço altíssimo para fazer o mesmo. Embora nove entre cada dez analistas reconheçam que, ao acumular reservas, o país criou um seguro anticrise, é forçoso admitir que isso é feito a um custo elevado.

Não faz muito sentido, portanto, o Brasil elevar o risco de aplicação de suas reservas para ajudar países europeus. Já é estranho o país subsidiar, com o suor dos brasileiros, o endividamento dos americanos, um povo 3,5 vezes mais rico.

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