Mesmo que seja limitada a mudanças em meia dúzia de ministérios, a
reforma do gabinete, prevista para a segunda quinzena, será maior, mais
complexa e politicamente profunda do que deixa antever o governo.
O esboço das mudanças prevê a manutenção de todas as siglas aliadas
no ministério, mas com um reequilíbrio das forças mais fiel ao tamanho
de cada uma delas no Congresso.
De acordo com as conversas entre os partidos, o PMDB sairia
fortalecido, a representação do PSB reconheceria as duas forças que
disputam o comando do partido e as siglas menores, como o PP e o PR
teriam a representação reduzida à proporção de suas bancadas.
Desde o primeiro dia do governo Dilma Rousseff o PMDB se queixa de
estar sub-representado. A hipótese em avaliação para contentar o partido
é o Ministério dos Transportes reforçado com a Secretaria de Portos.
No governo tucano, o PMDB dominou a área dos Transportes e sempre
quis recuperá-la para seus domínios. É o que o partido chama de a "joia
da coroa". Se a articulação se concretizar, o nome para a Pasta será
indicado pelo vice-presidente da República, Michel Temer.
Certa, por enquanto, só a relocação do ministro Aloizio Mercadante
(Ciência e Tecnologia) no Ministério da Educação, no lugar de Fernando
Haddad, que deixa o cargo para ser candidato a prefeito de São Paulo,
nas eleições municipais de outubro.
Para o lugar de Mercadante, a presidente Dilma mandou sondar o
ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Alvo de constantes críticas de Ciro, o
PMDB não gostou mas também não fará nada contra sua nomeação. A oposição
mais forte ocorre no próprio PSB.
A indicação do ex-ministro cearense para o Ministério da Ciência e
Tecnologia reconhece os "dois polos" de poder no PSB - de um lado o
próprio Ciro e seu irmão Cid Gomes, governador do Ceará, e de outro o
governador Eduardo Campos, até agora líder inconteste do partido.
Nos últimos meses, Campos tem feito movimentos cada vez mais ousados
no sentido de se fortalecer nacionalmente: se aliou ao prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab, na criação do PSD, e deu uma demonstração de
força ao eleger a mãe, a ex-deputada Ana Arraes, para o cargo de
ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O PT observa com desconfiança os movimentos de Campos, pois o PSB
tenta se tornar uma alternativa à esquerda; o PMDB teme que ele tente
ficar com a vaga de vice na reeleição de Dilma, em 2014, e o governo
contabiliza que ele tem um pé também no projeto do tucano Aécio Neves a
presidente da República.
Aloizio Mercadante já teve uma longa conversa com Ciro Gomes, segundo
informa o PT com mandato da presidente Dilma Rousseff. A volta de Ciro
ao governo tem outro padrinho forte: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Ao trocar o PT pelo PSB no Ministério da Ciência e Tecnologia, a
presidente estaria livre para articular a unificação do Ministério dos
Transportes. A segunda pedida do PMDB é o Ministério das Cidades, que
poderia ser ocupado pelo atual ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos, Wellington Moreira Franco.
A dificuldade para o PMDB, neste caso, é que a retomada do Ministério
de Cidades é prioridade do PT. Para o cargo, o partido pensa em indicar
o deputado José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema e
ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff a presidente da República,
nas eleições de 2010.
A senadora Marta Suplicy (SP) seria outra hipótese para Cidades ou
Turismo, mas ela se prepara para cumprir mais um ano do mandato de
vice-presidente do Senado, conforme comunicou ao presidente do PT, Rui
Falcão, e ao líder da bancada, senador Humberto Costa (PE).
Havia um acordo de revezamento entre Marta e o senador José Pimentel
(CE), no fim do primeiro ano de Marta na vice. A própria Dilma falou
para Marta que ela é importante para o governo no Congresso.
Outra mudança certa, além do Ministério da Educação, é no Ministério
do Trabalho. Ainda é analisada a hipótese de fusão com o Ministério da
Previdência Social. O nome do ministro vai depender da solução a ser
dada pela presidente.
O PDT insiste em manter a vaga que era ocupada por Carlos Lupi no
Trabalho, mas o PT pressiona Dilma a devolver a Pasta ao partido. No
PDT, o nome mais próximo a Dilma é o do deputado Vieira da Cunha (RS),
mas Brizola Neto (RJ) também é cotado.
Circulam ainda os nomes de José Lopes Feijóo, assessor especial de
Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e ex-vice-presidente
da CUT, e o do senador Francisco Dornelles, numa compensação ao PP pelo
Ministério das Cidades. Há fortes resistências no PT, inclusive de
ex-ministros da Pasta, ao nome de Dornelles, que ocupou o mesmo cargo no
governo do PSDB.
A secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, já comunicou
ao PT que será candidata a prefeito de Vitória (ES), apesar de o PT
local ainda analisar a possibilidade de apoiar uma candidatura do PMDB. A
decisão sai no dia 15 e Iriny já foi avisada que, se deixar o governo
para co correr, depois não volta, seja qual for o encaminhamento que o
partido der à eleição de Vitória.
Se ficar com os Transportes, o PMDB pode abrir mão do Ministério do
Turismo e abrir espaço para Dilma compensar algum dos partidos médios,
provavelmente o PR. Na cúpula do partido há dúvidas se Dilma vai levar a
ideia adiante, mas a ideia é não pressionar a presidente.
Primeiro, porque seria contraproducente; depois, porque a prioridade
do PMDB é eleger a presidência das duas Casas do Congresso, no início de
2013, e as mudanças no ministério podem interferir no equilíbrio
interno em que se sustenta o partido.
O governador Eduardo Campos deve manter Fernando Bezerra Coelho no
Ministério da Integração Nacional, politicamente mais fraco depois da
denúncia de que privilegiou Pernambuco na liberação de verbas da Pasta. O
PSB pensava em remanejar Bezerra Coelho da Integração para o Ministério
dos Transportes.
Valor Econômico.
Por Raymundo Costa | De Brasília
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