sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Reforma ministerial busca equilíbrio de forças

Mesmo que seja limitada a mudanças em meia dúzia de ministérios, a reforma do gabinete, prevista para a segunda quinzena, será maior, mais complexa e politicamente profunda do que deixa antever o governo.
O esboço das mudanças prevê a manutenção de todas as siglas aliadas no ministério, mas com um reequilíbrio das forças mais fiel ao tamanho de cada uma delas no Congresso.

De acordo com as conversas entre os partidos, o PMDB sairia fortalecido, a representação do PSB reconheceria as duas forças que disputam o comando do partido e as siglas menores, como o PP e o PR teriam a representação reduzida à proporção de suas bancadas.

Desde o primeiro dia do governo Dilma Rousseff o PMDB se queixa de estar sub-representado. A hipótese em avaliação para contentar o partido é o Ministério dos Transportes reforçado com a Secretaria de Portos.



No governo tucano, o PMDB dominou a área dos Transportes e sempre quis recuperá-la para seus domínios. É o que o partido chama de a "joia da coroa". Se a articulação se concretizar, o nome para a Pasta será indicado pelo vice-presidente da República, Michel Temer.

Certa, por enquanto, só a relocação do ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) no Ministério da Educação, no lugar de Fernando Haddad, que deixa o cargo para ser candidato a prefeito de São Paulo, nas eleições municipais de outubro.

Para o lugar de Mercadante, a presidente Dilma mandou sondar o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Alvo de constantes críticas de Ciro, o PMDB não gostou mas também não fará nada contra sua nomeação. A oposição mais forte ocorre no próprio PSB.

A indicação do ex-ministro cearense para o Ministério da Ciência e Tecnologia reconhece os "dois polos" de poder no PSB - de um lado o próprio Ciro e seu irmão Cid Gomes, governador do Ceará, e de outro o governador Eduardo Campos, até agora líder inconteste do partido.

Nos últimos meses, Campos tem feito movimentos cada vez mais ousados no sentido de se fortalecer nacionalmente: se aliou ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na criação do PSD, e deu uma demonstração de força ao eleger a mãe, a ex-deputada Ana Arraes, para o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O PT observa com desconfiança os movimentos de Campos, pois o PSB tenta se tornar uma alternativa à esquerda; o PMDB teme que ele tente ficar com a vaga de vice na reeleição de Dilma, em 2014, e o governo contabiliza que ele tem um pé também no projeto do tucano Aécio Neves a presidente da República.
Aloizio Mercadante já teve uma longa conversa com Ciro Gomes, segundo informa o PT com mandato da presidente Dilma Rousseff. A volta de Ciro ao governo tem outro padrinho forte: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao trocar o PT pelo PSB no Ministério da Ciência e Tecnologia, a presidente estaria livre para articular a unificação do Ministério dos Transportes. A segunda pedida do PMDB é o Ministério das Cidades, que poderia ser ocupado pelo atual ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Wellington Moreira Franco.
A dificuldade para o PMDB, neste caso, é que a retomada do Ministério de Cidades é prioridade do PT. Para o cargo, o partido pensa em indicar o deputado José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema e ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff a presidente da República, nas eleições de 2010.

A senadora Marta Suplicy (SP) seria outra hipótese para Cidades ou Turismo, mas ela se prepara para cumprir mais um ano do mandato de vice-presidente do Senado, conforme comunicou ao presidente do PT, Rui Falcão, e ao líder da bancada, senador Humberto Costa (PE).

Havia um acordo de revezamento entre Marta e o senador José Pimentel (CE), no fim do primeiro ano de Marta na vice. A própria Dilma falou para Marta que ela é importante para o governo no Congresso.
Outra mudança certa, além do Ministério da Educação, é no Ministério do Trabalho. Ainda é analisada a hipótese de fusão com o Ministério da Previdência Social. O nome do ministro vai depender da solução a ser dada pela presidente.
O PDT insiste em manter a vaga que era ocupada por Carlos Lupi no Trabalho, mas o PT pressiona Dilma a devolver a Pasta ao partido. No PDT, o nome mais próximo a Dilma é o do deputado Vieira da Cunha (RS), mas Brizola Neto (RJ) também é cotado.

Circulam ainda os nomes de José Lopes Feijóo, assessor especial de Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e ex-vice-presidente da CUT, e o do senador Francisco Dornelles, numa compensação ao PP pelo Ministério das Cidades. Há fortes resistências no PT, inclusive de ex-ministros da Pasta, ao nome de Dornelles, que ocupou o mesmo cargo no governo do PSDB.

A secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, já comunicou ao PT que será candidata a prefeito de Vitória (ES), apesar de o PT local ainda analisar a possibilidade de apoiar uma candidatura do PMDB. A decisão sai no dia 15 e Iriny já foi avisada que, se deixar o governo para co correr, depois não volta, seja qual for o encaminhamento que o partido der à eleição de Vitória.
Se ficar com os Transportes, o PMDB pode abrir mão do Ministério do Turismo e abrir espaço para Dilma compensar algum dos partidos médios, provavelmente o PR. Na cúpula do partido há dúvidas se Dilma vai levar a ideia adiante, mas a ideia é não pressionar a presidente.

Primeiro, porque seria contraproducente; depois, porque a prioridade do PMDB é eleger a presidência das duas Casas do Congresso, no início de 2013, e as mudanças no ministério podem interferir no equilíbrio interno em que se sustenta o partido.

O governador Eduardo Campos deve manter Fernando Bezerra Coelho no Ministério da Integração Nacional, politicamente mais fraco depois da denúncia de que privilegiou Pernambuco na liberação de verbas da Pasta. O PSB pensava em remanejar Bezerra Coelho da Integração para o Ministério dos Transportes.

Valor Econômico. 
Por Raymundo Costa | De Brasília

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