domingo, 17 de abril de 2011

Potências emergentes exigem reforma do Conselho de Segurança

El País
José Reinoso
Em Pequim (China


As cinco grandes potências emergentes que integram o grupo chamado BRICs - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - pediram na sexta-feira (15) uma "reforma integral" da ONU, incluindo o Conselho de Segurança, para dar mais voz aos países em desenvolvimento.

"China e Rússia reiteram a importância que dão à posição da Índia, Brasil e África do Sul nos assuntos internacionais e compreendem e apoiam suas aspirações a desempenhar um papel maior na ONU", indica o comunicado conjunto emitido depois da cúpula anual dos BRICs na ilha chinesa de Hainan.

"Estamos de acordo sobre a necessidade de modificar o sistema do Conselho de Segurança da ONU e torná-lo mais representativo e efetivo", afirmou o presidente sul-africano, Jacob Zuma, informa a agência France Presse. "É impossível que o mundo se mantenha ligado a planos que foram realizados no pós-guerra", afirmou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, referindo-se à criação da Organização das Nações Unidas depois da Segunda Guerra Mundial.

Do conclave, de um dia de duração, também participaram o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, e os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e da China, Hu Jintao. Os dois últimos países são membros permanentes do Conselho de Segurança. Os outros três são membros rotativos e buscam uma maior representação para si mesmos ou para suas regiões no órgão da ONU, que reflita sua crescente influência internacional.

O apoio de Pequim e Moscou à declaração conjunta é significativo, pois reflete seu interesse em promover uma mudança do equilíbrio geopolítico mundial, cujo centro de gravidade se afastou do Ocidente nos últimos anos.

Tanto o Brasil como a Índia aspiram a um assento permanente no Conselho, cujos cinco membros fixos - EUA, França, Reino Unido, China e Rússia - têm direito de veto. Moscou apoia o pedido de ambos, enquanto Pequim - que mantém uma relação às vezes tensa com Nova Déli, devido a disputas territoriais e um passado de confrontos armados - ainda não o fez. Os BRICs englobam 40% da população mundial e no ano passado representaram 18% do PIB.

As pressões para que ocorram mudanças na estrutura da ONU são crescentes. Alemanha e Japão também aumentaram desde o ano passado os movimentos para conseguir um lugar permanente no órgão de poder da entidade, enquanto os países africanos consideram que deveriam ter pelo menos dois lugares no Conselho. Os governos do mundo árabe e da América Latina também pedem maior representação.

O comunicado conjunto dos BRICs pede o fim da intervenção armada internacional na Líbia. "Somos da opinião de que todas as partes deveriam resolver as diferenças por meios pacíficos e pelo diálogo. (...) O uso da força deveria ser evitado. A independência, a soberania, a unidade e a integridade territoriais de cada nação devem ser respeitadas", diz. A África do Sul foi o único membro dos BRICs que aprovou a resolução da ONU para estabelecer uma zona de exclusão aérea na Líbia, que autoriza "todas as medidas necessárias" para proteger a população civil. Pequim e Moscou, que poderiam ter vetado a resolução, se abstiveram, assim como Índia e Brasil.

Os cinco países advertiram ontem que a "excessiva volatilidade dos preços das matérias-primas, em particular dos alimentos e da energia, representa um novo risco para a recuperação em curso da economia mundial" e que os grandes fluxos de capitais internacionais poderiam prejudicar os países em desenvolvimento. Também pediram a reforma do sistema monetário internacional para torná-lo mais variado e representativo; em outras palavras, menos ligado ao dólar. Os BRICs estão preocupados com o efeito que os vultosos déficits comercial e orçamentário americanos podem ter sobre a divisa.



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