sábado, 31 de janeiro de 2009

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL - UM OUTRO MUNDO, APENAS UM MUNDO MELHOR do Deputado Fernando Gabeira

Na insurreção estudiantil de maio de 1968, na França já foi lançada uma bela frase de impacto "sejamos realistas peçamos o impossível".

Hoje em Belém do Pará, Amazônia, Brasil, a consigna do dia, que estava em todas as declarações e discuros era "um outro mundo é possível"!

Aí está Gabeira, líder do Partido Verde, que não perdoa deslize, com um dos seus artigos que faz sentido para o momento.


FERNANDO GABEIRA (da Folha de São Paulo)

Outro mundo

RIO DE JANEIRO - Quando estava preso, Affonso Romano me visitou e disse que achava que nossa visão revolucionária tinha muito de religioso. Naquele momento, estranhei. Mais tarde, lendo a conferência de George Steiner, "Os Sonhadores do Absoluto", percebi que havia afinidades. Sobretudo nessa certeza em determinar o sentido do homem, em sonhar com um mundo completamente novo, inclusive com um homem novo.No meio da década de 60, no bar Degrau, disse para Bolívar Lamounier que, como Sartre, achava o marxismo o horizonte intelectual insuperável de nosso século. "Bobagem do Sartre", respondeu diante do copo de chope. Também estranhei. Sartre era o filósofo.Tinha muitas reações de estranheza diante dos livros de Isaiah Berlin. Ele escreveu numa revista "Encounter" financiada pelo governo americano. Era considerado da CIA. A qualidade de sua obra me conquistou. Além de entender a Revolução Russa, achou bem no romantismo alemão as raízes revolucionárias.

Homem novo? Sentido da história? Todas essas grandes ideias passam por sua análise fria, liquidificadora.Leio agora sobre a Europa. Deu um grande salto no pós-Guerra. Um a um, os partidos social-democratas se livraram das certezas da história, contentando-se com o aumento do poder de consumo, a maior liberdade das pessoas, uma estabilidade democrática.

Vista retrospectivamente, foi uma extraordinária conquista.Nesse momento de crise, em vez de outro mundo, peço um mundo melhor. É o caminho para abordar a economia e a degradação ambiental. Uma vez foi tentada uma conferência entre os dois fóruns, Davos e Porto Alegre. Um caos. Cada um falava a sua língua. Não conseguiram se entender. Se houver outro mundo, ou, mais modestamente, um mundo melhor, dependerá mesmo de fóruns como esses?

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