terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Doutores militantes. Doutorado é fundamental, mas não é tudo


BRASÍLIA - Escolhido como futuro ministro da Educação, segundo antecipou Renata Lo Prete, da Folha, Aloizio Mercadante obteve o título de doutor em economia há um ano com a tese "As Bases do Novo Desenvolvimentismo no Brasil - Análise do Governo Lula (2003-2010)".

Tratava-se de um calhamaço em defesa do governo que o autor já havia defendido, ao longo de todo o período mencionado, na condição de senador pelo PT. A banca examinadora, que misturava adeptos do desenvolvimentismo e do lulismo, fez lá alguns reparos ao excesso de entusiasmo do texto, mas aprovou a obra.

Mercadante pensava em deixar a Ciência e Tecnologia para tentar ser prefeito de São Paulo, mas o candidato escolhido por Lula foi outro ministro, Fernando Haddad, o que explica a vaga a ser aberta. O comando da Educação e o pleito municipal parecem ser intercambiáveis -mais ou menos como Pesca e Relações Institucionais, que, não faz muito tempo, trocaram de titulares entre si.

Algum viés ideológico é inevitável no ensino e na atividade intelectual, especialmente em ciências humanas. Daí para a militância política e partidária explícita, é necessário o ambiente propício.

Em universidades públicas cujos reitores são escolhidos pelos professores, funcionários e alunos, demandas corporativas contaminam decisões acadêmicas de interesse de um eleitorado muito mais amplo. Meritocracia se torna um inconveniente a melindrar os servidores votantes, que prestaram concurso e adquiriram direito à estabilidade no emprego. Grupos se organizam para disputar o poder ou dele se beneficiar.

Numeroso e influente, o sindicalismo universitário formal e informal é disputado pelos partidos de esquerda. Sua agenda foi encampada pelo governo petista, que lista os feitos em quantidades -de instituições criadas, de contratações, de gastos.
Qualidade e relevância da produção são temas menos agradáveis.
 Gustavo Patu 
gustavo.patu@grupofolha.com.br

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