terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Comportamento de país invasor ou caso isolado?

A suspeita de que soldados brasileiros teriam espancado três haitianos em Cité Soleil, a maior favela de Porto Príncipe, há uma semana, precisa ser apurada com rigor. Não convém ao Brasil que pairem dúvidas sobre a disposição do país de coibir atos dessa natureza.
Uma organização de defesa dos direitos humanos que atua no Haiti afirma que os rapazes faziam entregas de água quando o caminhão utilizado para o serviço sofreu problemas mecânicos. Oito soldados do Exército brasileiro, em patrulha na região, teriam abordado os jovens e confiscado documentos, telefone celular e dinheiro. Conduzidos, a seguir, a uma escola próxima, segundo relato divulgado pela imprensa local, os jovens foram violentamente agredidos.

Fatos como esse precisam ser esclarecidos e as medidas cabíveis adotadas, sob risco de comprometer-se o saldo até aqui positivo da participação das Forças Armadas brasileiras no difícil trabalho de estabilização do Haiti -que já dura mais de sete anos.

São elogiáveis, portanto, as primeiras declarações do ministro da Defesa, Celso Amorim, e do comandante da missão, general Luiz Ramos. Ambos apoiaram a investigação do incidente, a cargo da ONU, e prometeram "tolerância zero" com desvios dessa natureza.

O caso serve também para avivar as intenções do governo brasileiro de começar a reduzir a presença militar naquele país e alterar o perfil da missão, que se baseia no trabalho rotineiro de polícia.

Não é essa, afinal, a vocação das Forças Armadas, ainda mais quando se trata de um Exército estrangeiro, que pode facilmente ser visto como força de ocupação.
O governo deveria, aliás, acelerar seu cronograma para reduzir a participação das tropas. É tímida a proposta de retirar, até o final de 2012, apenas 250 dos 2.185 capacetes azuis brasileiros no Haiti.

A melhor maneira de alcançar esse objetivo é apoiar a ampliação e o treinamento do contingente da Polícia Nacional Haitiana, que já conta com 10 mil homens.
É desejável tanto para o Brasil quanto para o Haiti que, em não mais do que dois anos, o governo local esteja pronto para assumir a segurança interna. Que os brasileiros continuem apoiando o povo haitiano, mas não mais no papel de polícia.

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