A suspeita de que soldados brasileiros teriam espancado três haitianos
em Cité Soleil, a maior favela de Porto Príncipe, há uma semana, precisa
ser apurada com rigor. Não convém ao Brasil que pairem dúvidas sobre a
disposição do país de coibir atos dessa natureza.
Uma organização de defesa dos direitos humanos que atua no Haiti afirma
que os rapazes faziam entregas de água quando o caminhão utilizado para o
serviço sofreu problemas mecânicos. Oito soldados do Exército
brasileiro, em patrulha na região, teriam abordado os jovens e
confiscado documentos, telefone celular e dinheiro. Conduzidos, a
seguir, a uma escola próxima, segundo relato divulgado pela imprensa
local, os jovens foram violentamente agredidos.
Fatos como esse precisam ser esclarecidos e as medidas cabíveis
adotadas, sob risco de comprometer-se o saldo até aqui positivo da
participação das Forças Armadas brasileiras no difícil trabalho de
estabilização do Haiti -que já dura mais de sete anos.
São elogiáveis, portanto, as primeiras declarações do ministro da
Defesa, Celso Amorim, e do comandante da missão, general Luiz Ramos.
Ambos apoiaram a investigação do incidente, a cargo da ONU, e prometeram
"tolerância zero" com desvios dessa natureza.
O caso serve também para avivar as intenções do governo brasileiro de
começar a reduzir a presença militar naquele país e alterar o perfil da
missão, que se baseia no trabalho rotineiro de polícia.
Não é essa, afinal, a vocação das Forças Armadas, ainda mais quando se
trata de um Exército estrangeiro, que pode facilmente ser visto como
força de ocupação.
O governo deveria, aliás, acelerar seu cronograma para reduzir a
participação das tropas. É tímida a proposta de retirar, até o final de
2012, apenas 250 dos 2.185 capacetes azuis brasileiros no Haiti.
A melhor maneira de alcançar esse objetivo é apoiar a ampliação e o
treinamento do contingente da Polícia Nacional Haitiana, que já conta
com 10 mil homens.
É desejável tanto para o Brasil quanto para o Haiti que, em não mais do
que dois anos, o governo local esteja pronto para assumir a segurança
interna. Que os brasileiros continuem apoiando o povo haitiano, mas não
mais no papel de polícia.
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