BRASÍLIA - No centésimo dia de governo, a política econômica da
presidente Dilma Rousseff está diante das mesmíssimas dificuldades do
primeiro dia, o da posse.
A inflação não parou de subir e, apesar dos
apertos nos juros e no crédito, o mercado financeiro não comprou a tese
da equipe econômica, de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) será domado até 2012, elevando semana a semana as projeções de
alta neste e no próximo ano. Em outro front, o cambial, o problema da
contínua valorização do real parece estar longe de ser resolvido e segue
desafiando Planalto, Fazenda e Banco Central.
Os analistas se dividem na avaliação da gestão econômica. O
economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, faz uma
comparação dura: "Os primeiros 100 dias de Dilma se parecem com o
governo Geisel: negligência com a inflação, campeões nacionais
escolhidos pelo governo, aumento da estatização, crença no crescimento
do investimento para resolver o problema de demanda".
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, avalia que o governo está
agindo de forma bastante pragmática dadas as incertezas que envolvem,
sobretudo, o cenário internacional. As medidas adotadas estão sendo
efetivas, diz, para promover uma desaceleração lenta do nível de
atividade, sem movimentos abruptos.
Sinais trocados.
Os críticos de uma suposta
paralisia do governo são confrontados com o fato de que o Banco Central
brasileiro foi o que mais elevou juros neste ano e também desde 2010,
com a Índia em segundo lugar. Há hoje o cuidado em não exagerar na dose e
derrubar a economia, especialmente se o rumo do resto do mundo continua
uma incógnita. Também há mais cautela em aumentar juros para não
acentuar a tendência de valorização do real, batalha que tem imposto
derrotas constantes ao governo.
O incerto cenário externo - alta do preço do petróleo, piora na crise
fiscal da Europa, dúvidas sobre a recuperação dos EUA e o nível de
desaceleração da China - e os sinais trocados de indicadores internos
deixaram a tarefa de conduzir a economia especialmente difícil neste
início de novo governo. O sinais internos ora mostram a atividade
desacelerando ora mostram que persistiria o temido sobreaquecimento.
Fabio Graner, de O Estado de S. Paulo
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