quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Demanda de madeira, soja e etanol elimina indígenas da América Latina - Demand for wood, soybeans and ethanol eliminates indigenous Latin America


Francisco Peregil
Em Madri
Eles sobreviveram à chegada de Colombo, às doenças da Europa, aos ditadores, à United Fruit Company e à febre da borracha. Mas as prospecções petrolíferas, as empresas madeireiras e as plantações de soja não só espantaram sua caça como a eles próprios: populações inteiras de nativos são obrigadas a viver cada vez mais longe de onde sempre estiveram.
Ainda restam na América Latina cerca de 500 povos indígenas (para eles, a palavra "tribos" soa pejorativa), com 43 milhões de membros que representam 7,6% da população do continente. Várias dezenas desses grupos nunca ouviram falar de Cristo, nem de Mozart, nem da penicilina, nem das Torres Gêmeas... A ONG Survival [Sobrevivência] calcula que existam 40 desses grupos com os quais ninguém fez contato no Brasil, cerca de 15 no Peru e um no Paraguai. É nessas comunidades de escassa ou nenhuma relação com o resto da sociedade que se podem apreciar de forma mais crua os estragos do consumismo disfarçado de progresso.
Para ajudar os indígenas em uma batalha em que eles têm toda a probabilidade de perder, pesquisadores como Almudena Hernando, arqueóloga da Universidade Complutense de Madri, conviveram na Amazônia brasileira com povos como os awás, também conhecidos como guajás.
"Quando os funcionários brasileiros da Fundação Nacional do Índio (Funai) detectam um awá perdido na selva, o transferem para uma área legalmente demarcada para os indígenas, onde ninguém pode entrar. Mas os madeireiros acabam entrando. Fazem um desmatamento muito seletivo, que não pode ser detectado por fotos aéreas, porque cortam as árvores mais velhas e deixam as jovens, que não têm valor de mercado. E atrás deles vêm um exército de agricultores sem terra, que também não têm nada para subsistir. A forma que temos no Ocidente de combater esses abusos é pedir certificados de origem da madeira que se compra.""No último verão", continua Hernando, "os madeireiros se aproximaram a apenas 3 quilômetros da área protegida. E quando chegar a temporada seca, em agosto, certamente se aproximarão cada vez mais.
Quando caçávamos junto com os awás, eles, que têm um ouvido muito apurado, paravam ao escutar as serras mecânicas. Elas espantam a caça, que é sua única forma de vida. Em 2006 a Funai levou para lá o exército e expulsou os madeireiros, mas no ano seguinte eles voltaram.""A teoria no Brasil é muito boa. A lei protege os grupos isolados, mas as invasões são constantes e não se faz nada para detê-las", indica Fiona Watson, diretora da ONG Survival.

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