Bioindústria, o diferencial competitivo da natureza paraense
Gonzalo V. Enríquez[1]
A Amazônia representa uma das maiores
fontes de recursos naturais, além de ser um dos três patrimônios naturais mais
importantes do planeta. Os outros são os mares profundos, sem uma governança
ainda definida, e o território antártico, compartilhado entre diversas nações.
Assim, a Amazônia é a única grande reserva da natureza que pertence, em sua
maior parte, a um único país – o Brasil. Também, a Amazônia é uma das regiões mais
cobiçadas no mundo pela riqueza da sua biodiversidade.
É sabido que o atual modelo econômico vigente na
Amazônia não tem contribuído para o seu dinamismo econômico sustentável, nem
para uma melhor distribuição de renda, a partir do benefício econômico gerado. No
caso do Pará, o estado precisa de uma verdadeira transformação do conhecimento
e mudança da sua base produtiva. Afinal, nos
caracterizamos por ser meramente um exportador de matérias primas, sem valor
agregado. Os recursos minerais representam mais US$ 16 bilhões (90%), e deixa o
setor madeireiro com quase US$ 400 milhões (2%) e os produtos da biodiversidade
ou chamados produtos florestais não madeireiros (PFNM) com pouco mais de US$ 32
milhões (0,18%) do valor das exportações do Estado (Gráfico abaixo).
O maior desafio consiste em alterar esse
quadro perverso de exploração predatória dos recursos naturais e ampliar a
participação da biodiversidade nas exportações paraenses. Um modelo diferente é necessário para dar valor à
floresta e aproveitar a biodiversidade de forma sustentável. Para que isso
aconteça se faz necessário transformar os recursos da biodiversidade em
produtos com valor agregado e, a inovação tecnológica é a principal ferramenta
para que esse processo aconteça.
Entretanto, nossa capacidade científica e tecnológica ainda é
extremamente frágil, fragmentada e pouco consolidada. São escassas as
experiências de sucesso de empresas que exploram comercialmente a
biodiversidade e que representem uma contribuição à economia do Estado.
Conhecemos apenas mostras de pequenas empresas, incubadoras e parques
tecnológicos, que são protótipos que mostram a transformação da biodiversidade em
produtos com alto valor agregado, mas com pouca expressão na economia paraense.
Para transformar essa realidade é fundamental a criação de uma bioindústria
paraense, de dar escala aos produtos da biodiversidade, alterando a base
produtiva do Estado com produtos de alto valor agregado, como são os perfumes,
óleos naturais e essenciais e remédios naturais, os que são altamente
demandados nos países desenvolvidos.
A floresta tem valor e pode ser alto e
muito rentável, mas é preciso demonstrar que ela pode valer mais como floresta
em pé que derrubada, principalmente pelas enormes
possibilidades de incorporação de tecnologia e criação de bioindústrias, para
produzir produtos com alto valor agregado, remédios
e produtos da cosmetologia (cosméticos e dermocosméticos), bem como
fitoterápicos, óleos essenciais e alimentos. Esse é o verdadeiro valor
estratégico da natureza e que a Amazônia pode oferecer para o mercado mundial.
Assim o confirmam as inúmeras empresas que são verdadeiros cases de sucesso no planeta e que usam insumos
da biodiversidade da nossa região. Produtos como copaíba, andiroba, o
tradicional óleo de castanha-do-pará que ganham escala em insumos de produtos
de beleza, como óleos naturais para massagens, sabonetes óleos essenciais para perfumes
e em geral cosméticos, que contam com maior valor agregado que commodities como o ferro, a soja e a
madeira, exportados com escasso valor agregado e que contribuem muito pouco com
a sustentabilidade do Pará (criação de empregos, renda e preservação do meio
ambiente).
Mas, o que está faltando para que a biodiversidade,
não apenas tenha um valor potencial e sim consiga alcançar os mercados
internacionais? Parte da resposta pode estar na tecnologia,
mais especificamente na inovação tecnológica nos produtos da biodiversidade, processo
que acontece, precisamente, na indústria. E no caso da exploração da
biodiversidade, esse processo acontece na bioindústria. Daí que a bioindústria é um mecanismo essencial para realizar inovação
tecnológica e agregar valor aos produtos da biodiversidade.
Apesar
de que já existem experiências pilotos de pequenas bioindústrias, em
incubadoras e parques tecnológicos, que se relacionam com universidades e centros
de pesquisa, o Estado deve transformar esses cases de sucesso, em políticas públicas e dar escala à produção da
biodiversidade, caso contrário, continuaremos sendo uma região rica em
biodiversidade e em matérias primas e, no entanto, exportando produtos com
baixo valor agregado, commodities.
Para
dar escala à aos produtos da biodiversidade é fundamental criar um novo
conceito de produção sustentável, implantar complexos industriais, dos
segmentos empresariais voltados à exploração da biodiversidade. Esses complexos
devem contar com políticas públicas, incentivos de investimentos tecnológicos e
de gestão e operação para sua implantação, além de apoios das instituições de
desenvolvimento que atuam na região Amazônica e no Estado do Pará. Nesta
perspectiva, a indústria da biodiversidade poderá absorver as inovações
tecnológicas de forma compartilhada e agregar valor à biodiversidade, uma das
questões fundamentais para que a floresta consiga produzir para uma demanda
cada vez mais crescente de produtos oriundos da Amazônia e, nesse arranjo
inteligente, a região deixe de ser apenas fornecedora de matéria-prima, exporte
valor agregado, alavanque empregos e distribua renda internalizando os lucros
da biodiversidade.
[1] Economista. Mestre em Política científica e
Tecnológica (UNICAMP), Doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB), Docente da
UFPA
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