Por Haider Rizvi, da IPS
Nova York, 17/2/2010 – A Organização das Nações Unidas iniciou uma campanha global em favor da biodiversidade, a fim de pressionar os governos para que cumpram o Convênio sobre a Diversidade Biológica. “A biodiversidade é nossa vida”, disse Veerle Vandeweerd, diretora de Meio Ambiente e Energia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em uma conferência para promover 2010 como Ano Internacional da Biodiversidade.
As medidas para reduzir a pobreza e lutar contra a mudança climática não darão resultados se houver demora na implementação do Convênio sobre a Diversidade Biológica, disse Vandeweerd, coincidindo com vários especialistas em desenvolvimento. Em muitas partes do mundo, as comunidades rurais “sofrem por causa da perda de biodiversidade”, acrescentou. Os serviços ecológicos e a diversidade biológica são vitais para a sobrevivência dos camponeses pobres e das populações indígenas, disse.
A literatura científica diz que quase 60% dos serviços ecológicos que sustentam a vida na Terra, como a água potável, a polinização, a regulação das pragas, e o clima regional, são dizimados pela atividade humana. O tratado sobre biodiversidade promove medidas substanciais para 2010, que revertam a perda de espécies vegetais e animais. Também tem o objetivo de fazer um uso sustentável da natureza e a distribuição dos benefícios que o uso de recursos genéticos trouxer.
Nos últimos 50 anos, as espécies desapareceram mil vezes mais rápido do que o ritmo natural desse processo, segundo inúmeros cientistas, devido ao aumento da demanda por recursos. Mas, ao contrário da mudança climática, este assunto não tem a atenção devida. Houve alguns avanços, dizem muitos funcionários da ONU, mas os políticos quase não dão atenção à preservação da biodiversidade, nem compreendem todo seu significado.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, considerou a falta de proteção da biodiversidade como “um chamado de alerta”, em uma reunião, na semana passada, no Museu de História Natural de Nova York. “Continuar fazendo o mesmo não é uma opção”, insistiu. “Precisamos de uma nova perspectiva sobre a biodiversidade”, disse Ban no encontro onde havia numerosos cientistas e especialistas da ONU. “Devemos garantir a viabilidade no longo prazo de nossos mares e oceanos”, acrescentou.
A declaração de Ban indica que os especialistas em desenvolvimento da ONU estão cada vez mais convencidos de que não será possível alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) se não for dirigido o mesmo interesse para conter a mudança climática e para preservar a biodiversidade. Os oito ODM foram acordados na Cúpula do Milênio, da Assembleia Geral da ONU de 2000, da qual participaram 189 chefes de Estado e de governo.
Entre as metas, está a de reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem na indigência e passam fome, e a de reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos, entre 1990 e 2015. Também consta lutar contra a expansão do vírus HIV, causador da aids, contra a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre Norte e Sul.
A efetiva implementação do Convênio sobre a Diversidade Biológica pode dar resultados significativos em matéria de desenvolvimento sustentável, segundo numerosos especialistas. Essa visão do assunto parece bastante óbvia, a julgar pelo enfoque apresentado pelo secretário-geral da ONU. “Temos de gerir a sustentabilidade de nossas florestas”, afirmou, ao explicar a necessidade de “uma nova perspectiva sobre a preservação da biodiversidade”. “Devemos proteger os arrecifes de coral para que possam continuar protegendo nossas costas das tempestades e permitir a sobrevivência” das pessoas, ressaltou.
Preservar a diversidade biológica não é apenas proteger as outras espécies, explicou Vandeweerd, mas permitir a prosperidade de centenas de milhões de pessoas que mantêm um vínculo estreito com animais e plantas. “A biodiversidade tem a ver com a economia. Cerca de três quartos da população mundial depende dela”, disse, acrescentando que tomar medidas significativas para proteger a diversidade biológica em terra firme e nos oceanos pode ajudar milhões de pessoas a sobreviverem sem medo de passar fome nem de ter doenças. Mas, para muitos governos, é uma árdua tarefa porque os interesses privados que tentam se apropriar das terras dos indígenas, e de outras não exploradas, são muito fortes.
O tratado da ONU pede que as empresas compartilhem de forma “justa” e “equitativa” os benefícios dos recursos indígenas. Os signatários do tratado ainda devem resolver muitos assuntos a respeito. Por seu lado, a Assembleia Geral prevê a organização, este ano, de uma “reunião especial de alto nível” sobre biodiversidade. “Será uma oportunidade para que a comunidade internacional demonstre os necessários avanços antes da Convenção sobre a Diversidade Biológica de Nagoya”, afirmou Ban, referindo-se à conferência que acontecerá nessa cidade japonesa em outubro. IPS/Envolverde
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