Como disse o economista: There's no such thing as a free lunch
O problema.
É
surpreendente como essa discussão sobre a divisão do Estado do Pará veio em péssimo
momento. Lamento muito, mas os paraenses sofrem um verdadeiro bombardeio sobre um
tema que dificilmente conseguem assimilar e menos ainda entender cabalmente.
Introduzir
na vida cotidiana de uma população que vive em mais de 40% abaixo da linha da
pobreza ou com menos de R$140,00 por mês, uma discussão que presume ser geopolítica,
estratégica, e que vai a afetar profundamente a vida dos paraenses, é de uma perversidade
que não tem tamanho. Mas, será que vai a afetar a vida mesmo da população?
Os melhores “cases” de sucesso para o debate.
Os
exemplos para explicar o assunto em debate são tantos e tão esdrúxulos que recém
hoje comecei a reconhecer experiências internacionais de partilha de
territórios que nunca estudei nem me interessaram. Um dia é Canadá grande e
poderoso, Estados Unidos, uma grande nação que convive muito vem com seus 51
Estados e ainda mais, anexou Porto Rico que é feliz como estado associado
(segundo dados dos próprios Estados Unidos). Sem pensar nos exemplos contrários
de países como a Rússia que se fragmentou em meio de fortes lutas separatistas
que ainda não se resolvem. Dos dois lados temos belos exemplos para justificar
a divisão ou para sugerir a unidade da região amazônica.
Descendo
para o Brasil, os exemplos também são muito interessantes. De lado a lado temos
exemplos abundantemente utilizados pelos defensores de um e outro lado da
briga.
Tocantins
é o paradigma dos partidários da divisão. Um estado empreendedor, onde claro
80% da população é de fora do estado e que para se implantar teve que destruir
mais de 80% da sua biodiversidade e sua floresta nativa, o ativo ambiental,
fator verdadeiramente estratégico na construção de um novo modelo de
desenvolvimento para a Amazônia.;
Outro
exemplo do lado oposto à divisão é o Estado de alagoas, pequeno estado com
indicadores sociais que alarmam pela sua precariedade, que revelam que é um dos
estados com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.
Quer
outro exemplo? O Território do Grão-Pará. Foi uma das capitanias da América Portuguesa, integrando
inicialmente o Estado do Grão-Pará e Maranhão, juntos poderiam ter sido uma potência,
mas veja aí no que deu. Maranhão comandado pela elite dos Sarney, que de um dia
para outro se tornaram em paradigma de políticos honestos, democráticos e desenvolvimentistas,
apoiados no seu poder, fortemente pela elite de esquerda brasileira que assumiu
o poder para se enriquecer os melhores amigos do poder central.
A
maior parte do debate se sustenta em exemplos que saíram de outras realidades,
que nada tem a ver com a história do Pará’ ou da Amazônia que pouco podem
servir de paradigmas para enriquecer a discussão.
Tamanho não é documento. Veja o caso do território de Gibraltar (“Peñon de Gibraltar”) uma pequenha
colônia britânica (de apenas 6 Km2) situada na Província de Cádiz, Andaluzia,
Espanha. A colônia permanece ocupada pelo Reino Unido
desde 1704.
As Nações Unidas tem
chamado em repetidas oportunidades aos governos de Espanha e Reino Unido a terminar
com esta situação colonial e reintegrar o território à seus legítimos donos, Espanha,
mas essa mesma pedra é um dos territórios mais prósperos e estáveis no poder da
Inglaterra e a maioria da população quere continuar sendo colônia da Inglaterra.Essas
experiências tem algo a ver com a nossa realidade?
Os atores do debate e o preço pela falta de Estado e de Poder.
Caros
leitores deste blog: Essa discussão é um debate de elites que não chega ao
conjunto do povo. Ainda nem sei como se concretizará esse processo de
construção do novo modelo, de onde sairá essas enormes quantidades de investimentos
anunciados pelo repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE), sem falar
das empresas, recursos minerais, e, como já foi comentado, o maior patrimônio
com que conta o Estado do Pará, onde ficarão seus ativos ambientais.
Essa
divisão, como mínimo requer redefinição de linhas geográficas, estradas, novos
caminhos, deslocamentos populacionais. Em síntese um empreendimento do tamanho
do que foi feito quando se realizou a mais contemporânea invasão da Amazônia,
na década de 1970, pelos governos militares, com o lema de “ocupar para não
entregar”. Esse pode ser a versão moderna da nova ocupação da Amazônia.
O marketing e os novos nichos dos publicitários
desempregados.
A
ousadia dos marqueteiros é tão grande que com esse plebiscito inauguraram um nicho
nunca antes explorado, em condições da mudança tecnológica em curso, como é a
atual tecnologia de informação e comunicação existente.
Este
é um verdadeiro jogo de marketing de publicitários desempregados ou
preparando-se para um novo processo eleitoral mais complexo, em 2012.
É
uma verdadeira tristeza ver como marqueteiros que pouco conhecem a realidade da
Amazônia entraram nesse jogo, mas a população tudo aceita, acostumada a ser eco
de qualquer política exógena, aceita passiva seu destino.
Esse
é o preço que pagamos todos pela falta de uma política que assuma a condução do
desenvolvimento do estado e porque não do Brasil? Algum ministro do governo
federal tem manifestado preocupação pela nova partilha que se provoca em uma
região tão importante como o estado do Pará. Ninguém meu irmão, ninguém meu
mano.
TUDO ISSO EM UM MÊS! QUEM DIRIA. HOUVE PARTILHAS QUE DURARAM SÉCULOS E AINDA NÃO SÃO RESOLVIDAS. NO PARÁ, A TV E OS MARQUETEIROS QUEREM PRODUZIR UMA DEFINIÇÃO EM UM MÊS.
TUDO ISSO EM UM MÊS! QUEM DIRIA. HOUVE PARTILHAS QUE DURARAM SÉCULOS E AINDA NÃO SÃO RESOLVIDAS. NO PARÁ, A TV E OS MARQUETEIROS QUEREM PRODUZIR UMA DEFINIÇÃO EM UM MÊS.
Alguém terá que pagar por isto.
There's no such thing as a free lunch
O que ficou da ocupação de um pedaço da Amazônia.
Terra de
ninguém
(Celso Cavalcanti)
“Ocupar para não entregar”. Era essa a palavra de ordem da
ditadura quando, nos anos 1970, incentivou brasileiros de todos os cantos a
deixar sua terra e tentar fortuna na Amazônia. Foi nessa época que, ainda
menino, Dinho saiu do Paraná com seus pais para viver em Rondônia. Eles se
fixaram na região conhecida como Ponta do Abunã, uma faixa na divisa com o Acre
e o Amazonas, a menos de 10 km
da fronteira com a Bolívia.
Os anos passaram. A floresta deu lugar a pastagens; pouquíssimos
enriqueceram. Dinho virou chefe de família e líder de assentamento. Depois de
quase 40 anos, o lugar ainda não tem luz elétrica, água encanada ou telefone.
Posto médico, delegacia, banco, cartório...nem pensar. Terra de ninguém. Pra
garantir o sustento, Dinho montou uma banca na feira de Vista Alegre, um
distrito a 70 km
de sua casa.
Na última sexta-feira de maio, ele descarregava os legumes e
verduras do carro quando foi assassinado. Cinco tiros a queima roupa, na frente
da mulher e dos dois filhos pequenos. O pistoleiro saiu caminhando. Dinho
denunciava a atuação de madeireiros ilegais na região.
Nesta semana estive no assentamento. Uma comitiva de jornalistas
e parlamentares em busca de informações sobre os conflitos na área. Quase três
horas de Brasília a Porto Velho em avião da FAB e outros 50 minutos num bimotor
até a Ponta do Abunã. A equação é clara: de um lado, os poderosos que enchem os
bolsos explorando a natureza e a miséria alheia; do outro, os que atenderam ao
chamado do governo e ocuparam um pedacinho de terra nos confins do “pulmão do
mundo”.
Retornamos a Brasília no mesmo dia. A sensação era de estar
vindo de outro país. Cheguei em casa, abracei meus filhos e minha mulher, e me
lembrei que Dinho nunca mais vai voltar pra casa e abraçar sua família.
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