O real brasileiro atingiu sua cotação mais alta em 12 anos frente ao
dólar na sexta-feira (1º), reacendendo o temor de guerra cambial no
Brasil e agravando os problemas econômicos para a presidente Dilma
Rousseff. A cotação do dólar atingiu R$ 1,5523, o valor mais baixo desde
logo após a adoção do cambio flutuante em 1999, devido ao afluxo de
investidores buscando ativos de maior retorno, após o alívio da crise da
dívida grega.
O rápido crescimento econômico do Brasil e as altas taxas de juros
reais de quase 6% tornam seus mercados altamente atrativos para os
investidores estrangeiros, carentes de oportunidades de investimento nos
mercados desenvolvidos.
“As taxas de juros americanas estão próximas de zero, as taxas de juros
britânicas estão próximas de zero, as taxas japonesas estão próximas de
zero e as taxas brasileiras estão em 12,25% –eu diria que esse é o xis
da questão”, disse Neil Shearing, da Capital Economics em Londres.
A contínua valorização da moeda do país é uma dor de cabeça para o
governo de Rousseff, que está preocupado com a perda de competitividade
do setor industrial do país.
O Brasil tem sido um forte crítico da política monetária ultrafrouxa
dos Estados Unidos, conhecida como alívio quantitativo, que é culpada
por injetar liquidez na economia global.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) encerrou nesta
semana sua segunda rodada de compra de títulos, chamada de QE2. Grande
parte dessa liquidez, argumenta o Brasil, tem fluido para os mercados
emergentes, como os da América Latina, inflacionando os preços de ativos
e forçando os governos a adotarem controles de capital defensivos.
Mas com o fim do alívio quantitativo, o governo terá que procurar outros motivos para a valorização do real.
Dados do banco central mostram que o investimento estrangeiro direto e
os preços mais altos dos commodities são responsáveis por grande parte
do afluxo de dólares neste ano, em vez de investimentos especulativos.
Aproximadamente US$ 42,4 bilhões fluíram para o Brasil entre janeiro e
abril deste ano, mais de cinco vezes do que no mesmo período no ano
passado. Apenas aproximadamente US$ 7 bilhões disso foram destinados ao
mercado de renda fixa.
Além disso, os lares japoneses continuam sendo firmes compradores de
ativos brasileiros, com aproximadamente US$ 4 bilhões fluindo para o
Brasil a cada mês, de investidores de lá.
O governo se mostrou disposto a permitir o fortalecimento da moeda nos
últimos meses para combater o aumento da inflação, mas uma maior
valorização provocará oposição dos poderosos lobbies industriais do
Brasil.
Rousseff, uma economista, chegou à presidência com a promessa de
reduzir as taxas de juros, mas teve suas mãos amarradas pelo aumento da
inflação.
Shearing disse que a taxa de câmbio real da moeda brasileira frente ao dólar valorizou 12% desde sua alta pré-crise.
Grande parte da força da moeda vem dos preços recordes dos commodities,
que ajudaram a limitar o déficit em conta corrente a aproximadamente
2,3% do produto interno bruto em maio.
“Se o nível das importações se mantiver o mesmo e os preços dos
commodities voltarem aos níveis de 2005, nós reconhecemos que o déficit
ficaria próximo de 5% do PIB, o que se aproximaria do território de
risco”, disse Shearing.
Tradução: George El Khouri Andolfato
UOL/NOTÍCIAS/INTERNACIONAL
UOL/NOTÍCIAS/INTERNACIONAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário