domingo, 11 de abril de 2010

PSDB e PT mapeiam fraquezas de adversário

Menos de duas semanas depois de deixarem seus cargos - de ministra da Casa Civil e de governador de São Paulo -, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) e os respectivos partidos já começaram a mapear as fragilidades um do outro. O objetivo é transformá-las em ferramentas da campanha.

Os dois principais candidatos ao Planalto estão envolvidos em uma espécie de laboratório de testes para ver qual crítica funciona melhor e deve ser adotada para produzir maior efeito eleitoral.

Em 2006, o PT foi bem sucedido no segundo turno da campanha presidencial. Conseguiu imprimir nos tucanos e no seu candidato, Geraldo Alckmin, a marca de "privatistas". Apesar dos resultados positivos das privatizações - principalmente no setor de telecomunicações -, o carimbo aplicado por Lula e pelo PT passou a ideia de que os adversários queriam "desmontar o Estado". Chegaram a divulgar que o PSDB havia se preparado para vender a Petrobrás, Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

Na campanha, os tucanos não conseguiram desfazer essa imagem nem apresentaram discurso capaz de neutralizar a crítica. A candidatura de Alckmin desidratou tanto que ele teve no segundo turno menos votos do que no primeiro - 39,9 milhões contra 37,5 milhões de votos.

A reboque de Lula. Do lado do PSDB, o mapa recomenda que se explore a fragilidade da liderança de Dilma, exibindo-a como candidata dependente e sempre a reboque do presidente Lula.

Apesar do mensalão mineiro, envolvendo tucanos, e do mensalão do DEM do Distrito Federal, o PSDB avalia que petistas têm passivo crítico por causa dos escândalos dos sanguessugas e dos aloprados, além do próprio mensalão.

A meta é minar a imagem de ministra organizadora e boa gestora de projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criticado pela lentidão. Isso provaria que ela não dispõe da experiência administrativa necessária para comandar o País.

Do lado petista, os aliados de Dilma querem carimbar Serra como "anti- Lula". Ou seja, ressaltar que o grupo do ex-governador sempre foi contrário às medidas implantadas por Lula. Com isso, esperam neutralizar o discurso de Serra, apresentando-se como melhor opção para "dar continuidade" ao atual governo.

O PT não desistiu de comparar o governo Lula e o de Fernando Henrique Cardoso, para colar Serra na gestão do ex-presidente. Nessa linha, Dilma deu o tom da estratégia, comparando os rivais a "lobos em pele de cordeiros". "Sempre que discutimos propostas e apresentamos caminhos temos de apresentar também as diferenças. Estamos caracterizando o que é o nosso projeto e o que é o da oposição. Se não tem projetos, isso tem que ficar claro", disse a ministra durante sua passagem por Ouro Preto. Ela tratou como "lobos em pele de cordeiros" quem "criticava até ontem e hoje não critica mais."

Críticas à parte, o PT se preocupa com os erros de Dilma ao se movimentar sem companhia de Lula. Na tentativa de aproximação com o governador Antônio Anastasia, candidato do PSDB ao governo de Minas, irritou o aliado PMDB, que lançou Hélio Costa. E Minas, com mais de 14 milhões de eleitores, é considerado ponto estratégico demais na campanha para ser colocado em risco. Irritado, o senador chegou a dizer que poderia apoiar Serra.

Túmulo de Tancredo. A oposição ganhou munição extra para bombardear Dilma quando ela visitou o túmulo do presidente Tancredo Neves, durante sua visita a Minas. Para aliados de Serra, ela teria demonstrado mero oportunismo político, uma vez que o PT foi contra a eleição de Tancredo, em 1985, e expulsou os deputados que defenderam a candidatura. PSDB, DEM e PPS soltaram nota criticando o ato de Dilma.

Líder do PSDB na Câmara, o deputado João Almeida (BA) não perdeu a chance para tentar passar a imagem que Dilma precisa da carona de políticos carismáticos para crescer eleitoralmente. "A candidata carente de biografia já não se satisfaz mais com o uso do prestígio de Lula", disse. "Agora, avança na popularidade dos outros, até de quem já faleceu, como ao visitar o túmulo de Tancredo." Segundo ele, o povo mineiro "não entende tamanho cinismo de dona Dilma".

Marcelo de Moraes e Vera Rosa - O Estado de S.Paulo

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