sexta-feira, 23 de março de 2012

Dalai Lama dá conselhos a milionários infelizes




Segundo o Dalai Lama, Adam Smith não contou a história completa.

Com seu novo livro, "Beyond Religion" (Além da Religião, em tradução livre), o Dalai Lama quer que leitores pensem além do dinheiro e se concentrem em compaixão, perdão e amor. Na opinião de líder espiritual do Tibet, esses valores seculares, como ele os chama, não estão necessariamente ligados à religião, embora a fé possa aprimorar a prática desses princípios éticos.



"Qualquer princípio moral baseado em religião nunca pode ser universal", disse o Dalai Lama em uma entrevista ao The Wall Street Journal. "Então, o que é um princípio moral? Simplesmente manter um senso de preocupação com o bem-estar dos outros. Nós somos animais sociais. Se a sociedade, a humanidade é feliz eu também consigo obter o benefício máximo."

Perguntamos ao Dalai Lama suas opiniões específicas em relação a uma variedade de assuntos. Nesta edição, apresentamos seus pensamentos sobre dinheiro, economia e felicidade.

Na economia, a teoria da mão invisível de Adam Smith diz que, se nós agirmos em interesse próprio, beneficiaremos a sociedade. Isso pode funcionar economicamente?
Sim, um aspecto da economia pode ser que se você tiver sucesso econômico, pelo menos os seus vizinhos, seus amigos, beneficiam de alguma forma. Então, todos esses desenvolvimentos precisam começar por iniciativa individual. É verdade. Agora, se você olhar apenas economicamente, daí compaixão e coisas do tipo, são coisas mentais. Não há ligação direta. Mas dinheiro só traz conforto às nossas necessidade físicas. Uma boa casa, boa comida, boas roupas. Dinheiro nunca traz paz de espírito. Eu acredito que, através do dinheiro, você pode alcançar algum nível de satisfação. Mas esse, na verdade, é apenas um lado — não completo, holístico. Mais dinheiro, mais medo. 

Acredito que essas pessoas que, em suas comunidades são famílias comuns, conseguem manter relações humanas melhores com seus vizinhos. Se a família está ficando milionária, então outra família também vai tentar ficar. Então há inveja. Quando somos famílias comuns, talvez haja amizades humanas genuínas. Quando um tem mais dinheiro, mais poder, aí eu acho que as relações humanas genuínas se tornam mais distantes. Primeiramente, inveja, depois, desconfiança, competição. Isso vai desenvolvendo cada vez mais desconfiança. E, eventualmente, mesmo se a família se tornar milionária, as pessoas se tornam, no fundo, solitárias. 

Qual é o seu conselho para os milionários que são poderosos, mas, talvez, infelizes?
Acho que alguns dos meus amigos são, pelo menos, milionários. Muito ricos; têm ótima reputação. São como grandes presidentes de universidades. Mas como pessoas, são infelizes. Não por falta de dinheiro. Não por falta de fama. Não por falta de educação. Mas alguma coisa aqui [ele aponta para o coração], os faz infelizes. Eu acho que a educação ocidental, a forma como foi desenvolvida, é voltada para o desenvolvimento material. Obviamente, nós temos esse corpo e alma. Emoção. Em termos de felicidade, tristeza, medo, esses sentimentos, a experiência metal é mais desenvolvida do que a física. Uma pessoa muito rica tem todo conforto físico, mas quando há muita preocupação aqui [ele aponta para a cabeça], o conforto físico nunca supera a ansiedade ou a inquietação mental. Por outro lado: [se] mentalmente [você está] muito sereno, muito calmo, você pode até controlar algumas dores físicas. 
  
WSJ Americas

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