Segundo o Dalai Lama, Adam Smith não contou a história completa.
Com seu novo livro, "Beyond Religion" (Além da Religião, em tradução
livre), o Dalai Lama quer que leitores pensem além do dinheiro e se
concentrem em compaixão, perdão e amor. Na opinião de líder espiritual
do Tibet, esses valores seculares, como ele os chama, não estão
necessariamente ligados à religião, embora a fé possa aprimorar a
prática desses princípios éticos.
"Qualquer princípio moral baseado em religião nunca pode ser universal", disse o Dalai Lama em uma entrevista ao The Wall Street Journal. "Então, o que é um princípio moral? Simplesmente manter um senso de preocupação com o bem-estar dos outros. Nós somos animais sociais. Se a sociedade, a humanidade é feliz eu também consigo obter o benefício máximo."
Perguntamos ao Dalai Lama suas opiniões específicas em relação a uma variedade de assuntos. Nesta edição, apresentamos seus pensamentos sobre dinheiro, economia e felicidade.
Na economia, a teoria da mão invisível de Adam
Smith diz que, se nós agirmos em interesse próprio, beneficiaremos a
sociedade. Isso pode funcionar economicamente?
Sim, um aspecto da economia pode ser que se você tiver sucesso
econômico, pelo menos os seus vizinhos, seus amigos, beneficiam de
alguma forma. Então, todos esses desenvolvimentos precisam começar por
iniciativa individual. É verdade. Agora, se você olhar apenas
economicamente, daí compaixão e coisas do tipo, são coisas mentais. Não
há ligação direta. Mas dinheiro só traz conforto às nossas necessidade
físicas. Uma boa casa, boa comida, boas roupas. Dinheiro nunca traz paz
de espírito. Eu acredito que, através do dinheiro, você pode alcançar
algum nível de satisfação. Mas esse, na verdade, é apenas um lado — não
completo, holístico. Mais dinheiro, mais medo.
Acredito que essas pessoas que, em suas comunidades são famílias
comuns, conseguem manter relações humanas melhores com seus vizinhos. Se
a família está ficando milionária, então outra família também vai
tentar ficar. Então há inveja. Quando somos famílias comuns, talvez haja
amizades humanas genuínas. Quando um tem mais dinheiro, mais poder, aí
eu acho que as relações humanas genuínas se tornam mais distantes.
Primeiramente, inveja, depois, desconfiança, competição. Isso vai
desenvolvendo cada vez mais desconfiança. E, eventualmente, mesmo se a
família se tornar milionária, as pessoas se tornam, no fundo,
solitárias.
Qual é o seu conselho para os milionários que são poderosos, mas, talvez, infelizes?
Acho que alguns dos meus amigos são, pelo menos, milionários. Muito
ricos; têm ótima reputação. São como grandes presidentes de
universidades. Mas como pessoas, são infelizes. Não por falta de
dinheiro. Não por falta de fama. Não por falta de educação. Mas alguma
coisa aqui [ele aponta para o coração], os faz infelizes. Eu acho que a
educação ocidental, a forma como foi desenvolvida, é voltada para o
desenvolvimento material. Obviamente, nós temos esse corpo e alma.
Emoção. Em termos de felicidade, tristeza, medo, esses sentimentos, a
experiência metal é mais desenvolvida do que a física. Uma pessoa muito
rica tem todo conforto físico, mas quando há muita preocupação aqui [ele
aponta para a cabeça], o conforto físico nunca supera a ansiedade ou a
inquietação mental. Por outro lado: [se] mentalmente [você está] muito
sereno, muito calmo, você pode até controlar algumas dores físicas.
WSJ Americas
Por BARBARA CHAI
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