domingo, 21 de novembro de 2010

‘Não me arrependo de nada’ . Pinochet também não se arrependeu de nada


 O economista Antônio Delfim Netto tinha 42 anos e já era ministro da Fazenda do governo Emílio Garrastazu Médici quando o general decidiu construir a rodovia Transamazônica. Ele foi o “cérebro” que conseguiu rearranjar o orçamento para conseguir o dinheiro que Médici queria. Aos 82 anos, ele admite que não houve o planejamento necessário para a obra e que o projeto de colonização da Amazônia foi conduzido com erros, mas se defende dizendo que a obra foi feita em caráter emergencial para acudir as vítimas da seca do Nordeste. De seu escritório em São Paulo, Delfim Netto concedeu esta entrevista.




Como é que o governo decidiu construir a Transamazônica?


 Foi decidido num vôo. Era uma época em que tinha uma seca pavorosa no Nordeste e o presidente Médici (general Emílio Garrastazú Médici) chegou naquela região nesse momento mais grave da seca e ficou muito preocupado. Tinha umas frentes de trabalho lá, mas as pessoas estavam morrendo de fome. A ideia foi: será que não era possível abrir um espaço onde a seca não fosse tão dura? Foi aí que surgiu a ideia da Transamazônica.


Há muitas críticas sobre a maneira como os projetos de colonização foram conduzidos e sobre o sonho de transformar a Amazônia num ‘celeiro agrícola’. Como o senhor avalia essas críticas?


Era uma aventura e a gente não conhecia aquilo direito. Era uma medida de emergência. A obra nunca terminou de fato. O processo de colonização não foi aquele que deveria ter sido feito pelo desconhecimento do terreno, mas é evidente que se poderia ter mudado o rumo do processo. Era possível fazer um foguete espacial e chegar à Lua que o nosso retorno junto aos críticos seria melhor. O povo estava passando fome. Não podíamos dar trela para a oposição. Eles diziam que a rodovia ligava nada a coisa nenhuma.


E por que a Transamazônica deixou de ser prioridade no governo?


Na verdade, o que aconteceu foi que com a crise de 1979, quando preço do petróleo subiu dramaticamente, o governo começou a se endividar. Até 1974, por exemplo, nossa situação fiscal era ótima. Isso coincidiu com o fim dos créditos externos. Tivemos que fazer um ajuste fiscal terrível. A Transamazônica, por exemplo, foi feita com recursos próprios. A gente não tinha déficit nenhum.


Mas o senhor não acha que um investimento deste porte deveria ter sido feito com mais cuidado?


Não faltou planejamento? Fala-se em US$ 1 bilhão de dólares em gastos...


Não sei de onde saiu esse valor. Nós não tinhamos nenhuma experiência na ocupação da Amazônia, mas isso era uma falha que poderia ter sido corrigida. O problema é que a estrada deixou de ser prioridade para os governos militares e para os civis que os sucederam. Havia problemas, sim, mas se preferiu abandonar o projeto a corrigí-lo.


Na sua avaliação, valeu a pena construir a Transamazônica?


Acho que sim. Na verdade, ela produziu uma alternativa para aquela gente que foi a ocupação da Amazônia. Foi uma obra de emergência num instante em que o Brasil estava vivendo uma crise de seca dramática. Hoje, quando você olha para trás, você pensa que é claro que tudo poderia ter sido feito melhor se tivéssemos o conhecimento da Amazônia que temos hoje. O problema é que a crítica sempre se faz depois que a coisa aconteceu. A verdade é a seguinte: quem não começa não termina.


Em relação à Transamazônica, o senhor não sente algum tipo de arrependimento?


Eu sinto que cumpri minha missão e não tenho nenhuma dificuldade em defender aquilo que foi feito. Não me arrependo de nada.


O senhor é a favor da abertura de novas estradas na Amazônia?


Claro que sou. Hoje temos mecanismos de defender a Amazônia e usar seus recursos naturais minimizando os prejuízos ambientais. Essa ideia de que temos de construir um santuário, um museu antropológico, não pode ser encarada como uma verdade. Principalmente porque hoje encontramos formas e mecanismos muito eficientes para proteger o meio ambiente.


Entrevista completa
 
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