segunda-feira, 14 de maio de 2012

Morar em vários países ajuda a ser promovido. No Brasil não é regra.

Se você crê que um período de trabalho no exterior pode lhe garantir um cargo mais elevado, comece a arrumar as malas.

Agora que o processo de levar um produto ao mercado envolve uma rede cada vez mais mundial de comercialização, gerentes que disputam cargos executivos devem estar dispostos a trabalhar no exterior por vários períodos. Esses profissionais com experiência em dois ou três países estão em alta demanda, pois o tempo passado no exterior amplia sua capacidade de administrar operações complexas e interligadas — habilidades que não podem ser desenvolvidas na sede da empresa ou num período breve no exterior, dizem recrutadores e gerentes de recursos humanos.

"Não há nada como estar no próprio local para ver a realidade de como o negócio realmente funciona", diz Tom Kolder, presidente da firma de recrutamento de executivos Crist|Kolder. "Temos visto isso passar de 'seria uma vantagem' para 'é essencial'".

No passado, enviar um executivo para o estrangeiro sinalizava que ele não era mais vital para as operações do dia-a-dia, diz James Hertlein, diretor administrativo da Boyden, firma de recrutamento de executivos. Agora, sete em cada dez clientes pedem experiência internacional ao procurar executivos de alto escalão ou membros do conselho; e, desses sete, cerca de metade começou recentemente a exigir vários anos de experiência em diversos países, estima Hertlein.

À frente dessa mudança estão os diretores-presidentes que desejam ter uma equipe na sede com experiência prática em administração em quase qualquer parte do mundo, desde encontrar parceiros locais até prever as preferências dos clientes.

À medida que a Xerox Corp. transferia suas divisões de design, fabricação e fornecimento para parceiros no exterior, os empregados com experiência em várias regiões do mundo tornaram-se os mais adequados para administrar essas parcerias — por exemplo, supervisionando um produto desde os estágios iniciais de fabricação na China até o lançamento para clientes de varejo no Brasil, diz Tom Maddison, diretor de recursos humanos da Xerox.

"Agora já não tem mais valor estar em Nova York gerenciando operações no exterior", diz ele.

Assim, quando a empresa precisou de um novo diretor financeiro, pediu aos recrutadores que encontrassem candidatos com "ampla experiência mundial no setor". Tradução: quando se trata de períodos de trabalho no exterior, "quanto mais, melhor", diz Maddison.

A equipe que buscava um diretor financeiro encontrou o executivo Luca Maestri, italiano de nascimento que já morou em mais de seis de países — inclusive Brasil, Irlanda e Tailândia — a serviço da General Motors Co. e da Nokia Siemens Networks. A Xerox nomeou Maestri seu diretor financeiro no início de 2011.

Quando veteranos em trabalhos no exterior como Maestri estão na sala, as discussões na sede da empresa, no Estado americano de Connecticut, logo passam das grandes ideias para os detalhes específicos — por exemplo, como uma dada faixa demográfica se comporta na Índia, ou qual diretor-presidente brasileiro seria melhor chamar para um dado projeto, diz Maddison. E acrescenta que esses executivos não só sabem conduzir os negócios como também quem se deve contatar.

Ter experiência no local também pode reduzir o risco de uma empresa incorrer em problemas com subornos e pagamentos por baixo da mesa, que são "bastante comuns" em alguns países em desenvolvimento, observa Kolder. Por ter experiência no país, um executivo pode identificar onde essas armadilhas podem ocorrer, e garantir que haja controles em ação para evitá-las, diz ele.

Na Xerox, os executivos com experiência mundial trazem suas redes de contatos pessoais para a empresa. Mas o importante é ter acesso ao conhecimento que eles têm dos locais, e não usar a sua influência, ressalta Maddison. "A influência é uma ladeira escorregadia, e é preciso ter cuidado", diz ele.

A Idex Corp. também queria alguém com experiência internacional significativa quando substituiu um membro do conselho que se aposentou no ano passado. A fabricante americana de produtos industriais e de tecnologia escolheu Tony Satterthwaite, executivo da área de energia, que já havia passado quatro anos no Reino Unido e cinco anos em Cingapura chefiando a divisão de geração elétrica da Cummins Inc.

Embora os membros ativos do conselho tivessem alguma experiência internacional, Satterthwaite conhecia os "detalhes sinistros" da formação de canais de distribuição, navegação pelos processos regulatórios e compreensão do papel do governo, diz o diretor-presidente Andrew Silvernail.

Silvernail reconhece que essa nova exigência tem um custo pessoal alto para os executivos, que podem não se animar a mudar a família para o exterior duas vezes ou mais. Ele mesmo nunca morou no exterior, mas diz que teria feito isso se seus chefes tivessem pedido. Contudo, passar mais que cinco ou seis anos fora do país teria sido um sacrifício demasiado grande.

"Para mim, pessoalmente, seria muito difícil, porque tenho uma família muito unida", diz ele.

Alguns críticos dizem que contratar candidatos em função do seu currículo global traz nômades, e não líderes. O trabalho no estrangeiro recompensa o funcionário por retornos de curto prazo e não por resultados duradouros, diz Brian Kropp, diretor administrativo da Corporate Executive Board, empresa de pesquisa e consultoria. Em vez disso, ele recomenda mandar os executivos para outrospaíses em viagens longas, de até duas semanas a cada mês.

Na Xerox, onde oito de cada dez executivos do alto escalão são promovidos de dentro da empresa, as estrelas em ascensão fazem rotação em períodos no exterior de dois a quatro anos, de modo que precisam passar por esse "teste decisivo" informal bem antes de serem candidatos a cargos executivos, diz Maddison.

O atual presidente da divisão de tecnologia da Xerox, Armando Zagalo de Lima, é fruto dessa preparação. O executivo, português de nascimento, tem ocupado sucessivos cargos no exterior há 22 anos, com passagens pela Bélgica, Reino Unido e Espanha. Trabalhando agora na sede, em Connecticut, o executivo de 53 anos supervisiona mais de 160 países e é diretamente subordinado à diretora-presidente Ursula Burns.

Os anos de estrada o treinaram nos detalhes mais sutis dos negócios em vários mercados, mas ele diz que sua esposa e seus dois filhos sofreram com as constantes mudanças de país. Mesmo assim, ele diz que teria disposição para fazer tudo de novo.

"Posso me ver facilmente vivendo no Brasil. Posso me ver morando no México", diz ele. "Se isso acontecer, poderia ser emocionante."


Por LESLIE KWOH


WSJ Americas

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