segunda-feira, 18 de maio de 2015

Uma deputada radical assume o ministério da Justiça de Netanyahu


Gali Tibbon/AFP



Ayelet Shaked, considerada extremista pela esquerda israelense e pelos palestinos, ocupa a estratégica pasta

Benjamin Netanyahu tentou até o final, mas menos de duas horas antes de expirar o prazo para formar governo o primeiro-ministro israelense deu o braço a torcer há uma semana e aceitou designá-la ministra da Justiça. Ayelet Shaked, 39, encarna uma das arestas mais radicais no Executivo sustentado por partidos de direita e religiosos que na quinta-feira (14) à noite foi referendado pelo Parlamento, o Knesset. Shaked é a única deputada do partido nacionalista religioso Lar Judeu, defensor dos interesses dos mais de 500 mil colonos judeus assentados na Cisjordânia e o único membro do grupo parlamentar que não é judeu ortodoxo.

Sua figura de engenheira informática estabelecida em Tel Aviv, casada com um ex-piloto da força aérea e mãe de dois filhos, muito ativa nas redes sociais e nos debates na televisão, integra uma imagem política de modernidade a um discurso ultraconservador e contrário ao processo de paz, vivamente criticado pela esquerda israelense e os palestinos.

Mas até uma de suas maiores adversárias, a dirigente trabalhista Shelly Yachimocich, saiu em sua defesa diante dos comentários sexistas que surgiram depois de sua nomeação.

Por exemplo, o ex-ministro conservador Yosef Parirtzky escreveu em sua página no Facebook: "Pela primeira vez em Israel um titular da pasta da Justiça pode figurar nos calendários colocados nas oficinas de automóveis". "Não compartilho sua ideologia, e provavelmente a confrontarei, mas o surto de machismo registrado contra ela me revira o estômago", afirmou a antiga chefe de fileiras da centro-esquerda israelense.

Mães dos mártires

Ayelet Shaked não deixa a opinião pública indiferente, inclusive líderes internacionais. O então primeiro-ministro e hoje presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, comparou-a a Adolf Hitler no último verão, pouco antes de eclodir a guerra em Gaza.

A deputada do Lar Judeu havia acabado de publicar no Facebook um artigo de um dirigente dos colonos com frases como esta: "As mães dos mártires [combatentes inimigos], que os enviam ao inferno com flores e beijos, devem seguir os passos de seus filhos". A divulgação da mensagem tinha sido ampliada pela mídia árabe no dia seguinte à colocação do texto no Facebook, quando um adolescente palestino foi queimado vivo por judeus radicais em represália ao sequestro e assassinato de três garotos judeus na Cisjordânia.

A nova titular da Justiça chegará hoje ao gabinete oficial acompanhada pelos escoltas que lhe atribuiu o Knesset, pois recebeu ameaças telefônicas e nas redes sociais, onde circula sua fotografia com uniforme nazista. Para os movimentos de esquerda, sua presença no ministério representa uma ameaça à independência do poder judicial.

Como deputada, defendeu na última legislatura uma lei para impedir que o Tribunal Supremo - considerado pelos analistas israelenses um contrapoder de linha liberal aos governos mais conservadores - possa continuar anulando leis votadas pelo Knesset. Yariv Oppenheimer, líder do movimento Paz Agora, define assim a chegada de Shaked à Justiça: "É como se uma divindade tivesse entrado no templo".

Líder do Likud assume Exterior

Depois de ter surpreendido nas urnas e contrariado as pesquisas em 17 de março, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se dispunha a iniciar agora seu quarto mandato de forma tranquila. O nascimento do novo gabinete ocorreu, entretanto, depois de um longo e acidentado parto. A saída do ultradireitista Avigdor Lieberman deixou o gabinete sem ministro das Relações Exteriores e com uma maioria reduzida a um só voto no Parlamento. Netanyahu assumirá pessoalmente por enquanto a direção da política externa israelense. Além de perder o apoio de Lieberman, o líder do Likud ficou à mercê de seu antigo aliado, o nacionalista e defensor dos colonos Neftali Bennet, que aproveitou sua posição privilegiada ao obter pastas de peso. Netanyahu teve de reformar a legislação para aumentar o número de ministérios e contentar os pesos-pesados de seu partido.



Juan Carlos Sanz

Em Jerusalém (Israel)

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