Azedaram-se as relações do PMDB com Dilma Rousseff.
A um mês da posse, o partido e a presidente eleita flertam com a primeira crise. Escolhido por Dilma para chefiar a Casa Civil, Antonio Palocci recebeu um aviso.
Pode
ser resumido assim: ou Dilma aperfeiçoa o método de escolha de
ministros ou fará do PMDB um partido em chamas. No centro encrenca, está
o vice-presidente eleito Michel Temer. Marginalizado, ele começa a
perder o controle de sua legenda.
O
tempo fechou depois que Sérgio Cabral (PMDB) anunciou, no Rio, uma
novidade que acertara na véspera. Num encontro noturno com Dilma, o
governador fluminense emplacara como ministro da Saúde um de seus
secretários: Sérgio Cortês.
Na
manhã desta terça (30), Temer foi recebido por Dilma e Palocci, na
Granja do Torto. Nada lhe foi dito sobre o preenchimento da Saúde. A
notícia lhe chegou como ao resto dos mortais: pelo noticiário da
internet.
Desmerecido
no seu papel de negociador-geral das nomeações do PMDB, Temer viu-se
compelido a desperdiçar sua terça-feira entre telefonemas e reuniões.
Compartilhou apreensões com a caciquia de seu partido.
Ex-detentor
de seis ministérios, o PMDB é espremido por Dilma em quatro pstas
(Agricultura, Minas e Energia, Cidades e Previdência). Mais duas
cadeiras cujos detentores não avaliza (Defesa e Saúde).
Participaram
das conversas com Temer, entre outros: José Sarney, Geddel Vieira Lima,
Henrique Eduardo Alves e Wellington Moreira Franco. Os diálogos
entraram pela noite, num jantar servido na mesa de um restaurante da
Capital.
Terminado
o repasto, o repórter ouviu um dos grão-pemedebês que frequentaram
todas as reuniões. Ele fez um resumo das inquietações da legenda.
Empilhou as frases que recolheu durante o dia. Comentários azedos.
Vão reproduzidos abaixo, sem a identificação dos autores. As aspas respeitam rigorosamente o relato feito ao blog pelo interlocutor de Temer:
1.
“O PMDB inteiro colocou o Michel como depositário das negociações. De
repente, vem o Sérgio Cabral, que ocupou o morro do Alemão, e acha que
pode ocupar tudo”.
2.
“Sem conversar com o vice-presidente, o Sérgio Cabral nomeia um
ministro. Foi o primeiro ministro que teve a nomeação feita fora do
grupo de transição”.
3. “O Michel e nós todos soubemos da notícia pelos blogs, na internet. O problema é mais de método do que de mérito”.
4.
“A ambição do Lula é que o José Alencar desça a rampa do Planalto com
ele. O PMDB quer saber se a Dilma deseja que o Temer suba a rampa com
ela”.
5.
“Do modo como a Dilma trata o Temer, fica claro que o papel do
vice-presidente no governo dela será o de alimentar as emas do Palácio
do Jaburu”.
6.
“Além repetir a barriga de aluguel que o Lula impôs ao PMDB ao nomear o
[José Gomes] Temporão para a Saúde, o Sérgio Cabral quer vetar o
[Wellington] Moreira Franco [candidato de Temer à pasta das Cidades]”.
7.
“Ora, o Michel, sendo vice, não consegue nomear um ministro. O Lula,
pra agradar o Zé Alencar, criou um ministério extraordinário pro
Mangabeira Unger, que tinha chamado o governo dele de o mais corrupto da
história. Política é feita de gestos”.
8.
“Dizem que o PMDB tem a goela larga. Temos o vice, 79 deputados, 21
senadores. E o PT vai ficar com 18 ministérios. Nós é que somos os
fisiológicos?”
9.
“Querem dar a Integração Nacional pro PSB do Eduardo Campos [governador
de Pernambuco], tratado como o administrador do século. E ninguém nos
informa: ‘Olha, vocês vão perder a Integração’.”
10.
“Os jornais informam que o PMDB vai perder as Comunicações. A conversa é
de que precisa moralizar os Correios. Os técnicos do PMDB não prestam. E
quem garante que, com o Paulo Bernardo, o PT não vai entregar os
Correios a uma Erenice Guerra?”
11.
“A Dilma diz: ‘eu quero o [Nelson] Jobim na Defesa. De novo, repetição
da barriga de aluguel. Tira todos os cargos do ministério do Jobim
[Infraero e Anac]. E nós temos que engolir?”
12.
“Pra nós, dizem que os que perderam a eleição não podem chegar ao
primeiro escalão. O Fernando Pimentel, que perdeu em Minas, vira
ministro. Pra eles, do PT, tudo. Pra nós nada”.
13.
“O PMDB, calado, sem fazer barulho, é chamado de fisiológico nos
jornais. Se é isso o que a Dilma quer, então ela que peça ao Sérgio
Cabral e ao Jobim pra garantir as votações na Câmara. Eles que se fodam
para arranjar os votos”.
14.
“A conversa da Dilma com o Michel não foi boa. Parece que querem
entubar o PMDB. O mal-estar está instalado. E começa a dividir um
partido que tinha chegado à união. Se continuar assim, vai dar merda”.
15.
“A Dilma está entregue ao Lula. Normal. Ninguém tá querendo que seja
diferente. Ela pergunta: ‘Queriam que eu conversasse com o DEM?’ Claro
que não. Mas com o PMDB não pode deixar de conversar”.
16.
“O PMDB fixou as bases: queremos manter o que temos. Resta à Dilma
dizer o que que deseja: ‘vem cá, o governo mudou, não dá pra ser isso.
Quero a sua compreensão. Tem aqui o Jobim e o sujeito do Cabral, dá pra
aceitar? Não tem a Integração e as Comnicações. Mas tem isso e aquilo
outro. Concordam?”.
17.
“No regime presidencialista, a participação no ministério tem um único
objetivo: garantir apoio congressual. Do jeito que está, quem vai
garantir, o Sérgio Cabral?”
18.
“Estão desmoralizando o Temer. O Palocci foi informado das coisas. Cabe
a eles decidir como querem jogar. Alguma coisa precisa acontecer. Como
está, não acaba bem. O PMDB não é barriga de aluguel”.
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