Incerteza é a palavra que melhor define o momento atual da economia no Pará. O fundo do poço dos efeitos da crise mundial sobre o estado pode ainda não ter chegado. Confrontados com indicadores que, em alguns setores sinalizam recuperação, enquanto em outros apontam para o agravamento da turbulência, os economistas preferem nesse momento trabalhar com cenários sem se aprofundar muito em prognósticos.
Os impactos da crise econômica no Pará foram debatidos ontem, durante evento promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), em Belém. O encontro serviu, também, para apresentar as análises conjunturais que o Idesp vem fazendo da economia estadual desde o ano passado - estimando os efeitos das dificuldades financeiras que poderão ocorrer durante este ano, a partir dos resultados obtidos no último trimestre de 2008.
O cenário mais provável, na opinião do economista Danilo Fernandes, é o de uma recessão mundial que durará pelo menos dois anos antes que a recuperação comece de fato. 'Esse é, na verdade, o cenário considerado hoje o mais real entre os economistas', explicou. Ainda segundo Fernandes, os estados brasileiros sofrerão os impactos de forma diferente. 'Alguns fatores vão determinar o grau de impacto sobre a economia dos estados e municípios', afirmou. Entre os fatores estão o grau de dependência dos estados e municípios das transferências dos fundos de participação, a importância das operações de comércio exterior na economia local e o tamanho das despesas públicas. Fernandes disse que já um consenso em relação à queda no comércio exterior. 'A crise marcará o fim dos grandes saldos comerciais', afirmou.
Com uma economia exportadora forte, municípios em grande parte dependentes do FPM e com o próprio governo estadual relativamente dependente dos recursos do FPE e em plena curva de crescimento das despesas com custeio, o Pará é um sério concorrente ao ranking das unidades da federação onde a crise será mais prolongada.
Para Cassiano Ribeiro, diretor estadual socioeconômico do Idesp, a discussão abriu a oportunidade de sugerir ideias que podem aliviar os efeitos da crise financeira. 'Um dos pontos mais importantes para o Estado neste momento é a questão do desemprego. O saldo dos postos de trabalho caiu bastante desde outubro do ano passado. Além disso, houve redução no rítimo industrial e consequentemente na movimentação do comércio - e isso precisa ser discutido', revela. 'Se existia uma perspectiva de um amplo crescimento, a partir de indicadores como estes, o Estado passou a rever esta trajetória. O estudo agora vai focar na questão de como o Pará está sendo afetado, e quais os reflexos disso ao longo deste ano', afirma.
A avaliação do diretor do Idesp para a permanência da crise financeira na economia paraense considera dois cenários. 'Primeiramente, levando em conta o comportamento do quadro mundial, a crise ainda pode se agravar, principalmente porque, tanto Europa como Estados Unidos continuam tendo empresas fechando e bancos falindo. Desta forma ainda não chegamos ao fundo do poço. Contudo, em uma avaliação secundária, se balisarmos nossas análises somente na economia brasileira, conseguimos perceber que o governo federal está conseguindo reverter os prejuízos da crise, com a manutenção da produção industrial e com a venda de veículos. Isso não quer dizer que não temos problemas, e o desemprego torna isso claro, porém o esforço do governo é facilmente reconhecido', revela.
Para a pesquisadora do Idesp, Lívia Cavalcante, o Pará vem seguindo uma tendência nacional de queda em alguns indicadores, principalmente no caso dos empregos, do comércio e da balança comercial. A produção industrial, que é um dos braços fortes do PIB paraense, também se rendeu à tendência nacional de retração, segundo avalia Lívia. 'O que segurou os números da exportação foram a insdústria da transformação e a metalurgia básica, que emboram também tenham caído, não deram prejuízos', afirma. Lívia ressalta que o IPC (Índice de Preço ao Consumidor do Pará) já mostra em seu desempenho reflexos da deflação no setor de alimentos - o que demonstra a estagnação do consumo.
O Liberal
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