RBRASÍLIA - Quando cheguei a Nova York em 1988 e passava 90% do
meu tempo fazendo a cobertura jornalística da crise da dívida externa
para a Folha, logo conclui que o
Brasil é o país do curto prazo. Sofre
com uma incapacidade atávica de
planejar seu futuro.
Naquela época, faltava dinheiro
para os compromissos internacionais de curto prazo -o que vencia
em até 12 meses. Vivia-se em "moratória branca". Um "calote cordial",
diria Sérgio Buarque de Holanda. O governo Sarney não admitia a
moratória. Simplesmente não
pagava. E seguia enrolando.
Hoje existe um cenário oposto,
mas a maldição do curto prazo permanece. Embora o Brasil já não tenha o menor problema com seus
débitos a vencer nos próximos 12
meses, ninguém tampouco tem a
mais remota ideia de como estará o
país em 5 anos, no médio prazo, ou
em 20 anos, no longo prazo.
Há sinais amarelos na economia.
Até biquínis são importados da China. Em 2010, o Brasil teve um deficit
de US$ 33,5 bilhões na sua balança
comercial de produtos manufaturados. Neste ano, o buraco deve passar de US$ 50 bilhões.
Os pobres, a classe média e os ricos podem adorar comprar tudo a
preço de banana. Mas quem pensa
alguns segundos perceberá o alto
grau de insustentabilidade do modelo baseado em exportar matéria-prima e trazer produtos industrializados do exterior.
Não é uma questão de se, e, sim,
de quando e de como essa farra acabará. A presidente Dilma Rousseff
entra agora no seu 8º mês de mandato. Ainda não tomou grandes
medidas para corrigir os principais
gargalos da economia. A nova política industrial a ser lançada na
quarta-feira não ficou pronta. Todos parecem esperar o desfecho da
crise da dívida nos EUA para só então pensar no curto prazo.
Esse é o desafio de Dilma: romper essa lógica que impede os brasileiros de terem um pouco mais de
certeza sobre o futuro.
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