SÃO PAULO - Lula acomoda, Dilma confronta; Lula contemporiza,
Dilma peita; Lula negocia, Dilma
perde ou ganha. A diferença na maneira de atuar entre um e outro já
foi bastante comentada.
Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp, batizou esse novo estilo de "política da queda de
braço". O artigo que publicou no
jornal "O Estado de S. Paulo" avança em relação ao que tem sido dito.
Dilma, ele escreve, "mobiliza e
canaliza a seu favor a legítima ojeriza da sociedade à desfaçatez do sistema político. Como se ela própria
não estivesse metida até o pescoço
nesse mesmo sistema político que
combate de dentro. Com isso, projeta a imagem de uma presidente que
não se mistura à baixaria, que se
mantém a salvo da contaminação".
Segundo essa lógica da "antinegociação", eventuais derrotas se
transformam em "vitórias morais"
da presidente. Mas se os políticos e
a política são colocados, em bloco,
no papel de vilões, o feitiço pode se
voltar contra a feiticeira.
Tome-se o que disse nesta semana Paulinho, da Força Sindical: "Se
esse tratamento valer para toda crise, teremos que tratar Dilma dessa
mesma forma quando houver uma
denúncia que envolva a presidente". O notório deputado é do PDT,
mas tomou as dores do PR -ou dos
"vilões" vistos em conjunto. Em geral, esse tipo de chantagem se esgota
por aí, mas já é um sintoma, como diz Nobre, "do clima de permanente
tensão produzido pelo modus operandi da presidente".
Dilma procura moralizar, ou reduzir o grau de bandalheira nos
Transportes, o que ninguém de
boa-fé ousaria dizer que é inócuo.
Mas sua ação saneadora não altera a estrutura fundamental da política brasileira, da qual ela é refém
no atacado, ainda que a combata
no varejo. O PT nasceu há mais de
30 anos com a veleidade de enfrentar essa velha política, de que é hoje
o maior fiador. Dilma se vê novamente no papel de guerrilheira.
Mas o inimigo desta batalha perdida agora são os seus aliados.
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