sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Saúde - Pesquisadores espanhóis revelam por que fumar maconha altera a memória


Mónica L. Ferrado
Em Barcelona (Espanha)

(Se for consumida habitualmente, a maconha causa amnésia, que persiste inclusive quando não se está sob o efeito da droga, atesta o estudo espanhol)

Desde o primeiro cigarro, a maconha altera a memória. Se for consumida habitualmente, a amnésia se intensifica e persiste inclusive quando não se está sob o efeito da droga. Um grupo de pesquisadores da Universidade Pompeu Fabra (UPF) de Barcelona conseguiu determinar em que lugar do cérebro se desencadeia o transtorno e como os neurônios se alteram para que não possam lembrar, segundo publica hoje a revista "Nature Neuroscience"

O consumo de Cannabis afeta o hipocampo, uma região do cérebro onde se encontram circuitos neurais necessários para realizar uma série de tarefas cognitivas relacionadas com a memória. "A cannabis atua sobre pequenos neurônios do hipocampo, os interneurônios, que intervêm na atividade dos neurônios que se encarregam de recordar", explica Rafael Maldonado, pesquisador da Unidade de Neurofarmacologia da UPF.

De fato, os interneurônios são o primeiro elo do circuito neural da recordação. "Eles se encarregam de enviar o neurotransmissor GABA, que funciona como inibidor de sinais, e essa inibição é necessária para que a memória funcione", explica Maldonado. No cérebro que não consome maconha esse neurotransmissor se encontra em equilíbrio com outro, o glutamato, que é um ativador. Assim, o processo de esquecer e lembrar ocorre de forma eficiente.

No entanto, quando se consome maconha, a atividade de GABA acaba sendo menor que a do glutamato. "Rompe-se o equilíbrio. Com isso se altera a via de sinalização que controla a síntese de proteínas que ocorre nos neurônios. Estes, como último elo, são os que se encarregam de lembrar", explica Maldonado.

"Quando se fuma muito, alteramos essa síntese de proteínas a ponto de acreditarmos que essas mudanças acabam sendo de longa duração", afirma o pesquisador.

As mudanças são irreversíveis? As próximas pesquisas da equipe serão dedicadas a responder a essa pergunta. "Ainda não temos informação para pensar que sejam irreversíveis, mas sabemos que mesmo que se deixe de fumar Cannabis é necessário um longo período de tempo para que esse circuito se recupere", afirma.

Maldonado acredita que a pesquisa também abre a possibilidade de melhorar a maconha para uso terapêutico. "Pode-se aperfeiçoar a síntese de novas moléculas ou desenhar moléculas para contrabalançar esse efeito adverso", afirma.

Leia na íntegra no UOL Notícias e no El País Aqui

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