A oposição conseguiu driblar o governo e aprovou, após duas semanas de
tentativas, um requerimento convocando o ministro Antonio Palocci Filho
(Casa Civil) para depor sobre seu enriquecimento como consultor.
A aprovação ocorreu na manhã desta quarta-feira na Comissão de
Agricultura da Câmara dos Deputados, quando os governistas estavam
concentrados em outras comissões da Casa. O governo agora corre para
tentar convencer o presidente da comissão, Lira Maia (DEM-PA), a
reverter a decisão ou transformá-la em convite --para o qual não é
obrigatória a presença.
A reunião da comissão foi suspensa até as 13 horas e, neste momento,
líderes da base e da oposição estão trancados tentando chegar a um
acordo. " O entendimento do DEM é que a matéria está vencida, agora
respeitamos a autonomia do presidente da comissão", disse o líder do
DEM, ACM Neto (BA).
A convocação ocorre na véspera de a Procuradoria Geral da República se pronunciar sobre as explicações enviadas por Palocci.
A base já informou que apresentará uma questão de ordem ao presidente da
Câmara, Marco Maia (PT- RS), questionando o método de votação feito por
Lira Maia. Eles querem que a votação seja refeita. Apesar de o
presidente ser do Dem, a maioria dos deputados na Comissão de
Agricultura é da base.
No dia 15 passado, a Folha
revelou que o ministro tinha comprado um apartamento de R$ 6,6 milhões,
numa evolução patrimonial declarada de 20 vezes desde 2006. O governo
entrou em crise política e paralisia, já que Palocci é o seu ministro
mais forte.
Ele justificou a evolução por seu trabalho de consultoria. A Folha
então revelou que, só no ano passado, ele ganhou R$ 20 milhões com os
trabalhos para clientes que não revelou. Metade disso foi ganha quando
Palocci coordenava o grupo de transição do governo e tinha acesso a
dados sigilosos.
PATRIMÔNIO
Entre 2006 e 2010, o patrimônio de Palocci passou de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões.
Depois disso, a liderança do PSDB na Câmara levantou suspeitas de que
pagamentos feitos pela Receita Federal à incorporadora WTorre, no valor
de R$ 9,2 milhões, durante as eleições do ano passado, estejam
relacionados ao trabalho de Palocci, e a doações para a campanha
presidencial de Dilma Rousseff.
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) apresentou
à imprensa registros públicos do Siafi (o sistema de acompanhamento de
gastos da União) e da Receita Federal que indicariam uma relação entre
pagamentos feitos pela Receita à WTorre Properties, um braço do grupo
WTorre, e o trabalho do ministro na incorporadora.
No dia 24 de agosto, a WTorre protocolou na Receita um pedido de
restituição de Imposto de Renda de pessoa jurídica relativo ao ano de
2008. Na mesma data, a incorporadora fez uma doação de R$ 1 milhão para a
campanha presidencial de Dilma --outra parcela de R$ 1 milhão foi
depositada à campanha no mês de setembro.
A restituição da Receita ocorreu apenas 44 dias depois do protocolo, no
valor de R$ 6,25 milhões. Segundo Francischini, o prazo da devolução é
recorde.
Segundo reportagem da Folha, a WTorre
foi uma das clientes da empresa do ministro, a Projeto Consultoria
Financeira, que teve um faturamento de R$ 20 milhões somente no ano
passado.
FUNDAÇÃO
De acordo com levantamento feito pelo PPS na Câmara dos Deputados, a
Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto, entidade que tem como
vice-presidente uma cunhada de Palocci, recebeu, entre 2008 e 2010, R$ 1
milhão do governo federal.
O PPS anunciou ontem que vai pedir cópia de toda a documentação dos
convênios firmados entre os ministérios do Turismo e da Cultura e a
Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto.
A entidade tem como vice-presidente Heliana da Silva Palocci. Ela é mulher de um irmão de Palocci.
Do total repassado, R$ 550 mil vieram de convênios cujos recursos foram
garantidos por meio de duas emendas apresentadas pelo então deputado
federal Antonio Palocci em 2008 e 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário