Lista de compras verde: consumidor quer, mas o preço...
Encher o carrinho só com produtos que não agridem o meio ambiente pode sair até 184% mais caro. Mesmo assim, uma pesquisa mostra que 73% dos brasileiros pretendem gastar até 37% mais em produtos com selo ambiental
As prateleiras dos principais supermercados da capital paulista já contam com áreas exclusivas para os produtos denominados verdes - fabricados com menor impacto ambiental e ligados a causas sociais. Apesar da oferta, o preço ainda é um fator que inibe o aumento no número de consumidores ecologicamente corretos.
O Jornal da Tarde pesquisou os preços de duas listas de compras, uma com produtos convencionais e outra com os que ostentam algum tipo de selo ambiental, e constatou que os“verdes”, em sua maioria, custam mais caro. No Pão de Açúcar de Perdizes, na zona oeste, a diferença chega a 184,14%, enquanto no Carrefour do Jardim Paulista, ela é de 170,99%.
Um detergente biodegradável, por exemplo, pode custar até seis vezes mais do que seus similares convencionais. O arroz branco orgânico custa até o triplo do líder do mercado. O preço alto ainda afasta o consumidor, mas pesquisa realizada em sete países mostrou que 73% dos brasileiros pretendem, em 2010, gastar até 37% a mais com produtos que tenham selo ambiental. O estudo foi conduzido pela Penn, Schoen & Berland Associates (PSB), com participação das agências WPP Landor Associates e Cohn & Wolfe, representada no Brasil pela Gaspar & Associados.
Na prática, no entanto, a realidade é um pouco diferente. Os números, afirma Heloísa Picos, vice-presidente da Gaspar Associados, sinalizam que o consumidor brasileiro está atento às questões ambientais, mas os preços ainda os afastam das prateleiras verdes.
Segundo Luciana Betiol, coordenadora do programa de consumo sustentável da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os artigos verdes são mais caros porque as despesas com sua produção são maiores. Os produtores, diz ela, arcam com as “externalidades negativas” dessas mercadorias. Ou seja, por não trabalharem com quantidades no mesmo patamar dos produtores convencionais, não há como baixar custos, que são repassados ao preço final.
Como exemplo, Luciana cita os alimentos orgânicos, que não usam agrotóxico, o que diminui a escala de produção e, consequentemente, eleva o preço final do produto. Os agrotóxicos são prejudiciais para quem os manuseia, para o solo e para os lençóis freáticos, que são contaminados quando há a rega das plantas e hortaliças, e para o consumidor, que ingere produtos expostos a substâncias químicas.
Os agrotóxicos, aliás, são a principal preocupação do administrador de empresas Roberto Guimarães Freitas de Andrade, 32, que sempre compra frutas e verduras orgânicas. Para ele, o custo compensa na medida em que há a garantia de estar consumindo um produto saudável. “Isso irá se reverter em um grande benefício para minha saúde quando eu estiver com 70 anos”, justifica.
Andrade lembra ainda que a expansão no consumo de produtos verdes favorece a agricultura familiar, constituída por pequenos e médios produtores rurais, além de melhorar a distribuição de renda. “Os orgânicos têm mais sabor e não têm pesticidas”, diz Andrade, que faz parte do Slow Food, movimento internacional de oposição ao fast food, ao ritmo frenético da vida atual e à comida industrializada.
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