Extraido de debates na internet sobre a construção do Belo Monte. Incluindo uma entrevista com Gilberto Carvalho, Ministro chefe da Secretaria Geral do Governo.
A construção da usina do Belo Monte é um caso particular
e não geral do mito da separação total entre economia e meio ambiente. É também um exemplo claro de como endereçam
de forma errada o problema, inclusive os agora tardios defensores de energia
nuclear com quem não podemos discutir, pois são especialistas com PhD em
engenharia de energia nuclear.
É pessoal, agora temos um grupo de
"iluminados", com "PhD em engenharia" (não dá para discutir
com eles), no ápice da sua arrogância cega, defendendo o uso de energia nuclear
como alternativa à queima direta de carvão e como se energia nuclear não
oxidasse absolutamente nenhum átomo de carbono em etapas de processo, como
mineração, refino, enriquecimento, comissionamento e descomissionamento de
plantas. Uma afirmação verdadeira que
produz o mesmo resultado de antes: rota de colisão contra a Terra. Ou seja nada muda!
Não é de mais energia que precisamos, mas de menos. Não
existe falta de energia, mas excesso.
Não tem como não ter pressão ecossistêmica insustentável com qualquer
uma das opções escolhidas, sejam as mais controversas, como nuclear, ou as
menos compreendidas, como solar, eólica e biocombustíveis.
Para diminuir nossa necessidade de energia, temos que
cortar o desperdício incomensurável da mesma.
Basta abandonar o carro e comer menos carne e teremos um ganho singular,
mas não é só isso que pode ser feito.
Provavelmente os PhD em engenharia que defendem a energia nuclear na
carona do Monbiot devem fazer questão de ter um reator construído na esquina
das suas casas. Logo enviaremos um formulário de projeto de mudança para a
esquina de Angra dos Reis onde poderão provar na prática suas crenças cegas, porque
fácil é falar, o difícil é fazer. Vamos ver se fazem.
Segue artigo sobre medidas do governo em relação à Belo
Monte:
Belo Monte: governo vai instalar representação na região
Luciana Lima e Ivanir José Bortot, da Agência Brasil - O governo pretende instalar
uma representação próxima à região de construção da Usina Belo Monte para
mediar conflitos e não permitir que os impactos da obra no Rio Xingu (PA) gerem
problemas como os enfrentados recentemente nos canteiros do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio Madeira, em Rondônia. De acordo com o
ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, a
representação terá atendimento das várias pastas do governo envolvidas com a
construção da usina.
"Nossa ideia é ter lá um interposto do governo
federal fazendo um diálogo. Seria uma representação federal, uma espécie de
delegacia da presidência, coordenando toda intervenção federal na região e
intermediando a relação dos trabalhadores com as empresas, com o consórcio, com
o poder público local, com a sociedade local e assim por diante", disse
Carvalho, em entrevista à Agência Brasil.
Carvalho informou ainda que a presidenta Dilma Rousseff
convocará para a próxima semana uma reunião com todos os ministérios envolvidos
na construção da Usina Belo Monte, principalmente, as pastas que cuidem dos
problemas sociais e ambientais decorrentes da instalação da usina.
O ministro disse que Dilma quer fazer de Belo Monte o
"exemplo de bom funcionamento de uma intervenção federal". Segundo
ele, o governo entendeu que há a necessidade de se ter em Belo Monte uma
presença maior do Estado, postura diferente da que ocorreu com os canteiros de
Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, palcos de manifestações de trabalhadores
no mês passado. O ministro criticou ainda a determinação da Organização dos
Estados Americanos (OEA) de suspender as obras da Usina Belo Monte. Para ele, o
pedido "não foi adequado" e causou estranhamento ao governo.
O ministro garantiu que o governo vai cobrar das empresas
participantes do consórcio o cumprimento das condicionantes previstas no
projeto. "Os erros que reconhecemos no caso de Santo Antônio e Jirau é que
nós não estivemos suficientemente presentes. Muitas vezes deixamos as empresas,
que assumem aquela parte das compensações ambientais e sociais. E as empresas
nem sempre dão para essas compensações o mesmo ritmo que dão para as
obras", disse o ministro.
O ministro falou ainda da relação da presidenta Dilma com
os movimentos sociais e das obras para a Copa do Mundo de 2014. Abaixo, leia os
principais trechos da entrevista concedida pelo ministro Gilberto Carvalho à
Agência Brasil.
Agência Brasil - No governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o próprio presidente era o interlocutor com os movimentos
sociais. No atual governo, o senhor assumiu essa função. O que mudou?
Gilberto Carvalho - De fato, isso é real. O presidente
Lula tem uma comunicação epidérmica com os movimentos. Está na índole, na
história e na intuição dele. A presidenta Dilma Rousseff, embora tenha vindo de
uma grande luta da esquerda, não tem essa proximidade e essa história pessoal
mais recente de ser expressão do movimento social como foi a do presidente
Lula. É muito interessante como ela, até por isso talvez, tenha sentido e
expressado de maneira muito clara, a intenção política de manter nesse governo
uma relação muito estreita, muito próxima e muito organizada com os movimentos
sociais. Tudo que a presidenta Dilma faz, naturalmente só é possível porque
houve um Lula antes. Tudo que eu faço aqui [na Secretaria-Geral da
Presidência], só é possível porque houve um Dulci [Luiz Dulci, ex-ministro da
Secretaria-Geral da Presidência] antes. Um governo de continuidade de projeto
tem essa característica.
ABr - Mas o que mudou?
Gilberto Carvalho - O que está havendo agora é que, como
a presidenta Dilma não assume proscênio [a frente do palco] dessa ação, pela
característica de gestão dela, ficou reservado a mim um papel de ocupar esse
espaço público de encontro. O que nós estamos tentando fazer, diferentemente do
que havia no ano passado, é ter uma relação mais estável. Todo mês nós teremos
aqui no Palácio do Planalto as centrais sindicais reunidas. A cada dois meses
teremos aqui os movimentos do campo. Estamos tentando dar um pouco mais de organicidade
e estabilidade nessa relação. Essa é a única diferença que eu veria.
ABr - Na sua avaliação, esse diálogo está fluindo com os
movimentos?
Gilberto Carvalho - Até agora, está bem adequado,
guardadas as características desse tipo de diálogo. Toda vez que eu sento com
os movimentos sociais eu lembro a eles o seguinte: governo é uma coisa datada,
tem dia para acabar, tem conjuntura de correlação de forças, tem limites
institucionais. Movimentos não. Não tem tempo para acabar, tem que trabalhar
utopia, tem que pressionar. Então, é uma relação naturalmente tensa.
ABr - Em que momentos nesse governo ela foi mais tensa?
Gilberto Carvalho - Vou dar o exemplo do salário mínimo.
Nós sentamos à mesa com as centrais sindicais, dizendo para eles que iríamos
conversar, mas com um limite. Não vai passar disso. Foram duras as conversas,
em quatro ou cinco rodadas. Não cedemos ali, mas cedemos no Imposto de Renda
[correção da tabela], cedemos nessa coisa de ter uma pauta permanente, de abrir
a discussão sobre a valorização dos aposentados, de abrir a possibilidade de
discutir a questão do fator previdenciário.
ABr - E na negociação em relação às usinas Jirau e Santo
Antônio?
Gilberto Carvalho - Na pauta relativa à questão de Jirau
e Santo Antônio foi uma coisa mais construtiva, porque conseguimos unir as
empresas, os sindicalistas e o governo para tentar fazer um compromisso tripartite.
Assim como na questão da cana-de-açúcar, estamos conseguindo fazer um acordo
para o trabalho decente. Queremos fazer a mesma coisa na construção civil,
tendo em vista a importância das obras do PAC [Programa de Aceleração do
Crescimento] e das obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O que a gente
quer é ter paz no setor e grande produtividade. É um diálogo que, se for
franco, leal e transparente, o fato de ele ser tenso não desconstrói, não
impede que ele continue existindo.
ABr - E em relação à Usina de Belo Monte?
Gilberto Carvalho - Os eventos de Jirau e Santo Antônio
[protestos de funcionários nos canteiros de obras] nos alertaram muito para os
riscos de Belo Monte. Faz 30 anos que se planeja a construção de Belo Monte. Se
Porto Velho está enfrentando dificuldades com a chegada de Jirau e Santo
Antônio, Altamira (PA), que é a cidade mais importante daquele ponto de 12
cidades, vai sofrer muito mais. Ontem [segunda-feira, 18], eu recebi a prefeita
de Altamira, que está preocupada. Uma obra dessa é uma grande oportunidade para
o município, o comércio ri à toa com a perspectiva de um grande movimento, mas
há também a perspectiva de problemas na área de saúde, na questão sanitária, no
esgoto, na poluição, na prostituição, na violência, droga, violência, tudo
isso.
ABr - Como minimizar esses problemas?
Gilberto Carvalho - O Estado tem que estar presente. Os
erros que reconhecemos no caso de Santo Antônio e Jirau é que nós não estivemos
suficientemente presentes. Muitas vezes deixamos as empresas, que assumem
aquela parte das compensações ambientais e sociais. As empresas nem sempre dão
para essas compensações o mesmo ritmo que dão para as obras. A obra vai dar
dinheiro logo, vai dar lucro, então elas aceleram e deixam para um segundo
momento as compensações.
ABr - Que áreas do governo tem de estar presentes?
Gilberto Carvalho - Nossa ideia é ter lá um interposto do
governo federal fazendo um diálogo. Seria uma representação federal, uma
espécie de delegacia da presidência coordenando toda intervenção federal na
região e intermediando a relação dos trabalhadores com as empresas, com o
consórcio, com o poder público local, com a sociedade local e assim por diante.
ABr - Ao fazer isso, o senhor acha que o governo está
respondendo à observação feita pela Organização dos Estados Americanos (OEA) de
descumprimento das condicionantes?
Gilberto Carvalho - Nós estranhamos muito essa
intervenção da OEA porque nós entendemos que não foi adequada. Foi provocada
por elementos da sociedade lá da região, mas nós não achamos que foi adequada.
Nós não estamos tão preocupados em responder à OEA, e sim responder à
necessidade que nós temos de criar uma referência positiva de como se pode
construir uma obra com esse porte sem prejuízos sociais.
ABr - Quais são as preocupações do governo em relação à
Copa do Mundo?
Gilberto Carvalho - Vamos ter remoção de populações para
construir as vias de acesso aos estádios. Essa gente tem que ser bem tratada,
assim como os atingidos por barragens precisam ser bem tratados quando se faz
uma hidrelétrica. Nós vamos ter o problema das grandes obras, com a
concentração de muitos trabalhadores, como tivemos em Jirau e Santo Antônio. Então, a gente quer criar um
padrão de intervenção de obras no qual os prejuízos sejam mitigados. As obras
não podem ser vistas como um problema, e sim como uma vantagem, uma solução.
ABr - Com esse novo padrão, a obra acaba saindo mais cara
do que o governo previa? Como equacionar a necessidade de fazer a obra com a
política de contenção de gastos?
Gilberto Carvalho - Na verdade, não temos um aumento tão
importante de gastos. Toda obra dessa já prevê uma compensação ambiental. Há
algum tempo já se trabalha com esse conceito. Já foi o tempo de Itaipu, de
Tucuruí, onde as máquinas chegavam, metiam bala. Os movimentos sociais e a
pressão da sociedade geraram um processo em que os custos sociais para a
empresa já estão embutidos no valor da obra. Então, não se trata de acrescentar
coisas, mas fazer com que as empresas cumpram o que está escrito. É claro que
podem ocorrer gastos a mais para o governo, que ainda não estão contemplados,
mas aí, esses recursos podem vir do Orçamento Geral da União. Mas se as
empresas realizarem o que está ali, nas condicionantes, já há um volume
importante de recursos previstos para essas compensações.
Fonte: Ambiente Energia
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